Quinta da Cardiga
| IPA.00002038 |
Portugal, Santarém, Golegã, Golegã |
|
Palácio construído no séc. 16, pela Ordem de Cristo, sobre estruturas mais antigas e que tiveram por base um castelo medieval, da Ordem do Templo, de que subsiste a torre de menagem, integrando-se numa grande quinta de exploração agrícola. D. Afonso Henriques doou o castelo da Cardiga e o de Zêzere aos Templários, com todas as herdades desbravadas pela Ordem, em 1169, ao mesmo tempo que confirmava a doação do castelo de Ceras, mas as inscrições, datadas de 1171, existentes noutros castelos referem que D. Gualdim Pais fora responsável pela construção de, entre outros, o castelo da Cardiga. Independentemente de ter sido construído ou reconstruído no séc. 12, pela Ordem do Templo, do castelo da Cardiga subsiste apenas a torre de menagem, de planta retangular e paramentos aprumados, em alvenaria de pedra, rasgados por seteiras, inicialmente com três pisos sobradados, conforme descrita no Tombo de 1504. Nesta data, o seu sobrado de cima era novo, no do meio havia uma janela de assentos e por baixo uma loja, tendo já associado uma sala, sobradada e coberta de telha (9 x 4 varas e duas terças), com três janelas conversadeiras, sobre uma estrebaria, e uma cozinha telhada (5 x 4 varas), sobre uma despensa, tendo a muralha ou o "circuyto de parede de taypa com sua façe de cal deribado por partes", a partir da parte do norte da torre até ao canto sul da cozinha, com acesso por um portal antigo, de pedraria. Após a morte do último comendador leigo, da Ordem de Cristo, o rei dá, em 1536, a comenda da Cardiga ao Convento de Cristo, que é extinta no ano seguinte, pelo papa Paulo III, transformando-se numa quinta de produção e criação de gado para abastecimento de Tomar e do Colégio de Coimbra, e numa base económica substancial da Ordem. Por volta de 1540, Frei António de Lisboa inicia grandes obras na casa, transformando-a num palácio, possivelmente sob orientação do arquiteto João de Castilho e pelos mesmos mestres que trabalhavam em Tomar. O edifício adquire sensivelmente a planimetria atual, ainda que a fachada principal se desenvolvesse a sudeste, com planta retangular, tendo nos ângulos exteriores corpos torreados circulares, tipo mirantes, em linguagem clássica, com colunas de inspiração jónica a sustentar a cobertura em domo, conservando a primitiva estrutura apenas o virado ao rio, já que os demais foram fechados, e formando dois pátios interiores desiguais: o mais pequeno correspondendo, grosso modo, ao pátio do castelo, integrando na ala intermédia a torre de menagem, talvez alteada nesta época. Nos pátios fizeram-se, numa ou duas fachadas, arcadas, de arcos abatidos biselados sobre colunas semelhantes, no primeiro piso, enquanto no segundo se abriram janelas de peitoril, simples. O piso térreo é ocupado com as dependências agrícolas e o superior com a zona residencial, tendo oratório para sudeste, acedido por uma varanda do pátio de fora. Entre 1592 e 1617, o feitor Fr. Pedro Moniz, sobrinho de Frei António de Lisboa, irá fazer grandes obras na quinta e continuar os melhoramentos no palácio, anda que nem sempre se consigam distinguir claramente as obras que aí realizou. Pelo menos, ele será o responsável pela transferência da fachada principal para noroeste, a construção da capela e da varanda principal, do refeitório, da adega e do armazém. As fachadas do palácio desenvolvem-se em dois pisos e apresentam linguagem quinhentista erudita, rasgadas regularmente por janelas de peitoril, as do piso térreo, retilíneas, e as do andar nobre em arco apontado, sobre mísulas, de chave relevada e encimadas por friso e cornija, ou amplos vãos retilíneos e colunatas, virados ao rio. O portal principal, descentrado, tem moldura almofadada e frontão interrompido de volutas com a cruz da Ordem, sustida por anjos tenentes. No interior, algumas dependências do piso térreo, como a adega e o antigo celeiro, têm duas naves, separadas por colunas semelhantes, e coberturas em abóbadas, e as alas dos pátios ou as dependências do segundo piso são revestidas ou têm silhares de azulejos de padrão, da segunda metade do séc. 17, de composição figurativa, de finais do séc. 18, e de figura avulsa. Segundo Santos Simões, o padrão de azulejos que reveste o pátio grande é relativamente abundante na região de Coimbra, o que o leva a supor tratar-se de um modelo de fabricação coimbrã, dos finais do séc. 17. Gustavo de Matos Sequeira, no entanto, afirma que todos estes azulejos foram comprados no Alentejo e trazidos para aqui, "há muitos anos" (SEQUEIRA: p. 50). Algumas salas do andar nobre têm ainda decoração de estuques relevados ou em pinturas, executada em finais do séc. 19 / inícios do séc. 20, após a extinção das Ordens Religiosas e da venda da quinta a particulares, existindo mesmo sobre a varanda do pátio pequeno o brasão da família Sommer. A capela, de planta composta por nave e capela-mor, tem acesso pela fachada principal, por portal manuelino, de arco deprimido, ornado de rendilhado de acantos, ladeado por duas colunas, coroadas por pináculos rematados por cogulhos, e desenvolvendo-se, a partir dos capitéis vegetalistas, arcos trilobados de fecho deprimido, com folhagem e pináculo central de cogulhos. No interior possui igualmente silhar de azulejos de padrão e no arco da parede testeira da capela-mor, revestido a mármores policromos almofadados, integra retábulo pétreo, do séc. 16 e adquirido em finais do séc. 19, por Luís Sommer, com representação, em alto-relevo, de Nossa Senhora da Misericórdia, atribuído a João de Ruão, sendo semelhante ao existente na capela de Nossa Senhora da Misericórdia da Varziela (Tentúgal). Na fachada principal, entre o portal da capela e o mirante, alterado relativamente aos outros, existe painel de azulejos azuis e brancos, com cenas da vida de Santo António, numa possível alusão a Frei António de Lisboa. |
|
Número IPA Antigo: PT031412020003 |
|
Registo visualizado 5972 vezes desde 27 Julho de 2011 |
|
|
|
Edifício e estrutura Edifício Residencial unifamiliar Casa Casa abastada
|
Descrição
|
Planta retangular, formando dois pátios interiores desiguais, mas ambos retangulares, integrando na ala central divisória a antiga torre de menagem do castelo, tendo nos quatro ângulos exteriores corpo torreado, de planta circular, e volumetricamente mais alto, As coberturas são em telhados, de duas ou três águas, rematadas em beirada simples, sobrepostas por pequenas chaminés, circulares, e em terraço na torre de menagem. As fachadas são rebocadas e pintadas de rosa, e terminadas em friso e cornija. A fachada principal surge virada a noroeste, rasgada regularmente por janelas de peitoril, as do piso térreo, retilíneas, de molduras simples, com caixilharia de guilhotina e gradeadas, e, as do segundo piso, em arco apontado, com chave relevada, assentes em mísulas, encimadas por friso e cornija reta e tendo portadas de madeira, pintadas de verde. Este módulo só é interrompido na zona de acesso do palácio e da capela. A entrada principal do palácio surge descentrada, e faz-se por portal de verga reta, com moldura decorada de almofadados, sobre pilastras assentes em plintos paralelepipédicos, ambos almofadados, encimado por frontão contracurvo interrompido por volutas, contendo no tímpano a cruz da Ordem de Cristo numa coroa de louro, entre dois anjos tenentes; o portal é sobreposto por pináculos relevados. A zona da capela, ligeiramente mais alta, é encimada por sineira, em arco de volta perfeita, contendo sino, e rematando em empena angular, coroada por pináculo. É rasgada por portal de arco deprimido, com intradorso decorado de rendilhado de acantos estilizados e capitéis vegetalistas, ladeado por duas colunas, assentes em plintos paralelepipédicos, com florões, e capitéis vegetalistas, a partir das quais se forma um pináculo, rematado por cogulhos, e se desenvolvem três arcos concêntricos em forma de trilóbulo de fecho deprimido, envoltos em folhagem e com pináculo de cogulhos central. Sobre o portal dispõe-se uma cornija reta e abre-se janela retangular de moldura simples. O pano à direita é rasgado por duas janelas retilíneas, com moldura ornada por motivo recortado, tendo inferiormente amplo painel de azulejos, azuis e brancos, alusivo a Santo António. Os corpos torreados possuem dois registos escalonados, marcados por cornija e beirada de telha, o inferior rasgado sensivelmente a meio por janela, e o segundo ritmado por colunas jónicas, assente num murete, fechado por janelas com portadas de madeira, pintadas de verde, de arco apontado. As colunas sustentam entablamento e cobertura em domo, rematado em pináculo galbado e plintos paralelepipédicos, no alinhamento das colunas. O disposto a poente, perto da capela, é ligeiramente diferente, tendo os registos escalonados, marcados por cornija sobreposta pelos plintos paralelepipédicos, tendo no inferior, sob a janela lápide inscrita e silhar com representação relevada de Gonçalo Velho, e sobre ela, painel policromo de tesselas com imagem da Virgem; o segundo registo é facetado e tem frontalmente relógio inscrito e, lateralmente, pequenos vãos retilíneos, sendo coroado por sineira em arco de volta perfeita, albergando sino, rematada por cornija angular, coroada por cruz latina em ferro, sobre plinto paralelepipédico. Na fachada lateral nordeste, o piso térreo é rasgado por janelas retilíneas de molduras simples e, no segundo piso, uma pilastra define dois panos, sendo o da direita mais longo e rasgado por duas janelas iguais às da fachada principal, enquadrando amplos vãos retilíneos, com portadas triplas; o pano esquerdo é ritmado por colunata, de colunas de inspiração jónica, sustentando arquitrave, com vãos fechados por portadas retilíneas de madeira. INTERIOR: a partir do portal da fachada principal, desenvolve-se corredor de acesso ao pátio maior, disposto a sudoeste, com pavimento de cantaria, as paredes revestidas a azulejos policromos, de padrão, e cobertura em falsa abóbada de berço abatido, de vários tramos, sobre cornija. Este pátio tem as fachadas de dois pisos, rasgadas por janelas de peitoril de molduras simples, e caixilharia de guilhotina, e algumas portas, com exceção das alas noroeste e central, onde existe, ao nível do piso térreo, arcada, com arcos em asa de cesto, biselados, assentes em colunas de inspiração jónica, embebidas em pilares, sobre muretes; as alas têm as paredes revestidas a azulejos de padrão (P-603A), pavimento em cantaria e cobertura de madeira, formando grandes apainelados, seccionados por tramos assentes em mísulas, no alinhamento das colunas. Na ala noroeste, junto à porta de ligação à capela, existe lavabo, com depósito retangular, de duas bicas, que vertem para taça frontal retangular, encimado por nicho concheado. Na fachada da ala central existe ao nível do segundo piso, sobre o primeiro arco da esquerda, janela de sacada, sobre três mísulas, com guarda em balaustrada, protegida por alpendre assente em colunelos. O pátio mais estreito, a noroeste, pavimentado a calçada à portuguesa com chafariz central, possui igualmente as fachadas de dois pisos, rasgados por vãos retilíneos, de molduras simples, as janelas com caixilharia de guilhotina, mas possui silhar de azulejos policromos, de composição figurativa. Na fachada noroeste abrem-se no piso térreo três arcos abatidos assentes em pilares biselados, e sob as janelas do segundo piso existem floreiras. Na ala, as paredes são revestidas a azulejos policromos, de padrão sobreposto, tendo inferiormente o P-403 e superiormente o P-432, integrando ao centro de alguns, motivos Marianos, com inscrição alusiva, e a cobertura é de apainelados, pintados com motivos vegetalistas. Na fachada oposta, a sudeste, existe varanda ao nível do piso térreo, precedida de escada, com guarda em balaustrada, tendo, no segundo piso, brasão da família Sommer. Ao centro da ala central eleva-se a TORRE DE MENAGEM, de planta retangular, e fachadas de seis pisos, de paramentos aprumados, em alvenaria de pedra, no pátio menor, rebocado e pintado nos dois pisos inferiores, rematados em parapeito com ameias prismáticas, as centrais vazadas por seteiras. Na fachada noroeste rasga-se, no último piso, seteira com moldura em tijolo entaipada e, na oposta, duas seteiras; a nordeste abre-se eixo de vãos, formado por janela jacente, três retilíneas, janela em arco apontado sobre pilastras e, no último piso, janela mainelada, em arco de volta perfeita sobre pilastras e coluna central, tendo ainda gárgulas ao nível do terraço da cobertura; nesta face, surge adossada à esquerda da torre, sobre a cobertura da ala, corpo quadrangular; na fachada sudoeste, abre-se na torre janela de peitoril retilínea, janela de arco apontado sobre pilastras e, no último, janela mainelada, em arco de volta perfeita sobre pilastras e coluna central. As várias dependências do palácio possuem silhares de azulejos de padrão, figura avulsa, ou composição figurativa, pinturas decorativas ou trabalhos de estuque, com a maioria dos tetos de madeira, em gamela. Destaque para a adega, retangular, de duas naves, separadas por fortes colunas atarracadas, sustentando abóbada de cruzaria, com bocetes decorados, e o antigo celeiro, transformado em cozinha, igualmente retangular e de duas naves, separadas por colunas semelhantes, que sustentam falsa abóbada de arestas, com arcos formeiros de cantaria; nos topos possui chaminés e lateralmente pias de cantaria, encimadas por espaldares do mesmo material. A CAPELA tem planta composta por nave e capela-mor, com paredes rebocadas e pintadas de branco e silhar de azulejos de padrão policromo. A nave tem cobertura de madeira, em gamela, e janelas laterais, de perfil curvo, contendo vitrais. Arco triunfal de volta perfeita sobre pilastras. A capela-mor tem nas paredes laterais portas de comunicação e óculos, e cobertura em falsa abóbada de aresta. Na parede testeira abre-se amplo arco, de volta perfeita sobre pilastras de inspiração jónica, revestidos a mármores, formando almofadados policromos, albergando retábulo de cantaria, de corpo retangular e um eixo, definido por pilastras, sobrepostas por figuras encimadas por baldaquinos, sustentando entablamento e frontão triangular. Ao centro possui a representação relevada de Nossa Senhora da Misericórdia, de manto aberto, seguro por dois anjos, protegendo várias figuras. Segundo Gustavo de Matos Sequeira, o retábulo tem vestígios de inscrição pintada na base, mas atualmente é impercetível. Mesa de altar paralelepipédica, com frontal revestido a mármores policromos, formando almofadados. No jardim da fachada sudeste, sobre o muro que delimita a plataforma, existe MIRANTE de planta circular, formado por colunas de inspiração jónica, sobre bases e embebidas em pilares, sustentando entablamento e cobertura em domo, rematado em pináculo e plintos paralelepipédicos, decorados por cruz da Ordem de Cristo, no alinhamento dos pilares; sobre o entablamento, entre os pilares, possui espaldares recortados e vazados de elementos volutados. Entre o mirante e o edifício desenvolve-se colunata arquitravada, decorada com os mesmos motivos. |
Acessos
|
Golegã, IC3; Quinta da Cardiga |
Protecção
|
Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 38 673, DG, 1.ª série, n.º 57 de 12 março 1952 *1 |
Enquadramento
|
Rural, adossado, inserido numa quinta agrícola, de grande dimensão, constituída por inúmeras instalações agrícolas, casas dos trabalhadores e outras estruturas. O palácio ergue-se na zona mais elevada da quinta, e de onde começa a descida para o chamado Campo ou lezíria da Cardiga, junto à margem direita do rio Tejo, numa zona de aluvião, inserido numa plataforma sobrelevada, adaptada ao declive do terreno, sendo delimitada por muro. A nordeste do palácio desagua a ribeira da Cardiga, existindo sobre ela uma ponte, construída entre 1762 e 1767. As fachadas encontram-se parcialmente cobertas por hera e junto às fachadas norte, nascente e sul existe espaço ajardinado, sendo mais desenvolvido e de tipo formal nesta última (o antigo pátio de fora). A sudoeste tem adossadas várias dependências agrícolas, que se prolongam em duas amplas alas retangulares, criando pátio, fechado por muro, com portão central. A propriedade é atravessada por estrada, que estabelece a ligação entre os lugares vizinhos e passa em frente do palácio, onde é bordejada de árvores, existindo uma outra, em linha reta, entre a IC3 e o palácio, formando longa alameda arborizada, a qual tem acesso por portão ladeado por pilares, decorados com cruz de Cristo relevada, coroados por bolas. Nas imediações do palácio erguem-se os vários edifícios de apoio às atividades agrícolas, existindo em frente, grande tanque retangular, adaptado ao declive do terreno, delimitado por muro, tendo na face conversadeiras, formando miradouro. |
Descrição Complementar
|
No corpo torreado da direita, da fachada principal, existe lápide com a seguinte inscrição: "FREI CONCALO VELHO / COMMENDADOR DA / CARDIGA NA ORDEM DE / IESVS CRHRISTO ABRIV O CAMINHO / MARITIMO DA INDIA EM 1416 / CHEGANDO A TERRA ALTA E O / DAS AMERICAS EM . 1431 . 1432 . / DESCOBRINDO OS AÇORES / + PARA PERPETVA MEMORIA DE / TÃO ECRECIO VARÃO SE COLOCOV / ESTA LAPIDE A PEDIDO DO INSTITVTO / HISTORICO DO MINHO CELEBRANDO / O . V . CENTENARIO DO PRIMEIRO / DESCOBRIMENTO PORTVGUEZ / + MCCCCXVI + MDCCCCXVI +". O relógio do segundo registo deste corpo torreado tem a data de "1849" inscrita. |
Utilização Inicial
|
Residencial: quinta |
Utilização Actual
|
Devoluto |
Propriedade
|
Privada: pessoa colectiva |
Afectação
|
Sem afetação |
Época Construção
|
Séc. 12 / 16 / 17 / 18 / 19 |
Arquitecto / Construtor / Autor
|
ARQUITETO: João de Castilho (1540 - atribuído). CARPINTEIROS: António Vaz (1547), Diogo Taborda (1547), Salvador Gonçalves (1547). ESCULTOR: João de Ruão (séc. 16 - atribuído). PEDREIROS: António Pires (1542), Gaspar Fernandes (1542). |
Cronologia
|
1169, 07 outubro - D. Afonso Henriques doa o castelo de Ozêzar (Zêzere) e seu termo e o Castelo da Cardiga à Ordem do Templo, na pessoa do mestre Gualdim Pais, e confirma a doação do Castelo de Ceras (Tomar); 1171 - data das inscrições existentes nos castelos de Pombal e de Almourol, onde se refere que D. Gualdim Pais fora responsável pela construção dos castelos de Tomar, Zêzere, Almourol, Cardiga, Idanha-a-Velha e Monsanto; 1307, 12 agosto - o papa Clemente V, pela bula "Regnans in ecclesis triumphans", dirigida a D. Dinis, convida o rei a acompanhar os prelados de Portugal ao Concílio de Viena, onde se procuraria determinar o que fazer da Ordem do Templo e dos seus bens, por causa dos erros e excessos que os seus cavaleiros e comendadores haviam cometido; D. Dinis empreende uma série de medidas, internas e externas, para evitar que os bens dos Templários em Portugal integrem o património da Ordem do Hospital; assim, ordena que seja tirada inquirição sobre o património da Ordem e, pela via judicial, incorpora-o na Coroa, alegando que as doações haviam sido da responsabilidade régia e que obrigavam à prestação de serviços ao rei e ao reino; 1312, 22 março - extinção da Ordem do Tempo, pela bula "Vox clamantis"; 02 maio - bula "Ad Provirem" concede aos soberanos a posse interina dos bens da Ordem do Templo, até o conselho decidir o que fazer com eles; 1319, 14 março - bula "Ad ea ex quibus" de João XXII institui a Ordem de Cavalaria de Jesus Cristo, ou a Ordem de Cristo, para quem passam todos os bens e pertenças da Ordem do Templo: "outorgamos e doamos e ajuntamos e encorporamos e anexamos para todo o sempre, à dita Ordem de Jesus Cristo (...), Castelo Branco, Longroiva, Tomar, Almourol e todos os outros castelos, fortalezas e todos os outros bens, móveis e de raiz"; 1321, 11 junho - divisão em 38 comendas da Ordem de Cristo dos antigos bens pertencentes aos Templários, referindo-se na região a instituição da comenda de Almourol e a da Cardiga, tendo cada uma de pagar anualmente 250 libras de renda ou tença ao Convento do Tomar *2; 1323 - no início do mestrado de D. João Lourenço, a comenda da Cardiga recebe uma doação de território pertencente a um antigo freire da Ordem do Templo; 1326, 16 agosto - D. Afonso IV aprova as novas Ordenações das Comendas da Ordem de Cristo, elaboradas por D. João Lourenço, que então são reduzidas para 36, entre as quais a de Almourol, que fica com o castelo de Almourol e algumas courelas "místicas" no campo da Cardiga, e a da Cardiga, que fica com a quinta e território adjacentes, com as outras courelas "místicas" do seu campo e com o julgado da igreja de Santa Maria do Zêzere, assim como os territórios do lado sul do rio Tejo, no local da Broca; no documento ordena-se que morem na Cardiga e em Almourol dois comendadores e repartam entre si as rendas obtidas, ao mesmo tempo que, cada um, devia dar 100 libras de tenças, ao comendador de Idanha-a-Velha; 1340, 05 março - apesar das determinações das ordenações determinarem que cada comenda devia ter o seu comendador, nesta data as duas de Almourol e da Cardiga ainda estão sob a mesma administração, do comendador Fr. João Lourenço; séc. 14, último terço - só nesta época se encontra efetivamente dividida a comenda de Almourol e da Cardiga, com comendadores diferentes; 1374 - é comendador da Cardiga Gonçalo Martins, durante o mestrado de D. Nuno Rodrigues; 1390 - é comendador Gonçalo Marques, no tempo do mestre D. Lopo; 1409 - é comendador Gonçalo Dias; 1426 - é comendador Rogel Holanda; 1460 - 1489 - é comendador Heitor de Sousa; 1497 - 1520 - é comendador da Cardiga Afonso Furtado de Mendonça; 1504, 26 fevereiro - visitação à comenda da Cardiga, da Ordem de Cristo, por frei D. João Pereira, fidalgo da Casa Real e comendador de Casével, e frei Diogo do Rego, bacharel em leis e desembargador da Casa de suplicação, sendo escrivães frei Francisco, capelão de D. Manuel, escrivão do cartório de Tomar e notário apostólico e o escrivão Rodrigo Ribeiro; elaboração do Tombo e descrição da casa do comendador, composta por uma sala e cozinha, sobre estrebaria e despensa, respetivamente, adossadas à torre e com pequena muralha de taipa parcialmente derribada *3; séc. 16 - o território do Zêzere passa para a administração da comenda de Almourol; 1529 - aquando da reforma da Ordem de Cristo, o D. Prior de Tomar, Fr. Diogo do Rego, recusa-se a aderir à renovação implementada por Fr. António de Lisboa, a mando de D. João III, e é expulso do Convento; 1536 - a comenda da Cardiga deixa de existir como unidade jurídico-administrativa, visto que, como o Convento de Cristo necessita terrenos para os seus gados, a Ordem une à sua administração direta a comenda da Cardiga, criando, em substituição, a comenda da Igreja de Santiago de Santarém; 24 agosto - após a morte do ex-Prior Fr. Diogo do Rego, D. João III concede as rendas da Igreja de Santiago de Santarém ao Convento de Tomar; 28 agosto - alvará de D. João III concedendo a comenda da Cardiga, vaga pelo falecimento do último comendador leigo, Nuno Furtado de Mendonça (casado com D. Constança de Noronha e genro de Pedro Álvares Cabral), ao Convento de Tomar, em troca das rendas da Igreja de Santiago de Santarém que, por morte de Fr. Diogo do Rego, deveriam passar a pertencer ao novo D. Prior, Frei António de Lisboa; 07 novembro - Frei António de Lisboa toma posse da Cardiga "in situ" perante o contador régio Francisco de Aboim, cavaleiro da Cúria Real, e na ausência do contador do Mestrado de Cristo, Pio Rodrigues, onde se lê a carta de concessão que D. João III enviara; depois da comenda passar a ser administrada diretamente pelo convento de Cristo e sua Mesa Conventual, aí passa a viver um reitor, representante da Ordem, tendo sido primeiramente um leigo e depois um freire sacerdote, e transforma-se numa quinta do convento, produzindo para o alimentar, bem como ao Colégio de Coimbra, e constituindo-se numa base económica substancial da Ordem; 1537, março - bula "Meritis Vestrae", de Paulo III, extingue a comenda da Cardiga; 22 março - alvará de D. João III, como administrador da Ordem de Cristo, mandando proceder-se à entrega da comenda da Cardiga com todas as suas terras e pertenças e da igreja de Santa Maria do Zêzere "que he da dita comenda" ao convento de Tomar; 23 maio - papa Paulo III confirma a troca ou escambo das rendas da Igreja de Santiago de Santarém pela comenda da Cardiga; D. João III e a Ordem invocam como razões a proximidade da comenda da Cardiga em relação ao convento de Tomar, do qual distava apenas 23 km, sendo por isso ideal para os freires de Cristo fazerem pastar os seus gados; pouco depois os freires solicitam ao rei autorização para aforar várias propriedades da comenda da Cardiga, visto algumas renderem abaixo do seu potencial, o que é autorizado; 1538 - 1551 - Fr. António de Lisboa compra terras na zona envolvente à Cardiga; 1540, cerca - a partir desta data, Frei António de Lisboa manda proceder a grandes obras na casa da quinta, transformando-a num palácio *4; Fr. Pedro Moniz justifica as obras com o desejo de D. João III e a rainha D. Catarina, que habitualmente pousavam em Almeirim, acompanharem as obras do Convento de Cristo, e puderem tornar mais fácil e cómoda a viagem que faziam frequentemente, tendo na Cardiga acomodações dignas de reis; possivelmente as obras são do arquiteto de Tomar, João de Castilho, responsável pelas obras do Convento; 1540, 11 março - escambo de propriedades entre as comendas de Almourol e da Cardiga no chamado Campo do Tejo da Cardiga, depois Campo da Cardiga; 12 março - o julgado de Paio de Pele passa a pertencer à comenda de Almourol, "com todas as suas rendas e foros", em troca de parcelas "místicas" que esta comenda possuía no Campo da Cardiga; 1542, 31 agosto - 1544, 20 julho - referência ao primeiro reitor da Cardiga sob designação de "criado, Feitor e Procurador" de Fr. António de Lisboa e demais freires do Convento de Cristo, sendo então Francisco Lopes; 1542, 22 novembro - trabalham nas obras os pedreiros Gaspar Fernandes e António Pires; 1545, cerca - devido à mudança do curso do rio Tejo, o Infante D. Luís manda fazer importante obra hidráulica no Tejo para desassorear as suas terras e facilitar o escoamento das águas do rio, contudo, essas obras acabam por prejudicar bastante a Ordem e a comenda da Cardiga; 1545 - 1557 - D. João III instala-se várias vezes no palácio, subindo o rio de barco, pernoita na Cardiga, seguindo depois a cavalo para observar as obras no convento; 1547, 02 junho - trabalham nas obras os carpinteiros Diogo Taborda e Salvador Gonçalves e António Vaz; 1548, 04 março - carta de João de Castilho a D. João III refere "que tinha ha dias escripto a Pero Carvalho a falar-lhe na falta de carretos; pois os que haviam levavam pedra para as obras da Cardiga e Almeirim, estando as de Tomar sem pedra ha três mezes"; 1550, 26 novembro - grandes cheias no rio causam alguns estragos nos campos da Cardiga; 1572, cerca - a Ordem de Cristo pede provisão a D. Sebastião para poder fazer retornar o Tejo ao seu leito original, visto que o novo curso lhes destruir as terras do Campo da Cardiga; séc. 16, 2ª metade - o cardeal D. Henrique e regente, como Núncio Apostólico, envia em Visitação o Bispo D. Manuel de Meneses com ordens para colocar a Cardiga em pregão, para arrendamento em hasta pública, tendo em vista a sua entrega ao sobrinho, D. António, Prior do Crato; sabendo do caso, D. Pedro Cabeça de Ferro dirige-se apressadamente para a Golegã, em cuja praça corriam os pregões, e sempre que D. Prior ouvia o lance mais alto oferecido, ele arrematava-o por essa quantia; mesmo subindo os lances, como D. Prior tinha direito de preferência por ser o dono da propriedade, respondia a todos os lances arrematando para si a propriedade; prolongando-se o leilão, os lançadores cessam as suas propostas, ficando a Ordem com a Cardiga; 1581, 16 abril - D. Filipe I é aclamado rei nas cortes de Tomar; 27 maio - o rei parte com a sua comitiva em direção a Lisboa, ficando hospedado na Cardiga, a "granka del conuento de Thomar", por cinco dias *5; 1590 - D. Prior do Convento, Fr. Adrião Mendes, justifica a necessidade de mudança do curso do rio, para o seu leito original, perante Filipe I; 1592 - 1617 - Fr. Pedro Moniz, sobrinho de Frei António de Lisboa, é eleito feitor da Cardiga por cinco vezes, algumas das quais seguidas, procedendo a grandes obras no palácio e na quinta, tentando consolidar a exploração agropecuária e tornar a quinta num lugar de lazer e de hospedagem *6; segundo Fr. Pedro Moniz, quando recebe a quinta no seu primeiro reitorado, existe no lagar da Cardiga três tipos de potes no armazém de azeite, potes sevilhanos, cada um com capacidade para 110 alqueires de azeite, outros potes com capacidade para 60 alqueires e algumas talhinhas com capacidade para 5 ou 6 alqueires; 1598 - D. Filipe I torna a legislar a favor da Cardiga, porém o Tejo não regressará ao seu trajeto original *7; 1762 - 1767 - construção da ponte junto ao palácio, em pedra, em substituição da de madeira, pelo D. Prior António Ferreira da Silveira; 1780, cerca - Coroa manda demarcar as terras na zona da Cardiga para se conhecer quais eram as suas terras e quais as da Ordem de Cristo; contudo, a Ordem solicita a D. Maria I nova averiguação do que pertencia à Coroa e à Ordem, porque a demarcação feita havia sido arbitrária; 1783, 20 abril - realização da vistoria requerida pela Ordem e da delimitação das terras; séc. 19 - o feitorado é novamente entregue a feitores leigos; 1811 - relatório da destruição provocada pela 3ª invasão francesa na Cardiga refere cerca de 200$000 de prejuízo em oliveiras abatidas para realização de fogueiras; 1834 - extinção das Ordens Religiosas, saindo o último feitor leigo da Cardiga; 1836 - arrematação da quinta da Cardiga, na Junta de Crédito Público, por Domingos José de Almeida Lima, por 200 contos, tendo ido à praça por 100; 1843, 28 outubro - D. Maria II visita o concelho de Vila Nova da Barquinha e a quinta da Cardiga no seu regresso a Lisboa, vinda de Tomar; 1849 - data inscrita no relógio do corpo torreado direito da fachada principal; 1861 - as Câmaras Municipais de Vila Nova da Barquinha e de Torres Novas determinam ir cumprimentar D. Pedro V à quinta da Cardiga, onde esse pernoita; 1867 - venda da quinta pelos herdeiros da família Lima a D. Maria Arrábida Kamas; 1892 - sua filha, Maria Luíza Lamas Gomes Coelho e seu marido, Dr. Zagalo Gomes Coelho, primo de Júlio Dinis, vivem no palácio da Cardiga; 1897- Luis Sommer adquire a um colecionador de arte um retábulo em calcário com representação de Nossa Senhora da Misericórdia; 1898 - venda da quinta pelos herdeiros de D. Maria Arrábida Lama a Luís Adolfo de Oliveira Sommer (01-07-1853 - 15-02-1929), (descendente do anterior Luís Sommer); 1904 - 1905 - Luís Sommer compra em Roma (Palácio Borghese) obras de arte para decorar o seu palácio da Cardiga; 1929 - data da morte de Luís Sommer, continuando os seus herdeiros a explorar a quinta; 2002 - a Câmara Municipal da Golegã, a Enatur e a Sociedade Agrícola da Quinta da Cardiga têm um projeto de recuperação do palácio quinta com o objetivo de o transformar numa pousada turística; 2009 - a quinta, uma das mais importantes do Ribatejo, continua na posse dos descendentes de Luís Sommer, Sommer d'Andrade e Sommer de Mello; séc. 21 - colocação da quinta à venda. |
Dados Técnicos
|
Sistema estrutural de paredes portantes. |
Materiais
|
Estrutura em alvenaria rebocada e pintada, ou aparente na torre; frisos, cornijas, molduras dos vãos, colunas, arcos, lavabos e outros elementos em cantaria calcária; grades em ferro; caixilharia, portas e portadas de madeira; vidros simples e vitrais na capela; silhares e revestimento em azulejos azuis e brancos ou policromos; pavimentos cerâmicos, em soalho ou cantaria; coberturas de madeira, alguns pintados, ou estuques; retábulo da capela em cantaria calcária, com vestígios de policromia; cobertura de telha. |
Bibliografia
|
ALMEIDA, João de - Roteiro dos Monumentos Militares Portugueses. Lisboa: J. Almeida, 1947, vol. III; BATISTA, Luís Miguel Preto - Cardiga: de Comenda a Quinta da Ordem de Cristo (1529-1630). Torres Novas: Município de Torres Novas, 2009; DIAS, João José Alves - «As Comendas de Almourol e Cardiga, das Ordens do Templo e de Cristo, na Idade Média». In As Ordens Militares em Portugal. Actas do 1.º Encontro sobre Ordens Militares. Palmela: Câmara Municipal de Palmela, 1991; FERNANDES, Maria Cristina Ribeiro de Sousa - A Ordem do Templo em Portugal (das origens à extinção). Dissertação de Doutoramento apresentada na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Porto: texto policopiado, 2009; GONÇALVES, Iria (organização) - Tombos da Ordem de Cristo. Comendas do Médio Tejo. Lisboa, Centro de Estudos Históricos da Universidade Nova de Lisboa, 2005, vol. 2; LEAL, Augusto Soares de Azevedo Barbosa Pinho - Portugal Antigo e Moderno. Lisboa: Livraria Editora de Mattos Moreira & Companhia, 1874, vol. 3; SEQUEIRA, Gustavo de Matos - Inventário Artístico de Portugal - Distrito de Santarém. Lisboa: Academia Nacional de Belas Artes, 1949, vol. 3; SIMÕES, J. M. dos Santos - Azulejaria em Portugal no Século XVII. 2.ª edição. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1997, tomo I. |
Documentação Gráfica
|
|
Documentação Fotográfica
|
DGPC: DGEMN:DSID, SIPA |
Documentação Administrativa
|
DGPC: DGEMN:DSID (001/014-009-2086/6), DGEMN:DSARH (010/109-0029) |
Intervenção Realizada
|
|
Observações
|
*1 - DOF: - Conjunto formado pela torre ameada da Quinta da Cardiga e antigas construções que a envolvem, designadamente os claustros, capela e celeiro e pequena colunata por cúpula semiesférica. *2 - Segundo João José Alves Dias, foi nesta data que a antiga comenda de Santa Maria do Zêzere se subdivide na comenda de Almourol e na da Cardiga, tomando o nome dos dois castelos mais importantes da região, do ponto de vista militar. *3 - Segundo o Tombo da Cardiga, da Ordem de Cristo, "onde chamão a Cardiga tem hum asento de cazas nesta maneyra. Tem huma torre de boa altura toda de fundo acima de pedra, e cal, bem madeyrada, e telhada e tem tres sobrados. o sobrado de cima novo, e leva cinco varas de longo, e quatro de largo e tem hum almario sobre a escada. no sobrado do meyo tem huma janella d asento com suas portas ainda boas, e tem hum mainel na escada forrado velho, e huma logea por bayxo. Item ao andar do derradeyro sobrado tem huma salla sobradada e madeyrada de castanho cuberta de telha vãa e nova leva nove varas de comprido, e quatro e duas terças de largo e tem tres janellas d asentos com boas portas e huma chaminé. Item ao andar desta sala tem huma cozinha telhada de pinho velho. e leva sinco varas escaças de comprido e quatro varas e três quartas de largo. bem madeyrada, e telhada, e nella huma chaminé de sebe e bayrro. e huma cantareyra de taboado de pinho, e huma capoeyra, e huma janella d asento com suas portas boas. Item debayxo desta cozinha vay huma despença terrea ladrilhada com sua escada e mainel de pinho ainda bom. Item debayxo da salla vay huma estrebaria com suas manjadouras de pedra, e cal. Item tem hum circuyto de parede de taypa com sua façe de cal deribado por partes, e começa sse e começa sse da ditta torre da parte do norte. e vay acabar no canto da cozinha contra o sul e tem à entrada hum portal antigo de pedraria leva seis estis de comprido, e tres de largo. Item tem este assento arredor de sy hum lemite que entesta ao levante na Ribeyra da Cardiga, e leva de largo athé hum vallado que he ao ponente por onde o ditto lemite parte com terras, e matos dos erdeyros de João Galante setenta e dous estis e meyo, os quais se começaron a medir de huma mouta grande de silveira que na borda da ditta Ribeyra estáa abayxo das cazas athé o dito vallado, onde entesta a outra mouta de carrasqueyra em terras da vigairia de Thomar, e vai sse pelo ditto vallado contra o sul partindo sempre com os ditos erdeyros, e com erdeyros de Braz Fernandez, e com sesmarias do concelho de Santarem, athé o cabo do dito vallado onde faz huma ponta, e da ditta ponta desse direyto a hum marco novo, em hum comaro antre a terra da comenda, e terra da vigairia, em direyto do porto do Cortinhal, e daqui se torna direyto pelo ditto comaro, a outro marco novo no cabo da ditta terra da vigairia, e de hum marco athé outro, leva quarenta e sette estis, em quinto, e torna direyto ao rio, a outro marco novo na borda do rio antre a terra da comenda, e terra da vigairaria, e do marco do porto do Cortinhal, athé o comaro da vinha da comenda e huma oliueyra grande, e huma figueyra, leva leva de comprido digo sincoenta e três estis. Item dentro deste limite estão as dittas cazas, e hum oliual que tem cento sincoenta e três estis. digo quatrocentas e oytenta e trez oliueyras com as que estão por hi espalhadas, e outras na vinha. Item hi mais hum cerrado em que está huma vinha feyta como treu quinze estis de largo, e hum pedaço de terra da dita feyçon doze estis e meyo de largo, e estão ahy no dito serrado cento e sincoenta e sinco arvores de fruto feytas .a saber. figueiras, pereyras, ameyxieiras, duas sidreyras, e huma limeyra, e muitas arvores pequenas, que se não poderão contar e parte ao leuante com a ribeyra da Cardiga (...)". *4 - As obras realizadas por Frei António de Lisboa na Cardiga são mencionadas num documento intitulado "Descripção das Casas desta Quinta", mandado fazer pelo Doutor Juiz do Tombo, Álvaro Barreto Borges, e escrito por Morais, possivelmente no séc. 17. Aí descreve-se o palácio da Cardiga como umas casas "nobríssimas", compostas por um "Palácio", com uma capela, designada de oratório, no qual existia altar onde se dizia missa diária. O oratório era muito bem ornamentado, acedendo-se a ele por uma varanda do pátio de fora, onde o palácio tinha a sua entrada principal. Da parte de fora do oratório existia uma varanda virada ao rio. Na cobertura da torre desta fachada existia e existe ainda um relógio de sol, virado a nascente. No corpo da entrada principal, por cima da mesma, ficavam os aposentos dos religiosos que administravam a quinta e os hóspedes, religiosos ou não. Nos dois pátios interiores ficavam duas varandas monumentais, uma com treze e outra com dezanove colunas de pedra, com corredores por baixo. Nos quatro cantos ou quinas do edifício, Frei António construiu quatro torres redondas e abobadadas, tipo guaritas, de estilo renascentista. As duas torres que davam para o rio e para a fachada principal tinham um espaço aberto, suportado por colunas de pedra lavrada. Num claustro que era o pátio do antigo castelo, situado atrás do oratório, ficava a torre medieval, de onde se alcançava uma vista de três léguas. A parte agrícola da quinta era composta por dois celeiros, um armazém de azeite com três ordens de potes, uma adega de vinho (a adega dos frades, com arcos de cruzaria e bocetes renascentistas), um lagar de vinho e outro de azeite, situando-se este ultimo junto ao pórtico principal do palácio. Dentro dos pátios das casas, em andar térreo existiam três cavalariças com seus palheiros; lojas e oficinas. Tinha ainda o edifício outro pátio fechado, pegado às casas de habitação, virado a poente, onde existiam currais para recolher de noite o gado vacum, sendo atualmente o pátio principal da Cardiga, dado a portaria ter sido deslocada do seu primitivo local a sul, para a fachada norte. Da parte de fora do palácio ficavam quatro moradas de casas para habitação dos criados. *5 - Segundo o cronista Isidro Velazquez Salamantino, o rei "se fue hazer noche a lá Cardiga, granja del conuento de Thomar. Alli paro su Magestad cinco dias, dando cabo a algumas de las resultado que quedauan por despachar, y al despediente del ordinário, y porque lá corte tuuiesse lugar de repararse en las prebeciones a que obliga el caminhar: siendo esta casa de poco aposento, no se pudiendo hazer parada en ella, por mas que lá corte se estrechasse, se diuidio por las caseiras conuezinas lá maior parte, alojandose lá guarda de apie y a cauallo lojas cercano: y passando camino tirado a Santaren todo lo repuesto de aqui, se sálio el lueus primeiro de Juno, entrando en vn reguziadito lugar, que se dize Azinaga". *6 - Fr. Pedro Moniz, sobrinho de Frei António de Lisboa, entrou na Ordem de Cristo muito jovem e, após o noviciado, professou, tendo recebido o ofício de refeitoreiro do Convento de Cristo. Aos 23 anos é ordenado e pouco depois é eleito como procurador da Casa de Nossa Senhora da Luz, em Carnide, Lisboa, onde também foi sacristão e prior. Em 1592, D. Prior Frei Inocêncio Machado nomeia-o feitor da Cardiga, cargo que desempenhará, até 1617, algumas das vezes seguidas. Frei Pedro Moniz não só compra terras para ampliação da propriedade, como procede a grandes melhoramentos na casa e na quinta. No palácio manda: fazer a varanda principal, a nascente, virada para o rio e para a lezíria, aí colocando ladrilhos no chão e nas paredes; proceder à beneficiação ou fazer o oratório, também com colocação de ladrilhos no chão e nas paredes; arranjar os dois claustros, conservando em ambos as varandas (ainda hoje existente no claustro grande, chamada varanda do sino), tendo colocado grades de pau de azinho no claustro grande ou "de fora"; reformar e fazer as janelas da sala e dos celeiros; ladrilhar e azulejar o refeitório; reparar os telhados; tirar a serventia do pátio de fora, atual jardim, ao povo, que antes ali ia tirar água e meter o poço dentro do recinto do palácio, num átrio, com escadaria, para o segundo piso do edifício (ainda hoje existente); fazer a adega para vinho; um armazém para o azeite, com capacidade para 1500 alqueires; construir talhas para conservação de legumes secos e tulhas para guardar azeitona; por ser pequeno, manda fazer, no celeiro do piso térreo ou de baixo, um armazém maior para três ou quatro mil alqueires de azeite; o celeiro de cima tinha "seis linhas de ferro", mandando que esse fosse madeirado e que se reconstruíssemos seus telhados. Na quinta manda: fazer a casa da água; o pombal; junto deste, umas casas, de pedra e cal, para residência do abegão; um poço e uma nora para regar as hortas e os pomares, tendo o poço custado 100$000 e servindo a nora ambos os tanques; como se elevou a altura do tanque novo, passou a poder-se regar terras mais altas do que era habitual; o curral de bois; construir pocilgas grandes ou pocilgões; reformar o curral dos bois, com madeiras novas, colocando-lhe uns pilares de pedra e cal e fazendo manjedouras novas; fazer a eira para debulha dos cereais, dado que a antiga estava longe das habitações da Cardiga, mandando tirar muitas serventias a pessoas particulares que delas se serviam para acesso às suas propriedades; construir um tanque "da sesta", pois o antigo estava roto e não podia reter a água, reparando-se o velho; fazer outras casas fora do pátio, ou terreiro exterior, no espaço fronteiro às suas portas. Frei Pedro manda plantar oliveiras, lavrar campos, demarcar as propriedades e casas, e colocar caseiros. Com a mudança do curso do rio Tejo, parte das terras aráveis da lezíria passam a ficar submersas, chegando a água junto das habitações do palácio. Assim, Fr. Pedro Moniz manda construir uma barca com a qual se acarretou, durante três anos, pedra para deitar no Tejo, no lugar pegado ao antigo muro de suporte das casas e construir um novo muro, ainda hoje existente, para reforço do suporte antigo. Nesta obra trabalharam sete ou oito homens, despejando 25 carradas de pedra por dia. Porque a água do rio já estava à distância de uma lança das casas e começava a ameaçar causar-lhe derrocada, manda lançar tanta pedra no Tejo que consegue segurar o pátio de fora, para onde dava a fachada principal e existia a portaria, e as casas de habitação da Cardiga. Manda ainda fazer um talha-mar para proteção da ponte da Cardiga, construída em madeira sobre a ribeira que passava junto ao palácio e era conhecida como Ribeira da Cardiga e hoje, devido à mudança do curso do rio, desagua no Tejo, junto ao palácio, junto aos suportes desta e ao longo das margens. Aí deita ainda mais pedra pois o Tejo ia comendo e entrando pelo Campo da Cardiga e derrubando a ponte, cortando a passagem das casas para a parte oriental do dito Campo. A Câmara da Golegã propõe que se faça uma ponte de barcas, mas o Fr. Pedro não consente, pois isso faria a quinta ficar sujeita a um imposto municipal, o que não agradava à Ordem. Com a pedra que sobrara destas obras manda construir as casas do casal das Freiras, avaliadas em 200$000, de pedra e cal, com portais, janelas e lavradas de pedra. Noutros casais manda fazer obras, como por exemplo, no casal de João Correia, onde faz habitações, avaliadas em 200$000, todas em pedra e cal, com seus telhados, e boas portas com portais de pedraria e uma janela grande sobre as margens da ribeira da Cardiga; nos casais da Carneira e de João Fernandez ou da Atalaia, manda construir casas de taipa, com bons telhados. Manda fazer o lagar da Cardiga ou dos Frades de Cristo, no sítio do antigo, que não moia, nem tinha água na levada por estar entupida; assim, derruba-a e manda aprofundar as novas fundações do edifício, que ficou com três rodas ou rodízios, duas pedras ou moendas de azeite e uma para cereais, construindo dentro dele duas levadas e uma ponte para serventia da passagem da levada para a roda da azenha. Tinha quatro varas iguais, possuía duas caldeiras, que custaram cerca de 50$000. Junto dele havia tulhas de pedra e cal, mais compridas que o lagar, que serviam por dentro e por fora para os carros despejarem as suas cargas. Junto ao lagar, frei Pedro manda construir uns moinhos de água, em pedra, com abóbadas, com três pedras para moer, uma alheira e duas segundeiras, com azenha, cuja roda estava dentro do lagar. Mas faz as casas do moinho tão altas que as cheias da ribeira só chegavam a meio do edifício. Na mesma ribeira faz uma levada com as paredes todas em pedra e cal, ainda hoje existente, até a "ponte de pedra" para serviço dos engenhos da Cardiga, custando 500$000. Ainda assim os engenhos moviam mal, daí que faz novas obras na levada, alargando-a e fazendo nela, perto do lagar da Cardiga, uma caldeira ou reservatório de água com mais de quarenta palmos de diâmetro, e continuou a construir esses reservatórios, em direção a nascente, de vinte e dois palmos em vinte e dois palmos; contudo, como ainda não conseguia o pretendido, pois não era suficiente a água, e percebendo que só captando água na zona da ponte de pedra resolveria o problema, manda construir um açude de pedra junto à referida ponte, o qual era "lageado por cima e ficou fortíssimo". A represa prejudicava o senhorio dos engenhos a montante da Ponte de Pedra, trazendo-lhe vários problemas. Contudo consegue levantar a altura do açude em mais de um palmo, mas como, apesar disso, continuava a não ter água suficiente para mover a azenha do moinho da Cardiga, entra em acordo com o vizinho que lhe cede terreno a jusante da Ponte de Pedra e que o deixou alargar a levada, ficando com sessenta palmos de altura, obra realizada por 30 homens. Acabando a levada, baixando-a mais de dois palmos e afastando-a do açude perto de vinte, as paredes ficaram com vinte palmos de largura e mais de vinte e cinco de altura. Desta forma conseguiu canalizar toda a água da Ribeira da Ponte de Pedra pela levada. A obra custou 2.000 cruzados, para além de uma verba superior das custas judiciais, pois a Câmara e a população de Atalaia consideravam-se prejudicadas com a obra. Depois destas obras, o lagar passou a render 600 alqueires de azeite e os moinhos e azenhas dois moios de pão meado. *7 - Posteriormente ao séc. 16, mas em data incerta, a Quinta da Cardiga passa a servir de local de repouso e recriação, e até de sanatório para os freires que adoeciam em Tomar ou vinham dos territórios Ultramarinos. |
Autor e Data
|
Paula Noé 2016 |
Actualização
|
|
|
|
|
|
| |