Igreja Paroquial de Cervães / Igreja do Divino Salvador

IPA.00017297
Portugal, Braga, Vila Verde, Cervães
 
Arquitectura religiosa, barroca, rococó e neoclássica. Igreja paroquial de planta longitudinal, de nave única, com capela-mor mais estreita, em eixo, e torre sineira e sacristias adossadas lateralmente. Fachada principal contendo ainda o seu desenho elementos de matriz maneirista. É rematada por frontão triangular com portal principal de verga recta, moldurado e decorado com motivos fitomórficos, e concheados, já com influências rococós, rematado por frontão interrompido, entre dois janelões rectangulares. A coroar os cunhais encontram-se altos pináculos, repetindo-se o mesmo no cimo do coruchéu. Decoração interior com vários retábulos neoclássicos, quebrada pelo retábulo colateral de Nossa Senhora do Rosário ainda de estilo barroco joanino, apesar do altar ser uma posterior modificação ao gosto neoclássico. Lavabo da sacristia com características híbridas entre o barroco e o rococó. Arcaz com decoração de barroco nacional. Conserva uma inscrição alusiva à construção e ao seu mandante da estrutura medieval que a precedeu, assim como dois sarcófagos de granito, monolíticos e antropomórficos, que remontam ao mesmo período. O interior alberga um excelente exemplar de pia baptismal com taça gomada, monolítica. O retábulo colateral de Nossa Senhora do Rosário apresenta um interessante trabalho de talha. Possui, na capela-mor, um interessante tecto, de caixotões pintados. Na sacristia existe um lavabo, de granito, de excelente traça, assim como um arcaz de castanho, e uma singela pia de granito, talvez a pia baptismal da construção primitiva.
Número IPA Antigo: PT010313090047
 
Registo visualizado 722 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Templo  Igreja paroquial  

Descrição

Planta longitudinal composta por nave única e capela-mor mais estreita, rectangulares, em eixo, e torre sineira quadrangular, salão e sacristias, rectangulares, adossados lateralmente a N.. Volumes articulados e escalonados, de dominante horizontal, quebrada pelo verticalismo da torre sineiras, com coberturas diferenciadas em telhados de uma e duas águas e em coruchéu sobrepujado por pináculo, na torre. Fachadas em cantaria de granito, com cunhais apilastrados, sobrepujados, na nave e capela-mor, por pináculos, com cruz sobre acrotério no ângulo das empenas e remates em cornija sob beiral, nas fachadas laterais. Fachada principal orientada, rematada por frontão triangular, com portal de verga recta encimado por frontão borromínico interrompido por acanto, entre dois janelões rectangulares em capialço. O portal é moldurado e decorado por aletas com concheados, possuindo à direita gravada inscrição. Torre sineira de três registos, separados por cornija, tendo no primeiro e segundo, janela rectangular e, no último, quatro ventanas, em arco pleno, rematadas por cornija com pináculos e gárgulas de canhão nos ângulos. A fachada lateral N., onde é visível o escalonamento dos corpos, apresenta, na nave, dois janelões, rectangulares em capialço, parcialmente tapados e, na sacristia e no salão, respectivamente, porta e janelas jacentes. Fachada lateral S. apresenta porta de verga recta, na nave, e quatro janelões rectangulares, dois na nave e dois na capela-mor. Fachada posterior com janela jacente na capela-mor, e porta encimada por janelão, rectangulares, na sacristia. INTERIOR rebocado e pintado de branco, com rodapé de granito e silhar de azulejos industriais recentes, de padrão, monocromos com estampilha azul. Nave com cobertura em abóbada de berço de madeira e pavimento em soalho. Coro-alto assente em arco abatido sobre pilastras, com guarda em balaustrada de madeira. Sub-coro com guarda-vento de madeira entre pias de água benta tendo, do lado do Evangelho, baptistério inscrito em arco pleno, com pia baptismal de taça circular, gomada assente em coluna bojuda. Do lado da Epístola, escada de pedra com guarda de madeira de acesso ao coro-alto. Na nave, confrontantes, duas portas ladeadas por pias de água benta de taça gomada, quatro janelões com sanefas de talha, e dois retábulos laterais em talha policroma a branco, verde e dourado, o do lado do Evangelho da invocação de Nossa Senhora de Fátima e o do lado da Epístola dedicado ao Senhor dos Passos. Retábulos colaterais dissemelhantes, colocados em ângulo, o do lado do Evangelho em talha dourada, da invocação de Nossa Senhora do Rosário e o do lado do Epístola de talha idêntica aos da nave, da invocação dos Sagrados Corações de Jesus e Maria. Arco triunfal pleno, sobre pilastras dóricas, encimado por sanefa de talha policroma, a branco, azul e dourado. Capela-mor rebocada e pintada de branco, com silhar de azulejos industriais, de padrão, monocromos a azul, rasgada por quatro janelões com sanefas de talha, confrontantes, e porta de comunicação com a sacristia. Cobertura em abóbada de berço de madeira, com caixotões pintados e dourados, com medalhões e cena eucarística ao centro. Pavimento em taco de madeira. Retábulo-mor sobre supedâneo de granito com acesso por cinco degraus. O retábulo-mor apresenta talha policroma, com marmoreados a verde e castanho, com decoração pontuada a dourado. Planta convexa de três eixos, com o central rematado por frontão curvo coroado por motivo fitomórfico. Tribuna recortada com trono eucarístico, enquadrada por par de colunas. Eixos laterais com mísulas com imaginária. Sacrário sobre a banqueta. Altar em forma de urna. Sacristias com pavimentos de granito. Lavabo de granito com espaldar recortado, coroado por motivos fitomórficos, com bica carranca e taça semicircular. Junto ao arcaz encontra-se pia de granito *1.

Acessos

Lugar do Mosteiro

Protecção

Em estudo

Enquadramento

Rural, isolada, junto à residência paroquial, envolta de S. e E. por campos de cultivo. Possui adro empedrado a cubo granítico, murado, com escada de acesso, de N.. Fronteiro à fachada principal erguem-se duas grandes palmeiras. Junto à residência paroquial encontra-se dois sarcófagos de pedra, antropomórficos, marcados com a cruz dos templários. Do lado N., partindo da estrada, desenvolve-se uma avenida tendo à direita o cemitério paroquial e à esquerda um parque de estacionamento empedrado e pontuado com canteiros ajardinados.

Descrição Complementar

INSCRIÇÕES: 1. (CEMP nº. 178) Inscrição comemorativa da construção românica da igreja, gravada em silhar; sem moldura nem decoração; granito; Dimensões: 35x142; tipo de letra: capitular carolino-gótica de má execução; Leitura: ERA M CC XXIIIII (=1186) DOMNUS B[sic] VALASCO VENEGAS ME FECIT; tradução: Na era de 1224 o senhor Vasco Viegas fez-me; TALHA: Retábulos laterais idênticos de planta recta, um só eixo, rematados por espaldar com decoração fitomórfica, enquadrado por fragmentos de frontão. Nicho recortado enquadrado por peanhas com imaginária e colunas coríntias. Altar em forma de urna; Retábulo colateral de Nossa Senhora do Rosário de planta recta, um só eixo, rematado por espaldar encimado por sanefa e coroa, e anjos lateralmente. Nicho enquadrado por peanhas com imagem, encimadas por baldaquino e colunas coríntias com espiral de flores, encimadas por fragmentos de frontão curvo. Altar em forma de urna; Retábulo colateral dos Sagrados Corações de Jesus e Maria de planta recta, um só eixo, rematado por espaldar com símbolo do orago sobre resplendor, coroado por motivo fitomórfico. Lateralmente erguem-se urnas com fogaréus. Nicho recortado enquadrado por colunas coríntias, demarcadas no terço inferior por estrias. Altar em forma de urna.

Utilização Inicial

Religiosa: igreja paroquial

Utilização Actual

Religiosa: igreja paroquial

Propriedade

Privada: Igreja Católica (Diocese de Braga)

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 18 / 19

Arquitecto / Construtor / Autor

ENTALHADOR: António Ferreira. PINTOR: José Dias Ferreira.

Cronologia

572 / 579 - Provável fundação de um primitivo mosteiro da Ordem de São Bento; 1071 / 1091 - é referida a existência de um templo no Censual do Arcebispo de Braga, D. Pedro; 1186 - construção de um templo românico por acção de D. Vasco Viegas, segundo consta da inscrição existente junto ao portal principal; 1320 - no reinado de D. Dinis, a Igreja de Cervães foi taxada em 300 libras a pagar ao rei, ocupando o primeiro lugar entre as 35 do Arcediagado do Neiva, ao qual pertencia; séc. 14, meados - a igreja de Cervães, da terra do Prado, aparece incluída na lista das igrejas pertencentes ao Couto de Braga, pagando doze moios de telha, sendo esta dada por alturas de Santa Maria de Agosto; séc. 15, finais - a igreja de Cervães aparece como fazendo parte da Terra do Mestrescolado, pagando 30 libras ou meio marco de prata; 1651 - Frei Leão de São Tomás integra Cervães entre os mosteiros de São Bento convertidos em igrejas seculares; 1706 - o Padre Carvalho da Costa, na Corografia Portuguesa, refere que Cervães foi mosteiro antigo da Ordem de São Bento e com fundação do tempo de São Martinho de Dume; 1727 - numa memória alude-se à igreja, ainda com estrutura românica, visível na cachorrada "em toda a roda do edifício muito forte e ao modo antigo pela cornija e toda a roda pela parte de fora, tem em perfeita Arquitectura... lavradas varias figuras há de um novilho, há de uma cabra, de homem, elefante..." e à existência de sarcófagos com as armas e sinais dos templários "por fora no adro junto a parede da igreja tem uns sepulcros erectos sobre a terra de pedras inteiras e cobertas de grande peso junto a parede de igreja que deviam ser de grandes personagens ou dos mesmo Templários... e alguns tem esculpidas as armas" (OLIVEIRA 1998, 10); 1758 - o pároco de Cervães, Padre José Pereira, em resposta ao inquérito recebido, refere que a sua igreja é antiquíssima e que foi Mosteiro dos Templários, tem um altar-mor, do Salvador, onde está colocado o Santíssimo Sacramento e dois colaterais, o do lado da Epístola de Nossa Senhora do Rosário e o oposto, do Santíssimo Nome de Deus; refere que a igreja tem duas Irmandades, a do Subsino e a do Arcanjo São Gabriel; séc. 18, finais - a igreja é integralmente reconstruída com aproveitamento de algumas pedras do templo românico; 1860 - colocação de um "cofre-forte de pedra e ferro, dum sanefão no arco cruzeiro, além da reforma do pavimento e do tecto do corpo da igreja" (ARAÚJO 1977, 71); séc. 19, finais - o pároco António Joaquim Fernandes de Barros procedeu à ampliação da sacristia e à colocação do guarda-vento; o padre manda fazer ao entalhador António Ferreira, de Sequeira, o retábulo colateral dedicado ao Sagrado Coração de Jesus e de Maria, as sanefas do corpo da igreja e o florão, o remate no tecto da tribuna, a tampa da pia baptismal e o púlpito; foram ainda dourados os retábulos e a sanefa do arco triunfal; séc. 20, inícios - o pintor José Dias Ferreira pintou e dourou de novo o altar-mor, o púlpito e as sanefas das frestas do corpo da igreja; 1998 - durante obras de beneficiação, foram recuperados do adro dois sarcófagos, guardados agora no quintal da residência paroquial.

Dados Técnicos

Paredes autoportantes.

Materiais

Estrutura, cunhais, cornijas de remate, elementos decorativos, escada para coro-alto, pias de água benta e baptismal, lavabo e pia da sacristia, pavimentos do sub-coro, sacristias e salão em granito; portas, janelas, guarda-vento, balaustrada do coro-alto e guarda da escada de acesso, pavimentos da nave e capela-mor, tectos, sanefas, retábulos, armários e arcaz em madeira; silhar de azulejos industriais nas paredes da nave, capela-mor e sacristia; grades das janela em ferro; cobertura exterior em telha de canudo.

Bibliografia

TOMÁS, Fr. Leão de S., Benedictina Lusitana, vol. 2, Coimbra, 1651, p. 406; COSTA, A. Carvalho da, Corografia Portuguesa, vol. 1, 2ª ed., Braga, 1868, p. 222; ALMEIDA, Fortunato de, História da Igreja em Portugal, vol. 2, Coimbra, 1910, p. 629; BACELAR, Pe. José, Apontamentos para a História da Igreja de Cervães, Cervães, 1924; OLIVEIRA, Miguel de, As Paróquias Rurais Portuguesas, Lisboa, 1950, pp. 204 - 205; COSTA, Avelino Jesus da, O Bispo D. Pedro e a Organização da Diocese de Braga, Coimbra, 1959, pp. 275, 334; Vv.Aa., História, Arte e Paisagens do Distrito de Braga - I O Concelho de Vila Verde, Braga, 1963, p. 46; ARAÚJO, A. Sousa, Cervães e o Bom Despacho, Braga, 1977, pp. 59 - 80; SILVA, Domingos M. da, As Terras de Vila Verde do Minho no Dicionário Geográfico do Reino de Portugal até 1758, Vila Verde, 1985, pp. 46 - 48; OLIVEIRA, Aurélio de, Os templários em Cervães, in Diário do Minho, 10/2/98, Braga, 1998, p. 10; OLIVEIRA, Eduardo Pires de, Arte Religiosa e Artistas em Braga e sua Região (1870 - 1920), Braga, 1999, p. 195; BARROCA, Mário Jorge, Epigrafia Medieval Portuguesa (862 - 1422), tomo I, vol. II, pags. 464, 465, Porto, 2000.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

Intervenção Realizada

PROPRIETÁRIO: Séc. 19, finais - Douramento dos retábulos e da sanefa do arco triunfal; séc. 20, inícios - douramento do retábulo-mor, do púlpito e das sanefas; 1927 - substituição das madeiras do pavimento da nave e alinhamento das lajes do pavimento da capela-mor; 1998 - arranjo do adro.

Observações

*1 - Provavelmente é a pia baptismal do primitivo templo.

Autor e Data

António Dinis 2000 / Filipa Avellar 2004

Actualização

 
 
 
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