Residência Senhorial dos Castelo Melhor / Paço dos Vasconcelos

IPA.00001545
Portugal, Leiria, Ansião, Santiago da Guarda
 
Casa nobre do tipo torre com ala residencial e capela adossadas, abrindo-se para um pátio fechado, com portal de acesso junto à torre (hoje desaparecido); alguns vãos mostram ainda recorte manuelino. Capela com cobertura em abóbada de combados, apresentando gramática decorativa renascentista nas mísulas e chaves da abóbada. A clareza de volumes e espírito de simetria que caracterizam a organização do paço, com quatro alas em torno de um pátio central, representou um corte com a tradição medieval, conferindo-lhe um indiscutível estatuto de modernidade. Outros exemplos de residências nobres, dos séculos 15 e 16 com a mesma tipologia são: o Paço dos Duques de Bragança (v. PT010308340013), a Casa de Água de Peixes (v. PT040203010032), a Quinta da Verdelha, de cerca de 1530 e ainda a Quinta das Torres (v. PT031512040024), em Azeitão, que consagrou definitivamente esta tipologia. Em termos de simetria planimétrica (bem como da capela) pode estabelecer-se um paralelo com o Paço de Valflores (v. PT031107130016), levantado entre 1537 e 1558. Individualiza-se também pela solução de um só piso, pouco comum na tipologia do séc. 16. Com a construção da área residencial a torre passou a ter um lugar de destaque na nova fachada, com significado meramente simbólico, reforçando a nobilidade da residência, contrapondo-se com o seu carácter rude e militarizante à atmosfera requintada do paço.
Número IPA Antigo: PT021003070004
 
Registo visualizado 1354 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Residencial senhorial  Casa nobre  Casa nobre  Tipo torre

Descrição

Complexo constituído por torre, paço e capela. TORRE de planta quadrangular, com os ângulos reforçados por silhares, coroada por merlões, rasgada por frestas e pequenas janelas de arco quebrado. O acesso ao interior faz-se ao nível do primeiro piso, a partir de uma escada em pedra, localizada na fachada virada ao pátio. O portal é de arco apontado, onde se observam vestígios de encaixe para os eixos laterais da porta. INTERIOR originalmente de 3 pisos de sobrado, espaços amplos, sem divisões internas, com ligação entre eles por uma escada de madeira. O primeiro corresponderia à sala e abria-se ao exterior através de 3 frestas (actualmente entaipadas), e uma janela conversadeira rasgada a poente. Os pisos superiores apresentam 2 janelas de arco apontado, em cada face. O PAÇO, de planta aproximadamente quadrangular, com quatro alas em torno de um pátio central, desenvolve-se num só piso. As fenestrações, em elevado número, são decoradas de uma forma simples e discreta, sendo os motivos adoptados diferentes de vão para vão. INTERIOR: da entrada principal, a nascente, que se encontrava rigorosamente a eixo da porta da torre, acedia-se a uma câmara com funções distributivas. Pela leitura da planta observa-se a existência de uma comunicação directa entre as diversas salas, encontrando-se as portas rasgadas no mesmo alinhamento; todos os interiores obedeciam a uma rigorosa simetria conseguida pela repetição de um módulo quadrado, à excepção da sala nobre onde, pelas suas funções se preferiu um rectângulo; esta, situada à esquerda, apresenta, frente a frente, em cada um dos lados maiores do rectângulo, duas janelas conversadeiras e entre elas uma lareira, do lado oposto, também enquadrado por duas janelas, encontra-se um nicho de arco perfeito; o aquecimento do paço era assegurado pela existência de fogões de sala, dos quais subsistem 4. CAPELA de planta quadrangular, apoiada por dois grossos contrafortes, ergue-se adjacente ao penúltimo compartimento da ala nobre, sendo o único elemento que se destaca do quadrilátero em que toda a residência se estrutura. INTERIOR com cobertura em abóbada de nervuras de perfil abatido; arranque das nervuras suportados por mísulas com decoração geometrizante e vegetalista, gramática decorativa adoptada nas chaves da abóbada à excepção da central que ostenta a pedra de armas dos Câmaras (TRINDADE, 2001).

Acessos

Povoação de Santiago da Guarda, junto à igreja, na Rua Vasco da Gama. WGS84 (graus decimais) lat.: 39,948064; long.: -8,480053

Protecção

Categoria: MN - Monumento Nacional, Decreto n.º 95/78, DR, 1.ª série, n.º 210 de 12 setembro 1978

Enquadramento

Rural, implantado no coração de Santiago da Guarda, rodeado por construções destoantes de má qualidade e deficiente conservação.

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Residencial: casa nobre

Utilização Actual

Devoluto

Propriedade

Pública: municipal

Afectação

Sem afetação

Época Construção

Séc. 15 / 16

Arquitecto / Construtor / Autor

Desconhecido.

Cronologia

1449, antes de - a Quintã da Guarda (1), propriedade onde estava integrada a residência senhorial, encontrava-se na posse do Infante D. Pedro; 1449 - na sequência da batalha de Alfarrobeira, passa para Rui Borges, Senhor de Alva, cavaleiro da casa real e alcaide-mor do Castelo de Santarém; 1468 - D. Afonso V doa esta propriedade a João Rodrigues Ribeiro de Vasconcelos (2) e a todos os seus sucessores, com todas as suas rendas, direitos e pertenças; 1476 - D. Afonso V transforma esta doação em couto de honra; 1486 - D. João II confirma estes privilégios; 1489 - morte de João Rodrigues Vasconcelos; 1497 - carta régia confirmando os privilégios da Quintã da Guarda, que coube por herança a Pedro de Sousa Ribeiro, filho segundo, fidalgo da casa real e do conselho do rei, iniciando este uma longa campanha de obras; Séc. 15 (finais) / 16 (inícios) - data provável da 1ª campanha da (re)construção da casa-torre; 1505, cerca de) - morte de Pedro de Sousa Ribeiro; prossecução dos trabalhos sob a responsabilidade de Simão de Sousa Ribeiro, filho promogénito, alcaide-mor de Pombal; os espaços envolventes são transformados em hortas e pomares de função essencialmente recreativa; 1544 - data assinalada no portal de acesso ao pátio, sob o brasão esquartelado dos Vasconcelos, Ribeiros e Sousas do Prado, hoje desaparecido *4, que corresponderá à ultima campanha de obras com a edificação da capela; 1621 - João Rodrigues de Vasconcelos e Sousa recebe o título de 2º conde de Castelo Melhor, razão porque o paço é cenhecido a partir de então como residência senhorial dos Castelo Melhor; séc. 18 - ampliação de um 2º piso sobre a ala norte; 1989 - alugado a António Melriça; 1989 - O proprietário pedia 100 mil contos pelo imóvel; 1994 - depois de reunião entre o IPPAR e a CMA, o primeiro manifestou interesse no processo tendente à recuperação, prometendo apoio técnico à elaboração do projecto de recuperação e à realização das obras de consolidação; Séc. 20, anos 90 - adquirido pela Câmara Municipal de Ansião ao proprietário Dr. José Artur Nápoles Vieira da Mota.

Dados Técnicos

Estrutura mista / Paredes autoportantes

Materiais

Cantaria e alvenaria rebocada

Bibliografia

AZEVEDO, Carlos de, Solares Portugueses, 1969; Inventário Artístico de Portugal, Lisboa, 1976; COUTINHO, José Eduardo Reis, Jóia Arquitectónica Manuelina em Santiago da Guarda, Munda, 15, Coimbra, GAAC, 1988; SEQUEIRA, Gustavo de Matos, Inventário Artístico de Portugal, vol. V, Lisboa, 1955; SILVA, José Custódio Vieira da, Paços Medievais Portugueses, IPPAR, Lisboa, 1995; TRINDADE, Luisa, O Paço dos Vasconcelos, texto policopiado, s.l., 2001; http://www.patrimoniocultural.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/70641 [consultado em 2 janeiro 2017].

Documentação Gráfica

CMAnsião

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

IHRU:DGEMN/DSID

Intervenção Realizada

PROPRIETÁRIO: 2000 - obras de limpeza e consolidação estrutural; encerramento parcial do espaço interior; recuperação interior da cobertura da capela; 2003 - intervenção arqueológica; 2004 - recuperação da torre; 2005 - recuperação do paço - 1ª fase.

Observações

O Paço dos Vasconcelos é fruto de 2 campanhas distintas, embora quase contíguas. O núcleo original é constituído pela casa-torre. (1) O termo Quintã, segundo alguns investigadores, é só por si suficiente para comprovar a existência de uma casa nobre; "(...) casa de morada era o elemento definidor, por excelência, da quintã sendo o instrumento legal indispensável para lhe dar consistência jurídica(...)" (in, TRINDADE, 2001). (2) João Rodrigues Ribeiro de Vasconcelos, 3º senhor de Figueiró e Pedrogão, era filho único de Rui Vaz Ribeiro e D. Violante de Sousa, trineto de Mem Rodrigues de Vasconcelos e quinto neto de João Pires de Vasconcelos. (3) A cobertura exterior da capela apresenta somente a abóbada, devendo ter sido coberta por telhados. *4: O portal do Paço, hoje desaparecido, foi fotografado e descrito por Gustavo de Matos Sequeira em 1955. Em cantaria apresentava moldura interior chanfrada e debruada por um único filete com recorte ao nível da chave. Sobre a verga, onde se gravava a data de 1544, encontravam-se as armas dos Vasconcelos Ribeiros e Sousas do Prado.

Autor e Data

Isabel Mendonça 1991 / Cecília Matias 2002

Actualização

 
 
 
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