Casa dos Barbosa Maciel / Museu Municipal de Viana do Castelo
| IPA.00015722 |
Portugal, Viana do Castelo, Viana do Castelo, União das freguesias de Viana do Castelo (Santa Maria Maior e Monserrate) e Meadela |
|
Casa nobre maneirista, de planta rectangular seguindo as características comuns das casas contemporâneas de Viana, projectadas ou construídas por engenheiros militares e de linhas clássicas de influência tratadística. Fachada principal organizada em dois pisos, separados por cornija, com panos e cunhais definidos por pilastradas em silharia fendida, percorrida por embasamento e rasgada, no piso térreo por janelas de peitoril e no segundo por janelas de sacada, assentes em mísulas e encimadas por frontões triangulares, interligadas. No interior, vestíbulo central rectangular, ao fundo do qual se desenvolve escada de acesso ao andar nobre, onde as salas viradas à rua possuem silhares de azulejos barrocos e oratório virado ao pátio posterior, com retábulo barroco. Inspirada na Casa da Vedoria, ambas são do mesmo engenheiro militar, revelando a primeira, no entanto, um amadurecimento de projecto. Segue as características gerais da arquitectura projectada por Manuel Pinto de Vila Lobos, com cantaria em silharia fendida no embasamento e pilastras, mas eliminou-a das molduras dos vãos; as janelas e sacadas são mais elegantes, com cunhas reduzidas a três, surgindo também no portal principal, onde se acentua o eixo de simetria, e o qual foi valorizado por cornija e brasão. As gárgulas e volutas das sacadas, que reproduzem o desenho já utilizado na Vedoria, são acompanhados de outros motivos decorativos que animam a fachada, nomeadamente as volutas que enquadram os panos de peitoril das janelas do piso térreo. Segundo João Vieira Caldas, as pilastras da fachada principal resultam da projecção exterior das empenas e de outras duas paredes estruturais que atravessam a casa da frontaria ao tardoz. Uma parede transversal delimita os três compartimentos rectangulares, iguais, que se repetem em ambos os pisos junto à fachada. Constitui uma das casas da cidade que melhor conserva os espaços interiores e a respectiva decoração, destacando-se os silhares de azulejos barrocos, os da capela assinados por Policarpo de Oliveira Bernardes e provavelmente datados de 1635 / 1640. O beiral da casa foi substituído, na segunda metade do séc. 19, por platibanda de balaústres, alterando um pouco o seu aspecto. |
|
Número IPA Antigo: PT011609190182 |
|
Registo visualizado 1099 vezes desde 27 Julho de 2011 |
|
|
|
Edifício e estrutura Edifício Residencial senhorial Casa nobre
|
Descrição
|
Planta rectangular disposta longitudinalmente, composta por dois núcleos arquitectónicos, interligados e intercomunicantes. Volumes articulados com cobertura em telhados de quatro águas. Fachada principal rebocada e pintada de branco, com três panos e cunhais definidos por pilastras em silharia fendida, de dois pisos separados por cornija, sendo o primeiro percorrido por embasamento de cantaria, igualmente em silharia fendida, e o segundo terminado em duplo friso e cornija, sobreposta por platibanda de balaústres, com acrotérios no alinhamento das pilastras; sobre as pilastras dos cunhais surgem duas gárgulas volutadas com figura antropomórfica híbrida. No primeiro piso, no pano central, rasga-se portal de verga recta e moldura com cinco aduelas em cunha, encimado por cornija recta assente em duas mísulas que se prolongam na moldura, formando pingente; é ladeado por dois vãos altos e estreitos, gradeados, com molduras tendo superiormente aduelas em cunha, com pano de peito em silharia fendida ladeada por volutas estilizadas; nos panos laterais, simétricos, rasgam-se duas janelas de peitoril, com molduras sobrepostas por três aduelas em cunha e silhares de cantaria interligados à cornija separadora de pisos e tendo inferiormente panos de peito, em silharia fendida, ladeados de volutas. No segundo piso, rasgam-se em cada um dos panos, duas janelas de sacada, assentes em mísulas volutadas que se sobrepõem às molduras da janelas inferiores, com molduras côncavas e tendo também superiormente três aduelas em cunha, encimadas por frontões triangulares; nos panos laterais, as guardas em ferro são comuns e no central individualizados. Entre as janelas centrais, surge o brasão da família Teixeira Barbosa Maciel, envolvido por amplo paquife e com elmo, assente em mísula de linhas contracurvadas. A fachada posterior apresenta uma galeria alpendrada de dois pisos, com quatro arcos de volta perfeita, assentes em pilares no piso térreo e cinco tramos arquitravados sobre colunas toscanas no piso superior. A E. possui pequeno corpo saliente, correspondendo o do piso superior ao oratório. INTERIOR com vestíbulo, tendo lateralmente portas para as salas laterais e frontalmente, escada de acesso ao andar nobre, de quatro lanços, colocada descentradamente. No fim do primeiro lanço, mais extenso, surge um patamar de acesso a mezanino parcial entre o piso térreo e o andar nobre. Ao cimo da escadaria, surge um painel de azulejos com cena da vida de um santo. No andar nobre as três salas viradas à rua apresentam silhares de azulejo; o da sala central representa cenas alegóricas aos quatro continentes: Europa, América, África e Ásia; na do lado nascente representam-se os lazeres palacianos: um concerto, um banquete e cenas de jardim; na do lado poente, apresentam-se cenas de caça ao veado e, predominantemente, ao javali. Duas das salas colocadas à esquerda possuem tectos de apainelados. No topo direito surge a capela, revestida a azulejos, com a inscrição "Policarpus abolina Berd Pinxit", figurando nos painéis O Bom Pastor, Jesus e Nossa Senhora em concílio com as Santas Virgens, Visitação e Anunciação; possui retábulo de talha dourada e policroma. Sobre a secção posterior do piso nobre, com escada de madeira, existe um outro mezanino parcial. |
Acessos
|
Monserrate, Largo de São Domingos; Rua General Luís do Rego, n.º 294. WGS84 (graus decimais) lat.: 41,691743; long.: -8,833219 |
Protecção
|
Inexistente |
Enquadramento
|
Urbano, flanqueado por outras casas de habitação, a do lado esquerdo de cércea mais baixa, formando frente de rua. Ergue-se nas imediações do Convento de São Domingos (v. PT011609190002), numa das ruas paralelas ao rio e perpendicular à Avenida dos Combatentes da Grande Guerra. |
Descrição Complementar
|
Brasão esquartelado, tendo no I e IV quartel as armas de Teixeira, de azul, com cruz de ouro potenteia e vazia; no II as de Barbosa, de prata, com banda de azul carregada de três crescentes de ouro ladeada de dois leões afrontados e trepantes de púrpura, armados e lampassados de vermelho; e no III de Maciel, partido, tendo o primeiro de prata, com duas flores-de-lis de azul, uma sobre a outra, e o segundo de negro, com meia águia cosida de vermelho, estendida, armada de ouro, movente da partição, mas que aqui surge invertido; escudo envolvido em paquife e encimado por timbre de Teixeira, com unicórnio de prata, armado de ouro, sainte. |
Utilização Inicial
|
Residencial: casa nobre |
Utilização Actual
|
Cultural e recreativa: museu |
Propriedade
|
Pública: municipal |
Afectação
|
Sem afectação |
Época Construção
|
Séc. 18 |
Arquitecto / Construtor / Autor
|
ARQUITECTOS: Luís Teles (1990). ENGENHEIRO: Manuel Pinto de Vila Lobos (séc. 18). PEDREIROS: Jerónimo de Oliveira e Manuel de Oliveira (séc. 18). PINTOR DE AZULEJOS: Policarpo Oliveira Bernardo (séc. 18). |
Cronologia
|
1704 - António Felgueiras de Lima, natural de Viana, Cónego prebentado da Sé de Braga, comissário do Santo Ofício e Abade deservatório de Santo Adrião de Vizela, é eleito Provedor da Irmandade dos Clérigos de Viana; Felgueiras de Lima desejando obsequiar o Arcebispo D. Rodrigo de Moura Telles, que pensava vir a Viana tomar banhos de mar, adquiriu os terrenos necessários à construção de uma casa; 1720 / 1723 - início da construção orientada pelo engenheiro Manuel Pinto de Vila Lobos *1; 1723, 28 Dezembro - o padre João Alves Seixas, procurador de Felgueiras de Lima contratou os pedreiros vianenses Jerónimo de Oliveira e o irmão Manuel de Oliveira para fazerem umas casas na vila em frente do chafariz do eirado de São Domingos, conforme planta e apontamentos assinados por ele e pelos mestres, por 1:800$000 reais; determinava-se fazer a frontaria das casas pelo modo e talhe da Vedoria, além de mais perfeição e talhe acrescido; as casas deveriam estar concluídas em finais de Agosto de 1724; 1725, início - a obra ainda não tinha iniciado; 14 Março - contrato entre António Felgueiras de Lima e os mesmos mestres pedreiros por 1:322$763 rs, assinado em casa de Domingos Brandão Marinho, oficial da Vedoria de Viana, estando presente o coronel Manuel Pinto de Vila Lobos; Junho / Julho - o cónego prebentado fez dois contratos, segundo os quais, o reverendo Francisco Lopes, de modo a satisfazer algumas dívidas e favores a Felgueiras de Lima, se comprometia a deixá-lo abrir da parte E. das suas casas, por cima e sobre o telhado dele, as janelas que desejasse para a sua casa ter mais luz; 1727, 14 Janeiro - escritura de quitação da obra; 1723, 25 Setembro - acórdão da Câmara oferecendo uma pena de água, visto que a casa se destinava a hospedar o Bispo; 1730, cerca - feitura do retábulo da capela; 24 Fevereiro - aqui faleceu Felgueiras de Lima; 5 Setembro - o Dr. João Barbosa Teixeira Maciel, com consentimento das freiras de Santa Clara de Vila do Conde, às quais era foreira a leira, em que assentava a parte ocidental, arrematou o edifício e suas dependências por 16 mil cruzados, ou seja, 6 contos de reis; o mesmo procedeu a melhoramentos na casa, tendo-se apainelado os tectos, colocado silhares de azulejos nas salas e capela, com azulejos da fábrica de Belém, pintados por Policarpo de Oliveira Bernardes, conforme cartela existente na última; 1795, Julho - incêndio destruiu parte a central, ao nascente, da casa, e grande número de documentos antigos; séc. 19, início - restaurado da casa, tendo-se acrescentado sobre o terreno e quintal, um novo edifício para sala de jantar e ampla cozinha térrea; 1863 - modificações na fachada por João Barbosa Teixeira Maciel, substituindo-se o beiral do telhado por platibanda de balaústres, colocado sobre quatro plintos as figuras de heróis troianos, da fábrica de cerâmica das Devesas, em Vila Nova de Gaia; e colocação de brasão dos Teixeiras Barbosas Macieis; 1880, 13 Novembro - falecimento do último administrador vincular, não deixando descendência; sucedeu-lhe sua irmã D. Maria da Natividade Pereira de Araújo Barbosa; 1888, 9 Maio - a Câmara, sob proposta do Presidente Major Luís de Andrade e Sousa, resolveu criar um Museu; a sua primeira instalação foi no claustro do Convento de Santo António, sendo seu director o Dr. Luís Figueiredo de Guerra; 1906, 8 Abril - morte de D. Maria da Natividade Pereira de Araújo Barbosa legando a casa a favor da sua próxima parente Viscondessa da Torre das Donas, com grandes encargos e muitos legados; por morte desta, a casa ficou para os seus sobrinhos D. Jacinta Frederica de Barros Lima do Rego Barreto e irmão Luís Visconde de Geraz de Lima; séc. 20 - demolição da escada exterior, encostada à cozinha, que ligava directamente a galeria da fachada posterior ao quintal; 1918 - o Presidente da Câmara, Jacinto Caldas, propôs que o Museu passasse para o Governo Civil, que funcionava no Convento de São Domingos; 1919 - ainda funcionava nos baixos da casa Barbosa Maciel o "Colégio de D. Zaida", para a instrução primária, com grande afluência; a Casa Costa Barros, foi oferecida pelo proprietário Dr. Manuel Félix Mâncio, para instalação do Museu, o que a Câmara aceitou; Setembro - compra da Casa de João Velho ou dos Arcos com esse fim; 1921 - a Câmara pensa comprar a casa das Figuras ou Barbosa Maciel para instalação definitiva do Museu Municipal de Viana do Castelo; 1922, 24 Outubro - os sobrinhos venderam a casa à Câmara Municipal para aí instalar o Museu e Biblioteca do Concelho; foram encarregados da sua instalação Serafim Neves e o Dr. Luís Augusto de Oliveira, que através do filho, quis legar à Câmara a sua preciosa colecção de antiguidades; o 1º director do Museu foi o Dr. Figueiredo de Guerra; 1926, 24 Junho - inauguração do Museu; 1951, 1 Maio - nomeado conservador do Museu o Dr. Romel de Sousa Oliveira (depois da sua saída, passaram vários anos sem haver conservador); 1953, 20 Novembro - morte de Manuel Espregueira e Oliveira, o qual deixou em legado ao Museu uma grande colecção de peças cerâmicas; 1964 - vereador do pelouro da Cultura, Artur Sandão, remodelou completamente o Museu, melhorando-o muito; 1966 - transferência da Biblioteca Municipal para a Casa dos Alpuim; 1980 - nomeado conservador o padre Dr. António de Matos Reis; 1981 / 1982 - sob direcção do Dr. Matos Reis, inicia-se a elaboração do Inventário do espólio, com feitura de "slides" de cada peça; 1990 - ampliação do Museu, de modo a dotá-lo de áreas de depósito, de trabalho e de exposições temporárias; 1993 - inauguração da nova ala de exposição, construída segundo o projecto do arquitecto Luís Teles; 2017, 30 agosto - o presidente da Câmara anuncia o projeto de ampliação do Museu de Artes Decorativas, com um investimento de cerca de um milhão de euros e início das obras previsto para 2018, de modo a que o espaço seja integrado na candidatura de Viana do Castelo a Capital Europeia da Cultura; a ampliação permitirá aumentar em 80% a área do museu, passando a ter mais 2.700 m2 de área museológica, permitindo aumentar a zona de reservas (139%) e área expositiva em mais 1.361 m2", prevendo-se ainda a criação de um novo auditório com 103 lugares. |
Dados Técnicos
|
Estrutura autoportante. |
Materiais
|
Estrutura rebocada e pintada; elementos estruturais, molduras dos vãos, pilastras, frisos, cornijas, escada e outros elementos em cantaria de granito; silhares de azulejos; cobertura de telha. |
Bibliografia
|
FELGUEIRAS, Guilherme, O Azulejo em Viana do Castelo e seu termo. Defenda-se da ruína este valor artístico, Cadernos Vianenses, vol. 5, Viana do Castelo, 1981, pp. 17 - 23; ALPUIM, Maria Augusta d', VASCONCELOS, Maria Emília, Casas de Viana Antiga, Viana do Castelo, 1983; GOMES, Comandante Carlos, EX-VOTOS, in Cadernos Vianenses, VIII, Viana do Castelo, 1984; SOROMENHO, Miguel Conceição Silva, Manuel Pinto de Vilalobos da engenharia militar à arquitectua, (dissertação de Mestrado em História da Arte Moderna), UNL, Lisboa, 1991; www.cm-viana-castelo.pt/mmunicipal/pt/edificio.htm, 2002; Museu mostra jóias da coroa, O Dia, 2 Abril 2002; CALDAS, João Vieira, Casas Nobres de Viana, Monumentos, nº 22, Lisboa, Março 2005, pp. 172 - 181. |
Documentação Gráfica
|
|
Documentação Fotográfica
|
DGPC: DGEMN:DSID |
Documentação Administrativa
|
|
Intervenção Realizada
|
1990 - início das obras de ampliação; 2015 - obra de recuperação do imóvel, orçadas em cerca de 320 mil euros, financiadas em 85% pelo Programa Operacional Regional do Norte (ON2). |
Observações
|
*1 - Alguns autores, como António de Matos Reis atribuem a planta da casa ao mestre bracarense Manuel Fernandes da Silva. *2 - Inicialmente a casa dava para o pequeno rocio do convento de São Domingos com chafariz encimado pelo Salvador do Mundo, conforme quadro do viarense Álvaro de Pinho e Campos. |
Autor e Data
|
Paula Noé 2007 |
Actualização
|
|
|
|
|
|
| |