Villa Lusitano-Romana de Torre de Palma / Estação romana de Monforte

IPA.00001853
Portugal, Portalegre, Monforte, Vaiamonte
 
Arquitectura agrícola, romana. Villa rustica próxima do tipo italiano (courtyard), como San Rocco em Francolise, embora com uma Pars Rustica e Frumentaria muito mais importantes, sugerindo um controlo sobre uma vasta área. Atrium com peristylium. Mosaicos com emblema, policromáticos, datáveis do período (Séc. 2 a 4) apresentando influências várias particularmente do Norte de África (Tunísia). Complexo basilical exemplar da arquitectura paleocristã do Séc. 6 com influências orientais e norte-africanas. Uma das maiores e mais importantes estações arqueológicas da época romana e medieval da Península (CAEIRO, 1985). A basílica é uma das mais antigas de dupla ábside no mundo cristão, beneficiando ainda da engenharia romana e das proporções vitruvianas; até ao momento, consideram-se desajustadas as suas dimensões face à villa romana que servia, a não ser que esta representasse um centro do sistema de colonato a envolver várias explorações agrícolas ou até villae. Os mosaicos (alusivos àquela que deve ter sido a actividade principal do proprietário da Villa, a de criação de cavalos), constituem exemplar pouco comum no país, cujo paralelo mais próximo se encontra nos mosaicos da Villa de Santa Vitória do Ameixial em Estremoz (070405024), embora aqui as composições apresentem uma feição mais rude, artísticamente menos trabalhados; alguns quadros de mosaicos figurados constituem o único exemplo de "pseudo-emblemas" existentes em Portugal. A piscina no interior do baptistério é considerada como a mais complexa da Península Ibérica e liga-se directamente aos modelos do Norte de África e Palestina.
Número IPA Antigo: PT041211040002
 
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Registo

 
Conjunto arquitetónico  Edifício e estrutura  Agrícola e florestal  Villa    

Descrição

A villa dos Basilii, que hoje se confina aos alicerces, ao arranque das paredes, a pavimentos e a estruturas que ficavam abaixo do solo, apresenta uma vasta área edificada assim constituída: Zona de maior edificação: Pars Urbana ou dominica a NE., organizando-se à volta de um atrium com peristylium e impluvium, apresentando exedra a E. e a zona do hortus ou viridarium a N.; a O. deste atrium, um outro à volta do qual se organizavam os aposentos privativos; a E. situam-se as thermae pequenas; para S. e após um pátio com peristylium, implanta-se a pars rustica com cubiculae, culina, sala de descanso, estábulos e arrecadações; na zona SO., O. e NO., e após outro pátio com peristylium, desenvolve-se a pars frumentaria (de S. para N.) com a possível edificação do villicus, arrecadações, depósitos e a ala vinaria. Zona de edificação destacada, a SO.: trapetum e as thermae grandes. Zonas de edificação destacadas, a N. da villa urbana: um conjunto a E. identificado como um Templo a Marte e a O., um complexo paleocristão constituído por basílica de dupla ábside com nártex, capela com dupla ábside a O., necrópole visigótica a NO. e baptistério a S., de cruz complexa *2.

Acessos

EN 369, de Monforte para Vaiamonte, na Herdade de Torre de Palma, a c. de 5 Km de Monforte, do lado esquerdo. WGS84 (graus decimais) lat.: 39,062032, long.: -7,488638

Protecção

Categoria: MN - Monumento Nacional, Decreto n.º 251/70, DG, 1.ª série, n.º 129 de 03 junho 1970

Enquadramento

Rural, no seio dos terrenos agrícolas da vasta propriedade da Herdade de Torre de Palma, com o respectivo Monte a N., em sítio de leve declive para O. / SO., na base do Cabeço da Capela *1.

Descrição Complementar

Os mosaicos mais importantes, que pavimentavam as salas principais à volta do atrium 3*, são policromáticos e apresentam, entre outras figurações, os seguintes emblemas: a) Mosaico das Musas: Friso das Musas, com Calíope, Euterpe, Érato, Talia, Melpómene, Clio, Ucânia, Polímnia e Terpsicora; Cena Báquica; Sileno; Mainades; Io e Argos; Apolo e Dafne; Herakles e Hermes ou Perseu, apresentando Hércules bêbedo, amparado pelo companheiro Hermes (pastor); Medeia; Herakles furioso e Mégara, representando a lenda tebana de Herakles que, furioso, mata a mulher, o rival Lico e três crianças que teve com Mégara; Cortejo de Baco, apresentando um alegre bando de 10 figuras espalhando a felicidade; Baco vai num carro, peito nu, puxado por tigres; Teseu e Minotauro; b) Mosaico dos Cavalos: 5 cavalos nomeados por Hibervs, Lenevs, Lenobatis, Pelops e Inacvs. Dos mosaicos do tipo tapete, o mais interessante é o Mosaico das flores *4.

Utilização Inicial

Agrícola e florestal: villa

Utilização Actual

Cultural e recreativa: monumento

Propriedade

Pública: estatal

Afectação

DRCAlentejo, Portaria n.º 829/2009, DR, 2.ª série, n.º 163 de 24 agosto 2009

Época Construção

Séc. 02 / 03 / 04 / 05 / 06 / 08

Arquitecto / Construtor / Autor

Desconhecido.

Cronologia

Séc. 01, finais / séc. 03, inícios - construção da villa; séc. 04 - desenvolvimento da villa; séc. 04, finais - primeira fase de construção da basílica; séc. 05 - a villa ainda era ocupada; séc. 06 - remodelação e ampliação da basílica; finais - baptistério, capela de dupla ábside, necrópole visigótica; séc. 08 - a necrópole ainda é utilizada; 1947, Março - descoberta da estação arqueológica; séc. 20, anos 40, 50 e 60 - escavações por Manuel Heleno e Fernando de Almeida; 1983, desde - reescavação do complexo paleocristão e villa; 1994, 31 Janeiro - desafectação do imóvel ao IPPAR, conforme Despacho comum dos Secretários de Estado da Cultura e das Finanças, publicado em Diário da República, 2.ª série, de 09 de Fevereiro de 1994.

Dados Técnicos

Pavimentos de tijoleira e em mosaicos policromáticos ou a preto e branco, opus tesselatum, utilizando por vezes o opus vermiculatum; paredes em alvenaria de pedra com argamassa de cal, rebocos com ou sem frescos; estruturas em opus signinum; impermeabilização a placas de mármore no baptistério.

Materiais

Granito, nomeadamente de Monforte, mármore, materiais cerâmicos, tesselas de pedra e vidro, argamassa de cal.

Bibliografia

CHAVES, Luís, Antiquytates III - Mosaicos Lusitanos Romanos em Portugal, Lisboa, 1937; SARDINHA, A. J. d'Oliveira, O lagar romano de Palma, Boletim da Junta da Província do Alto Alentejo, 1958; SARGNON,O., A la farme - villa - romaine de Torre de Palma, Révue Archeologique, nº 50, 1957; HELENO, Manuel, A villa lusitano-romana de Torre de Palma (Monforte), O Arqueólogo Português, 2ª Série, Vol. 4, 1962; PAÇO, Afonso do, Mosaicos Romanos de la Vila Cardilos en Torres Novas Portugal, Archivo Español de Arqueologia, nº 37, 1964; MACKENDRICK, The Iberian Stones Speak, 1969; ALMEIDA, Fernando, O Mosaico dos Cavalos (Torre de Palma), Arqueólogo Português, 3ª Série, Vol. 4, 1970; ALMEIDA, António José Ferreira de, Tesouros Artísticos de Portugal, Lisboa, 1980; BLASQUEZ, J. M., Las Mosaicos Romanos de Torre de Palma (Monforte - Portugal), Archivo Español de Arqueologia, nº 53, 1980; CAEIRO, Olívio, Projecto de Investigação, Universidade de Évora, 1985; ALARCÃO, Jorge de, Arquitectura Romana in História da Arte em Portugal, Vol. 1, Lisboa, 1986; OLEIRO, João M. B., Mosaico Romano in História da Arte em Portugal, vol. 1, Lisboa, 1986; MARTA, Roberto, Técnica Construttiva Romana, Roma, 1986; HAUSCHILD, Theodor, Arte visigótica in História da Arte em Portugal, Vol. 1, Lisboa, 1986.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID; IPPAR; Universidade de Évora

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID; IPPAR; Universidade de Évora

Documentação Administrativa

IPPAR; Universidade de Évora; Câmara Municipal de Monforte

Intervenção Realizada

Museu Etnológico Leite de Vasconcelos: desde 1947, por toda a década de 50 e de forma descontínua nos anos 60 - escavações orientadas por Manuel Heleno e por Fernando de Almeida; Universidade de Évora, IPPC / IPPAR e Câmara Municipal de Monforte *6: desde 1983 - escavação, estudo, conservação, construção de cobertura sobre a pars urbana *4; 1988 - trabalhos de conservação sob orientação de Ana Maria de Carvalho Dias; IPPAR: DRE: 2001 - restauro dos muros da Casa do Átrio, restauro dos mosaicos, argamassas e pinturas murais.

Observações

*1 - Numa área de 3 Km de raio existem inúmeros vestígios arqueológicos que vão do Paleolítico à Idade Média, com especial destaque para os resultantes da ocupação romana. A villa situava-se, do ponto de vista administrativo, na Civitate de Abelterium, no Conventus de Pax Julia e na Província da Lusitânia, a c. de 95 Km a O. da capital, Emerita Augusta, e a meio caminho entre esta e Scallabis; *2 - o Templo a Marte foi cristianizado posteriormente e a basílica foi levantada no sítio conhecido por São domingos; a ela foram posteriormente acrescentados a capela de dupla ábside, e necrópole e o baptistério; 3* - estes mosaicos encontram-se no Museu Nacional de Arqueologia; *4 - Restam poucos mosaicos in situ; na Igreja da Madalena, em Monforte, podem ser observadas réplicas e algumas partes autênticas; *5 - incluido no Programa de Valorização e Divulgação Turística - Itinerários Arqueológicos do Alentejo e Algarve, do Ministério do Comércio e Turismo e da Secretaria de Estado da Cultura; candidato ao programa Interreg II; *6 - intervenção co-dirigida por Stephanie S. Maloney e Olívio Caeiro ao abrigo da cooperação entre as Universidades de Louisville, E. U. A., e de Évora, com o apoio do National Endowment for the Humanities, da Samuel H. Kress Foundation, do IPPC / IPPAR e da Câmara Municipal de Monforte.

Autor e Data

Rosário Gordalina 1991 / 1992 / Domingos Bucho 1997

Actualização

 
 
 
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