Quinta da Agrela
| IPA.00021769 |
Portugal, Porto, Santo Tirso, Agrela |
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Quinta com zonas distintas, de produção e de recreio, com jardim estruturado em terraços interligados por escadas. Nos moldes das quintas de recreio portuguesas, estão estabelecidos percursos e zonas de estadia sombreados por latadas. A rede de caminhos formaliza a articulação do espaço, e as zonas de estadia situam-se e modo a possibilitar a melhor fricção do sistema de vistas para a envolvente, destacando assim os pontos privilegiados para o efeito. O projeto resulta assim da topografia do terreno e do clima da região refletido na escolha de espécies vegetais especialmente bem adaptadas à mesma. O seu assento da lavoura destaca-se pelo agrupamento de elevado número de diferentes tipos de construções rurais, primorosamente projetadas por Caldeira Cabral, constituindo um dos mais ricos núcleos do género, pela variedade e pela qualidade arquitetónica e construtiva dos referidos edifícios. |
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Número IPA Antigo: PT011314010040 |
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Registo visualizado 3143 vezes desde 27 Julho de 2011 |
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Espaço verde
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Descrição
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Quinta composta por duas zonas distintas, uma residencial e de lazer, que inclui a casa de habitação, o jardim e os terrenos utilitários desta casa e outra zona com função agrícola, separada da primeira por estrada sobre linha de festo, composta pelos campos agrícolas e construções do assento da lavoura. A primeira zona situa-se, ou entre a casa de habitação e a estrada, separadas por cortina de árvores e arbustos ou em vertentes orientadas a S. E. e O.. Nestas, o jardim apresenta o terreno armado em TERRAÇOS, tirando partido do sistema de vistas sobre o Vale do Sobrado, suportados por um complexo sistema de muros de suporte em pedra seca. Estes muros são construídos em xisto com coroamento em granito. Fronteiro às fachadas O. e S. existe o TERRAÇO DA CASA, á cota de soleira da mesma. Este terraço apresenta defronte da fachada O. e separada por caminho com cerca de 8 m. em tout-venant, um RELVADO, contido exteriormente por uma orla de árvores e arbustos, da qual é separado por um caminho pedonal com cerca de 1,5m que assume um formato de ferradura. Esta orla isola este relvado do limite O. da propriedade. Colateralmente ao mesmo, a S., cerca de 2 m abaixo, ligado por escada de 10 degraus, existe um terraço estreito ao longo do qual se encontram, de um lado bancos, ensombrados por uma pérgula, proporcionando uma zona de estadia com vista sobre o vale do lado oposto um canteiro com arbustos do género Rhododendron. Descendo-se por escada, também de 10 degraus, entra-se no TERRAÇO DO TANQUE, este com 18x6m, situado ao centro, com adução de água por concha com cerca de 1m de diâmetro esculpida em granito, rodeado por bancos do mesmo material, envolvido por rododendros (Rhododendron arboreum Sm.), azáleas (Rhododendron indicum L.) e cameleiras (Camellia japónica L.) Este tanque é ensombrado por um exemplar notável de magnólia-chinesa (Magnólia soulangeana) de flor branca e possui nenúfares brancos (Nymphaea alba) implantados nas suas águas;. Descendo-se no extremo S. deste terraço encontra-se um MIRANTE sobre o vale, também ele com bancos adossados no muro, ensombrados por uma pérgula preenchida por uma glicínea (Wisteria floribunda (Willd.) DC.). Este terraço constitui o extremo SO. da propriedade e encontra-se ligado à Estrada do Sobrado por vários lanços de escadas que conduzem a um portão de grade. O terraço da casa em frente à sua fachada S. possui plantado um exemplar notável de um pinheiro-do-Paraná (Araucaria angustifolia). É limitado por muro de suporte cujo coroamento fica cerca de 1m acima da cota do solo e no qual vamos igualmente encontrar bancos adossados, sombreados por uma pérgula suportando videira (Vitis vinífera), com vista para um terraço situado a uma cota 3,9 m inferior, onde está instalado o ROSEIRAL. A comunicação entre ambos é assegurado por uma escada a E. dos mesmos. Este jardim formal, de canteiros definidos por banquetas de buxo, apresenta um traçado retilíneo elaborado, simétrico a partir de dois eixos, um transversal e outro longitudinal. Nos interstícios deste desenho, nas zonas de canteiro, estão plantadas rosas. As zonas pavimentadas do jardim são em tijoleira disposta em espinha. A revestir o referido muro de suporte encontram-se rosas de trepar e dois bancos que enquadram uma pequena "sala de fresco" com tanque e bancos no interior. O roseiral é separado a S. do JARDIM DOS LÍRIOS (Iris germanica), por muro de suporte de 1 m, situado este num último patamar, já praticamente ao nível da estrada. De carácter totalmente informal, em oposição ao anterior jardim, este apresenta árvores dispostas irregularmente no terreno entre as quais se encontram plantados grupos de lírios. Este jardim comunica com o terraço da casa, por uma rampa sinuosa, em diagonal, que separa a zona de jardim dos terrenos agricultados. Nestes terrenos situam-se, as estufas, os viveiros, as hortas, o laranjal e um prado permanente para corte de feno. A separação entre esta e a zona E. da casa é efetuada por um caminho retilíneo, com a orientação E.-O., delimitado a S: por um muro de suporte, que tem ao longo do seu coroamento uma sebe em buxo (Buxus sempervirens), com cerca de 2,20 m de altura, que abre para a zona do vale agrícola por meio de janelas nele talhadas, estabelecendo uma ligação visual com a paisagem. Esta sebe ladeia de ambos os lados um caminho que conduz, a partir da casa em primeiro lugar a um pequeno jardim informal, de seguida vamos encontrar, separada por buxo, uma zona arrelvada de planta retangular, destinada a coradouro. Esta zona comunica com outra também arrelvada, com uma área aproximadamente 1/6 da primeira, destinada à secagem da roupa no extremo do qual termina o caminho retilíneo delimitado bilateralmente por buxo. A N. desta zona situa-se dois tanques em pedra que constituem um lavadouro coberto por alpendre, a O. deste existe um tanque quadrangular com cerca de 5m de lado, e a E, outro tanque de rega, este de grandes dimensões, com planta retangular, com cerca de 20x7m. A zona agrícola, de produção da quinta encontra-se, na sua maior parte em frente à casa, na encosta virada a N., e inclui vasto núcleo de construções agrícolas, como residências de caseiros, sequeiro e respetiva eira, cavalariça, palheiro, vacaria, silos, nitreira, lagar, pombal, celeiros e um telheiro seguindo-se vastos campos agrícolas. |
Acessos
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EN 207, Rua do São Pedro |
Protecção
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Inexistente |
Enquadramento
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Rural, implantada numa cumeada e encostas, sendo a orientada a S. sobre o vale do Sobrado. Na proximidade, a Igreja Paroquial da Agrela (v.IPA.00005139). |
Descrição Complementar
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O assento da lavoura situa-se defronte da casa de habitação, separado desta pela EN 207. Os seus edifícios são construídos em cantaria de granito com paredes rebocadas e pintadas de branco, a cor da casa de habitação. Ao centro da composição de edifícios situa-se a eira, com 21m.x25m., em xisto circundada por murete em granito. Encostada e centrada com esta, a N. situa-se a casa-da-eira, com 7m.x14m. Justaposta a este edifício, a O., situa-se espigueiro. A E. deste conjunto situa-se o palheiro e em frente o silo unidos por um edifício de planta em u que constitui as instalações do gado equino, bovino e porcino. A E. da vacaria, em edifício autónomo, situa-se a leitaria. A N. da cavalariça situa-se a nitreira. A N. da casa-da-eira situa-se um edifício que possui na parte E. uma arrecadação, na parte central um telheiro e na parte O. as oficinas. A O. da composição eira/casa-da-eira situa-se uma residência de trabalhadores, ligada, formando um ângulo reto, às dependências das tulhas e do armazém de batatas. A O. destes situam-se a residência do feitor, a garagem e o lagar formando com os anteriores edifícios um pátio. A N. do lagar encontra-se a adega. |
Utilização Inicial
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Residencial, Agrícola e florestal: quinta |
Utilização Actual
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Residencial, Agrícola e florestal: quinta |
Propriedade
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Privada: Pessoa singular |
Afectação
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Sem afectação |
Época Construção
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Séc. 17 / 20 |
Arquitecto / Construtor / Autor
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ARQUITETO: Raúl Lino (1939-1957). ARQUITETO PAISAGISTA: Francisco Caldeira Cabral (1944/1954), ENGENHEIRO AGRÓNOMO: Carlos Marques de Almeida (1944-1949). |
Cronologia
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Séc. 17 - construção da casa principal da Quinta da Agrela; 1935, 10 outubro - "Planta topográfica do quintal das propriedades. Planta destinada ao projeto de um parque" elaborada pelo topógrafo Arsénio da Fonseca; 1940, janeiro - memória descritiva por Raúl Lino (1879 - 1974) do" Projeto de ajardinamento da propriedade do Exm.º Sr. Augusto Carneiro Pacheco. Agrela"; 1939, agosto - esboço de portão por Raúl Lino; 1940, fevereiro - projeto de Raúl Lino da reabilitação da casa principal; 1940, agosto - primeira visita de Francisco Caldeira Cabral (1908 - 1992) à Quinta da Agrela e convite pelo proprietário da quinta, Augusto Carneiro Pacheco (1888 - 1962), para a elaboração de um projeto para um novo assento da lavoura da quinta, sendo as pré-existências a demolir, em virtude da alteração do traçado da Estrada Nacional 207. Caldeira Cabral aceita desde que este projeto seja elaborado com a colaboração do Engº Agrónomo Carlos Marques de Almeida; 1941, 3 outubro - Augusto pede a Caldeira Cabral urgência na elaboração do projeto das novas instalações agrícolas para que este pudesse ser conjugado com o alargamento da Estrada Nacional 207; 1944, 30 abril - em carta do proprietário a Francisco Caldeira Cabral é referida a grande satisfação e consequente aprovação do plano geral, memória descritiva e maquete do anteprojeto das instalações da nova casa agrícola, recomendando apenas a ampliação das boxes dos cavalos, pedindo para se iniciar sem demora a concretização do projeto. Deste projeto fazem parte as várias construções catalogadas como: Eira (A), Nitreira (B), Gados (C), Lagares (D), Residências (F), Fossa (I) ou Alpendre (F); 1944, 9 dezembro - entrega das peças finais do anteprojeto e do projeto do novo assento da lavoura, da Eira, Casa da Eira (A) e Nitreira (B); 1944 a 1948 - peças desenhadas do projeto de execução do novo assento da lavoura, para além das não datadas, referentes à pasta "Gados (C)"; 1944 a 1949 - peças desenhadas do projeto de execução do novo assento da lavoura, para além das não datadas, referentes à pasta "Lagares (D)"; 1945 - peças desenhadas do projeto de execução do novo assento da lavoura, para além das não datadas, referentes à pasta "Casa do Américo"; 1945, 17 janeiro - tinham sido iniciadas as obras do depósito de batatas e das cavalariças; 1945, 18 agosto - Augusto Carneiro Pacheco manifesta-se desolado com o atraso das obras; 1945, 3 novembro - desenho dos novos trajetos das Estrada Nacional 207 e estrada municipal do Sobrado com a quantificação da área a ceder ao vizinho (108 m2) e proposta de um novo jardim a construir N. e a O. da casa principal; 1945 a 1949 - realização das obras das novas instalações do assento da lavoura; 1945, 3 novembro a 1946, 19 maio - peças desenhadas da parte I do projeto do jardim; 1946, 1 março - O proprietário pede que seja adicionado ao projeto do novo assento da lavoura, uma casa do leite e manteiga, anexa à vacaria, uma pocilga e um alpendre grande; 1946, 16 março - estavam em curso as obras dos: aidos, palheiro, vacaria, e depósito de batatas; 1946; abril - peças desenhadas e memória descritiva da parte I do projeto do jardim reformulado quanto ao desenho e tipo de cantaria a utilizar, bem como a substituição de jardim de formal por relvado, frente à fachada poente da casa 1946, 15 julho - estavam em curso as obras dos: lagares, depósito de batatas, celeiro, adegas, garagem, telheiro e silos; 1946 a 1948 - peças desenhadas do projeto de execução do novo assento da lavoura, para além das não datadas, referentes à pasta "Residências (E)"; 1946 a 1948 - peças desenhadas do projeto de execução do novo assento da lavoura, para além das não datadas, referentes à pasta "Alpendre (F)"; 1946 a 1948 - peças desenhadas do projeto de execução do novo assento da lavoura, para além das não datadas, referentes à pasta "Fossa (I)"; 1946, 12 dezembro a 1954, 18 março - peças desenhadas do projeto definitivo do jardim, parte II; 1947 - 16 de abril - estavam em curso as obras da fossa e do alpendre; 1947, 7 junho - a construção da parte I do jardim estava já em parte de acabamento. As plantações estavam quase terminadas faltando também ainda a sementeira do relvado agendada para a semana seguinte; 1947, 26 de julho - falta transplantar as cameleiras, que completavam a ligação entre os dois jardins; 1947, 23 agosto - memória descritiva e justificativa do projeto definitivo, parte II do jardim; 1947, 16 de dezembro - encontram-se em curso os acabamentos da residência, vacaria, manteigaria e nitreira. Faltam os pavimentos dos pátios e os trabalhos do ferreiro, como fechaduras e grades; 1949 - entrega por Francisco Caldeira Cabral do projeto de um ovil; 1949, 22 agosto - acabamentos na leitaria e pocilgas; 1953, novembro - Caldeira Cabral desloca-se à Agrela como o Engº Sebastião Beltrão para serem resolvidos defeitos de instalação no sistema de rega do jardim; 1954 - O jardim foi concluído com a replantação de zonas do roseiral menos bem ambientadas. |
Dados Técnicos
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Jardim construído em terraços cujos desníveis são vencidos por escadas, ou rampa. |
Materiais
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INERTES - muros, tanque e respectiva concha de adução de àgua, bancos, esteios de apoio de pérgulas e pavimentos em granito; pavimentos e muros em xisto; pavimentos em tijoleira e em terra batida. VEGETAL - Árvores: cameleira (Camellia japonica), laranjeira (Citrus sinensis), magnólia-chinesa (Magnolia x soulangeana), pinheiro-do-Paraná (Araucaria angustifolia); Arbustos: bambu (Arundinaria falconeri), buxo (Buxus sempervirens), rododendro (Rhododendron ponticum L.), azáleas (Rhododendron indicum L. ), roseira (Rosa sp.); Herbáceas: lírio (Iris germanica), nenúfar branco (Nymphaea alba); Trepadeiras: glicínia (Wisteria sinensis), videira (Vitis vinifera). |
Bibliografia
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ANDERSEN, Teresa, "Francisco Caldeira Cabral", Reino Unido, 2001; ANDERSEN, Teresa, "Do Estádio Nacional ao Jardim Gulbenkian - Francisco Caldeira Cabral e a primeira geração de Arquitetos Paisagistas (1940-1970)", Lisboa, 2003; CABRAL, Francisco Caldeira, TELLES, Gonçalo Ribeiro, "A Árvore em Portugal", Lisboa, 1999; CAIXINHAS, Maria Lisete, "Flora da Estufa-fria de Lisboa", Lisboa, 1994; GONZALEZ, Gines Lopez, "La Guia de incafo de los Arboles y arbustos de la Península Ibérica", Madrid, 1994. |
Documentação Gráfica
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DGPC: Arquivo Pessoal Francisco Caldeira Cabral |
Documentação Fotográfica
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DGPC: DGEMN / DSID |
Documentação Administrativa
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DGPC: Arquivo Pessoal Francisco Caldeira Cabral |
Intervenção Realizada
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PROPRIETÀRIO: 1945 a 1949 - realização das obras das novas instalações do assento da lavoura; 1947 - A construção da parte I deste jardim teve início na primavera, existindo já plantas em floração em outubro, prolongando-se a obra até finais deste ano, estando-se então ainda a programar a compra das últimas cameleiras, a plantar em redor do tanque.1954 - A parte II do jardim foi concluída com a replantação de zonas do roseiral menos bem ambientadas. |
Observações
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Autor e Data
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Teresa Camara 2019 |
Actualização
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