Núcleo de Arte Rupestre da Penascosa

IPA.00001591
Portugal, Guarda, Vila Nova de Foz Côa, Almendra
 
Sítio pré e proto-histórico. Arte rupestre paleolítica de ar livre. Gravuras incisas, abradidas, picotadas, obtidas por raspagem da superfície, ou combinando as várias técnicas, representando motivos essencialmente zoomórficos naturalistas e alguns raros motivos geométricos e abstractos, escalonando-se entre o Gravettense final/ Solutrense inicial e o Magdalenense final. O sítio da Penascosa é um dos mais notáveis núcleos com arte rupestre do Vale do Côa pela combinação de um grande número de rochas gravadas, com motivos picotados, muito visíveis, com uma paisagem de grande beleza. No contexto da arte do Vale do Côa é um dos três maiores núcleos, juntamente com o fronteiro sítio da Quinta da Barca ( v. 0914040029 ) e a Canada do Inferno ( v. 0914170034 ), apresentando gravuras de todas as épocas de gravação do Paleolítico Superior ( Gravettense final ao Magdalense ). A Rocha 3, designadamente, apresenta toda esta longa estratigrafia figurativa tendo por isso servido aos investigadores ( BAPTISTA, 1999 ), juntamente com a Rocha 1 da Canada do Inferno, a Rocha 2 de Piscos e a Rocha 1 da Quinta da Barca, para a compreensão da evolução artística da arte rupestre paleolítica do Côa. Está aqui representada uma característica rara na arte paleolítica, a animação das figuras com a aposição de várias cabeças ( Rocha 4 ), e um motivo raro na arte paleolítica, o peixe, de que se registam dois exemplares (Rocha 5 e 10), e ainda uma técnica igualmente rara ( Rocha 10 ) o motivo obtido por raspagem da superfície ( BAPTISTA, 1999 ).
Número IPA Antigo: PT010914020027
 
Registo visualizado 832 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Sítio  Sítio pré e proto-histórico  Arte rupestre      

Descrição

Constituído por cerca de vinte rochas gravadas tendo oito delas sido estudadas e designadas pelos números 2, 3, 4, 5, 6, 8, 10 e 11. São rochas xisto-grauváquicas apresentando superfícies verticais e lisas viradas ao rio constuindo-se em painéis utilizados como suporte de gravação. Os motivos gravados por incisão e abrasão, mas na maioria por picotagem sendo fácilmente visualizáveis. Trata-se de figuras zoomórficas de quatro tipos: equídeos, bovídeos, capríneos e cervídeos. Existem ainda gravuras geométricas e abstractas, quase sempre filiformes, representando feixes de traços, linhas meândricas, ou os designados cometas, interpretados como sinais. O núcleo integra ainda a Rocha 14, que ostenta um pequeno cavalo de tipologia proto-histórica e a designada Rocha 15, constituída por três fragmentos de um painel gravado e que integram um murete de sustentação de terras. No conjunto das rochas gravadas destacam-se as Rocha 3, 4, 5 e 10. A Rocha 3 é a mais importante do conjunto e uma das mais importantes do Vale do Côa pela quantidade de sobreposições que apresenta, de gravuras picotadas. Numa primeira fase foram gravados apenas capríneos virados para a dir., a que se seguiu a gravação de mais dois capríneos, um dos quais em perspectiva frontal, e de uma cabeça de cavalo com a crina em escova e o característico focinho em bico de pato. Posteriormente é gravado um auroque virado à esq. e sobre este um outro grande auroque virado à dir. Completam o conjunto três auroques virados à esq., com os chifres em forma de lira e a marcação das narinas e boca, um deles apresentando duas cabeças. Na Rocha 4 figura um cavalo picotado com três cabeças e dois pares de patas anteriores, que simulam movimento da figura, associado a um outro equídeo, representando uma provável cena de acasalamento. A Rocha 5 constitui um dos maiores painéis do Côa com sobreposições significativas de motivos também picotados onde figuram capríneos e auroques, um grande cavalo em tamanho quase natural com a característica marcação da crina e ainda um peixe. Na parte central do painel uma cabra gravada por abrasão e virada à esq. ostenta uma segunda cabeça que lhe é acrescentada, virada em sentido oposto. Destaca-se ainda a Rocha 10, situada no extremo N. do núcleo e que ostenta cerca de duas dezenas de gravuras na sua maioria filiformes, entre as quais um grande veado obtido por uma técnica invulgar, combinando a incisão com a raspagem da superfície e constituindo um dos motivos de mais fácil visualização. Integram esta rocha ainda um peixe e um conjunto de cervídeos da última fase de gravação *2 ( BAPTISTA e GOMES, 1996; BAPTISTA 1998; BAPTISTA 1999 ).

Acessos

A partir de Castelo Melhor, caminho em terra batida *1. WGS84 (graus decimais) lat.: 41.004717º, long.: -7.104761º

Protecção

Categoria: MN - Monumento Nacional, Decreto n.º 32/97, DR, 1ª série - B, nº 150 de 2 de julho de 1997 / Incluído no Conjunto dos núcleos de arte rupestre do Vale do Côa (v. PT010914170042)

Enquadramento

Rural e harmonioso, amplo terraço formando praia fluvial na margem direita do rio Côa. As rochas gravadas acompanham o curso do rio ao longo do areal situando-se na sua maioria a uma cota baixa mas alguns painéis já a meia encosta serviram também de suporte à gravação. De um e outro lado do rio, cumeadas suaves orladas de vegetação rasteira constituem o horizonte visual.

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Não aplicável

Utilização Actual

Não aplicável

Propriedade

Privada: pessoa singular *3

Afectação

Época Construção

Paleolítico

Arquitecto / Construtor / Autor

Não aplicável

Cronologia

c. 22 000 BP a 20 000 BP, Gravettense final - Solutrense inicial - período de gravação dos primeiros motivos zoomórficos naturalistas ( ex. representação dos 3 exemplares de cabra-montês ibérica da fase 1 da Rocha 3 ); c. 20 000 BP a 18 000 BP, Solutrense - período de gravação de inúmeros motivos zoomórficos naturalistas, designadamente os cavalos com o focinho estrangulado em forma de bico de pato ( ex. cavalo da fase 2 da Rocha 3 ); c. 16 000 a 10 000 BP, Magdalenense - período de gravação dos últimos motivos de estilo paleolítico, designadamente os cavalos com a característica marcação da crina ( ex. cavalo da Rocha 5 ), zoomorfos com a boca e narinas assinaladas ( ex. auroques da Rocha 3 ), a maioria dos cervídeos ( ex. veado da Rocha 10 ) e ainda de gravação da várias cabeças num mesmo animal simulando movimento ( ex. cavalo da Rocha 4 ); Idade do Ferro - período de gravação do cavalo da Rocha 14 ( CNART, 1999 ); 1990, década - o núcleo foi já em grande parte estudado pelo centro Nacional de Arte Rupestre ( BAPTISTA, 1999 ); 2010, 15 novembro - Proposta da DRCNorte para redefinição de alguns núcleos classificados, clarificação dos limites de outros e ampliação da classificação, passando a abranger os oito núcleos em vias de classificação; 2012, 26 setembro - publicação do projeto de decisão relativo à alteração da classificação do conjunto dos Sítios Arqueológicos em Anúncio n.º 1347/2012, DR, 2.ª série, n.º 187; 2018 - é encontrado um novo núcleo de gravuras.

Dados Técnicos

Gravuras obtidas por incisão, picotagem, abrasão, raspagem da superfície ou por combinação das várias técnicas.

Materiais

Xisto

Bibliografia

REBANDA, Nelson, Os trabalhos arqueológicos e o complexo de arte rupestre do Côa, Lisboa, [ 1995 ]; BAPTISTA, António Martinho; GOMES, Mário Varela, Arte rupestre do vale do Côa. Penascosa ( Fichas interpretativas ), Lisboa, 1996; CARVALHO, António Faustino de, ZILHÃO, João; AUBRY, Thierry, Vale do Côa. Arte Rupestre e Pré-História, Lisboa, 1996; ZILHÃO, João ( Coord. ), Arte rupestre e pré-história do vale do Côa. Trabalhos de 1995-1996, Lisboa, 1997; BAPTISTA, António Martinho, Arte rupestre do vale do Côa. Penascosa ( Fichas interpretativas ), Lisboa, [ 1998 ]; BAPTISTA, António Martinho, A Arte dos caçadores paleolíticos do vale do Côa, Vila Nova de Foz Côa, 1999 ( no prelo ); CNART ( Centro Nacional de Arte Rupestre ), Inventário da arte rupestre do Vale do Côa, 1999 ( informatizado, não publicado ); http://www.patrimoniocultural.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/16004552 [consultado em 2 janeiro 2017].

Documentação Gráfica

CNART

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID; CNART; Imagens gentilmente cedidas pelo Centro Nacional de Arte Rupestre

Documentação Administrativa

Intervenção Realizada

1990, década - sinalizado e estabelecida guardaria permanente pelo Parque Arqueológico.

Observações

*1 - O acesso é apenas permitido em viaturas do Parque Arqueológico Vale do Côa que organiza visitas guiadas com partida do Centro de Recepção de Castelo Melhor; *2 - Reflete-se na arte do Côa, designadamente na Rocha 10, onde a fase final de gravação é constituída por um conjunto de cervídeos, incisos na sua maioria, o fim da época glaciar a que corresponde a expansão dos veados no conjunto da fauna regional; *3 - Terrenos pertença de diversos proprietários, encontrando-se o Parque Arqueológico em processo negocial em ordem à sua aquisição.

Autor e Data

Alexandra Cerveira 1999

Actualização

 
 
 
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