Fortificações de Caminha
| IPA.00002169 |
Portugal, Viana do Castelo, Caminha, União das freguesias de Caminha (Matriz) e Vilarelho |
|
Arquitetura militar, medieval e seiscentista. Castelo gótico, de planta ovalada, com 13 torres estando a de menagem integrada no perímetro da muralha, e com três portas portas, uma em cotovelo e outra do séc. 16, orientadas para os pontos cardeais. A torre de menagem, a única subsistente do castelo de Caminha, era a mais alta e avançava para o exterior da muralha, sendo rasgada pela principal porta da vila, com acesso ao eixo viário central. Da barbacã que envolvia parcialmente o castelo, já de finais do séc. 14 inícios do 15, e de que existem imagens de Duarte Darmas, conservam-se pouquíssimos vestígios erguidos, contudo o seu traçado é ainda notório na organização urbana, uma vez que se foi construindo encostado ao seu perímetro interior e exterior e respeitando os principais eixos viários e largos. A fortaleza construída a envolver a malha urbana desenvolvida, a partir do séc. 16, extramuros do castelo, para S. e E., apresenta planta poligonal irregular, com paramentos em talude, rematados em cordão e parapeito de merlões e canhoneiras. A fortaleza formava dois núcleos: um integrando o burgo medieval e envolvendo a zona mais nobre da vila, que se estendia para E. e SE. e a segunda envolvendo a zona de habitação dos pescadores, e que existia como arrabalde da vila desde o séc. 13. As suas cortinas eram defendidas por fossos com água e contraescarpas e eram rasgadas por seis portas: a de Viana (ou Porta Nova da Misericórdia, a da Corredoura, ambas com ponte levadiça, a do Cais ou Porta do Vau, a de Arga do Coura, a de Santo António e a do Açouge. Juntamente com a fortaleza de Viana, Valença e Monção, constitui uma das quatro grandes fortalezas em que assentava a defesa do Noroeste português, a qual era complementada com pequenos fortes. |
|
Número IPA Antigo: PT011602070008 |
|
Registo visualizado 1799 vezes desde 27 Julho de 2011 |
|
|
|
Conjunto arquitetónico Edifício e estrutura Militar Castelo e cerca urbana / Fortaleza
|
Descrição
|
Fortificação composta por vestígios do castelo medieval e troços da fortificação moderna. CASTELO MEDIEVAL: torre de menagem, inicialmente integrada no circuito das muralhas, de planta quadrada e cobertura em terraço, tendo ao centro estrutura piramidal de cantaria com sino. Apresenta fachadas aprumadas em cantaria aparente, terminadas em parapeito coroado por ameias piramidais, de dois pisos sobre a porta de aceso à vila, em arco de volta perfeita sobre os pés direitos e imposta saliente, com imagem de Nossa Senhora da Conceição na aduela de fecho e encimada por armas de Portugal, em moldura quadrangular côncova. A face principal, virada a S. é rasgada por duas seteiras centrais e, superiormente,tem relógio quadrado. Na fachada posterior, ao nível do primeiro piso, abre-se portal de arco apontado, precedido por patamar sobre dois modilhões. Das muralhas subsiste um pano de muralha formando passadiço entre as traseiras das casas da Rua do Condestável D. Nuno Álvares Pereira e as traseiras das casas da Rua Barão de São Roque, conservando sobre a segunda travessa a S. da Matriz o vão da antiga porta do Marquês ou Portas do Mar; esta possui arco de volta perfeita sobre os pés direitos e tem na aduela de fecho as armas de Portugal, com bordadura dos doze castelos. Subsistem ainda dois poços a N., assinalados por Duarte Darmas, e hoje integrados numa casa particular, em ruínas, disposta lateralmente à Igreja Matriz. Da FORTALEZA MODERNA subsistem três grandes troços. O baluarte em frente da Matriz, interligado ao troço de muralha medieval, com muros em talude, terminados em cordão e parcialmente com parapeito, de merlões e canhoneiras, a que se tem acesso por rampa. A E. dispõe-se um outro baluarte, de ângulo mais apertado e com guarita facetada no ângulo, e ainda parte de um terceiro baluarte, mais baixo, ambos envolvendo a malha urbana. Subsiste também troço de cortina que, sensivelmente desde a antiga Porta da Corredoura, onde forma pequena bateria, segue para S., criando vários ângulos, integrando dois baluartes envolvendo o convento de Santo António, passando por baixo do primeiro túnel do comboio e seguindo-se ao segundo um outro, virado ao rio Minho e nele se abrindo lateralmente porta falsa, a denominada Porta de Santo António, com arco de volta perfeita. Continuando, a muralha, flecte um pouco para NO., desce em várias cortinas até às Portas de Viana e, depois da estrada, mais um pouco até ao rio virando-se depois para N., seguindo por detrás das casas da Rua das Flores, terminando à frente do mercado municipal. Todo este percurso tem paramentos em talude, terminados em cordão e parapeito, em alguns troços. Uma cortina parte sensivelmente das portas de Viana, continuando para S., ao longo do rio, com duas baterias e, depois de baluarte quadrangular com um ângulo para O., contorna para E., sendo a Rua dos Pescadores enquadrada pelas Portas do Cabo. Esta é constituída por dois pilares quadrangulares, ladeando a estrada, com capitel toscano encimado por elemento quadrangular da ordem dórica, sobreposto por tabuleiro quadrangular e fogaréu sobre acrotério. A cada um dos pilares foi sobreposto registo de azulejos policromos com a inscrição CAMINHA. Das Portas do Cabo a cortina sobe para E., formando à frente baluarte, conhecido por forte de São Rodrigo, seguindo depois para N., juntando-se ao fosso do segundo troço de cortina, por detrás do Convento de Santo António. |
Acessos
|
Avenida Dr. Dantas Carneiro; Largo do Terreiro; Rua Ricardo Joaquim de Sousa (Rua do Meio); Largo D. António Mende; Calçada de Santo António; Rua Benemérito Joaquim Rosas. VWGS84 (graus decimais): lat.: 41,871753; long.: -8,838974 |
Protecção
|
Categoria: MN - Monumento Nacional, Decreto nº 38 147, DG n.º 4 de 05 janeiro 1951 (Torre do Relógio) / IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto nº 47 508, DG, 1.ª série, n.º 20 de 24 janeiro 1967 / Decreto nº 251/70, DG, 1.ª série, n.º 129 de 03 junho 1970 *1 |
Enquadramento
|
Urbano. Os vários troços da muralha envolvem grande parte da vila ao longo da língua de terra entre a foz do rio Coura e o estuário do rio Minho, tendo por vezes construções adossadas e estando grande parte da fortaleza encoberta por matagal. A torre de menagem do castelo, mais conhecida por torre do relógio, ergue-se virada a S., para a principal praça da vila, entre o edifício dos Paços do Concelho e da Caixa Geral de Depósitos, que se lhe adossam em ângulo, mas dos quais se destaca, possuindo inferiormente vão com circulação de peões. |
Descrição Complementar
|
|
Utilização Inicial
|
Militar: castelo e cerca urbana / fortaleza |
Utilização Actual
|
Cultural e recreativa: marco histórico-cultural |
Propriedade
|
Pública: estatal |
Afectação
|
Sem afetação |
Época Construção
|
Séc. 13 / 17 |
Arquitecto / Construtor / Autor
|
ARQUITECTO: Sebastião Pereira de Frias (séc. 17). ENGENHEIRO: Miguel L'École (séc. 17). EMPREITEIRO: João Alves do Rego (1703). |
Cronologia
|
Séc. 13 - D. afonso III incentiva construção de muralha que cercasse a póvoa marítima; 1260 - segundo inscrição nas Portas do Sol, estão acabadas as muralhas; 1284 - D. Dinis concede foral a Caminha; provável conclusão do castelo; séc. 14 / 15 - provável construção da barbacã com cubelos durante o reinado de D. João I, a qual reforça a zona de confluência dos rios Coura e Minho; séc. 16, início - desenho do castelo por Duarte D'Armas *2; 1515 - retomam-se os trabalhos na barbacã, mas que nunca se chegam a concluir; séc. 16, 1º quartel - para comemorar a passagem de dois Infantes, abre-se a N. Porta Nova que, por ser pouco defensável, se tapa de pedra em tempo de guerra; todas as portas receberam oratórios; 1597 - colocação de uma grimpa com sino no cimo da torre de menagem, por mestre galego, que recebe 400 cruzados; séc. 17 - intervenção nas muralhas por Sebastião Pereira de Frias; 1610 - fundição de segundo sino com 8 quintais, devido ao primeiro ter rachado; 1614 - depois da capela de São João ter sido mudada para o atual local, por ordem da Vereação da Câmara, a quem pertencia, procede-se à demolição da torre de São João; 1640, depois - D. João IV recomenda a construção de uma segunda cintura de muralhas envolvendo o complexo habitacional que se desenvolvera extramuros do castelo medieval *3; 1641 - quando a casa de Vila Real cai em desgraça D. João IV manda demolir o palácio e salgar o local; tapa-se também a porta do Marquês e procede-se à demolição da torre do Cais, construindo-se baluarte no local; outras torres do lado O. são também demolidas ou arrasadas até à altura dos muros, para instalar os armazéns de pólvora; 1651 - aquando da construção da Igreja da Misericórdia, desmonta-se até meio a torre da albergaria ou do hospital velho; 1654 - o engenheiro Manuel Pinto Vilalobos projeta um grande armazém para a fortaleza, construído junto à Igreja Matriz; 1676 - D. Pedro II, que conclui as obras da fortaleza, encarrega Miguel de L'École de construir um baluarte em frente da Matriz; 1703 - João Alves do Rego, mestre empreiteiro das obras de fortificação de Monção e Caminha, pede para se lhe dar uma praça de soldado pago para o incitar a que continuasse os princípios que já tinha de Aritmética e Geometria e juntamente das fortificações que ia adquirindo no trabalho de assistência que fazia com Miguel de Lescole, Mestre de Campo, no traçar delas e no tomar de algumas plantas e pelos rascunhos de fortificações que lhe entregava para os seguir; 1708, 19 janeiro - cheia derruba as portas do açouge e danifica grande parte da muralha junto ao rio Minho; 1720 - a capela da Senhora da Piedade, na torre da Piedade, é administrada por André Soares, tendo ainda aquela torre nicho com imagem de Santo António dos Esquecidos; 1739 - só existe a torre do relógio e a da Piedade; 1792 - rei proíbe a existência de edifícios ou cultura dentro dos fossos ou sobre qualquer obra de fortificação das praças e fortalezas da Província do Minho; 1837, 20 maio - a Câmara Municipal manda derrubar a fortaleza, para empregar a pedra nos pegões da ponte sobre o rio Coura; 13 dezembro - reaberta a porta de Santo António; 1868, 12 agosto - autorizada a demolição das portas de Viana e do Cais, começada em 03 de janeiro de 1869; 1870, 13 fevereiro - a Câmara decide derrubar as portas da Corredoura e o arco da Botica, na porta nova; a construção da Estrada Nacional Viana - Caminha contribui também para a destruição da fortificação; 1889 - data do relógio da torre; séc. 19, finais - recolocação de alguns elementos da antiga porta principal da fortificação moderna de ambos os lados da estrada para obtenção de uma porta de caráter monumental. |
Dados Técnicos
|
Sistema estrutural de paredes portantes. |
Materiais
|
Estrutura em cantaria de granito, com aparelho "vittatum", no troço medieval e cunhais da fortaleza, e "mixtum vittatum" nas muralhas desta; pavimento da torre em madeira. |
Bibliografia
|
GUERRA, Luís de Figueiredo, Castelos do Distrito de Viana, Coimbra, 1926; ALMEIDA, João de, Reprodução anotada do livro das Fortalezas de Duarte Darmas, Lisboa, 1943; SANTOS, João M. F. Silva, Caminha através dos tempos in Caminiana, vol. 1, Ano 1, nº 1, Caminha, 1979, p. 161 - 201; ALVES, Lourenço, Caminha e seu Concelho (Monografia), Caminha, 1985; idem, Do Gótico ao Manuelino no Alto Minho (Monumentos Civis e Militares) in Caminiana, vol. 12, Ano 7, Caminha, 1985, p. 37 - 150; MOREIRA, Rafael, Do Rigor Histórico à Urgência Prática: A Arquitectura Militar in História da Arte em Portugal, vol. 8, Lisboa, 1986, p. 67 - 85; ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de, Alto Minho, Lisboa, 1987; SOROMENHO, Miguel Conceição Silva, Manuel Pinto de Vilalobos da engenharia militar à arquitectura (dissertação de mestrado em História da Arte Moderna), UNL, Lisboa, 1991; PEDREIRINHO, José Manuel, Dicionário de arquitectos activos em Portugal do Séc. I à actualidade, Porto, Edições Afrontamento, 1994; Relatório dos Trabalhos de Acompanhamento Realizados pela Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho, ao Abrigo dos Protocolos com a Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (1997 - 1999) (2001 - 2002), (Universidade do Minho), Braga, 2002. |
Documentação Gráfica
|
IHRU: DREMN/DGEMN, DGEMN/DSID |
Documentação Fotográfica
|
IHRU: DGEMN/DSID, SIPA |
Documentação Administrativa
|
IHRU: DGEMN/DSID |
Intervenção Realizada
|
DGEMN: 1961 - Obras de restauro; 1962 - continuação das mesmas; 1964 - reposição do terrapleno junto ao cemitério e reconstrução da muralha nesse troço; 1965 - continuação da beneficiação dum pano amuralhado; consolidação e tratamento de 1 troço sobranceiro à R. Benemérito Joaquim Ruas; tratamento de parte do paramento exterior da muralha junto à Matriz; diversos trabalhos de arranjo; 1966 - trabalhos de restauro; escoamento das águas pluviais do lajedo envolvente das fachadas N. e O. da Matriz; tratamento e restauro de parte da muralha do baluarte S. do conjunto da fortificação; regularização dos fossos, limpeza e refechamento de juntas de parte dos troços da muralha envolvente da Matriz; 1967 - recontrução do parapeito da muralha junto da matriz; 1968 - beneficiação de vários pontos do amuralhado; 1971 - demolição de muro de vedação de terreno expropriado e trabalhos de arranjo; 1975 - trabalhos de conservação; 1976 - limpeza e consolidação; 1977 - trabalhos de consolidação; 1979 - conservações; limpeza e arranque de vegetação; consolidação de alvenarias; 1980 - trabalhos de consolidação; 1981 - beneficiação de troços das muralhas; 1983 - obras de beneficiação; 1984 / 1985 - beneficiações diversas; 1986 - beneficiação das muralhas; 1987 - reparação de 1 troço em ruínas; 2001 - conservação e valorização da fortaleza e espaços envolventes (1.ª fase); acompanhamento arqueológico, pela Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho, no âmbito do protocolo com a DGEMN, na zona do baluarte de Santo António, tendo em vista a recolha de dados para caracterização em pormenor do coroamento da muralha; intervenção arqueológica e sondagem no sector N. da muralha, dirigida por Luís Fontes e Francisco Sande Lemos e com o apoio técnico de Vladimiro Pires, na sequência da qual se recomenda que não se ensaie qualquer reconstrução, conservando-se os elementos existentes, sem se retirar a pequena camada de terra que os preserva de agressões de maior impacto. |
Observações
|
*1 - O decreto de 1967 classificava como Imóvel de Interesse Público apenas "três frações existentes das muralhas", no entanto, o decreto de 1970 esclarece que a classificação "passa a abranger todos os elementos que restam do conjunto fortificado da vila de Caminha". *2 - Segundo o desenho de Duarte D'Armas, o castelo medieval tinha planta ovalada, com treze torres e três portas: a de Viana, a do Sol, dando para o Vau, estaleiros e esteiro, e a do Marquês ou do Mar, com entrada em cotovelo para o cais e junto da qual existia o Paço dos Duques de Caminha, que ia desde a torre, onde ainda hoje existe um arco, até ao largo do Corpo da Guarda, com fachada para a R. do Meio, tendo ainda um passadiço por cima da R. da Ribeira. A colocação de um relógio público na torre de menagem, durante o séc. 17, levou a que a mesma passasse a ser designada como torre do Relógio. As armas de Portugal sobre a porta são anteriores a 1436, visto ser essa a data para a reforma das armas, altura em que todos os escudetes passam a surgir de pé. *3 - A fortificação moderna foi construída com a preocupação de reforçar a defesa da costa portuguesa perante a ameaça espanhola durante as Guerras da Restauração, integrando-se na linha defensiva estrategicamente colocada nas margens do rio Minho e ao longo da Costa Atlântica. |
Autor e Data
|
Paula Noé 1992 |
Actualização
|
José A. Gavinha 2011 |
|
|
|
|
| |