Igreja da Santa Casa da Misericórdia de Évora

IPA.00001157
Portugal, Évora, Évora, União das freguesias de Évora (São Mamede, Sé, São Pedro e Santo Antão)
 
Arquitectura religiosa, maneirista e barroca. Igreja da Misericórdia maneirista, do aro de Évora, de planta longitudinal e nave única, simples, com fachada principal terminada em frontão triangular e rasgada por um eixo central de fenestração, constituído por portal de arco abatido, entre pilastras e quarteirões, que suportam frontão interrompido por janela, de moldura recortada e cornija de lances, e óculo no tímpano. Fachadas percorridas por friso dórico, sendo a lateral direita reforçada por contrafortes rectangulares de cantaria e remate em alvenaria rebocada. Interior de espaço único, com nave e presbitério, possuindo a parede testeira revestida a talha dourada formando capela-mor e dois retábulos colaterais, de transição do maneirismo para o barroco. Paramentos percorridos por alto silhar de azulejos e telas emolduradas a talha dourada, barrocos, com representação das 14 Obras da Misericórdia; existência de coro-alto, púlpito no lado do Evangelho, cadeiral dos Mesários rococó no lado da Epístola, colocado sobre estrado de madeira junto ao presbitério e capela lateral, no topo do mesmo lado, de estrutura maneirista e retábulo barroco. Cobertura em falsa abóbada de berço, seccionada em tramos, com trabalhos de estuque. Igreja da Misericórdia de traça quinhentista mas posteriormente reformulada e redecorada em termos de fachadas e interior. As fachadas são percorridas, na sua quase totalidade, por um friso dórico maneirista encimado por cornija assente em mútulos bastante salientes e levemente volutados. O portal principal, de modinatura convexa e vão concavo, de arco abatido com intradorso decorado entre pilastras molduradas e quarteirões suportando frontão interrompido, e a janela de jambas recortadas, são de estilo rococó. O remate da fachada principal é de feitura posterior, com um frontão triangular atarracado de ângulos inferiores abertos. Interiormente, toda a decoração, idealizada e planificada para o espaço, contribui para a unificação do mesmo, que é valorizado e enriquecido com um programa iconográfico também unitário. Os paramentos são revestidos por um alto silhar de azulejos monocromos azuis sobre fundo branco, barrocos, do ciclo dos Mestres, pertencentes à oficina dos Oliveira Bernardes, e por grandes telas, também barrocas, emolduradas a talha dourada joanina, com elementos divisórios das várias composições sobrepostos e no alinhamento dos tramos da cobertura, decorada por caixotões rectangulares e circulares, tudo disposto de modo a ritmar a nave. O programa iconográfico baseia-se na na acção social desenvolvida pela Misericórdia, traduzindo-se na representação das 14 Obras da Misericórdia, em alegorias directamente alusivas a essas ou a outras, como a botica e a dotação das raparigas orfãs e / ou pobres, complementadas com inscrições de textos Bíblicos relacionados e figuras de Santos que sobreviveram milagrosamente. Assim, ao longo da nave são representadas, num silhar de azulejos, as alegorias, encimadas pelas 7 Obras da Misericóridia Espirituais, ilustradas com cenas da vida de Cristo, identificadas individualmente por filactera com inscrição em latim sobre cercadura e, numa cartela, pelas palavras de Jesus e o texto, também em latim, que explicam a composição; nas telas sobrepostas, representam-se as 7 Obras da Misericórdia Corporais, ilustradas com cenas bíblicas e da vida quotidiana, não possuindo qualquer identificação. Todas as telas retratavam cenas ou "passos das Escrituras" conforme o contrato com o pintor Francisco Lopes Mendes, no entanto, passados mais ou menos 20 anos, cinco delas foram repintadas pelo pintor eborense José Xavier de Castro, por razão desconhecida, muito provavelmente alterando a figuração, permanecendo do primeiro pintor as que ilustram "Dar de beber a quem tem sede" e "Dar de comer aos famintos". Os Santos representados no sub-coro, sendo a de Santa Tais a única conhecida no país, foram todos eremitérios, que se afastaram do mundo e foram alimentados milagrosamente, constituindo mais uma referência à Misericórdia Divina. O programa iconográfico da Misericórdia de Évora tem a particulariedade de ter substituído um outro semelhante, mais antigo, composto por pinturas murais, provavelmente do último quartel do séc. 16, e que ainda subsiste sob as telas. Representavam as Obras da Misericórdia Corporais num plano superior dos paramentos, tendo do lado do Evangelho "Dar de comer aos famintos", "Dar de beber a quem tem sede", "Dar pousada aos peregrinos" e "Enterrar os mortos", e do lado da Epístola "Cobrir os nus" e "Visitar e curar os enfermos". São pinturas de grande extensão sequencial e excelente qualidade, em termos perspéctivos, cromáticos e de representação das figuras. Sob a tela da Mater Omnium, com a típica divisão bipartida da sociedade e tendo aos pés da Virgem um grupo de indigentes, figura uma outra, também em pintura mural, de grande interesse, constituindo mais uma Virgem do Manto, de tradição Imaculista, uma vez que não possui a separação social dos grupos. Portanto, ainda que impossibilitados de conhecer na sua totalidade a igreja quinhentista, percebemos que a sua estrutura de nave única e presbitério e a sua volumetria se mantiveram, bem como parte do seu programa iconográfico, tendo-se verificando apenas um enriquecimento do imóvel impulsionado pelo provedor e arcebispo de Évora, D. Simão da Gama, a partir de 1710. O púlpito é circular, com guarda em balaustrada e acesso por porta de verga recta. O presbitério é sobrelevado com acesso por duas escadas laterais, tendo no topo do lado da Epístola capela com estrutura maneirista, decorada em mármores embrechados e de tipo florentino, e retábulo barroco, de estilo nacional, com três eixos, formando os laterias ilhargas adaptadas à caixa murária com nichos contendo imagens que, juntamente com a de Cristo na cruz no eixo central, formam Calvário. A estrutura de talha dourada que reveste a parede testeira, uma verdadeira parede de ouro, formando retábulo-mor e dois colaterais, é maneirista, mas utiliza já as arquivoltas e colunas torsas típicas do barroco. A tela que fecha a tribuna do retábulo-mor representa a Visitação, com a figura de São José acompanhando Maria e, segundo Celso Mangucci , segue de perto a tela de Bento Coelho pintada por volta de 1690 para a Igreja Matriz de Vila Viçosa. A capela de São João Baptista integra uma pintura sobre tábua representando um Calvário que pertencia ao antigo retábulo-mor quinhentista. As credências entre o retábulo-mor, o órgão positivo de armário, datado, e o cadeiral dos Mesários são rococós, embora este último tenha sido estofado no séc. 19. O cadeiral do coro-alto é de data posterior e bastante sóbrio e em madeira entalhada.
Número IPA Antigo: PT040705210062
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Templo  Igreja de Confraria / Irmandade  Misericórdia

Descrição

Planta longitudinal de nave única simples, tendo adossada à fachada lateral direita, no intervalo dos contrafortes, pequenos anexos mais baixos, à fachada posterior vários corpos e à lateral esquerda a sacristia rectangular e corredor de comunicação. Volumes escalonados com coberturas em telhados de duas águas na igreja e corpos da fachada posterior e a uma água nos anexos. Fachadas rebocadas e pintadas de branco com embasamento, cunhal esquerdo, cornija e óculo da fachada principal sublinhados a ocre, e percorridas, quase na sua totalidade, por friso dórico encimado por cornija assente em mútulos bastante salientes e levemente volutados. Fachada principal virada a O., terminada em frontão triangular, atarracado, de ângulos abertos, e rematada por pináculos laterais e cruz de ferro sobre acrotério ao centro. É rasgada por portal em mármore de Estremoz, de modinatura convexa e vão côncavo, de arco abatido, com intradorso decorado a almofadas, enquadrado por pilastras, também molduradas, que por meio de entrelaçados se interligam a quarteirões que suportam frontão interrompido por janela, do mesmo mármore; o espaço entre o arco e o frontão, também em cantaria, é sobrepujado por almofada recortada com brincos e brasão nacional com ornatos exteriores recortados e coroa. Janela de verga semicircular e jambas molduradas e recortadas, encimada por cornija de lances com motivo vegetalista sob ela; no tímpano, abre-se óculo circular simples. Fachada lateral S. ritmada por seis contrafortes rectangulares, em cantaria aparelhada, rematados, sobre o friso dórico e cornija, por blocos rectangulares de alvenaria rebocada, cobertos por beiral telhado; o espaço entre os contrafortes é preenchido por anexos, de diferentes alturas, com pequenos vãos dispostos irregularmente, três deles com acesso exterior e o outro com ligação à igreja. Na fachada posterior, no ângulo SE., ergue-se sineira, devoluta, de alvenaria rebocada, terminada em cornija encimada por pináculo. Na fachada lateral N., ergue-se junto ao cunhal uma outra sineira, de arco pleno, rematada por cornija e frontão de volutas, possuindo pequeno sino de bronze. INTERIOR de espaço único, com nave e presbitério, com pavimento em tabuado de madeira e mármore no presbitério, e cobertura em falsa abóbada de berço de estuque, com arcos mais salientes, moldurados, formando cinco tramos, sendo cada um deles ornado por caixotões rectangulares centrados por um circular. Coro-alto sobre arco abatido assente lateralmente em quatro colunas jónicas, de granito, e balaustrada de madeira, com cadeiral de madeira entalhado e espaldar quadrangular, disposto em quatro fiadas frontais e formando ângulo; no lado da Epístola possui órgão positivo de armário, pintado de azul, com apainelados, e falsas pilastras laterais, rematado em cornija borromínica, com data de 1765, e brasão nacional envolto por meios concheados; ilhargas laterais também rematadas com concheados em talha; ao centro, atril pintado de branco e dourado e armário com paramentaria; nas paredes, dispõem-se várias telas com passos da vida de Cristo e o óculo é envolvido por laçarias em estuque. Os paramentos da nave e sub-coro têm alto silhar de azulejos, monocromos azuis sobre fundo branco, de composição figurativa, organizados em dois registos, o inferior mais baixo, sobreposto por pinturas sobre telas emolduradas a talha dourada e policroma. Os painéis de azulejos têm cercaduras compostas por elementos arquitectónicos, enrolamentos de acantos, putti e festões, e as telas têm molduras, com vários frisos, cornijas, acantos, elementos fitomórficos, intercalados por atlantes, encarnados, com cestos de flores na cabeça. No sub-coro, enquadrando o portal, dois painéis sensivelmente iguais, figurando estrutura arquitectónica de dois registos sobre pilastras, tendo no primeiro arcosólio decorado por caveira segurando serpente com maçã na boca, e no segundo arcada geminada com dois vasos de flores; encimam-nos cartelas com dois textos bíblicos diferentes; são sobrepostos na cercadura por pias de água-benta em mármore rosa, decoradas. Lateralmente, abrem-se portas de verga recta simples, encimadas por cartela com alegorias alusivas às obras da Misericórdia, e ladeadas por painéis figurando, do lado do Evangelho, São Paulo eremita e Santo Antão eremita, e, do lado da Epístola, Santa Tais e Santa Maria Egecíaca. O silhar de azulejos que se prolonga pela nave, emoldurando os vãos, representa no segundo registo as Obras da Misericórdia Espirituais, ilustradas com cenas da vida de Cristo, identificadas individualmente por filactera com inscrição em latim sobre a cercadura e, numa cartela, pelas palavras de Jesus e o texto, também em latim, que explicam a composição. Assim, do lado do Evangelho figuram, do coro para o presbitério, "Castigar com caridade os que erram", "Consolar os tristes desconsolados", "Ensinar os simples" e "Dar bom conselho a quem o pede"; do lado oposto e no mesmo sentido, "Perdoar a quem nos errou", "Sofrer as injúrias com paciência" e "Rogar a Deus pelos vivos e pelos mortos". No primeiro registo do silhar, surgem agrupadas duas cartelas com alegorias alusivas às Obras da Misericórdia e com legenda em latim. As telas representam as Obras da Misericórdia corporais, ilustradas com cenas bíblicas e da vida quotidiana, não possuindo qualquer identificação; figura, do coro para o presbitério, "Curar os enfermos", "Cobrir os nus", "Dar de beber a quem tem sede" e "Dar de comer aos famintos", e, no lado oposto, no mesmo sentido, "Dar pousada aos peregrinos e pobres", "Remir os cativos e visitar os presos" e "Enterrar os mortos"; a penúltima está assinada por "IOZEPHUS. XAVERIVS FDCIT. AN. D. / MDCCXXXVII". No lado do Evangelho, surge púlpito de mármore, semicircular sobre mísula, e guarda em balaustrada, acedido por porta de verga recta, e no lado da Epístola, assente em estrado de madeira com balaustrada e espaldar liso também em madeira, o cadeiral dos mesários, composto por catorze cadeirões individualizados, estofados e com braços, tendo um deles espaldar encimado pelas armas da Misericórdia e dois pináculos, em talha dourada, e um outro, de espaldar recortado encimado por grupo escultórico dourado com brasão entre dois putti. Presbitério sobrelevado, delimitado por balaustrada de mármore, acedido por escadas laterais também com balaustrada; a sua parede frontal é igualmente revestida a azulejos monocromos azuis sobre fundo branco, com alegorias às Obras da Misericórdia em cartelas centrais, legendadas em latim; ao centro insere-se túmulo de D. Leonor Ferreira de Ataíde, encimado por brasão oval, e, lateralmente, no pavimento duas lápides sepulcrais protegidas por vidro. No lado da Epístola, abre-se capela do Santo Cristo, com arco de volta perfeita sobre pilastras em embutidos de mármore tipo florentino, enquadrados por pilastras, em embrechados, que se prolongam a fim de suportar cornija, em mármore branco; as cornijas dos capitéis e dos seguintes são em mármore preto. Alberga retábulo de talha dourada, de planta recta e corpo côncavo, de três eixos divididos por colunas torsas assentes em consolas; o central tem enorme resplendor envolvendo a figura do Crucificado, e os laterais, formando ilhargas adaptadas à caixa murária, têm dois nichos de volta perfeita e moldura recta, com intradorso policromado com acantos, contendo as imagens de roca de São João Evangelista e de Nossa Senhora das Dores; sobre a tribuna o sacrário projecta-se de forma convexa por porta decorada circunscrita por quarteirões; as colunas prolongam-se em arquivoltas formando o ático do retábulo, com apainelados circunscritos por anjos atlantes e emblemas com motivos alusivos ao martírio de Cristo. Altar paralelepipédico, com portas em madeira, que abrem deixando antever a figura de Cristo Morto. Lateralmente a capela possui painel de azulejos com representação do Anjo custódio do Reino, com escudo ostentando as cinco chagas de Cristo. É encimada por espaldar recortado de talha dourada com acantos, enrolamentos e anjos encarnados.Parede testeira da nave revestida a talha dourada, formando retábulo-mor e dois laterais, de planta recta e um eixo, divididos por duas colunas torsas assentes em consolas com anjos encarnados, que suportam entablamento comum aos três, e sob as quais surgem duas credências ladeando o retábulo-mor. Este é composto por tribuna, estrelada fingindo firmamento com trono e baldaquino, circunscrita por colunas torsas, assentes em consolas com anjos, e pilastras, intercaladas por mísulas com imaginária, que se prolongam em duas arquivoltas formando ático, unidas no sentido do raio, o central com emblema inscrita entre dois anjos. A tribuna é encerrada por tela com representação da Visitação. Retábulos colaterais seguindo a mesma estrutura, com os elementos de sustentação a prolongarem-se igualmente em arquivoltas, formando tímpano decorado por acantos, sobre entablamento, e tendo no fecho do ático emblema com inscrição ladeado por anjos. A capela do lado do Evangelho, dedicada a São João Baptista, possui pintura sobre tábua com figuração do Calvário, e a do lado da Epístola, dedicada a São Miguel, tem tela com representação do orago. Remate comum aos três retábulos e adaptado à cobertura, formando tabela rectangular com tela figurando a Mater Omnium, ladeada por colunas torsas e aletas plenas decoradas com anjos de vulto encarnados, acantos e volutas. Sobre a tabela acantos enrolados e ao centro escudo nacional, com coroa, seguro por anjos. No lado do Evangelho do presbitério, abre-se porta para a sacristia, com cobertura em falsa abóbada de berço assente em cornija, tendo no fundo arcaz com espaldar de madeira, ritmado por pilastras coroadas por ornamento, decorado com almofadas e tendo ao centro nicho envidraçado terminado em perfil curvo com volutas; do lado direito armário de madeira embutido na parede e lavabo de mármore, de espaldar recortado com linhas côncavas e convexas, de duas bicas e taça rectangular, encimado por espelho com moldura de talha. A sacristia interliga aos corpos da fachada posterior e ao corredor lateral paralelo à nave, coberto por falsa abóbada de arestas, de três tramos, com restos de pinturas murais em algumas zonas, e com portas de acesso à nave, ao púlpito e ao coro; nele se organizou pequeno museu, com paramentaria, bandeiras processionais e outros, a qual se prolonga pelo coro. Bandeira da Misericórdia tendo no anverso a representação da Mater Omnium e no reverso a Lamentação do Cristo Morto.

Acessos

Largo da Misericórdia; Rua da Misericórdia

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 31/83, DR, 1.ª série, n.º 106 de 09 maio 1983 / Incluído no Centro Histórico da cidade de Évora (v. PT040705050070)

Enquadramento

Urbano, adossado. Ergue-se no centro histórico da cidade intra-muros, junto à rua que conduzia às portas de Moura, tendo a fachada posterior adossada a habitações de cércea mais baixa, e a lateral esquerda, numa cota mais elevada, a outras construções que constituiam a antiga botica e casa do despacho, de que se conserva ainda arcada, um portal manuelino e outros elementos; ali estão actualmente instaladas a Manutenção Militar e a Messe dos Sargentos. Frente à fachada principal, desenvolve-se largo, com pavimento em calçada à portuguesa, pontuado por algumas árvores e com bancos de jardim.

Descrição Complementar

INSCRIÇÕES: Os painéis de azulejos que ladeiam o portal axial têm as seguintes inscrições latinas; o do lado do Evangelho "BEATI MISERICORDES QUONIAM IPSE / MISERICORDIAM CONSEQUENTUR / Math. 5." e no lado da Epístola "BEATVS QVI INTELIGIT SVPER EGA / NVM ET PAVPEREM INDIE MALA /LIBERABIT EVM DOMINVS Psal 4". Junto às escadas de acesso ao presbitério, encontram-se duas lápides de mármore brasonadas com as seguintes incrições: do lado do Evangelho "SA. DE ALVº BRADÃO / DE FARIA NATURAL / DA CIDADE DO PORTO / DE S. M. F." e do lado oposto "S. D. FRCO. D. CARVALHA / IS ED SVA MOLHER GI/NEVRA FRAGOZA E D / SEDETES". No esbarro da janela do coro, surge uma lápide reaproveitada com a inscrição "S. D. JOANA / DA GAMA EN/ QE DEIXA TR/ES MISTEIRAS Q / A MISERICORDIA PROVERA COMO / DIS NO TESTAMTO". Na chave do arco de cada retábulo surgem emblemas, seguros por anjos encarnados, com inscrições alusivas ao orago; no da capela-mor lê-se "SPECIOSA MISERICORDIA DEI" (Formosa a Misericórdia de Deus - Ecl. 35:26); na capela de São João Baptista lê-se "BAPTIZANS ET PRAEDICANS" (Baptizando e Pregando - Marc. 1:4), no de São Miguel "DEFENDE NOS IN PRAELIO" (Defendei-nos na luta - Rev. 12:7) e no do Santo Cristo "IPSE FECIT NOS" ( Foi Ele que nos criou).

Utilização Inicial

Religiosa: igreja de confraria / irmandade

Utilização Actual

Religiosa: igreja de confraria / irmandade

Propriedade

Privada: Misericórdia

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 16 / 17 / 18

Arquitecto / Construtor / Autor

CABOUQUEIRO: Domingos Vieira. CANTEIROS: Manuel Rosado; Joaquim de Almeida; Francisco da Silva; Martinho Gonçalves; João da Silva, João da Costa e Luís António, os três de Estremoz. CARPINTEIROS: Tomás Rodrigues; António Rosado; Manuel Gomes; João Crisóstomo; Manuel de Nascimento; Diogo Cordeiro; Amaro Lopes. DOURADORES: Manuel da Maia, Bernardo Luís, José Correia e Francisco Ferreia; entalhador: Paollo (?) do Vale; Ribeiro, morador na R. do Raimundo; João da Mata Botelho. LADRILHADOR: Francisco Luís. ENTALHADOR: Inácio Carreira. MESTRES PEDREIROS: Mateus Neto; Manuel Sebastião de Abreu; oficina dos Oliveira Bernardes. PEDREIROS: Jerónimo da Cunha, Inácio Martins, Manuel da Cunha, Gaspar Rodrigues, Manuel de Castro, Francisco Martins, Manuel da Maia, André Gomes, João Rodrigues, Miguel Nunes; Gregório das Neves; José Cordeiro; João da Costa; João Esteves André; pintores: Manuel Pereira; Luís António; António Trindade e António dos Santos; Francisco Lopes Mendes; José Xavier de Castro. PINTOR E DOURADOR: Filipe Santiago. SERVENTE: Manuel Fernandes. SERVENTE PEDREIRO: Manuel de Araújo, Domingos Lopes, António Simões. SERRALHEIRO: Luís do Vale. MESTRE: António de Góis Simões.

Cronologia

1499, 7 Dezembro - Fundação da Irmandade da Misericórdia, numa capela adossada à fachada N. da Igreja de São Francisco ( v. 0705210017 ), conhecida como Capela de São Joãozinho ou Igreja de São João Baptista, sendo seus primeiros confrades o rei D. Manuel e as rainhas D. Maria de Castela e D. Leonor, viúva de D. João II, e o Bispo D. Afonso; 1500, 27 Agosto - alvará para Álvaro Velho dispender no conserto da casa de Nossa Senhora da Misericórdia até a quantia de 8 mil reais; 1537, 6 Dezembro - licença para se dizer missas no altar da Misericórdia, que se acrescentou; 1538, 9 Abril - alvará do Cardeal Infante dando licença para se fazerem dois altares, um na capela nova "q hora se fez" e outra no corpo da igreja, no vão de uma porta, e que neles se digam missas; 1551, 21 Setembro - sendo provedor Jorge de Melo, a Misericórdia compra ao infante D. Luís, Prior do Crato, as casas que aquele havia adquirido e depois doado, em 1530, às religiosas de São João de Jerusalém, de Malta ou de Penitência, entretanto transferidas para Estremoz; o preço acordado foi de 350$00, mas o Infante acabou por vendê-las por metade do preço e a outra metade deu à Misericórdia para ampliarem a igreja; 1553 - já ali se reunia a Mesa; 1554, 13 Janeiro - decorrendo obras na igreja, D. João III manda que fossem auxiliados de cal, tijolo, telha e quaisquer outras coisas que tivessem necessidade e que não lhes pusessem quaisquer encargos; 20 Outubro - lançamento da primeira pedra para a construção da igreja, sobre a cerca velha, nas proximidades das Portas de Moura; as obras decorriam lentamente; 1564, 3 Novembro - não concordando com a mudança, o Cardeal Infante escreve ao Provedor e Irmãos sobre a mudança que o rei D. Sebastião queria fazer da Misericórdia para a Porta Nova, por ser local mais conveniente e onde concorreriam mais esmolas; 1566, 10 Outubro - Arcebispo de Évora D. João de Melo responde favoravelmente à petição da Misericórdia para no altar que se mudou se dizer missa; na petição explicam que "...por a casa que lhe serve de igreja ser pequena e fizeram mais comprida com lhe ajuntaram outra casa pela qual razão mudam o altar mais pera diante..."; 4 Dezembro - autorização real para aumentar o número de confrades em mais 100; 1567, 10 Março - é confiada à Misericórdia a gestão do Hospital do Espírito Santo; 1574, Abril - sob gestão do Provedor Garcia de Meneses, decide-se definitivamente retomar as obras onde haviam sido iniciadas, as quais passam a correr mais rápidas, devido ao apoio real; séc. 16, último quartel - execução de pinturas murais na igreja, com representação da Mater Omnuim sobre o retábulo e as obras da Misericórdia corporais no plano superior dos paramentos da nave; 1577 - acolhe já os eleitores da Mesa administrativa; 1579 - actualização do processo de escolha dos eleitores da Mesa, que passou a fazer-se anualmente no dia 2 Julho, na festa de Nossa Senhora da Visitação, na mesa redonda, sob o coro; 1587, 19 Março - falecimento de D. Leonor Ferreira de Ataíde, benfeitora da Misericórdia; 1593, 7 Agosto - D. Teotónio de Bragança, arcebispo de Évora, autoriza celebração de missa no novo altar-mor, acabado de fazer; 1596 - lajeamento da igreja por Mateus Neto; 27 Outubro - decide-se mandar construir uma cimalha na fresta da sacristia e consertar as portas da igreja; 1635 / 1636 - armação da igreja; 1650 - Cabido contribui com 40.000 rs para as obras; 1653 - Inácio Martins pica as pedras da capela-mor, por estarem muito negras; 1653 a 1557 - obras na Casa do Despacho que, juntamente com outras pequenas no Hospital da Misericórdia, totalizaram 634$400; a pedra foi comprada pela Misericórdia e veio das obras do baluarte; 1655, 14 Julho - a Mesa faz colecta entre os Irmãos para as obras; 1657, 1 Março - primeira sessão da Mesa na Casa do Despacho, que possuía florões de madeira no tecto, dourados, silhar de azulejos (2300 azulejos e 57 alizares ), vindos de Lisboa, por 24$452, armários, assentos e mesa redonda; 1663, 29 Abril - criação de coro de capelães; 1664 / 1665 - encomenda do retábulo-mor pelo Provedor Frei Luís de Sousa, excepto do sacrário, que se mandara fazer na mesa do ano anterior; 1668, 11 Janeiro - falecimento do primeiro organista do coro, o Pe. António Roiz Ramires; 1673, 28 Julho - escritura para o Sepulcro novo com o entalhador Ribeiro, por 90$000 rs; 1680, 24 Janeiro - António Rosado contratado para a obra das três portas da igreja, por 35$000 rs; 16 Junho - manda-se oleá-las ao pintor Manuel Pereira; 1684, 13 Agosto - Mesa decide abrir uma botica no edifício da Misericórdia; 1693, Agosto - término das obras de refazer o cruzeiro da igreja; 1703, 25 Julho - contrato com mestre entalhador Inácio Carreira para executar retábulo da Capela de Santo Cristo, por 130$000 rs, conforme o "risco" que ele apresentou; 1708, 18 Janeiro - manda-se dourar o retábulo da Capela do Santo Cristo a Manuel da Maia e Bernardo Luís por 140$000 rs, com a obrigação de a acabar para a 5ª feira santa desse ano; 1710 - era provedor D. Simão da Gama, arcebispo de Évora, o qual decide substituir os retábulos da igreja; contrato com o escultor e entalhador Francisco da Silva para fazer "de obra entalhada, a frontaria da capela maior da igreja ... e seus altares colaterais, até ao soco da abóbada, ... e cobrindo de entalhado os lados da dita igreja, do friso donde começam os arcos da abóbada até o capitel de mármore preto da capela do Santo Cristo ... deixando ... sem entalhar o claro de dois palmos de altura em que se há de pintar as obras da Misericórdia, e ... fazer duas colunas em cada capela das tais, além de duas figuras que há de ficar nos lados da capela maior, de grandeza que a obra permitir ..."; o retábulo custou 4000 cruzados; 1713 - a estrutura do primitivo retábulo e algumas tábuas foram doadas à ermida de São Sebastião, então em reconstrução; uma das tábuas, com representação do Calvário, ainda subsiste como fundo da capela de São João Baptista; 1713 / 1714 - conserto do sacrário, frontal, portas dos leigos, bancos e caixão da sacristia; 1714 / 1715 - 689 "forneiros" para ladrilhar a igreja, a 30 reis cada um, no total de 20$670; 1714, Abril - pagamento ao pintor de 20$000 pelo painel de Nossa Senhora da Misericórdia; 26 Dezembro - decide-se mandar apainelar a Igreja e pintar em sete quadros as obras corporais da misericórdia, "simbolizadas em sette passos da Escritura que ao Sr. Escrivão melhor parecer"; estas telas e as das capelas foram pintadas por Francisco Lopes Mendes, que nesta altura recebe um adiantamento; 1715, 6 Janeiro - colocação da tela da Mater Omnium; 28 Julho - acrescentamento do coro pelo mestre Manuel Gomes, por 85$000 rs; Agosto - pagamento de 1$440 ao pintor Francisco Lopes por pintar o altar do Santo Cristo onde se pôs o túmulo do Senhor Morto; 4 Setembro - contrato com o empreiteiro Manuel Borges para azulejamento da nave, estabelecendo-se que deveria representar "...sete passos das Obras Espirituais de Misericórdia, com vários emblemas por baixo dos ditos passos, de que se lhe dará um papel declarando-se os passos e emblemas ... assinado pelo tesoureiro desta mesa ..."; os azulejos deveriam ser dos mais finos e melhores que no tempo se colocavam nos templos da corte; colocação de nova pedra no degrau que divide o cruzeiro; ladrilhamento da igreja; feitura da janela da capela-mor, com vidraça, rede e grade, e conserto dos telhados; pintura das grades do cruzeiro; 1716 - data dos azulejos, sobre a porta do lado da Epístola; pagamento de $720 a Francisco Lopes por pintar porta fingida; 1727 / 1728 - lâmpada de prata para o Santíssimo Sacramento; feitura dos cortinados da capela-mor; 1728 / 1729 - colocação de ferragem das grades do cruzeiro da igreja; 1728, 22 Julho - assentou-se dar a obra do dourado do frontespício da igreja aos mestres douradores Manuel da Maia, Bernardo Luís, José Correia, e Francisco Ferreira por 680$000; 10 Outubro - decide-se dourar os dois retábulos que ficam sobre o cruzeiro; 1729, 16 Março - manda-se estofar e fazer uns plintos às figuras encostadas às colunas do retábulo para servirem na boca da tribuna; 26 Abril - mestre dourador Filipe Santiago obrigou-se a dourar os retábulos e cimalhas de madeira da igreja, por 490$000; 1729 / 1730 - obra nos telhados e algerozes por 2$250; pagamento de 4$800 pelos tocheiros para a igreja e de 3$400 pelo seu prateado; 1737 - o pintor eborense José Xavier de Castro repinta 5 das 7 telas da nave; 1736 / 1737 - pequenos consertos na igreja; 1740, 30 Janeiro - manda-se que se fizesse "portado de pedra" com as armas reais; 1750, cerca - feitura das credências de madeira dourada e branca do retábulo-mor; 1765 - talha dos altares do entalhador eborense João da Mata; 8 Junho - Mesa manda pintar o órgão do coro-alto; 18 Agosto - manda-se ultimar a frontaria da igreja, "conforme o risco em papel", (portal e janelão), entregando-se a obra ao canteiro Gregório das Neves, de Vila Viçosa, por 240$000 rs; 1766 - João da Mata Botelho executa uma maquineta para exposição do Santíssimo, actualmente sobre o trono do retábulo-mor; 1766 / 1767 - reboco e frontaria da igreja por 553$760 rs.; colocação de grades nas janelas da igreja; despesa com madeira para baixo do coro, pintura da igreja e o coro; pagamento aos pintores Luís António 24$500, António da Trindade 1$600 e António dos Santos 2$400; pintura das tábuas da sacristia; arranjo da tribuna e altar de talha da Capela do Santíssimo Sacramento, pelo mestre entalhador João da Mata Botelho; obras na Sala do Despacho e casas anexas; 1767 / 1768 - conservação e pintura do botica, pátio grande, pátio da botica, tesouraria, e celeiro; melhoramentos na botica; 1768 / 1769 - conserto do caixão da Mesa, guarda-vento e pintura e douramento dos mesmos por 57$715; pinturas das portas da igreja e sobre as mesmas e janelas da secretaria; limpeza dos painéis e dourados das janelas, armários, bancos e espaldares da igreja; conserto da banqueta e castiçais; 1773 / 1774 - conserto dos telhados e sacristia; bancos novos e pintura; 1774 / 1775 - obra nos telhados da igreja e celeiro; colunas do altar-mor, bancos para mesa do lava-pés, esquife do Senhor Morto, nichos da Senhora e do Evangelista, bancos da igreja, cortina do coro; 1775 / 1776 - obras na igreja; conserto do altar-mor, pintura e madeira para o forro dos altares e ferragem; 1776 / 1777 / 1778 - obras no telhado da igreja; 1779 / 1780 - confessionários da igreja; 1780 / 1781 - obras nos telhados da sacristia; 1781 / 1782 - lajeado da igreja; estrados para a igreja; caixão dos frontais; conserto dos telhados da igreja; 1782 / 1783 - obras nos telhados da igreja, nos degraus de pedra mármore dos altares e portadas; sagração do sino; 1783 / 1784 - caixões da sacristia e respaldo do mesmo, ferragens e pintura e outras obras de pedreiro no pátio da botica e nos telhados da casa da Mesa; 1784 / 1785 - despesas com a obra de azulejo; 1785 / 1786 - feitura do telhado da igreja e "guarnição" das paredes; assentamento dos azulejos "das portas da igreja" e conserto das sepulturas; lajeamento da igreja; despendeu-se 18$115 com os azulejos da sacristia e 24$900 com 2 espelhos para a mesma e 19$815 com duas cadeiras do Provedor; pintura das portas; 1786 / 1787 - conserto do altar-mor por 96$450; manda-se avivar todos os quadros da igreja; 1787 - data na tela Remir os Cativos, assinada por José Xavier; 1787 / 1788 - óculo da igreja e vidraças e telhados; 1789 / 1790 - ladrilhamento do coro; 1791 / 1792 - obras no telhado da igreja; 1794 - determina-se fazer casa em cima do celeiro para recolher o cofre e pratas; 1797 / 1798 - estante de ferro para o coro; 1798 / 1799 - despesa com a bandeira para os enterros e de 124$640 com a cadeira do Provedor; 2 grades para os frontais, conserto da tumba e bandeira velha, grade para a bandeira nova, para os panos que se pintaram e conserto com uma capela por 9$360; 1802 / 1803 - conserto e afinação do órgão por 14$400; compra de uma prancha de cedro para as portas da igreja; 1813 / 1814 - conserto e afinação do órgão por 19$200; 1814 / 1815 - conserto da porta da igreja; compra de banqueta prateada para o altar-mor, duas outras para os altares detrás da Misericórdia e cadeira de pau santo com as armas da casa, vindas de Lisboa; 1816 / 1817 - lajes para a igreja, obras no coro e pátio e forro dos bancos da Meza; 1817 / 1818 - vários consertos na igreja; 1818 / 1819 - conserto da gaveta e armário na sacristia, o esquife e estante, e dos telhados da igreja; 1823 / 1824 - conserto dos telhados da casa do Despacho, secretaria e casa; 1827 / 1728 - conserto da mesa da Casa do Consistório; mudança do armário e conserto do óculo da igreja; 1828 / 1829 - conserto do quadro da capela-mor; 1829 / 1830 - conserto do entalhado do quadro da Senhora da Misericórdia e limpeza de todos os quadros da igreja; estucado e pintura do oratório da Senhora da Soledade do pátio; 1832 / 1833 - engradamento das entradas da igreja; 1840, 7 Agosto - manda-se consertar o esquife, a janela do coro e tapar em alvenaria a comunicação da casa do boticário com os telhados da igreja; 1866 - conserto das janelas do coro e casa do arquivo; 1869, 28 Novembro - apresentação de três projectos para melhoramento do largo exterior, optando-se pelo das grades; a Mesa comparticipa com metade da despesa da obra, realizada pela Câmara; remodelação de casa, onde antigamente estivera a roda dos expostos, criando arrecadação junto à sacristia; 1873 - descoberta na nave de lápide sepulcral de D. Joana da Gama, autora dos "Ditos da Freira", falecida a 21 Setembro 1586; 1888 - a igreja estava em ruínas, sobretudo o entalhado de madeira, correndo o risco de derrocada; procedem-se então a grandes reparações na igreja, estando encerrada até 1904; 1910 - apeamento da coroa real, recolhida no antigo Museu Arqueológico; 1913 - arrendamento do edifício da Misericórdia (excepto igreja e sacristia) aos Serviços dos Correios e Telégrafos; 1919 - compra do edifício pelos mesmos; 1926 - o rebentamento de uma bomba artesanal junto ao portal, destruiu a coroa reconstruída sobre o portal; 1941, a partir - os Correios, Telégrafos e Telefones constroem um novo edifício e a Misericórdia tenta reaver a antiga sede; 1946 - venda do edifício à Legião Portuguesa; 1974, depois de Abril - o edifício é cedido a um partido político de esquerda e posteriormente à Região Militar do Sul, para instalação do Clube e Messe dos Sargentos da Região Militar do Sul; 1975, 2 Abril - Separação dos bens da Misericórdia e Hospital; 1991 - inauguração de núcleo museológico de Arte Sacra na sacristia, coro e espaços adjacentes à igreja; 2000 / 2001 - elaboração do inventário do património móvel da Misericórdia, na sequência do protocolo estabelecido entre o Instituto Português de Museus e a União das Misericórdias Portuguesas.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura de cantaria e alvenaria rebocada; contrafortes e cornija que percorre fachadas e as colunas de suporte do coro em granito; portal e janela da fachada principal em mármore de Estremoz; grades de ferro; portadas do portal axial em madeira exótica do Brasil; silhar de azulejos; pinturas murais; pintura sobre telas e sobre tábua; pias de água-benta em mármore rosa; mármores embrechados; retábulos e molduras de talha dourada; pavimento de madeira e mármore; janelas de vidro simples; cobertura interior em estuque e exterior de telha.

Bibliografia

PEREIRA, Gabriel, Documentos Históricos da Cidade de Évora, Parte 2, Évora, 1887; GUSMÃO, Armando, Subsídios para a História da Santa Casa da Misericórdia de Évora, Évora, 1 e 2 vol., 1958 e 1969; SMITH, Robert C., A Talha em Portugal, Lisboa, 1963; DEÃO, Alcântara Guerreiro, Subsídios para a História da Santa Casa da Misericórdia de Évora, Évora, 3 vol., 1979; MENDES, Isilda de Carvalho Mourato Pires, O Património da Misericórdia de Évora, Dissertação de Mestrado em Recuperação do Património Arquitectónico e Paisagístico, Évora ( Universidade de Évora ), 1995; LAVAJO, Joaquim Chorão, A Misericórdia de Évora no último quartel do segundo milénio, Évora, 2000; MANGUCCI, António Celso, A talha, os azulejos e a pintura na iconografia da misericórdia em Évora in CD Actas das Jornadas de Estudo As Misericórdias como Fontes Culturais e de Informação, Penafiel, 18 a 20 de Outubro de 2001, Penafiel, 2002.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DREMS

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DREMS

Documentação Administrativa

Arquivo Distrital de Évora: Núcleo da Santa Casa da Misericórdia de Évora ( Livro nº 110, 944, 945, 1365, 1366, 1384, 1385, 1386, 1401 ), Cartórios Notariais (Livro 1180); Tabelião André Vidigal da Silva, livro 1009, fl. 225; Tabelião Manuel Pinheiro de Carvalho 1715 - 1716, livro 1130, fl. 2 vº - 4; A.N.T.T.: Corpo Cronológico, Parte 3, Maço 4, Doc. 33; IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DREMS

Intervenção Realizada

Misericórdia: 1985 / 1986 - restauro das telas pelo arq. eborense José Miguel Potes Cordovil; 1997 - restauro e fixação da estrutura retabular, tratamento de molduras de talha dourada, reparação do pavimento da igreja, caiação interior e exterior.

Observações

Os paramentos da nave são decoradas com as Obras de Misericórdia e alegorias relativas a essas obras. No segundo registo do silhar de azulejos, surgem representadas as Obras de Misericórdia Espirituais, ilustradas com cenas da vida de Cristo, identificadas individualmente por filactera com inscrição em latim sobre a cercadura e, numa cartela, pelas palavras de Jesus e o texto, também em latim, que explicam a composição. Assim, a partir do sub-coro, os painéis têm a seguinte distribuição, representação e identificação: do lado do Evangelho - 1) CASTIGAR COM CARIDADE OS QUE ERRAM (3ª E.), representando Jesus expulsando do Templo os vendedores e cambistas com um chicote de cordas; legenda: "corrigire pecatum" e " ET CVM FECISSET QVAZI / FLAGELVM OMNES / EIECIT DE TEMPLO / Jo. 2,15"; 2) CONSOLAR OS TRISTES DESCONSOLADOS (4ª E.), representando Jesus consolando Maria e Marta depois de ter ressuscitado o seu irmão Lázaro, que surge a ser desenfaixado; legenda: "consolare assictum" e "RESVRGIT FRATER TVVS Joan 11 uº 23"; 3) ENSINAR OS IGNORANTES ( 1ª E.), representando Jesus no sermão do monte ensinando os seus discípulos a orar; legenda: "docere ignorantem" e "SIC ERGO VOS ORABITIS / PATER NOSTER QVI EST IN CAE/LIS Math. 6 uº 9"; 4) DAR BOM CONSELHO (2ª E.), representando Jesus aconselhando um jovem rico, no distrito da Pereia, que queria saber o que fazer para ser perfeito, a vender os seus bens e dá-los aos pobres; legenda: "concilio juvare indigentem" e "VADE VENDE QVAE HABES / ET DA PAVPERIBVS Math. 19 uº 21"; do lado da Epístola - 5) PERDOAR A QUEM NOS ERROU (5ª E.), representando Jesus tomando uma refeição na casa do fariseu Simão, e do qual se aproximou uma mulher pecadora arrependida, que se prosta aos seus pés a chorar, limpando-os com os seus cabelos e beijando-os ternamente, obtendo o perdão de Jesus; legenda "demitere offenssam" e "REMITTVNTVR TIBI PRCCATA Luc. 7 uº 48"; 6) SOFRER COM PACIÊNCIA AS FRAQUEZAS DO PRÓXIMO (6ª E.), representando Jesus na sinagoga sofrendo as injúrias dos habitantes de Nazaré, porque, apesar de assombrados com o seu ensino, tropeçavam por o conhecerem desde criança e por saberem quem eram os Seus pais, interrogando-se como poderia ser Ele o Messias; legenda: "ferre pacienter injurias" e "SCANDALISABANT / IN ILLO ET DICEBAT ILLIS IESVS NON / EST PROPHETA / SINE HONORE NISE / IN PATRIA SVA / Marc. 6 vº 4"; 7) ROGAR A DEUS PELOS VIVOS E DEFUNTOS (7ª E.) representando Jesus orando pelos seus discípulos depois da Última Ceia, a 14 de Nisã; legenda: "orare provivis et defuntis" e "PATER SANCTE SERVA EOS... QVOS DEDISTI MIHI / VOLO... VTVIDEANT CLARITAEM MEAM. Joam XVII vº 24". As telas representam as Obras de Misericórdia corporais, ilustradas com cenas bíblicas e da vida quotidiana, não possuindo qualquer identificação. Figura, do coro para o presbitério: no lado do Evangelho - 8) VISITAR E CURAR OS ENFERMOS (2ª C.) representando um cónego ministrando o Sagrado Viático a um grupo de pessoas deitadas no chão, próximo de umas arcadas, sob as quais uma figura num leito é tratada; 9) COBRIR OS NUS (3ª E.) representando um grupo de indigentes levantando roupa numa tenda e a vestirem-se; 10) DAR DE BEBER A QUEM TEM SEDE (5ª E.) representando o servo de Abraão junto à fonte da cidade de Noar (onde as mulheres costumavam ir buscar água ao entardecer), e aonde ele se deslocou para encontrar uma esposa para Isac, o filho do amo; assim, bebe no cantaro a água oferecida por Rebeca, enquanto uma outra jovem dá de beber aos dez camelos da sua comitiva; 11) DAR DE COMER AOS FAMINTOS (4ª C.) representando quatro cenas: Elias sendo alimentado milagrosamente por um corvo, numa caverna do vale de Querite, onde se escondeu depois de anunciar o castigo sobre Israel; ao centro, Elias à entrada da cidade de Sarafá pedindo um pedaço de pão a uma viúva, que depois partilha com crianças; e, no canto direito, a viúva, o filho e os da sua casa se alimentando junto à fogueira, porque, milagrosamente, o jarro de farinha e a bilha de azeite não se esgotaram; do lado da Epístola - 12) DAR POUSADA AOS PEREGRINOS E POBRES (6ª C.) representando um homem idoso oferecendo hospitalidade na sua casa apalaçada a três peregrinos, acompanhados de um cão; 13) REMIR OS CATIVOS E VISITAR OS PRESOS (1ª C.) representando um frade trino resgatando dois cativos de um corsário turco, junto a uma baia com navios ancorados; 14) ENTERRAR OS MORTOS (7ª C.) representando uma estrutura arquitectónica centrada por um catafalco com vários motivos alusivos à morte e, no primeiro plano, duas figuras masculinas enterrando um corpo. Sobre as portas laterais do sub-coro, no primeiro registo do silhar de azulejos e no silhar do frontal do presbitério, existem cartelas ovais com alegorias às Obras da Misericórdia e actividades da Misericórdia, devidamente legendadas em latim. No lado do Evangelho - 1) sobre a porta do sub-coro, representação de um lírio com a inscrição "considerate lilia campi" (olhai os lírios do campo), alusão à confiança na Providência Divina (cf. Mat. 6:28); no silhar da nave 2) representação de arbustos, que se revestem de folhas, com as inscrições "EGENOS VESTIT" (veste os indigentes) e "SVA PEDIS PENDIAVE", alusão à 3ª Obra da Misericórdia corporal; 3) representação de um homem a enlaçar uma trepadeira numa árvore no canto direito, enquanto que no esquerdo surge já uma enlaçada, com as inscrições "INNVPTAS IN MATIRMONIVM COLLOCAT NE PERICLITEN" (casa as solteiras para não estarem em perigo) e "CADANT NE FORTE MARITAT" (casa, não seja casa que caiam), alusão à dotação de órfãs; 4) representação de uma árvore, sobre a qual pousam as aves com as inscrições "VAGOS HOSPITIO EXCIPIT" (recebe os vagabundos como hóspedes) e "HOSPITA CVNCTOS EXCIPIT ERRANTES" (hospeda todos os perdidos no caminho), alusão à 6ª Obra da Misericórdia corporal; 5) representação de uma romã com as inscrições "MISERICORS IN OMNES" (misericordioso para com todos) e "NVLLI SVA MVNERA CLAVDIT" ( a ninguém nega os seus serviços, alusão à caridade de São João de Deus, patrono dos Hospitais e Enfermos; 6) representando um homem a regar dois canteiros de flores com as inscrições "CHARITATEM ERGA INFIRMOS EXERCET" (exerce a caridade com os enfermos) e "VIRES LANCVENTIBVS ADDIT" (aumenta as forças dos doentes); No lado da Epístola, sobre a porta do sub-coro, representação de um esquife com a inscrição "estote parati" (estai preparados), alusão à preparação para a morte (cf. Luc. 12:40); 8) na nave, cartela representando o sol e as estrelas sobre uma paisagem com as inscrições "PAVPERVM FVNERA OBIT" (vai ao encontro dos funerais dos pobres) e "FVNERAT EXTINCTVM HIS FACIBVS" (com estas luzes acompanha o morto), alusão à 7ª Obra da Misericórdia corporal; no frontal do presbitério 9) representando um boticário preparando os remédios na farmácia com as inscrições "FUNCTIONES MISERICORDIA" (funções da Misericórdia) e "CAVSAS MILLE SALVTIS HAVSE" (procura mil causas da saúde); 10) representando uma mão despejando líquido sobre um cálice engradado com as inscrições "LARGIRE DETENTOS ELEEMOSINIS FOVET" (promove socorrer os detidos com esmolas) e "CLAVSIS ALIMENTA MINISTRAT" (ministra alimentos aos presos), alusão à 1ª Obra da Misericórdia corporal; 11) representando uma árvore com alguns troncos e sem folhas com as inscrições "EXPOSITOS NVTRIT" (alimenta os enjeitados) e "FAETVS ALIENOS SVMIT ALENDOS" (encarrega-se de alimentar os filhos dos outros), alusão à 4ª Obra da Misericórdia corporal; 12 ) representando uma árvore tombada no chão com as inscrições "LANGVIDOS IN XENODOCHIVM BAIVLAT" (carrega com os doentes para o hospital) e "HOC VILI PONDERE CRESCIT" (desenvolve-se com este pequeno peso), alusão à 2ª Obra da Misericórdia corporal.

Autor e Data

Paula Noé 2002

Actualização

 
 
 
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