Ponte sobre o Rio Cávado / Ponte de Barcelos
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Portugal, Braga, Barcelos, União das freguesias de Barcelos, Vila Boa e Vila Frescainha (São Martinho e São Pedro) |
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Ponte de arco, de construção medieval, com tabuleiro plano assente sobre cinco arcos quebrados, desiguais. Os arcos centrais são quase de volta perfeita o que indica características góticas ainda muito ténues, com influências ainda do românico. No séc. 14 terá sido construída uma grande torre defensiva, no lado de Barcelos. Entre os arcos possui talha-mares, a montante, e contrafortes, a jusante. Durante o séc. 17 terá sido alargada, tendo sido colocada cachorrada de suporte das laterais do tabuleiro. Guardas de ferro oitocentistas. Esta ponte, das grandes primeiras obras a serem feitas em Barcelos na Idade Média, foi essencial para mudança de eixos viários na velha vila medieval, anteriormente desenvolvidos em direcção ao Largo do Apoio, determinando a implantação dos edifícios mais importantes e emblemáticos de Barcelos, junto a esta, nas margens do rio. |
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Número IPA Antigo: PT010302130004 |
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Edifício e estrutura Estrutura Transportes Ponte / Viaduto Ponte pedonal / rodoviária com torre-portagem Tipo arco
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Descrição
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Ponte de tabuleiro plano assente sobre cinco arcos quebrados, desiguais, com aduelas estreitas, sendo de maior amplitude, mais altos e quase plenos, os que se situam no meio da ponte. Alguns dos arcos são reforçados por tirantes de ferro, a jusante, o arco central, e a montante também o central e o primeiro do lado N.. Possui entre os arcos, quatro talha-mares, a montante, e quatro contrafortes, a jusante. Aparelho isódomo em cantaria de granito. Tabuleiro assente lateralmente em cachorrada, com condutas de água, abaixo desta, a montante, guarda vazada de ferro e pavimento em asfalto, com estreitos passeios pedonais lateralmente. |
Acessos
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Barcelinhos, EN 103; Rua Fernando de Magalhães; Largo da Ponte |
Protecção
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Categoria: MN - Monumento Nacional, Decreto 16-06-1910, DG nº 136 de 23 Junho 1910 / ZEP, Portaria, DG 2ª serie, n.º 8 de 11 Janeiro 1954 |
Enquadramento
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Urbano, isolado, em pleno centro histórico de Barcelos, lançada sobre o rio Cávado, fazendo a ligação entre as freguesias de Barcelos, na margem N., e Barcelinhos, na margem S.. Do lado de Barcelos, é ladeada pelo embasamento da já desaparecida Torre da Ponte. Junto ao rio, encontra-se a Azenha da Ponte (v. PT010302140134), em plano mais elevado, e fronteiro, as Ruínas do Paço dos Duques de Bragança (v. PT010302140002), seguida da Igreja Matriz de Barcelos e da Câmara Municipal de Barcelos (v. PT010302140007 e PT010302140112). Na proximidade, a NO., o Pelourinho de Barcelos (v. PT010302140009) e o Solar dos Pinheiros (v. PT010302140003), e a NE. a Casa de Felgueiras Gayo. Do lado de Barcelinhos, junto ao tabuleiro da ponte encontra-se a Capela de Nossa Senhora da Ponte (v. PT010302130054). |
Descrição Complementar
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Utilização Inicial
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Transportes: ponte |
Utilização Actual
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Transportes: ponte |
Propriedade
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Pública: Estatal |
Afectação
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Sem afectação |
Época Construção
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Séc. 14 / 17 / 19 |
Arquitecto / Construtor / Autor
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Desconhecido. |
Cronologia
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1325 - Início da construção da ponte por ordem de D. Pedro Afonso, 3º Conde de Barcelos; testamento feito em Guimarães deixando dinheiro para custear as obras da ponte; 1328 - construção da Capela de Nossa Senhora da Ponte; a ponte já estaria praticamente concluída; com a ponte o eixo principal de entrada na vila muda para este lado, anteriormente feito pelo lado do Largo do Apoio e os principais edifícios da vila desenvolvem-se assim junto a esta entrada (ALMEIDA, 1990); 1450 - segundo o documento do arquivo da Câmara Municipal de Ponte de Lima, o Duque de Vila Viçosa, futuro 2º Duque de Bragança, D. Fernando I, havia mandado fazer a Torre da Ponte, sobre a mesma, na entrada de Barcelos e os muros que a circundam, ainda em vida de seu Pai, D. Afonso, 8º Conde de Barcelos, e 1º Duque de Bragança; 1481 - D. Fernando II, 10º Conde de Barcelos e 3º Duque de Bragança manda acrescentar o último piso na Torre da Ponte; as obras são feitas com dinheiro cobrado por D. Fernando II com autorização régia de D. Afonso V; 1509 - na gravura de Duarte de Armas a ponte é representada erradamente com 12 arcos, com provável confusão com a Ponte de Chaves (v. PT011703510001); a gravura representa-a ainda com guardas de cantaria coroadas por merlões piramidais, e do lado de Barcelos, sobre ela, a Torre da Ponte, entre as muralhas, com dois pisos, o segundo com uma varanda rodeada por matacães, com arcadas plenas nos panos, e remate com merlões e telhado de quatro águas, com chaminé, também com merlões; 1527 - descrição de Barcelos feita pelo Censo da seguinte forma "jaz pegada no rio Cávado, tem uma ponte muito formosa que sai dos paços e passa contra a cidade do Porto para o arrabalde de Barcelinhos"; 1609 - segundo o Tombo da Casa de Bragança a Torre da Ponte já não tinha telhado nem sobrad e "é a mais alta de todas, e pela banda de fora tem uma varanda estreita de pedra ao redor dela quase pelo meio e as casas torres que se seguem atrás desta..."; 1630 / 1631 - a Câmara Municipal faz obras na ponte alargando e aplanando o tabuleiro; colocação da cachorrada para suporte do tabuleiro; na Torre da Ponte é colocada a Fonte de Santa Mónica; 1654 - por cima da porta S. da Torre da Ponte, é colocada uma lápide gravada uma inscrição latina de consagração do reino à Imaculada Conceição de Maria *1; 1730 / 1733 - por cima da porta S. da Torre da Ponte é colocada uma estátua de um guerreiro representando Barcelos *2; 1755 - o terramoto faz desabar parte de uma parede do Paço Ducal, sobre a ponte; 1785 - segundo um viajante havia ainda à entrada da vila, sobre a ponte um grande torreão (Torre da Ponte) que fazia parte dos paços da vila; 1800, 24 Janeiro - pelas 6 da manhã a Torre da Ponte e parte do paço que estava a ela ligado desmoronam-se; em sessão camarária é chamado o capitão de engenharia Custódio José Gomes de Vilas Boas para vir a Barcelos para se decidir o que se haveria de fazer com as ruínas do paço e da torre da ponte; a passagem na ponte é feita provisoriamente por uma barca, pois os destroços da torre obstruíram completamente a passagem; 26 Janeiro - em sessão camarária, na qual estava presente o engenheiro Custódio José Gomes de Vilas Boas, a vereação e o provedor da Casa de Bragança, é decidido desobstruir a ponte e deitar abaixo o resto das paredes da torre que ficaram de pé, assim como dois panos de paredes do paço que ameaçavam ruína; a causa do desmoronamento foi atribuída ao mau estado dos telhados ou à ausência deles que permitiu a entrada e infiltrações da água das chuvas; 1802 - é encarregado o Corregedor da comarca de informar o rei se valeria a pena a reedificação da Torre da Ponte e quais as obras que se necessitava de fazer para esse fim; 3 Março - em sessão camarária refere-se a necessidade de apear os restos da torre e que quanto às obras a fazer era preciso primeiramente um projecto; 1825, 7 Maio - após a aprovação régia é decidido apear o que restava da Torre da Ponte e fazer um paredão que ia deste o arco do muro da torre até à casa do Sr. José de Magalhães e Meneses; 1827, 5 Fevereiro - durante o período das Lutas Liberais, as tropas do Marquês de Chaves, para se defenderem das tropas do Marquês de Angeja, cortam a ponte na margem S., do lado de Barcelinhos, e barricam-na com um velho carvalho que havia junto da Capela de Nossa Senhora da Ponte e que está representado no brasão da cidade; 1867 - o Abade do Louro descreve-a da seguinte forma "tem de comprimento 412 palmos e de largura 18; é formada por 5 arcos, dois dos quais são muito largos e altos por ficarem no meio do rio", a torre tinha três portas, a central virada a S. à ponte, a E. à Rua Faria Barbosa e a O. à Rua Duques de Bragança; no seu interior havia uma fonte com imagem de Santa Mónica gravada acima da bica, cuja água vinha do chafariz da Praça do Munícipio (v. 0302140075); 1879 - num desenho da vila de Barcelos aparece no local onde veio a ser construída a Azenha da Ponte uma escadaria que levava ao rio; 1881 - a ponte é alargada, sendo então substituídas as guardas de pedra por gradeamento de ferro e o pavimento calcetado; 1901 - numa imagem de Barcelos já se encontra a Azenha da Ponte e adossada ao primeiro contraforte do mesmo lado encontrava-se outra mais pequena; 1948 - uma enchente cobre quase por completo os arcos da ponte; 1962, 2 e 3 Janeiro - uma enchente cobre quase por completo os arcos da ponte; séc. 20, década de 80 - construção de uma ponte nova em Medros, passando a Ponte de Barcelos a estar condicionada a veículos pesados. |
Dados Técnicos
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Estrutura autoportante. |
Materiais
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Estrutura em cantaria de granito; pavimento em asfalto; guardas e tirantes de ferro. |
Bibliografia
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DOMINGOS, Joaquim Pereira, Abade do Louro, Memória Histórica da Villa de Barcelos, Barcellinhos e Villa Nova de Famalicão, Viana do Castelo, 1867; LEAL, Pinho, Portugal Antigo e Moderno, Dicionário, Lisboa, 1873; SOUCASAUX, A., MANCELOS, J., BARCELOS, resenha histórica-pitoresca-artística, Barcelos, 1927; AZEREDO, Francisco de, O Paço dos Condes-Duques de Barcelos, projecto de restauro, Porto, 1954; ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de, Vias medievais I Entre Douro e Minho, Porto, 1968, p. 184; BASTO, Carlos A. Vieira de Sousa, As Muralhas de Barcelos, Barcellos - Revista, Barcelos, 1982, p. 57 - 66; FERREIRA, Maria da Conceição Falcão, Barcelos Terra de Condes, Barcelos, 1982; FONSECA, Teotónio da, O Concelho de Barcelos Aquém e Além Cávado, Barcelos, 1987, vol. I, p. 144 - 147; ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de, Cidade e Vilas de Portugal, Barcelos, Lisboa, 1990; VALE, Clara Pimenta do, O paço do Conde de Barcelos, Barcelos - Revista, 2ª Série, nº 2, Barcelos, 1991, p. 111 - 135; Património Arquitectónico e Arqueológico Classificado, Inventário, Distrito de Braga, vol. II, Lisboa, 1993, p. 16; Guia de Portugal, Entre Douro e Minho, vol. IV, tomo II, 3ª edição, 1996; GOMES, Paulino, SILVA, João Belmiro Pinta da, MAIA, Armando, Barcelos: princesa do Cávado, Paços de Ferreira, 1998; PINHO, Victor , O pintor Manuel Luís Pereira e as panorâmicas de Barcelos, in Congresso Histórico e Cultural, Barcelos terra condal: congresso: actas, Barcelos, 1998; «Ponte Novo piso. Obra criticada». In Barcelos Popular. 08 outubro 2015, p. 10; VILA, Paulo - «Ponte medieval e açude vão ser recuperados». In JB - Jornal de Barcelos. 24 janeiro 2018. |
Documentação Gráfica
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DGPC: DGEMN:DREMN/DM |
Documentação Fotográfica
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DGPC: DGEMN:DSID, DGEMN:DREMN |
Documentação Administrativa
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DGPC: DGEMN:DSID, DGEMN:DSARH |
Intervenção Realizada
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CMB: 1630 / 1631 - obras de alargamento e aplanação do tabuleiro; colocação de cachorrada para suporte do tabuleiro; 1881 - substituição das guardas de pedra por gradeamento de ferro e o calcetamento do pavimento; colocação de candeeiros; 1948 / 1949 - arranjo e regularização dos terrenos a jusante da ponte, na margem N. do rio, do lado de Barcelos, nomeadamente construção de muros de suporte na referida margem; Direcção dos Serviços de Pontes: 1961 - Consolidação dos arcos, nomeadamente enchimento das fendas com cimento e aplicação de cintagem com tirantes de ferro; regularização dos passeios de cantaria, colocação de esgotos das águas pluviais através de sargetas, reconstrução do pavimento em calçada de granito; Direcção de Estradas do Distrito de Braga: 1976 - reparação das guardas de cantaria, com reposição de alguns silhares que faltavam devido ao embate de um veículo; reparação do respectivo gradeamento; CMB: 1980, Janeiro - colocação de colector de esgotos e conduta de abastecimento de água, a sobre a cachorrada a montante; 2007 / 2012 - inspeções subaquáticas aos pilares da ponte, a primeira pela Estradas de Portugal no âmbito do Programa Extraordinário de Vistorias Subaquáticas a Obras de Arte; 2006, 26 outubro - Câmara lança concurso para a reconstrução do açude, pelo valor de 60 mil euros, mas não tem concorrentes; 2007, 15 junho - abertura de novo concurso pela Câmara, no valor de 100 mil euros, o qual acaba por ser anulado, visto o único concorrente apresentar uma proposta de 150 mil euros, valor superior à base legal; 2015 - conservação do pavimento do tabuleiro, com colocação de novo tapete betuminoso; 2017, novembro - assinatura de contrato para a elaboração do projeto de execução de obras de consolidação da ponte e açude adjacente e adjudicação, por ajuste direto, à TecMinho, interface da Universidade do Minho, pelo valor de 74.415 euros, cujo prazo de entrega é de seis meses; a obra prevê a reconstrução do açude e do tratamento de duas descargas de águas pluviais na margem direita a montante e a jusante da travessia, consolidação e manutenção das condições de estabilidade da ponte. |
Observações
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Segundo o Abade do Louro (DOMINGOS, 1867) antes de existir a ponte passava-se o rio através de uma barca chamada "Barca celi", ou seja "Barca do céu", devido ao nome primitivo do rio Cávado ser Celano; segunda a lenda se uma grávida e o pai da criança se deslocarem à ponte, em vésperas do parto, esperarem até à meia noite e convidarem o primeiro homem que passar para padrinho, aspergindo de seguida o ventre com água e um ramo de oliveira, a criança nascerá robusta e saudável; *1 - essa inscrição encontra-se hoje em dia colocada na plataforma onde assenta o edifício do Paço Ducal, virada para a ponte; *2 - a cabeça da estátua de Barcelos encontra-se colocada numa mísula no Paço Ducal. |
Autor e Data
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Isabel Sereno / Paulo Dordio 1994 / Joaquim Gonçalves 2005 |
Actualização
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