Núcleo urbano da vila de Linhares / Aldeia Histórica de Linhares

IPA.00001375
Portugal, Guarda, Celorico da Beira, Linhares
 
Núcleo urbano sede de freguesia. Povoação situada em encosta. Vila medieval de jurisdição régia e posterior jurisdição senhorial, mais tarde integrada na Casa do Infantado, com castelo e expansão quinhentista. Tecido urbano inscrito num perímetro triangular referenciado a três largos de raiz medieval, polarizados por igrejas. Estruturada por três eixos viários principais (Rua Direita, Rua da Igreja, Rua da Procissão), dois convergentes no Largo da Igreja e outro perpendicular aos anteriores. O Largo da Praça ou do Pelourinho forma-se pelo alargamento do eixo principal mais periférico. Estrutura parcelar homogénea nas frentes principais e incluindo amplos logradouros nas vias secundárias. O tecido construído é dominado pelo tipo construtivo beirão: casas de dois pisos com diferenciação funcional, planta rectangular concentrada e telhado de duas águas. O acesso à habitação é feito através de escadas exteriores de lanço único e patamar simples ou escada interior em madeira. Presença de numerosos vãos biselados ou com decoração manuelina. Povoação separada do Castelo por um terreiro e desprovida de cerca urbana. À partida, o castelo constituía um recinto exclusivamente militar, atendendo ao facto da igreja matriz medieval se situar extra-muros; contudo, é de admitir por hipótese que o primeiro recinto do castelo tenha de algum modo integrado uma zona urbana civil, o que apenas poderá ser esclarecido através de uma intervenção arqueológica. Conserva o acesso romano-medieval. Base topográfica irregular, impondo a presença de rochedos. Recurso a escadas e passadiços. Quarteirões periféricos unidos aos prédios rústicos. Lg. da Praça integrando preexistência medieval, o Forum utilizado nas reuniões municipais. Conserva casas judaicas, dois arcos supostamente pertencentes à judiaria e numerosas janelas manuelinas. Implantação periférica dos solares tardo-barrocos. O topónimo Linhares deriva do vocábulo latino Linares, tal como é citada nos forais, designação relacionada com a presença de campos de linho.
Número IPA Antigo: PT020903080017
 
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Registo

 
Conjunto urbano  Aglomerado urbano  Vila  Vila medieval  Vila fortificada  Régia (D. Afonso Henriques)

Descrição

Estrutura urbana: a mancha construída encontra-se orientada a S. e organiza-se no sopé do Castelo, comunicando com este através do Lg. do Corro, apenas separado do Lg. da Igreja por um quarteirão. Apresenta uma malha concentrada e relativamente densa, inscrita num perímetro triangular cujos vértices têm como referência três espaços significativos: o Lg. da Igreja, o Lg. da Misericórdia e o Lg. de São Pedro. Estrutura-se a partir de três eixos principais: a R. Direita e a R. da Igreja, vias paralelas que partem do Lg. da Igreja e que se dirigem para a periferia, onde entroncam com a R. da Procissão. Esta última integra, mais ou menos a meio, o Lg. da Praça ou do Pelourinho, permitindo articular uma rede de acessos transversais desde a zona baixa ( Lg. da Misericórdia e calçada romano-medieval ) ao denominado Cimo da Vila ( Lg. de São Pedro ). Devido aos acentuados desníveis topográficos observa-se o frequente recurso às escadas, sobretudo nas vias mais estreitas. Contam-se ainda dois exemplos de uma outra solução urbana tradicional, os passadiços lançados sobre o espaço público. O tecido assim estruturado é composto por quarteirões de forma irregular e de dimensão considerável, à excepção dos espaços mais fortemente marcados por pequenas travessas. Nos limites da povoação verifica-se que os quarteirões perdem a sua definição formal, vinculando na mesma unidade prédios urbanos e rústicos. Integram, frequentemente, enormes rochedos graníticos, que por vezes avançam sobre o espaço livre, introduzindo diversas inflexões nos percursos ( exemplo: R. dos Penedos ). Tecido construído: o tipo dominante refere-se à casa de dois pisos com diferenciação funcional, apresentando planta rectangular concentrada e formando um volume compacto, coberto com telhado de duas águas. No piso térreo localiza-se a loja, fazendo-se o acesso ao andar através de uma escada exterior, de lanço único, sem guardas e com patamar simples, sendo raro o balcão alpendrado. Esta escada, embora geralmente paralela à fachada, rompe o contorno linear da via. O acesso ao piso superior regista uma variante: a escada interior em madeira. A habitação, situada no 2º piso, compreende a cozinha sem chaminé, que tende a coincidir com a zona de estar, e um número variável de alcovas. A fenestração reduz-se às aberturas essenciais, apesar da existência de um importante conjunto de janelas quinhentistas ornamentadas, de casas com signos judaicos e de numerosos vãos com os elementos estruturais biselados ou moldurados.

Acessos

EN17, EM 555 - 3, Rua Direita

Protecção

Categoria: CIP - Conjunto de Interesse Público, Portaria n.º279/2013, DR, 2ª série, n.º 91 de 13 maio 2013 / PP - Plano de Pormenor (Recuperação urbana de Linhares da Beira), Portaria n.º 52/93, DR, 1.ª série-B, n.º 10 de 13 janeiro 1993

Enquadramento

Rural. Aglomerado urbano implantado a meia encosta, na vertente NE. da Serra da Estrela e sobranceiro à várzea da Ribeira de Linhares e ao vale do Mondego. Constitui um ponto marcante do território envolvente. Destaca-se o cabeço onde se ergue o Castelo (v. PT020903080002), a 815 m de altitude, dominado por afloramentos graníticos ciclópicos e pela silhueta das torres. Apresenta uma base topográfica muito irregular e os limites da povoação acusam já o impacto de construções dissonantes.

Descrição Complementar

A rede de acessos transversais à R. da Procissão integra a R. dos Penedos e a R. do Cimo ou do Outeiro, ambas secundando a orientação da R. da Igreja (ou R. Principal) e da R. Direita. Por sua vez, entre estas, existe um pequeno conjunto de vias transversais menos extensas, destacando-se a R. do Castelo, a R. do Arco, a R. do Passadiço e a R. de São Pedro. Um dos passadiços existentes corresponderá à antiga judiaria, cujo acesso é marcado por um arco (v. PT020903080010). Observa-se também um arco semelhante no beco formado na rua homónima (v. PT020903080025). Os quarteirões integram parcelas tendencialmente pouco profundas e de forma rectangular, surgindo também lotes quadrangulares. Estas parcelas, de dimensão mais ou menos idêntica, dispõem-se paralelamente entre si, mostrando um tecido cadastral bastante regular à face da via principal. Ao contrário, nas frentes orientadas para ruas secundárias esta estrutura torna-se mais complexa. Quase todos os quarteirões incluem vastas áreas de logradouro, induzindo a uma certa dispersão das construções, facto dissimulado através dos muros que delimitam a propriedade. Caracterização dos espaços estruturantes: o Lg. do Corro (ou Terreiro do Castelo) é um espaço heterogéneo e polivalente, formado junto aos afloramentos graníticos que apoiam o recinto fortificado e sendo percorrido por uma levada de água. Com limites imprecisos, é tambÃm marcado pela presença lateralizada da Igreja Matriz, prolongando-se até à Fonte de São Caetano (v. PT020903080035), que se ergue já no início do caminho para a Corredoura. Enquanto isso, o Lg. da Igreja, que comunica tangencialmente com o Lg. do Corro, é um espaço de configuração rectangular, dominado no topo E. pela fachada principal da Igreja Matriz (v. PT020903080008). No lado oposto é delimitado pela R. do Castelo e sua confluência, no ângulo SE., com a R. da Igreja e R. Direita. Os alçados urbanos, bastante descaracterizados, são compostos por casas de dois e três pisos, apresentando por vezes as escadas exteriores em ruptura com o alinhamento perimetral do espaço. O Lg. da Praça ou do Pelourinho, formado pelo alargamento da R. da Procissão, mostra uma forma em L triangular. É caracterizado pela presença da Casa da Câmara e Cadeia (v. PT020903080030), Pelourinho (v. PT020903080006) e Fonte de mergulho - Forum (v. PT020903080016). Na sua proximidade ergue-se o Solar Brandão de Melo (v. PT020903080033) e a antiga Hospedaria integrando janelas manuelinas (v. PT020903080031). Continuando a descer pela encosta, observa-se o Lg. da Misericórdia, espaço marcante da entrada na Vila, onde termina a Estrada dos Almocreves (calçada romano-medieval). De configuração trapezoidal, possui um centro bem marcado, a Igreja da Misericórdia (v. PT020903080019), apresentando os alçados urbanos descontínuos, sublinhados pelo Solar dos Cortes Reais (v. PT020903080012) e pela Albergaria medieval - Hospital da Misericórdia (v. PT020903080027). Lateralmente comunica com um espaço periférico, ambíguo entre a definição de largo e de rua, onde se ergue a Fonte Babosa (v. PT020903080029). Numa zona oposta, o Lg. de São Pedro constitui um recinto triangular, morfologicamente heterogéneo e muito descaracterizado, faltando o seu antigo ponto de referência: a Igreja de São Pedro. No tecido construído destacam-se numerosos edifícios marcantes, sobressaindo naturalmente o Castelo. Na arquitectura religiosa distinguem-se a Igreja Matriz, a Igreja da Misericórdia e a Capela de Nossa Senhora da Conceição (v. PT020903080034). A arquitectura civil pública encontra-se representada pela Casa da Câmara e Cadeia, Pelourinho, Fonte de mergulho - Forum, Fonte Babosa e Fonte de São Caetano. Finalmente, na arquitectura civil residencial têm grande impacto os Solares Brandão de Melo, dos Cortes Reais e dos Pinas (v. PT020903080037). Ainda neste âmbito afiguram-se importantes as numerosas casas com janelas manuelinas, situadas no Lg. da Misericórdia (v. PT020903080019), na R. da Procissão (v. PT020903080023 e PT020903080032), junto ao Beco das Escadinhas (v. PT020903080018), na R. Direita (v. PT020903080010), na R. da Principal (v. PT020903080020), na R. dos Penedos (v. PT020903080021), na R. do Arco (v. PT020903080025), e na R. e Tv. de São Pedro (v. PT020903080024 e PT020903080022). Na zona mais alta de Linhares localiza-se o Campo da Corredoura (terreno de usufruto comum) e, muito perto, o Calvário (composto por quatro cruzes de hastes rectilíneas) e a Capela de Santa Eufémia (já muito descaracterizada): trata-se de um espaço ao mesmo tempo de carácter civil municipalista e religioso que, embora não integrado na estrutura urbana, encerra funções e significados complementares e dependentes da povoação.

Utilização Inicial

Não aplicável

Utilização Actual

Não aplicável

Propriedade

Não aplicável

Afectação

Não aplicável

Época Construção

Séc. 12 / 13 / 16 / 18

Arquitecto / Construtor / Autor

Não aplicável

Cronologia

Origem imprecisa, talvez um castro pré-romano; 580 a.c. - hipotética fundação do povoado pelos túrdulos, denominando-se Lenio ou Lenióbriga *1; época visigótica - sede episcopal ( RODRIGUES, 1979 ); época romana - hipotética reedificação do recinto defensivo; séc. 8 - destruição pelos mouros; 900 - reconquista por D. Afonso III de Leão; 1169 - concessão de carta de foral por D. Afonso Henriques, indiciando tratar-se da confirmação de anteriores foros; reinado de D. Dinis - reedificação do castelo; doação da vila a Fernão Sanches, filho natural do monarca, que construiu um paço junto à Igreja Matriz, destruído entre 1372 e 1373 ( RODRIGUES, 1979 ); 1258 - consta das Inquirições; 1385 - doação da vila a Egas Coelho por D. João I de Portugal; 1395 - possuía albergaria; séc. 15 - documentada a presença de judeus; 1510 - concessão de carta de foral por D. Manuel, seguindo-se a edificação do Pelourinho; 1527 - a Vila possuía 153 vizinhos; 1532 - concessão do título de Conde de Linhares a António de Noronha; 1575 - extinção da paróquia medieval de Santo Isidoro, unida à de Santa Maria; 1576 - fundação da Misericórdia; séc. 16 - período de prosperidade e dinâmica civil, associada à comunidade judaica e fixada em numerosas vãos manuelinos; a vila atinge quase o actual perímetro consolidado; 1622 - reconstrução da Igreja da Misericórdia; 1632 - heráldica da Vila: crescente lunar e seis estrelas, armas relacionadas com a lenda de Nossa Senhora dos Açores (BRANDÃO, 1632); 1654 - incorporação dos bens do condado de Linhares na Casa do Infantado; 1756 - conta 206 vizinhos; séc. 18 - provável construção da Casa da Câmara e Cadeia; período próspero ligado ao incremento da cultura do milho; construção do Solar dos Cortes Reais; reconstrução da Igreja Matriz; 1808 - concessão do condado a Rodrigo de Sousa Coutinho sem usufruto do senhorio; séc. 19, 1ª metade - construção dos Solares dos Pinas e dos Brandão de Melo; 1855 - extinção do concelho; 1981 - Plano de Pormenor de Recuperação de Linhares da Beira para o Parque Natural da Serra da Estrela, elaborado por Jorge Kol de Carvalho; 1991 - conta 378 habitantes; 1996, 12 agosto - declaração da área crítica de recuperação e reconversão urbanística (ACCRU) da Aldeia de Linhares, pelo Decreto n.º 23/93, DR n.º 186, 1.ª série-B; 2002, 21 maio - despacho do Vice-Presidente do IPPAR com abertura do procedimento de classificação; 2004, 21 dezembro - proposta da DRCBranco para classificação como Imóvel de Interesse Público.

Dados Técnicos

Não aplicável

Materiais

Não aplicável

Bibliografia

BRANDÃO, Frei Francisco, Monarchia Lusitana, Lisboa, 1632; HENRIQUES, João Baptista, Corografia Lusitana e República Portuguesa, Lisboa, 1691 (BNL Ms. 38); COSTA, António Carvalho da, Corographia Portugueza, Lisboa, 1708; CASTRO, José Osório da Gama e, Diocese e Districto da Guarda, Porto, 1902; COLA,O, J. M. Tello de Magalhães, Cadastro da População do Reino, Lisboa, 1929; OLIVEIRA, Manuel Ramos de Oliveira, Celorico da Beira e o seu Concelho, Celorico da Beira, 1939; FRANCO, José, Linhares, Terra Beiroa, Esboço Monográfico, Lisboa, 1944; ALMEIDA, João de, Roteiro dos Monumentos Militares Portugueses, Lisboa, 1945; DGEMN, Castelo de Linhares, ( Boletim de Restauro nº 98 ), Lisboa, 1959; RODRIGUES, Adriano Vasco, Celorico da Beira e Linhares, Celorico da Beira, 1979; MOREIRA, Maria da Conceição, Linhares, Aspectos Históricos, Lisboa, 1980; TAVARES, Maria José Pimenta Ferro, As Comunidades Judaicas das Beiras durante a Idade Média, in Altitude, Guarda, 2ª série, 1981, nº 4; BATISTA, José David Lucas, O Povoamento da Serra da Estrela de 1055 a 1223 e Outros Estudos, Lisboa, 1988; NEVES, Vítor Pereira, Três Jóias Esquecidas, Marialva, Linhares e Castelo Mendo, Castelo Branco, 1993; ABRANTES, Leonel, Linhares Antiga e Nobre Vila da Beira, Folgosinho, 1995; http://www.patrimoniocultural.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/10728810 [consultado em 2 janeiro 2017].

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN; Câmara Municipal de Celorico da Beira; Parque Natural da Serra da Estrela

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN; Câmara Municipal de Celorico da Beira; Parque Natural da Serra da Estrela

Intervenção Realizada

DGEMN: 1936-1984 - obras de restauro e de conservação no Castelo e na envolvente imediata; 1936 - 1974 - obras de restauro e de conservação na Igreja de Santa Maria; 1964 - obras de reparação da janela manuelina da R. Direita. Junta de Freguesia de Linhares: 1985 - obras de recuperação da Casa da Câmara e Cadeia; IPPAR / Parque Natural da Serra da Estrela: 1994 - 1997 - obras de requalificação no Castelo, com remodelação dos arranjos exteriores do seu recinto.

Observações

Toponímia: Lg. da Igreja, Lg. do Corro - Terreiro do Castelo, Lg. de São Pedro, Lg. da Praça - Pelourinho, Lg. da Misericórdia, R. Direita, R. da Igreja, R. Principal, R. do Castelo, R. da Procissão, R. dos Penedos, R. do Cimo ou do Outeiro, R. do Arco, R. do Passadiço, R. de São Pedro, R. da Cadeia, R. do Campo, Estrada dos Almocreves.

Autor e Data

Margarida Conceição 1997

Actualização

 
 
 
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