Jardins de Seteais
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Portugal, Lisboa, Sintra, União das freguesias de Sintra (Santa Maria e São Miguel, São Martinho e São Pedro de Penaferrim) |
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Espaço verde de recreio / Espaço verde de produção agrícola. Jardins com uma caracterização estilística romântica e jardins formais. Quinta de recreio definida por espaço com funções essencialmente recreativas mas também produtivas associado a uma antiga casa de habitação convertida em hotel e contendo antigos campos agrícolas, horta, mata e jardim. A mata apresenta construções harmoniosas em rochas salientes e uma complexa rede de caminhos curvilineos formando um cenário romântico, paradisíaco, insólito e enigmático reforçado pelo denso tecto vegetal de plantas exóticas e autóctones. Seteais é um marco de viragem na tipologia da arte paisagista surgindo, a par com Monserrate, como introdução ao romantismo. Este facto teve repercursões significativas a outros níveis, despertando o gosto pelos bons ares e boas vistas da serra de sintra aso habitantes da vila, aos estrangeiros e mesmo aos reis. |
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Número IPA Antigo: PT031111110136 |
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Registo visualizado 752 vezes desde 27 Julho de 2011 |
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Espaço verde Jardim
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Descrição
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Planta aproximadamente rectangular levemente apertada ao meio. Murada a toda a volta exepto a SE., onde gradeamento de ferro com três portões acompanha a fachada principal do palácio. Nos extremos do gradeamento, mirantes com passagem sob o da esquerda pertencendo o da direita à quinta da alegria. Muros interiores separam a quinta em três faixas: a NE., campo de setais, palácio e jardim formal; ao meio, a zona de recreio activo (antigos campos agrícolas) e a SO., a mata. O CAMPO DE SETEAIS é o espaço entre o palácio e o gradeamento de ferro. No seguimento do portão central do gradeamento, escadaria com sete degraus dá acesso a extenso relvado ladeado por buxo talhado em formas geométricas e limitado, junto à fachada do edifício, por canteiro de buxo contínuo preenchido com rosa e berberis e por dois cedros alinhados com o arco triunfal. Paralelas ao relvado, alamedas com alinhamento de plátanos iniciam-se nos portões laterais do gradeamento; No palácio (v.IPA.00006094), CLAUSTRO rectangular com parterres de buxo em desenho geométrico em simetria quadripartida e e bicentrada (em canteiro e em poço, ambos circulares). Sobre a COBERTURA N. do palácio, terraço pavimentado com calçada, limitado por canteiro a toda a volta, termina em murete com vista sobre os jardins formais e toda a várzea de Sintra até ao mar. Centrado em taça octogonal com chafariz ao meio. No extremo N., grande penedo denominado penedo da saudade; JARDIM FORMAL estende-se a NO. do edifício acompanhando toda a fachada posterior. Dividido por muro rasgado por passagem e por janela com namoradeira, separando a zona do séc. 18 da do séc. 20. A primeira, limitada por muro com alegrete, apresenta desenho geométrico de canteiros de buxo preechidos com topiária em forma arredondada. A NO., namoradeiras no muro de onde se avista toda a várzea de Sintra até ao oceano. Tanque com taça de quatro bicas na base da escadaria que dá acesso ao palácio. A zona do séc. 20 apresenta desenho geométrico irregular de canteiros de buxo e termina na antiga vacaria e pombal. Entre muro com alegrete e muro que separa as duas zonas, corredor tem ao fundo, sob castanheiro, banco rectangular de costas elevadas e ornamentadas. A SO. pequeno terreiro também limitado por muro com alegrete serve de miradouro, sob cedro-do-buçaco; A ZONA DE RECREIO ACTIVO desenvolve-se em cinco patamares: zona junto ao muro NO, piscina, com grandes canteiros de buxo a NO, prado sob limoal, campo de ténis e picadeiro com cavalariça. Este espaço termina numa horta antes de iniciar a subida para a mata; A caminho da MATA, grande tanque separado da rampa por muro de suporte com namoradeira. A cota superior, grotto com frescos ainda visíveis na parte superior das paredes da alas. Surge o coberto vegetal denso com abundância de espécies exóticas, caminhos orgânicos, rochas salientes intercaladas com escadarias ou bancos. A NO. miradouro permite larga vistas sobre a envolvente. Adjacente ao muro de suporte da mata, escadaria com três lances faz ligação ao limoal. Junto ao muro NO., ZONA AGRÍCOLA ABANDONADA com portão para o caminho da fonte dos amores. Zonas de pomar em terraços e escadaria que acede ao canto E. do edifício passando por miradouro sob plátano. |
Acessos
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EN 375; Rua Barbosa du Bocage |
Protecção
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Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 36 383, DG, 1.ª série, n.º 147 de 28 junho 1947 *1 / Incluído na Área Protegida de Sintra - Cascais (v. IPA.00022840) |
Enquadramento
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A quinta localiza-se no limite do Parque Natural de Sintra-Cascais, na encosta N. da Serra de Sintra (v. IPA.00022840). Nesta encosta predominam os declives superiores a 15% verificando-se em Seteais suaves nas plataformas construídas, moderados e muito acentuados. A quinta apresenta exposições preferenciais a N. e O.. Esta vertente é rica em água, explorável através de minas, e que tem um movimento descente sendo recolhida pela ribeira de colares. A Serra de Sintra é constituída por um maciço eruptivo com abundância de granitos, sienitos, gabros e dioritos. localizando-se a Quinta de Seteais integralmente sobre o granito. O solo desta zona insere-se na família dos solos litólicos, húmicos, câmbicos, normais, de granito (Mng) que, em parte de fase delgada, apresenta afloramentos rochosos. O clima é caracterizado por temperaturas mais baixas e precipitação mais elevada que nas regiões circundantes devido à proximidade do oceano, ao relevo e à densa vegetação. A flora local é densa e diversificada com uma grande percentagem de exóticas introduzidas sobretudo no séc. 16 por D. João de Castro e no séc. 19 por D. Fernado II e Sir Francis Cook. Também a fauna se caracteriza por uma grande biodiversidade. Situada no centro histórico de Sintra (v.IPA.00000037), é limitada a SE. pela R. Barbosa do Bocage, que tem do outro lado a Quinta do Vale dos Anjos, a Quinta do Campo e a Quinta da Regaleira, a E. pela Quinta da Alegria a que se segue a Villa Roma , a Quinta do Relógio (v. IPA.00003115), e a Quinta dos Pisões. Muito perto situa-se ainda a Quinta da Penha Verde, a Quinta Velha e a Quinta do Biester. A Quinta de Seteais e outras propriedades locais funcionam como como ponto de atracção turística, actividade principal da zona. |
Descrição Complementar
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«a quinta do marquês de Marialva serve de ponto de encontro aos passeantes que aí se reúnem num relvado em frente à casa. Os prados e relvados são tão raros em Portugal que o seu encontro é um acontecimento delicioso...» (TOLLERANE, 1972). |
Utilização Inicial
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Produtiva: quinta / Recreativa: parque |
Utilização Actual
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Recreativa: jardim |
Propriedade
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Pública: estatal |
Afectação
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Sociedade Hotel Tivoli |
Época Construção
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Séc. 18 / 19 / 20 |
Arquitecto / Construtor / Autor
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Desconhecido. |
Cronologia
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1783 - Daniel Gildemeester *2, natural de Utrecht, cônsul da Holanda em Portugal, constitui a Quinta da Alegria, no fim do Campo de Seteais (também conhecido por Campo do Alardo) em terrenos cedidos pelo Marquês de Pombal e pelo Contador do Reino, Luís José de Brito; manda edificar uma casa de habitação e dependências de apoio e cocheiras, localizadas respectivamente nas alas direita e esquerda do actual palácio; manda demolir parte de um morro de granito existente a S. do Campo de Seteais e dois antigos redutos que também aí existiam, cuja pedra utilizou na construção do palácio; manda conduzir água da serra, plantar árvores e pomares, construir grutas, mirantes, um pequeno jardim a O. com lago central, alinhar e regularizar o Campo de Seteais, onde manda construir duas ruas paralelas e uma transversal; o Campo de Seteais encontrava-se separado da estrada por gradeamento de ferro com três portões e dois pavilhões abertos com passagem para a quinta, nos extremos; 1787, 25 de Julho - inauguração de casa, sendo William Beckford convidado especial; 1792 - Gildemeester requer e obtém da rainha D. Maria I autorização para estabelecer um fideicomisso sobre Seteais, vínculo segundo o qual, a quinta ficaria em usufruto à viúva e em propriedade de seus dois filhos, Daniel e Henrique, sem que nenhum deles a pudesse vender ou empenhar; 1793, 14 de Fevereiro - Gildemeester morre, sendo enterrado no Cemitério Inglês em Lisboa; 1794, 4 de Outubro - a quinta é avaliada em 30 000$00; 1797 - ignorando-se o fideicomisso, o 5º Marquês de Marialva, D. Diogo José de Vito Menezes Noronha Coutinho, Estribeiro-Mor da rainha, compra a quinta à viúva de Gildemeester, D. Joanna de Goran, pela quantia de 14 800$00; 1800, 6 de Julho - o Marquês de Marialva solicita à câmara o aforamento do Campo de Seteais, onde logo começa a plantar árvores, provocando a revolta da população, desconfiada da sua intenção em fechar o campo, até então de uso público; 1801 - a Câmara Municipal cede ao marquês o aforamento do Campo de Seteais, com a proibição de o fechar ao público e a obrigação de manter sempre duas portas abertas com serventia para o passeio público e de cuidar da manutenção das árvores e plantas. O não cumprimento das condições impostas implicaria a perda do domínio útil por parte do marquês; 1803, 14 de Agosto - morre o Marquês de Marialva; 1834, Agosto - por setença de partilha, sucede na posse de Seteais a filha mais nova do marquês, D. Joaquina de Menezes, Marquesa do Louriçal; 1846 - morre D. Joaquina sem herdeiros ascendentes e descendentes, pelo que toda a propriedade passa para o sobrinho, D. Nuno José de Moura Barreto, 1º Duque de Loulé e futuro Grão-Mestre da Maçonaria Portuguesa; 1913, 8 de Abril - autorização concedida ao grupo "Foot - Ball" de Sintra, para jogar no Campo de Seteais; 1914 - morre o Conde da Azambuja, sucedendo-lhe os herdeiros D. Pedro José Mendonça e sua esposa; 1915, Julho - a propriedade é inscrita a favor de António Rodrigues Formigal; 1918, 4 de Dezembro - data da escritura pública dando conta da venda do domínio directo da propriedade a José Rodrigues de Sucena e a António Augusto Carvalho Monteiro, conhecido por Monteiro dos Milhões; 1926 - o palácio é adquirido por D. Antónia de Mendonça e Melo e seu marido, José de Melo, que logo de seguida o vendem ao Conde de Sucena, (filho de José Rodrigues de Sucena) que no mês seguinte o hipoteca a favor de Mário Godinho dos Campos; 1932 - Mário Godinho dos Campos concede empréstimo de 130 000$00 ao Conde de Sucena; 1933, Março - o Conde de Sucena salda dívida contraída com Mário Godinho dos Campos, com dinheiro conseguido através de empréstimo da Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência, sobre hipoteca da propriedade de Seteais; 1934, 3 de Fevereiro - Conde de Sucena apresenta à câmara a remissão do foro e o pedido de ajardinamento do Campo de Seteais; 1934, 5 de abril - acta da câmara aprovando o pedido do conde, que, em crise financeira e sob pressão da população, acaba por desistir do projecto; Séc. 20, segundo quartel - realizam-se concursos hípicos no Campo de Seteais; 1939 - a propriedade é penhorada a favor da Fazenda Nacional; 1946, 15 de Outubro - aquisição da propriedade de Seteais, pelo Estado; 1950 - início da adaptação a hotel, pela Direcção dos Serviços dos Monumentos Nacionais;1954 - Inauguração do Hotel de Seteais. |
Dados Técnicos
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Na mata os declives acentuados são vencido por escadarias com degraus baixos e longos. Na zona de recreio activo o terreno está modelado e os terraços apoiados em muros de suporte. A rega e ornamentação das peças de água dos jardins é feita com água da companhia apesar do complexo sistema hidráulico, com minas, condutas e reservatórios que a propriedade apresenta. |
Materiais
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VEGETAL: árvores -árvore-do-incenso (Pittosporo undulatum). castanheiro (Aesculus hipocastanus), cedro-do-buçaco (Cupressus lusitânica), magnólia (Magnolia grandiflora), palmeira-das-vassouras (Chamaeropsis humilis), plátano (Platanus hybrida), teixo (Taxus bacatta); arbustos -aloé (Aloe vera), brincos-de-princesa (Fuchsia sp.), buxo (Buxus sempervirens). |
Bibliografia
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AZEVEDO, José Alfredo da Costa, Obras de José Alfredo da Costa Azevedo, vol II, Recantos e Espaços, Câmara Municipal de Sintra, Sintra, 1997; BECKFORD, William, Diário de William Beckford (em Portugal e Espanha), Lisboa, 1957; CÂMARA MUNICIPAL DE SINTRA, Sintra Património da Humanidade, Sintra, Dezembro de 1996; CARVALHO, Ayres de, D. João V e a arte no seu tempo, 1962; COSTA, Francisco, História do Palácio e Quinta de Seteais, Sintra, 1988; MINISTÉRIO DAS OBRAS PÚBLICAS, Relatório da Actividade do Ministério no Ano de 1950, Lisboa 1951; NOÉ, Paula, O Palácio de Seteais, J. H. A. FILL, 1989; SILVA, José M. de Bivar Cornélio da, Da Quinta da Alegria ao Palácio de Seteais, Moreira da Fundação e História, Sintra, 1988, SILVA, José Cornélio da e LUCKHURST, Sintra A Paisagem e as suas Quintas, Inapa, 1989; STOOP, Anne de, Quintas e Palácios nos Arredores de Lisboa, Barcelos, 1986; TOLLERANE, Notes dominicales pendant une voyage en Portugal et au Brézil en 1816, 1817, 1818, F. C. G. , Paris, 1972;1980.
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Documentação Gráfica
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IHRU: DGEMN/DSID |
Documentação Fotográfica
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IHRU: DGEMN/DSID |
Documentação Administrativa
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IHRU: DGEMN/DSID |
Intervenção Realizada
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DGEMN: 1953 - projecto de arranjo da piscina e campo de ténis; 1955 - obras em muro interior no campo; ajardinamento do campo de seteais; reparação da muralha da quinta; 1960 - obras de recuperação da muralha junto ao lago; 1968 / 1974 - Obras diversas de beneficiação e conservação. |
Observações
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1* - DOF: Palácio de Seteais, construções e terreiro vedado, jardins, terraços e quinta; Existem várias lendas a respeito do nome de Seteais mas provavelmente a sua origem provém do antigo uso daquele terreno para a produção de centeio - centeais.«Um manuscrito anónimo de 1851 diz-nos que Daniel Gildemeester «em 1783 comprou, no fim do Campo do Alardo (antiga denominação do Campo de Seteais), os ginjais e serrados que antigamente parece que produziram centeio (...)» (SILVA, 1989). *2 - (do manuscrito anónimo): «mandou demolir o grande morro de pedra e construir um palácio que hoje ali se encontra» e «construiu também da parte Norte do palácio um pequeno pombal e entre este e o jardim das cozinhas. Fez juntamente ao grande morro de pedra, a quinta a que chamou da alegria; para o que mandou quebrar muitos rochedos e conduzir de fora muita terra, fez um largo jardim, conduziu da serra água em abundância, semeou e plantou muitas árvores. Também povoou futuros bosques de grutas e mirantes, casa de banho, grandes tanques, pomares de espinho e pevide» (CARVALHO, 1962). |
Autor e Data
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Pereira de Lima 2005 |
Actualização
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