Cerca do Convento dos Capuchos / Cerca do Convento de Santa Cruz do Capuchos

IPA.00023455
Portugal, Lisboa, Sintra, Colares
 
Cerca conventual de caracerização estilística franciscana. Murada e constituída por um conjunto de espaços (pátio, mata e zona de horta / pomar) associados à antiga habitação de uma comunidade religiosa. Contém vegetação ornamental disposta com um sentido determinado e acompanhada de elementos construídos, como banco, canteiros, estátuas ou peças de água, murado sem percepção dos limites exteriores em grande parte da sua extensão. Características que traduzem uma atitude de vida franciscana: pobre, simples e funcional. A sua localização na serra de Sintra atribui-lhe um ambiente húmido, inigmático e sombrio que aqui é natural mas que noutros casos como Monserrate ou Pena é explorado ao máximo. Na Cerca encontra-se possivelmente o mais representativo testemunho e a mais bem conservada relíquia da floresta primitiva da serra de Sintra que, pela sua raridade e estado de desenvlvimento e conservação de muitos exemplares, constitui um importante valor natural, cultural e científico. Destacam-se ainda, exemplares plantados como o plátano que cobre o adro do convento, o freixo do pátio de entrada e alguns buxos de porte arbóreo.
Número IPA Antigo: PT031111050151
 
Registo visualizado 2331 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Conjunto arquitetónico  Edifício e estrutura  Religioso  Cerca    

Descrição

A cerca é constituída pela zona do CONVENTO (v .PT031111050021 ) com o PÁTIO e TERREIROS adjacentes, a MATA, e a ZONA AGRÍCOLA. Limitada por muro com c. de 2.5m de altura rasgado por duas entradas. Entrada principal pelo TERREIRO DAS CRUZES marcada por construção representativa do calvário em pedra e cal, com acesso por rampa de declive suave com degraus pouco notórios. Neste terreiro, plátano de gande porte, por trás do qual, muro alto com banco adjacente terminando à direita em passagem encimada por duas pedras formando arco - pórtico das fragas, ligando ao TERREIRO DA FONTE que antecede o convento. Neste terreiro fonte de espaldar encimada por nicho e com tanque oval com concheados na parte superior e azulejo séc. 17 na base. Mesa e banco de pedra ao lado da fonte. Do lado oposto do convento, PÁTIO quadrangular e ajardinado, centrado por tanque octogonal com chafariz central, termina a N. em muro com banco adjacente e vista sobre a zona baixa da cerca. A E. edifício estreito e baixo denominado LABORATÓRIO e a O. CAPELA DE SANTO ANTÓNIO OU DO SENHOR DO HORTO com canteiros laterais às escadas que lhe dão acesso. A S. do pátio, desenvolve-se a mata na encosta, constituída por formação arbórea submediterrânica com predomíneo de carvalhos cerquinho e subcoberto mediterrâneo com grande profusão de fetos, musgos e plantas epífitas e trepadeiras resultando numa grande densidade vegetal. Um caminho irregular com degraus esbatidos, conduzindo a uma zona a cota mais elevada onde se situa o antigo forno de pão e a CAPELA DO SENHOR CRUCIFICADO OU DO ECCE HOMO onde duas grandes rochas convergem como as da porta da entrada formando as paredes da capela que alberga um altar com vestígios de pintura a fresco. Outro caminho semelhante desce até à gruta do Frei Honório, buraco em rocha com pedra assente no cimo, com inscrição. O pátio tem passagem pelo muro para a ZONA AGRÍCOLA onde existe uma casa de fresco com dois bancos laterais, revestida a azulejo e concheados. Existe também uma fonte a partir da qual de estabelece o sistema de rega por caleiras. Esta zona escontra-se dividida em parcelas por pequenos muros de compartimentação. No muro a N. desta zona localiza-se a segunda entrada na cerca.

Acessos

EN 247 - 3, em direcção à Pena, desvio para o Convento dos Capuchos. WGS84 (graus decimais) lat.: 38,784753, long.: -9,438154

Protecção

Parcialmente incluída na Zona de Protecção do Convento dos Capuchos (v. PT031111050021) / Incluído na Área Protegida de Sintra - Cascais (v. PT031111050264)

Enquadramento

A cerca localiza-se no limite do Parque Natural de Sintra-Cascais, na encosta N. da Serra de Sintra (v. PT031111050264). Nesta área da encosta predominam os declives superiores a 40% verificando-se na cerca declives moderados, acentuados e muito acentuados. Esta vertente é rica em água, explorável através de minas, e que tem um movimento descente sendo recolhida pela ribeira de colares. A Serra de Sintra é constituída por um maciço eruptivo com abundância de granitos, sienitos, gabros e dioritos. O solo desta zona insere-se na família dos solos litólicos, húmicos, câmbicos, normais, de granito (Mng) que, em parte de fase delgada, apresenta afloramentos rochosos. O clima é caracterizado por temperaturas mais baixas e precipitação mais elevada que nas regiões circundantes devido à proximidade do oceano, ao relevo e à densa vegetação. A flora local é densa e diversificada com uma grande percentagem de exóticas introduzidas sobretudo no séc. 16 por D. João de Castro e no séc. 19 por D. Fernado II e Sir Francis Cook. Também a fauna se caracteriza por uma grande biodiversidade. Nas proximidades da Cerca localizam-se outros monumentos como a Tapada D. Fernando II, separada da cerca por caminho, Castelo dos Mouros (v. PT031111120005), a Quinta da Penha Verde, a Quinta da Regaleira, (v. PT031111110077), a Quinta do Relógio (v. PT031111110078), o Parque de Monserrate (v. PT031111110131). A Cerca do Capuchos e outras propriedades locais funcionam como como ponto de atracção turística, actividade principal da zona.

Descrição Complementar

"matos densos, penedos altos, e silvestres árvores, que neste seu retiro produs a Serra mais copiosa". (Frei António da Piedade); Incrição na gruta de Frei honório: «Aqui honório acabou a vida e , por isso, com Deus revive a vida. Faleceu no ano de 1596.»; Incrição na gruta de Frei Honório: "HIC. HONORIVS. / VITAM. FINIVIT. ET. IDEO. CVM DEO. / VITAM. REVIVIT / OBIIT ANNO / DE 1596".

Utilização Inicial

Religiosa: cerca

Utilização Actual

Recreativa: parque

Propriedade

Pública: estatal

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 16 / 17 / 18

Arquitecto / Construtor / Autor

Desconhecido.

Cronologia

1560 - fundação de um convento, com oito frades capuchos vindos do Convento da Arrábida, com a invocação de Santa Cruz, por D. Álvaro de Castro, Conselheiro de Estado e Vedor da Fazenda de D. Sebastião, em cumprimento de um voto de seu pai, o Vice-Rei da Índia, D. João de Castro (1500 - 1548); 1580 - edificação da Capela de Santo António e cerca do convento por iniciativa do Cardeal Rei D. Henrique; 1596 - morte de Frei Honório, que viveu 30 anos numa gruta da cerca do convento, conforme consta de inscrição; 1650 - colocação do marco viário, assinalando o caminho para o convento; 1728 - descreve da cerca por Frei António da Piedade; 1834 - como consequência da extinção das ordens religiosas, é adquirida pelo 2º conde de Penamacor, D. António de Saldanha Albuquerque e Castro Ribafria (1815 - 1864), descendente de D. João de Castro; 1873 - aquisição da propriedade por Sir Francis Cook, 1º visconde de Monserrate; séc. 20, 1ª metade - aquisição pelo Estado; 1994 - Trabalhos de limpeza e manutenção da mata; 1998 / 2000 - encerrou ao público, por razões de segurança, dado o avançado estado de degradação do convento; 1999 - foi criada a Associação dos Amigos do Convento dos Capuchos; 2001, 1 Junho - reabertura ao público, sendo a entidade responsável o Parque de Sintra - Monte da Lua.

Dados Técnicos

Existem várias minas que fornecem água para o sistema hidráulica. O sistema de evacuação das águas residuais do convento, parcialmente subterrâneo, encaminhava-as para as hortas.

Materiais

Material Vegetal: carvalho, cedro, sequoia, buxo, plátano

Bibliografia

Novo Guia do Viajante em Lisboa e Seus Arredores, Lisboa, 1863; JUROMENHA, Visconde de, Cintra Pinturesca, Lisboa, 1905 (1ª edição 1848); JORDAM, Francisco de Almeida, Relação do Castelo e Serra de Cintra e do que há a Ver em Toda Ella, Lisboa, 1874; AZEVEDO, Carlos de, FERRÃO, Julieta, GUSMÃO, Adriano de, Monumentos e Edifícios Notáveis do Distrito de Lisboa, Vol. II, Lisboa, 1963; PEREIRA, Félix Alves, Sintra do Pretérito, 2ª ed., Sintra, 1975; AZEVEDO, José Alfredo da Costa, Obras de José Alfredo da Costa Azevedo, Velharias de Sintra, Vol. I, Sintra, 1980; Câmara Municipal de Sintra, Sintra Património Mundial, Sintra, 1996; AZEVEDO, José Alfredo da Costa, Obras de José Alfredo da Costa Azevedo, Recantos e espaços, Vol. II, Sintra, 1997; RIBEIRO, José Cardim (coordenador), Sintra - Património da Humanidade, 1998; DIRECÇÃO GERAL DAS FLORESTAS, João Cruz Alves, Plano Global para a Reintegração do Convento de Santa Cruz da Serra de Sintra - Programa Base, 2000.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DRML; Parques de Sitra Monte da Lua S.A.

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DRML; Parques de Sitra Monte da Lua S.A.

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DRML; Parques de Sitra Monte da Lua S.A.

Intervenção Realizada

Instituto Florestal: 1994 - limpeza e manutenção da mata.

Observações

Conta-se que Frei Honório habitou a cova como penitência por ter sido tentado pelo diabo em forma de mulher que lhe pediu para a confessar quando andava pelos campos. Remetendo-a para o convento, foi perseguido por ela até que Frei Honório lhe fez o sinal da cruz fazendo-a fugir. Ali viveu, durante trinta anos, até morrer.

Autor e Data

Pereira de Lima 2005

Actualização

 
 
 
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