Casa de José Florêncio Soares
| IPA.00020939 |
Portugal, Braga, Fafe, Fafe |
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Casa unifamiliar oitocentista, inserida no contexto da chamada "Casa de Brasileiro", de planta rectangular simples, de desenvolvimento horizontal, com dois pisos. Fachada principal amplamente rasgada por vãos em arco pleno, com gárgulas de canhão em bronze na platibanda de remate, e ao centro frontão triangular com cartela com a data de fundação da casa. Apresenta grandes semelhanças com fachada principal da Casa de José Luís Mendes de Oliveira e Castro, do outro lado da rua, situação que poderá ser explicada devido a ter sido José Florêncio Soares a dirigir a obras de construção de ambas as casas. A ladear a fachada portões de acesso ao jardim desenvolvido posteriormente. Fachada posterior com escadaria de dois lanços, com arco inferiormente, de acesso a porta alpendrada. Interior com amplo vestíbulo com tecto estucado, possuindo na parede testeira três portas, a central de comunicação com a escadaria, de acesso ao piso nobre, e as laterais de acesso às lojas do primeiro piso. Ainda neste piso encontram-se antigos escritórios, um deles que servia a para a gerência da fábrica do proprietário. Escadaria com clarabóia com decoração de estuque neoclássica. Segundo piso com quartos, cozinha, copa, salas, capela e sanitários. Águas-furtadas com quartos de criados, arrumos e sanitário. Tectos de estuque trabalhado, por vezes pintado, alguns com concheados neorococós, paredes revestidas a papel adamascado, lambris e portas de madeira com acabamento de escaiola e pintados, pavimentos de madeira e em ladrilho cerâmico. |
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Número IPA Antigo: PT010307090030 |
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Registo visualizado 364 vezes desde 27 Julho de 2011 |
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Edifício e estrutura Edifício Residencial unifamiliar Casa
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Descrição
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Planta rectangular, com massa simples de dominante horizontal. Cobertura em telhado de quatro águas, com clarabóia, mansarda central, revestida a zinco pintado de branco, coberta a duas águas, com janelas viradas às fachadas laterais, e duas trapeiras, uma virada à fachada lateral S. e outra, maior, virada à fachada posterior. Fachadas rebocadas e pintadas de branco, com dois registos, separados por friso de granito, rasgadas regularmente por vãos, sendo todas as janelas de peito em guilhotina. Embasamento, molduras dos vãos e cunhais apilastrados em granito e remates em cornija sob beiral. A fachada principal, amplamente rasgada por vãos em arco pleno, apresenta, no primeiro registo, porta no eixo, e três janelas de cada um dos lados. As duas que ladeiam a porta são fechadas por portadas verdes. No segundo registo abrem-se sete janelas com sacada corrida ao longo de toda a fachada, assente em mísulas, com guarda em ferro forjado pintado a verde. A cima do beiral ergue-se platibanda de granito, que se prolonga até metade das fachadas laterais, com frontão central, com cartela circular com inscrição "1861", no tímpano. Nos extremos encontram-se longas e esguias gárgulas de canhão em bronze. As fachadas laterais apresentam, no primeiro registo, óculos ovais que iluminam as lojas e, no segundo, janelas de peito, duas em arco pleno, do lado esquerdo, e restantes em verga recta. Sobre a fachada N. avultam três chaminés, uma central e duas nos extremos. Fachada posterior rasgada no primeiro registo por portas de verga recta, nos extremos e ao centro escadaria de dois lanços convergentes em patamar superior, com guarda de ferro, arco abatido inferiormente, de acesso a porta, e lateralmente pequenos óculos. A escadaria dá acesso ao piso superior, a porta de verga recta, com alpendre suportado por colunelos. A ladear a porta, três janelas, igualmente de verga recta. No INTERIOR, a porta principal conduz a vestíbulo de recepção para o qual abrem cinco portas, uma à esquerda e uma à direita, dando acesso a dois compartimentos onde funcionaram escritórios * 1, e três fronteiras, conduzindo a central à escadaria de madeira, que leva ao piso superior, e as laterais às lojas que ocupam o resto deste piso térreo, destinadas fundamentalmente à arrecadação de produtos agrícolas, mas incluindo garagem e oficina. Acede-se a estas lojas quer a partir do vestíbulo, quer da porta rasgada na fachada posterior, quer dos próprios escritórios. Um destes, onde funcionou escritório de advogado, guarda o tom solene e pesado que lhe é conferido pelas escuras madeiras dos vãos, lambril e tecto, em combinação com o tom vermelho escuro usado no revestimento de paredes e compondo a decoração do tecto. As paredes do vestíbulo, pintadas a branco, têm silhar de azulejos monocromos a azul, com remate superior recortado, e pintura de enrolamentos de ramagens envolvendo vasos floridos. Os vãos, de arco pleno e ombreiras apilastradas, são em granito, com portas em madeira e, no caso da porta de acesso à escadaria, usando vidro. O tecto é em estuque, o pavimento em lajeado granítico. Ao centro encontrava-se chafariz. A escadaria, com um lanço de acesso a patamar comunicante com dois lanços paralelos até ao segundo piso, apresenta guarda em ferro, e iluminação superior da clarabóia, com estuque ornamental, dominando os medalhões com bustos inscritos, figuras alegóricas e representação de colunas jónicas. As organização das dependências neste piso desenvolve-se em função do vão de escadas, a O., e de um espaço de serviço, para E., grande dependência que terá funcionado como copa. Entre um e outro espaços há um corredor central que distribui para quartos, situados a S., e salas, incluindo sala de jantar e capela, a N.. A sala de jantar, com fogão de sala, remodelado, que integrava lambril de madeira e, daí até ao topo das paredes, revestimento a papel veludo, inglês, de fundo vermelho escuro e ornatos em tom mais claro. As portas, com bandeira em vidro, são em madeira castanho escuro, tal como as vigas perpendiculares que ornam o tecto, definindo caixotões, cujo interior é ornado com o mesmo tom vermelho das paredes. As paredes da capela, actualmente desprovida de altar, são também ornadas a vermelho escuro. Os dois quartos que têm acesso directo pelo referido corredor central, possuem pequena antecâmara separada por arco abatido, paredes revestidas a papel azul e amarelo com ornatos vegetalistas estilizados a amarelo, completando-se o conjunto cromático com o castanho das madeiras dos vãos e arco. Copa e corredor ostentando lambril de madeira em castanho escuro, a mesma cor da madeira dos vãos, e paredes com pintura a branco. Junto à copa, no ângulo NE. da casa, situa-se a cozinha, com acesso directo por escadas ao piso inferior, a uma dependência onde funcionava a caldeira do aquecimento central da casa. A cozinha tem remodelação recente e assenta em placa de betão. Ainda junto à copa, mas para o lado oposto, para SE., situam-se as escadas de serviço que conduzem às águas-furtadas, e dois sanitários, um dos quais sala de banho. O lado O. da casa, abrindo para a fachada principal, é ocupado por grande salão, que tem acesso à sacada sobre a rua. Decorado a azul e ouro, o rodapé e madeiras dos vãos receberam pintura a amarelo, as paredes foram revestidas a papel azul forte, adamascado, e um friso, junto ao tecto, e um outro, no próprio tecto, modelados em estuque, receberam os mesmos tons azul e dourado. Ornato central do tecto também pintado a ouro. Junto a este salão, ocupando o lado SO. do mesmo piso, situam-se três dependências, que corresponderão a três quartos, o primeiro, com janelas abrindo para a fachada S. e para a fachada principal, com as madeiras dos vãos pintadas a bege, e o papel de parede, com ornatos vegetalistas estilizados, em tons de ouro. Um quarto contíguo, com janela virada a S., usa o mesmo esquema decorativo, mas com o papel de parede com bandas verticais. Um terceiro quarto, contíguo a este, e igualmente com janela virada a S., recebeu pintura a bege e ouro no lambril, portas e portadas, em decoração galbada, e paredes revestidas a papel com motivos em tons de vermelho. O tecto, em estuque trabalhado, é pintado a bege com ornatos vegetalistas *2. Em todo este piso os pavimentos são em madeira, com excepção da cozinha e sanitários, em ladrilho cerâmico. Os quartos dos criados, nas águas-furtadas, organizam-se essencialmente de um lado e de outro de um corredor que atravessa o corpo sobrelevado, corredor que termina na trapeira sobre a vertente E. do telhado, que o ilumina. Seis dependências assim distribuídas, quatro delas com janela vertical, havendo ainda mais quatro espaços nestas águas-furtadas, um deles um sanitário e outro que corresponderia a mais um quarto *3. |
Acessos
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Rua Monsenhor Vieira de Castro, n.º 87 |
Protecção
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Enquadramento
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Urbano, isolado, confina parcialmente, dos lados S. e N., com prédios de construção recente, possuindo fronteiro o Cine-Teatro de Fafe (v0307090009), e junto a este a Casa de José Luís Mendes de Oliveira e Castro (v. 0307090011). A N., mais distante, encontram-se as casa de Álvaro Monteiro Viera de Castro, José Alves de Freitas, José António Martins Guimarães e António Joaquim da Silva (v. 0307090035, 0307090031, 0307090034 e 0307090044). A S. encontra-se a Casa de Constança Lobo (v. 0307090047). Possui jardim murado, desenvolvido posteriormente, com acessos por portões rasgados nos altos muros que ladeiam a fachada principal. Os portões são rasgados em panos rebocados e pintados de branco, com delimitação por pilastras, as que enquadram os portões coroadas por esferas, e as dos extremos dos muros com leões. No lado E., no extremo do jardim encontra-se outro portão semelhante aos que se encontram virados à Rua Monsenhor Vieira de Castro. |
Descrição Complementar
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Jardim de planta trapezoidal, com canteiros geométricos e desenhos irregulares de buxo. |
Utilização Inicial
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Residencial: casa |
Utilização Actual
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Devoluto |
Propriedade
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Privada: pessoa singular |
Afectação
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Sem afectação |
Época Construção
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Séc. 19 |
Arquitecto / Construtor / Autor
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Desconhecido. |
Cronologia
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1861 - A casa é mandada construir por José Florêncio Soares *4, nascido em Fafe a 4 de Março de 1824, filho de Miguel António Soares e Maria Joaquina Gonçalves Moreira; foi emigrante no Brasil, onde casou com D. Maria Teresa da Costa, natural do Rio de Janeiro, filha de Domingos José da Costa, de Oliveira de Azeméis, e de D. Senhorinha Jesuína da Silva, de Minas Gerais, no Brasil; 1873 - constituição sob a forma de Parceria Mercantil, da sociedade destinada à montagem e exploração da Fábrica do Bugio, em Fafe, da qual era um dos sócios José Florêncio Soares; 1894, Março - a Parceria Mercantil dissolve-se passando a Fábrica do Bugio a pertencer unicamente a José Florêncio Soares; 1900, 1 Abril - falecimento do proprietário, passando a casa a pertencer ao seu filho José Florêncio Soares Júnior, casado com Margarida Summavielle; 1983, 14 Setembro - Despacho de homologação como Valor Concelhio, pelo Ministro da Cultura; 2003 - a casa é vendida aos actuais proprietários pelo Dr. Parcídio Summavielle, trineto do construtor; 2009, 23 outubro - o processo de classificação caduca nos termos do artigo 78.º do Decreto-Lei n.º 309/2009, publicado nesta data; 2010, 30 dezembro - procedimento indevidamente prorrogado pelo Despacho n.º 19338/2010, DR, 2.ª série, n.º 252; 2011, 30 março - proposta de arquivamento do processo de classificação pela DRCNorte; 06 junho - Despacho do diretor do IGESPAR a considerar o procedimento caducado. |
Dados Técnicos
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Paredes autoportantes |
Materiais
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Estrutura de alvenaria, embasamento, cunhais, molduras dos vãos, cornija, paltibanda e frontão no remate, em granito; portas, janelas, escadaria interior, lambris e pavimentos, em madeira; tectos em estuque decorado; vestíbulo, casas de banho e cozinha com azulejos industriais; portões, guardas das sacadas e da escadaria interior em ferro forjado; cobertura em telha de aba e canudo. |
Bibliografia
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MONTEIRO, MIGUEL, Fafe dos Brasileiros (1860-1930), Perspectiva histórica e patrimonial, Fafe, 1991, p. 192 - 196. |
Documentação Gráfica
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Documentação Fotográfica
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IHRU: DGEMN/DSID |
Documentação Administrativa
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Intervenção Realizada
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Observações
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*1 - Num destes escritórios funcionou a parte administrativa da Fábrica do Bugio, o outro foi escritório de advocacia; *2- o Dr. Parcídio Summavielle referiu que a casa teria originalmente apenas dois quartos e que estes quartos teriam sido posteriormente acrescentados pelo filho do primeiro proprietário; *3 - foi-nos referido pela actual proprietária que a casa dispunha de nove quartos de criados. No entanto, pela análise das nove dependências nas águas-furtadas, para além do sanitário, parece-nos que, de origem, se trataria de sete quartos e dois espaços de arrumação; *4 - José Florêncio Soares foi fundador da Fábrica do Bugio, um dos principais promotores da construção do Hospital da Misericórdia de Fafe e Presidente da Câmara desta localidade onde liderou as principais obras de modernização urbanística dos finais do século 19; terá ainda mandado esculpir em gesso, em tamanho natural três dos seus principais opositores, colocando as estátuas na casa de banho de sua casa, com as seguintes inscrições "embargaram os muros, embargaram os pórticos, embargaram a casa, embargaram tudo". |
Autor e Data
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Alexandra Cerveira e Paulo Dordio 2003 |
Actualização
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