Núcleo da Herdade de Rio Frio
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Portugal, Setúbal, Palmela, Pinhal Novo |
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Núcleo habitacional correspondente a sede de propriedade agrícola privada contemporânea. Estruturado segundo o eixo fundamental coma orientação NE., a Rua José Maria dos Santos. Espaços urbanos integrados na malha urbana (Largo da Oficina, Rua do Esmagador, Rua da Padaria, Rua do Hospital, Ruas A, B, C e D do Bairro Engº José Lupi). Transição harmoniosa do traçado urbano inicial para o mais recente (2ª metade do séc. 20) segundo alinhamentos ortogonais (ruas). |
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Número IPA Antigo: PT031508030046 |
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Registo visualizado 5661 vezes desde 27 Julho de 2011 |
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Conjunto arquitetónico Edifício e estrutura Agrícola e florestal Herdade
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Descrição
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Núcleo urbano do final do séc. 19, início do séc. 20, concebido para dar apoio à maior vinha a nível mundial da altura. Com estruturação inicial a SO. (adegas e habitações dos trabalhadores), expandindo-se para NE segundo o eixo fundamental correspondente à Rua José Maria dos Santos. Malha urbana ortogonal, distribuída regularmente pela topografia plana que caracteriza esta zona da herdade. Inclui o Palácio de Rio Frio (v. PT031508030011), residências para trabalhadores (e ex-trabalhadores), adegas (as quais numa fase posterior, para evitar abandono de algumas destas unidades, viriam a ser adaptadas a galinheiros), destilaria de aguardente e instalações para descasque de arroz (devolutas) (com destaque para o campanário que encima a fachada N.), cavalariças, recinto de treino hípico, picadeiro, casa dos coches (actual restaurante "Rédea Solta"), capela de Nossa Senhora da Conceição, escola de 1º ciclo (Externato "Santos Jorge", devoluto), hospital (espaço que inclui cozinhas, enfermaria, laboratórios para análises, maternidade e farmácia; actual infantário, devoluto), posto de saúde, sociedade recreativa, serração e carpintaria, moagem, fábrica de rações e respectivos celeiros (devolutos), mercearia, barbearia, padaria (devoluta), veterinário, refeitório para trabalhadores (actual habitação), oficina, vacarias, armazéns, depósito de água, posto de G.N.R. (devoluto), uma caserna e um quartel dos Beirões (devolutos) e uma fábrica de tijolos e telhas com a marca local, de Rio Frio (desaparecida). A malha geometrizada, embora sem grandes intenções urbanísticas, cria bolsas espaciais interessantes de cariz inter-comunicativo nesta pequena "cidade-auto-suficiente" (p. ex: Rua José Maria dos Santos, Rua do Esmagador, Rua da Padaria, Rua do Hospital, Largo da Oficina). As residências dos trabalhadores organizam-se em bairros de toponímia específica: Bairro da Cantina (a S., à entrada da Herdade), Bairro da Rua José Maria dos Santos (mais antigo, inicialmente ocupado também por cocheiras, actualmente serve os residentes com as prestações de algum comércio e serviços locais pontuais, como a mercearia, a barbearia, a carpintaria e o veterinário e à antiga padaria correspondem actualmente os espaços desta, da barbearia e do veterinário, estes últimos entretanto adaptados às novas funções), Bairro Engº José Lupi (a NE., construído na 1ª metade do séc. 20), Bairro Beirão (a NE., mais recente, terá servido inicialmente como uma sequência de quartéis para albergar os trabalhadores "Beirões" que precisavam de um local para dormir), Bairro Novo (a NE., datado da 2ª metade do séc. 20) e ainda o Bairro da Avenida (entre a Sociedade Recreativa e a antiga Vacaria, de características tipológicas divergentes das habitações já existentes e de qualidade construtiva em muito inferior a estas), habitações que terão servido para albergar os trabalhadores residentes da herdade, que nessa altura construíram as suas próprias casas, com material da terra local - adobe - fornecido gratuitamente por José Maria dos Santos. O armazém em ruína na Rua da Padaria seria inicialmente uma habitação onde nasceram alguns dos actuais habitantes, sendo posteriormente adaptado a cocheira e a armazém. Rua José Maria dos Santos assumida como eixo fundamental na formação do tecido urbano, com orientação NE., donde irradiam perpendicularmente a Rua do Esmagador, a Rua da Padaria, a Rua do Hospital; é apoiado estruturalmente pelo Largo da Oficina, de configuração rectangular paralela a este eixo principal, assim como as ruas A, B, C e D do Bairro Engº José Lupi, com as quais estes comunicam através de vias secundárias. Eixos complementares irregulares e aleatórios em terra batida espalhados pela periferia do núcleo urbano. Presença de um único quarteirão rectangular com logradouro no seu interior, cujo acesso se realiza por um túnel sito nbo Largo da Oficina (Bairro da Rua José Maria dos Santos) e restantes unidades habitacionais em banda, formadas pela repetição sucessiva e regular de lotes rectangulares de frente larga e profundidade com cerca de 1/3 desta, na maioria dos casos com quintal no tardoz (Bairro Engº José Lupi, Bairro Beirão, Bairro Novo, Bairro da Cantina). Casa térrea unifamiliar de alojamento operário como tipo funcional de referência. Cor das fachadas comum: branco, com barramentos desde o cinza claro ao cinza escuro (mais frequentes) ao ocre e "sangue de boi" (casos pontuais). Sistemas construtivos tradicionais comuns a estas unidades: coberturas em madeira, telha cerâmica tipo "Marselha" ou de canudo, beirados simples nas habitações e duplos nas adegas, paredes em adobe, vãos regulares com verga e parapeito em tijolo burro, embasamento duplo lateral para colocação de vasos nas portas de acesso às habitações. |
Acessos
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A12; EN5; CM1027 |
Protecção
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Inexistente |
Enquadramento
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Situado em planície. Propriedade com 6000 hectares atravessada por arruamentos de toponímia própria. Integração paisagística em contexto rural extenso. Montado de sobro a N., de grandes dimensões e com densidade variável, limitado a S. pela linha de caminho-de-ferro. Remate a E. pelo aglomerado de Poceirão. Espaços agrícolas fragmentados a S.. Ocupação florestal adulta associada a uma heterogeneidade de plantações, desde vinha a sobreiros, pinheiros bravos, prados ou pastagens de sequeiro, culturas arvenses de sequeiro, oliveiras, eucaliptos, plantações de arroz, culturas hortícolas de regadio e culturas arvenses de regadio. Pequeno bosque e amplo jardim a SE., sobranceiro à planície. Aproveitamento hidro-agrícola das linhas de água existentes. Núcleo com malha urbana geometrizada e ortogonal distribuída uniformemente pela área ocupada. Dimensão uniforme dos lotes, no contexto de cada unidade de "Bairro". Proximidade ao aglomerado urbano de Pinhal Novo, concebido em função da presença da linha de caminho-de-ferro. |
Descrição Complementar
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Utilização Inicial
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Não aplicável |
Utilização Actual
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Não aplicável |
Propriedade
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Privada: Pessoa colectiva (Sociedade Agrícola de Rio Frio) |
Afectação
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Não aplicável |
Época Construção
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Séc. 19 / 20 |
Arquitecto / Construtor / Autor
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Desconhecido. |
Cronologia
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Séc. 19 - 20 - área da herdade correspondente a cerca de 18000 ha; construção das 28 adegas ainda existentes e das habitações para e pelos trabalhadores da herdade, do complexo formado pela moagem, pela fábrica de rações e pelos respectivos celeiros (anos 40), da destilaria de aguardente e instalações de descasque de arroz, de cocheiras e armazéns; 1922, cerca - construção do reservatório de água; 1ª metade do séc. 20 - produção em grande escala de bens agrícolas (vinho, aguardente, arroz, grão, pão, cortiça, azeitona, carne, rações para animais, etc); 1985 ? - cessação de actividade da Moagem e respectivos celeiros; 1991 - produção de arroz ainda subsistente; 2002 - encerramento da escola de 1.º ciclo ou "Externato Santos Jorge", para filhos de trabalhadores da herdade; abertura da nova ponte de Rio Frio, ao km 13 da EN5; 1995 - 400 ha de vinha plantados e 600 ha preenchidos com diversas culturas de regadio; área ocupada por sobreiro igual a 2500 m2; 2005 - produção de vinho "Herdade de Rio Frio" em 5 adegas do núcleo "Rio Vinhos"; área da herdade correspondente a cerca de 5000 ha. |
Dados Técnicos
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Não aplicável |
Materiais
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Não aplicável |
Bibliografia
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AAVV (Escola Secundária de Palmela) - Região de Palmela. Memórias dos Tempos dos Nossos Avós, 2ª ed., s/l, 1988; AAVV - Contos Populares Portugueses Ouvidos e Contados no Concelho de Palmela, Ed.: Divisão de Bibliotecas e Documentação, s/l, 1997; AURINDO, Maria José, Projecto “Contribuição para a Valorização Turístico-cultural de Rio Frio”, Lisboa, Setembro 2000; FORTUNA, António Matos - Aspectos da Linguagem Popular de Palmela, Ed.: Direcção Geral de Apoio e Extensão Educativa/Coordenação Concelhia de Palmela, s/l, 1985; PACHECO, Paulo; ROLO, Fernanda; SAMPAIO, Teresa, Memórias do Habitar - Arquitectura e Vivência Caramelas, Boletim Municipal de Palmela, Nos 4 e 5; s/a, Quem conhece o palácio de Rio Frio?, Linha do Sul, Nº 13, Agosto 1982, pp.8; Herdade de Rio Frio, Um Futuro, Palmela em Revista, Nº 6, Julho 1995, pp.18; Rio Frio - Estação de Valdera, Linha do Sul, Nº 233, Março 2001, pp. 4; O Rio Frio, Jornal do Pinhal Novo, Ano 1, Nº 1; Palmela em Revista, Nº 6, Julho 1995; Separata do 1º Número do Grande Álbum de Turismo de Portugal Ilustrado, Revista Terras de Portugal, Câmara Municipal de Palmela,1928; Brochura “Mostra de Coleccionismo Ferroviário - Viagem pelo caminho de Ferro, Clube de Entusiastas do Caminho de Ferro, Câmara Municipal de Palmela, 1997; Catavento Nº 40 - Agenda de Acontecimentos do Concelho de Palmela, Câmara Municipal de Palmela, 2003; Catavento - Guia do Concelho de Palmela, Câmara Municipal de Palmela, 2004;www.naer.pt/anexos/rio_frio/E-rf9.htm>; www.evicar.pt/evinforma/24/24ope_a4.htm>, Junho 2005; www.setubal.ps.pt/setubal/55/09/20916zjd.htm>, Junho 2005; www.setubal.ps.pt/setubal/55/10/21017zjb.htm; www.setubal.ps.pt/setubal/55/10/21017zjb.htm>, Junho 2005 |
Documentação Gráfica
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Biblioteca Municipal de Pinhal Novo, Câmara Municipal de Palmela; IHRU: DGEMN/DSID |
Documentação Fotográfica
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IHRU: DGEMN/DSID; Arquivo Fotográfico da Junta de Freguesia de Pinhal Novo |
Documentação Administrativa
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CMPalmela |
Intervenção Realizada
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Observações
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O processo de colonização da zona de Pinhal Novo teve início com a Casa Ferreira Braga São Romão, cujo proprietário mandou plantar um pinhal entre a actual estação de caminho-de-ferro e Rio Frio, assim como uma vinha com olival entre Lagoa da Palha e Valdera. Após a morte de Manuel Gomes da Costa S. Romão, José Maria dos Santos (1832-1913) casa com a sua viúva, dando seguimento às inovações agrícolas preconizadas pelo falecido. Deputado, par do reino, Director do Banco de Portugal na década de 60, fundador e dirigente da Real Associação Central de Agricultura Portuguesa e considerado o maior latifundiário da Europa nos finais do séc. 19, J. M. dos Santos possuía 40.000 ha de terras. Mandou plantar seis milhões de videiras, numa altura em que a produção estava em crise. Ganhou a aposta mas aquela que fora a maior vinha do mundo foi dando lugar ao montado de sobro, imagem que ainda permanece. Em 1904, o número de trabalhadores desta herdade atingiu os 3.000. Francisco Garcia, o actual proprietário, adquiriu a Herdade há cerca de dez anos com a intenção de formar um complexo agro-industrial. Organizou a Casa Agrícola de Francisco Ribeiro Prata, a Garcia S.A. e a Sociedade Agrícola de Rio Frio. Grande parte dos vinhos da Região de Palmela são produzidos nas castas de Rio Frio, para orgulho dos 150 trabalhadores que trabalham e vivem na Herdade. Actualmente existem cerca de 300 habitantes na herdade, distribuídos pelas cerca de 150 habitações. Na época do apogeu das actividades agrícolas e industriais, chegaram a produzir-se 30.000 sacos de arroz diariamente. O Palácio de Rio Frio foi mandado edificar por António Santos Jorge, sobrinho do grande latifundiário português (o que justifica a primeira designação de "Palácio Santos Jorge"). Dada a inexistência de descendentes, seriam os seus sobrinhos que viriam a herdar esta peça arquitectónica de elevado valor, que actualmente pertence a Maria de Lourdes Lupi d'Orey. A antiga serração (actual carpintaria), a carpintaria, o restaurante "Rédea Solta" na antiga Casa dos Coches, a Mercearia, a Barbearia, o Veterinário, a oficina, as adegas "Rio Vinhos", o complexo da antiga Moagem, da Fábrica de rações durante os anos 80 e dois dos antigos celeiros da Moagem encontram-se em actividade mediante um aluguer. O Rancho Folclórico da Herdade de Rio Frio ainda existe, embora com cada vez menos actuações, devido à falta de membros participantes. |
Autor e Data
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Eunice Torres 2005 |
Actualização
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