Igreja Paroquial de São Julião do Tojal / Igreja de São Julião

IPA.00020201
Portugal, Lisboa, Loures, União das freguesias de Santo Antão e São Julião do Tojal
 
Arquitetura religiosa, maneirista e barroca. Igreja de construção quinhentista e seiscentista, de planta em cruz latina, composta por nave, duas capelas laterais que criam um braço transversal, e capela-mor, com vários corpos adossados, tendo sacristia e torre sineira no lado direito. Tem coberturas interiores diferenciadas em telhados de madeira na nave e capela-mor e abobadadas nas capelas laterais, escassamente iluminada, recebendo luz através dos corpos adossados e pelo janelão do coro. Fachada principal rematada em empena recortada, com os vãos rasgados em eixo composto por portal de verga reta e janelão em arco abatido. No interior tem coro-alto, batistério na base da torre, no lado da Epístola, e duas capelas laterais confrontantes. Arco triunfal de volta perfeita de acesso à capela-mor com simples mesa de altar.
Número IPA Antigo: PT031107160060
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Templo  Igreja paroquial  

Descrição

Planta poligonal irregular com templo em cruz latina composta por nave, duas capelas laterais, formando transepto e capela-mor, com corpos adossados e torre sineira no lado direito, de volumes articulados e escalonados com coberturas diferenciadas em telhados de duas (templo e sacristia) e três (corpos anexos) águas, rematadas em beiradas simples, sendo em coruchéu bolboso na torre sineira, encimado por cruz latina em ferro. Fachadas rebocadas e pintadas de branco, percorridas por socos salientes, rebocados e pintados de branco, enquadradas por cunhais dóricos em cantaria de calcário, com bases compostas por pedra de soco, sobrepujada de listel, bocel e caveto. Fachada principal rematada por cornija muito recortada e de desenho ondulado sobre-elevada em relação ao telhado; é rasgada por portal de verga reta com moldura de recorte debruado e pingentes junto às ombreiras, encimada por janelão com verga curva e moldura simples, protegido por grade de ferro. Fachada lateral esquerda com volume de menores dimensões adossado à parede da nave e que se prolonga até ao braço esquerdo da cruz. Este corpo tem cunhal e janela emoldurada a cantaria de calcário. No braço da cruz, pequena janela em capialço de iluminação da capela lateral esquerda. Fresta para iluminação de pequeno compartimento situado por detrás da capela-mor e contraforte em alvenaria rebocada e pintada. Fachada lateral direita marcada por uma sucessão de corpos correspondendo à escada de acesso ao coro-alto, com uma fresta de iluminação, sucedendo-se a torre sineira, de dois registos definidos por friso de cantaria, o superior com ventanas de volta perfeita, com fecho saliente e assente em impostas também salientes. Remata em friso e cornija, encimada por pequena platibanda plena com pináculos nos ângulos. Adossada a esta a capela lateral direita com dois óculos para iluminação e o corpo anexo à mesma. Sacristia com duas janelas emolduradas a cantaria de calcário e gradeadas a ferro, apoiada em dois grossos contrafortes em alvenaria rebocada e pintada a branco. Interiormente, o teto é em cúpula. Fachada posterior cega e corresponde ao compartimento situado por detrás da capela-mor. INTERIOR com as paredes rebocadas e pintadas de branco, percorridas por silhares de azulejos policromos, os da nave de padrão, com cercaduras a azul e branco; a nave tem cobertura de madeira em masseira, formando caixotões, assente em cornijas e reforçada por tirantes de ferro; o pavimento sob o coro-alto é em lajes de calcário e o corredor central da nave é constituído por lápides sepulcrais em calcário *1; o restante pavimento da nave é em taco de madeira, recente. O coro-alto de madeira, assenta em duas colunas toscanas em mármore branco, sobre plintos paralelepipédicos em mármore vermelho, e em mísulas, tendo guarda de madeira torneada. O portal axial está protegido por guarda-vento em madeira, ladeado por duas pias de água-benta em forma de concha, em pedra calcária. A parede do lado da Epístola tem uma porta de acesso à escada que conduz ao coro-alto, sucedendo-se um arco de volta perfeita, assente em pés-direitos da ordem toscana, almofadado e de fecho saliente, de acesso ao batistério. Tem as paredes rebocadas e pintadas de branco, com rodapé de azulejo reaproveitado, com cobertura em abóbada de berço estucada e pintada a marmoreados fingidos. A pia batismal é em cantaria de calcário, composta por plinto de base quadrada e taça hemisférica e facetada octogonal, de bordo saliente. Na parede de topo, um nicho de volta perfeita. Confrontantes, as capelas laterais, com acessos por arcos de volta perfeita, semelhantes aos do batistério, a antiga Capela de Santo Cristo Crucificado (Evangelho) e a de São Francisco (Epístola) (SEQUEIRA, 1935). O arco triunfal é de volta perfeita, de perfil semi-hexagonal em três faces, enquadradas em ambos os lados por elementos verticais de reforço, também em três faces. Os pés-direitos do arco assentam sobre bases bojudas também tri-facetadas e apoiadas junto ao pavimento numa peça de base retangular com chanfros nos dois vértices expostos. As impostas possuem elementos decorativos semelhantes a conchas e ábacos em três faces côncavas, apoiados também em cada lado pelos remates facetados no prolongamento dos apoios laterais. Está ladeado por dois nichos de volta perfeita *2. A capela-mor tem as paredes rebocadas e pintadas de branco, percorridas por silhares de azulejo de padrão policromo, do tipo tapete, com cobertura de madeira e pavimento em lajeado de calcário *3. Mesa de altar em cantaria de calcário assente em quatro pilares e com tampo simples. Na parede testeira, nicho de volta perfeita, emoldurado a cantaria *4. No lado da Epístola, porta de acesso à sacristia, sobre a qual existe uma inscrição epigráfica medieval em latim. A sacristia tem as paredes rebocadas e pintadas de branco, com teto e pavimento de madeira. Possui arcaz de madeira e lavabo em mármore vermelho, composto por espaldar retilíneo, rematado por cornija e possuindo um orifício circular de acesso ao depósito, envolvido por arco de volta perfeita e seguintes relevados; na base, possui duas bicas em forma de carrancas, que vertem para taça retangular.

Acessos

Largo da Igreja

Protecção

Inexistente

Enquadramento

Urbano, implantado no aglomerado rural de São Julião do Tojal, em posição recuada no Largo da Igreja, ao qual se acede pelo troço inicial da Rua da Igreja que entronca na Rua Primeiro de Maio. A Rua da Igreja prolonga-se para S. em direção à Várzea de Loures e ao Vale do Trancão, com ligação a Sacavém. Está envolvida dos lados N. e E. e, parcialmente, do lado S. pelo cemitério da freguesia, cujo acesso se encontra junto à fachada lateral esquerda.No lado direito, entre o templo e um muro que divide uma propriedade, forma-se um pequeno adro, em cota inferior à via pública, pavimentado a calçada e possuindo um cruzeiro em cantaria composto por plataforma quadrangular de dois degraus, onde assentam plinto paralelepipédico e cruz latina. Possui bancos adossados em alvenaria de pedra capeados a lajetas de calcário.

Descrição Complementar

No janelão da fachada principal, surge gravada a data "1857". A antiga CAPELA DO SANTO CRISTO CRUCIFICADO é de planta quadrada, com paredes rebocadas e pintadas de branco, teto em abóbada de arestas, atualmente pintadas de amarelo, e pavimento em lajes de mármore, incluindo uma lápide sepulcral. A parede do fundo tem uma pequena janela em capialço. Na parede do lado esquerdo encontram-se duas pedras de mármore de cor clara sobrepostas, emolduradas a mármore vermelho, a superior com o brasão de João Alvares Soares, de escudo esquartelado de Lagartos e Soares de Albergaria coroado de elmo e assente em paquife ovalado. A lápide inferior descreve a instituição da capela, com a seguinte inscrição: "ESTA CAPELLA HE DE IAN ALVAREZ SO / ARES FIDALGO DA CASA DE EEL REI NO / SSO S(enh)OR QVE FOI ESCRIVAO DE SVA F(a)Z(end)A / QVE A MANDOV DAZER A SVA CVSTA / PERA ELLE E SVA MOLHER E SEVS DE / SENDENTES NA QVAL CAPELLA ESTA / SEPVLTADO FALECEO EM 28 DE IV / NHO DE 1609 E INSTITVHIA DVAS MISSAS CADA SOMANA PERPETVAS" *5. A antiga CAPELA DE SÃO FRANCISCO é de planta quadrada, com as paredes rebocadas e pintadas de branco, com teto em cúpula, cuja trama de arcos se encontra atualmente pintada a amarelo, sobre friso circular em pedra que percorre integralmente a sua base e com quatro pendentes, dois deles rasgados por óculos de iluminação; pavimento em mármore. Na parede do fundo há uma pequena janela em capialço, atualmente fechada, servindo de nicho para colocação de uma imagem e, sob esta, uma porta que originalmente deitava para o exterior e que o hoje serve de acesso a um compartimento de arrumos. Na parede da direita há duas portas, uma delas em ferro e madeira de acesso à torre sineira e a outra dá para uma arrecadação e foi outrora de acesso ao púlpito *6.

Utilização Inicial

Religiosa: igreja paroquial

Utilização Actual

Religiosa: igreja paroquial

Propriedade

Privada: Igreja Católica (Diocese de Lisboa)

Afectação

Sem afetação

Época Construção

Séc. 16 / 17 / 18 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

ENTALHADORES: António da Fonseca (1708); Filipe Ramalho (1680); Francisco Lopes Ramalho (1708); Manuel Mateus (1680).

Cronologia

Séc. 16 - construção do edifício; séc. 17 - obras de remodelação e aplicação de azulejo de padrão no templo; 1609, 28 junho - falecimento de João Álvares Soares, o qual se faz sepultar na capela lateral do Evangelho e instituindo duas missas semanais por sufrágio; 1680, 12 março - obra do retábulo da igreja pelos mestres Filipe Ramalho e Manuel Mateus (FERREIRA, vol. I, p. 66); 1694 - feitura do cruzeiro do adro, patrocinado por Estêvão Soares *7; 1712 - segundo o Padre Carvalho da Costa, a igreja tem um cura apresentado pelo prior de São Vicente de Fora, que recebe um moio de trigo, uma pipa de vinho, seis cântaros de azeite e 10$000 em dinheiro, tendo, ainda, direito ao pé-de-altar, que rende anualmente mais de 50$000; a paróquia tem 140 vizinhos; séc. 18, 2.ª metade - reconstrução da fachada do edifício e feitura de novas estruturas retabulares; 1758, 09 abril - nas Memórias Paroquiais, assinadas pelo pároco António Luís da Costa, é referida a igreja com cinco altares, o mor com a imagem do orago, ladeado por Santo Amaro (Evangelho), São João Baptista e Santo António (Epístola); no lado do Evangelho, tem o altar colateral de Nossa Senhora do Rosário e, numa capela funda, a Capela do Senhor Jesus; no lado oposto, a Capela de São Brás, Nossa Senhora da Purificação e Nossa Senhora da Boa Morte, surgindo, na capela profunda, São Francisco; tem as irmandades do Santíssimo Sacramento e das Almas; o pároco é cura, apresentado pelo prior de São Vicente de Fora, recebendo um moio de trigo, uma pipa de vinho, cinco cântaros de azeite e 7$000 em dinheiro; 1763 - no Mapa de Portugal de João Baptista de Castro, é referida a paróquia, com cura apresentado pelo prior de São Vicente de Fora, que recebe um moio de trigo, uma pipa de vinho, seis cântaros de azeite e 10$000 em dinheiro, para além do pé-de-altar; a paróquia tem 100 vizinhos; 1935 - a igreja mantém o seu património integrado; séc. 20, 2.ª metade - obras de remodelação do templo; 1939 - reconstrução do cruzeiro do adro *7; 1988 - incluída no levantamento do património cultural construído de Loures, publicado nesta data; 1994,14 julho - a igreja encontra-se incluída no levantamento do património cultural construído de Loures de 1988, anexo ao regulamento do PDM de Loures, RCM 54/94, DR, 1.ª série-B, n.º 161, publicado nessa data.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Paredes em alvenaria de pedra, rebocadas e pintadas; cunhais, cruzes, modinaturas, pavimentos, pilastras, pia batismal, pias de água benta, escadas em cantaria de calcário; pavimentos e lavabo em mármore; pavimento da sacristia, coro-alto, guarda do coro-alto, coberturas e mobiliário em madeira; coberturas exteriores em telha cerâmica, lusa.

Bibliografia

CARVALHO, Ayres de - «Documentário Artístico do Primeiro Quartel de Setecentos, Exarado nas Notas dos Tabeliães de Lisboa» in Separata da Revista Bracara Augusta. Braga: 1973, vol. XXVII, fasc. 63 (75), p. 36; CASTRO, João Bautista de - Mappa de Portugal Antigo e Moderno. Lisboa: Oficina Patriarcal de Francisco Luiz Ameno, 1763, tomo III, p. 471; COSTA, Pe. António Carvalho da - Corografia Portuguesa..., Lisboa: Oficina Real Deslandesiana, 1712, tomo III, p. 613; CURTO, Diogo Ramada - «A Restauração de 1640: nomes e pessoas» in Península - Revista de Estudos Ibéricos. Porto: Instituto de Estudos Ibéricos da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2003, n.º 0, pp. 321-336; FERREIRA, Sílvia Maria Cabrita Nogueira Amaral da Silva - A Talha Barroca de Lisboa (1670-1720). Os Artistas e as Obras. Lisboa: s.n., 2009, 3 vols. Texto policopiado. Dissertação de Doutoramento em História da Arte apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa; LEAL, Augusto Soares de Azevedo Barbosa de Pinho - Portugal Antigo e Moderno. Lisboa: Livraria Editora de Mattos Moreira e Companhia, 1873, vol. I; Património Cultural Construído. Loures: Câmara Municipal de Loures, 1988; SEQUEIRA, Gustavo de Matos - A Abelheira e o Fabrico do Papel em Portugal: história de uma propriedade e de uma fábrica. Lisboa: s.n., 1935.

Documentação Gráfica

CMLoures: arquivo Divisão Planeamento Municipal Ordenamento do Território e Reabilitação Urbana

Documentação Fotográfica

IHRU: SIPA; CMLoures: arquivo Divisão Planeamento Municipal Ordenamento do Território e Reabilitação Urbana

Documentação Administrativa

DGLAB/TT: Cónegos Regulares de St.º Agostinho, Mosteiro de São Vicente de Fora, 1606 e 1695, livs. 22 e 25, Memórias Paroquiais, 1758

Intervenção Realizada

PROPRIETÁRIO: séc. 20, segunda metade - colocação de um painel de azulejo ao centro da parede do fundo da capela-mor e dois outros idênticos na parede de fundo da nave; substituição do pavimento da capela-mor; colocação de tacos de madeira no pavimento da nave; remoção do púlpito que se situava na parede da nave, do lado da Epístola; substituição do teto original da nave, pintado, em madeira de perfil curvo, por teto em caixotão envernizado; remoção da cornija que percorria todo o corpo da nave; preenchimento do nicho sobre o arco triunfal; substituição da cobertura.

Observações

*1 - Atualmente algumas lápides são de difícil leitura e outras em pedra muito desgastada são de leitura impossível. Em 1935 ainda se liam duas inscrições tumulares: uma era sepultura perpétua de Jerónimo Botelho Manuel, sua mulher Guiomar de Miranda, seus herdeiros e descendentes e outra, frente à capela-mor de Sebastião de Aguiar, contador dos contos do reino e sua mulher Catarina Pais, que viveram no séc. 16 e foram senhores do Prazo do Moinho da Abelheira (v. IPA.00006305 e IPA.00024039). *2 - Em 1935, existiam neste local dois altares colaterais do séc. 18. *3 - Este pavimento substituiu outro que incorporava lápides sepulcrais dos senhores do Prazo e Quinta da Abelheira. Em 1935 ainda se lia a inscrição tumular da sepultura perpétua de Martim Guedes de Vilhegas, fidalgo da Casa Real e familiar do Santo Ofício, e de seus herdeiros: SEPULTURA DE MARTIM GUEDES DE VILHEGAS FIDALGO DA CASA DE SUA MAGESTADE, E SEUS HERDEIROS, POR CONTRATO COM O MOSTEIRO DE SÃO VICENTE, CELEBRADO NO ANO DE 1750. *4 - Na primeira metade do séc. 20 existia, ainda, um altar barroco de estrutura tripartida, de corpo central vazado, e enquadrado por dois pares de colunelos coríntios nos corpos laterais. *5 - João Álvares Soares, senhor do Prazo dos Moinhos, proprietário das melhores casas do lugar de São Julião do Tojal. Foi pai de Diogo Soares, proprietário das casas e serrado que deram origem à Quinta da Bandeira (v. IPA.00034919). João Álvares Soares descendia também dos Lagartos, como o demonstra a sua pedra de armas, donos da Quinta ou Casal de Valbom (v. IPA.00034927). Recebeu uma comenda da Ordem de Cristo, pelos seus serviços ao longo de 27 anos no Estado da Índia, onde desempenhou funções militares e financeiras, tendo participado no cerco de Chaul e tendo sido vedor da Fazenda. Após o seu regresso ao reino, já no reinado de Filipe II, integrou o conselho da Fazenda, em Lisboa. *6 - Na parede do lado da Epístola, existia um púlpito, apeado no séc. 20. *7 - Estêvão Soares era parente de João Álvares Soares, sepultado na capela do Santo Cristo Crucificado, na igreja. *8 - este cruzeiro substitui um anterior, com a inscrição "Esta cruz mandou fazer Estevão Soares à sua custa, sendo rendeiro, na era de 1694. Pede um Padre-Nosso e uma Avé-Maria por sua tenção". (SEQUEIRA, 1935).

Autor e Data

Fernanda Ferreira, Frederico Pinto, Madalena Neves e Manuel Villaverde (CMLoures) 2012 (no âmbito da parceria IHRU / CMLoures)

Actualização

 
 
 
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