Mosteiro de Manhente / Igreja e Torre de Manhente
| IPA.00001115 |
Portugal, Braga, Barcelos, Manhente |
|
Arquitectura religiosa, românica, gótica e barroca. Antiga igreja monacal românica, de planta longitudinal, com nave única, capela-mor e adossada lateralmente, estreita sineira e sacristia. Do complexo monacal apenas subsiste uma torre defensiva gótica, quadrangular e umas ruínas a ela adossadas, que estariam provávelmente relacionadas com o complexo. A igreja apresenta fachada principal em empena, rasgada por portal românico, de quatro arquivoltas decoradas, com temas característicos do românico da bacia do Cávado e de Braga, tais como folhas lanceoladas, motivos entrelaçados, rosetas, axadrezado com rolos, quadrifólios, dentes de serra e óvalos. As arquivoltas apoiam-se em impostas decoradas com corações invertidos, que se prolongam pela fachada. Este tipo de decoração é semelhante ao usado no portal da igreja do Mosteiro de Santa Maria das Júnias (v. PT011706230004), em Pitões das Júnias. As três arquivoltas interiores apoiam-se igualmente em colunas com bases decoradas e capitéis semelhantes aos do Mosteiro de Ermelo, em Ansiães, decorados por colchetes, folhas lanceoladas, motivo vegetal, acantos e entrelaçados. Na parede lateral e posterior da capela-mor existem três silhares com motivos pré-românicos, tais como círculos com pentalfas e motivos florais, reaproveitados da construção primitiva. Sineira barroca, contemporânea da grande remodelação decorativa da igreja. Fachada lateral S. com grande arcossólio em arco quebrado, de feição gótica. Torre de dois registos, com portais em arco quebrado e pleno, janelas em arco pleno e remate em merlões piramidais com seteiras. Adossada à torre encontra-se uma estrutura arruinada com portais góticos, em arco quebrado com chanfro, provávelmente construídos ou reconstruídos no séc. 14, na medida em que o arco da porta O. denota reaproveitamento de pedras mais antigas, ainda com uma cruz pátea, e com adulelas que pela sua morfologia pertenceriam a um arco ultrapassado moçárabe, que poderá datar do séc. 10 ou 11 (BARROCA, 2003). A profundidade destas aduelas, pode ser comparada às adulelas do arco triunfal da Capela de San Miguel de Celanova, em Espanha, com excepção de que este último apresenta alfiz, e em Manhente não existe qualquer registo ou indício que este arco também o teria (BARROCA, 2003). A igreja possui duas inscrições, uma alusiva ao arquitecto da construção original românica, com a data de provável início de construção e outra com a data da provável conclusão das obras. O portal de Manhente é um dos primeiros exemplos românicos de arquivoltas decoradas (ALMEIDA, 1978). As colunas do portal principal são de altura mais reduzida do que é habitual, ficando os capitéis a meia altura em relação à porta, tornando impossível colocar um tímpano ou uma bandeira, como normalmente acontece. Do primitivo mosteiro, extinto no séc. 15, conserva-se uma torre defensiva, semelhante às encontradas na arquitectura residencial, designadas por casa-torre. |
|
Número IPA Antigo: PT010302450005 |
|
Registo visualizado 3378 vezes desde 27 Julho de 2011 |
|
|
|
Edifício e estrutura Edifício Religioso Convento / Mosteiro Mosteiro masculino Ordem de São Bento - Beneditinos
|
Descrição
|
Igreja de planta longitudinal, composta por nave única e capela-mor, rectangulares, com estreita sineira rectangular adossada lateralmente, a N., à fachada lateral e corpo da sacristia, também rectangular, adossada à nave e capela-mor, na mesma fachada lateral. A SO. desta encontra-se torre de planta quadrangular, adossada lateralmente, a S., a ruínas, que formam planta trapezoidal. Volumes escalonados de dominante horizontal, com coberturas diferenciadas em telhados de uma água na sacristia, duas águas na nave e capela-mor e quatro águas na torre. IGREJA com fachadas em aparelho isódomo de granito. Fachada principal orientada, em empena, com cruz de braços trilobados, sobre acrotério, ladeada pela direita por pináculo e pela esquerda por sineira, de duas ventanas em arco pleno, rematada por empena, com pináculos nos extremos. Portal principal com quatro arquivoltas plenas, decoradas, assentes em imposta com decoração de corações invertidos. A exterior é suportada pela imposta que se prolonga pela fachada, e as restantes por colunas de pé-direito reduzido, formando a interior, a jamba. As colunas apresentam base decorada, fuste circular liso e capitéis decorados. Arquivolta interior com folhas lanceoladas, segunda com motivos entrelaçados, terceira com rosetas, axadrezado com rolos, no ângulo e quadrifólios e exterior com decoração de dente de serra, e intradorso com três fiadas e óvalos. As metades superiores dos capitéis apresentam colchetes e as inferiores, com motivos diferentes, nos capitéis interiores, folhas lanceoladas, e motivo vegetal, nos centrais, acantos e colchetes e nos do exterior entrelaçados e lanceolados. A ladear o portal, pela direita, pedra com inscrição. Cunhal, do mesmo lado com friso axadrezado na metade superior. A encimar o portal, janela de verga recta, em capialço. Fachadas laterais rematadas por beiral. Fachada lateral S. rasgada, no pano da nave, por arcossólio quebrado, porta de verga recta e superiormente dois janelões rectangulares, e no pano da capela-mor por janela rectangular e um silhar com óculo. Fachada lateral N. com escada de acesso à sineira, de dois lanços divergentes com patamar intermédio. Pano da sacristia com porta de verga recta e janela jacente. Pedra com inscrição acima do telhado da sacristia. Fachada posterior cega, com dois silares relevados, sobrpostos, o primeiro com a parte superior de pequeno nicho, com moldura toreada e cruz pátea e o segundo, por baixo do primeiro, com três círculos, dois deles com pentalfas e um com motivo floral. TORRE com fachadas em aparelho isódomo de granito, com dois registos, rematadas por grande platibanda ritmada por merlões piramidais com seteiras, três em cada fachada, com duas gárgulas nas fachadas voltadas a O. e a E.. Fachada N. com grande portal em arco pleno. Fachada O. com três cachorros, na metade inferior, e na superior par de janelas em arco pleno. Fachada E., com portal em arco quebrado, no primeiro registo. Segundo registo delimitado inferior e superiormente por cachorros sob pingadouro que percorre todo o pano. É aberto por estreita janela de sacada à face e junto ao cunhal outra mais pequena. Este cunhal apresenta pedra em perpianho, vestígios de uma anterior ligação a uma parede. Fachada voltada a S. com janela de verga recta, no segundo registo, delimitada, também inferiormente e superiormente, por dois vestígios de empenas, rasgados na pedra. Ruínas com paredes em aparelho irregular, rasgada por portas em arco quebrado, nos panos voltados a O. e E., junto à torre, a porta O., com cruz pátea relevada no fecho e portas de verga recta, no pano O. e S.. |
Acessos
|
EN 205 (Barcelos - Prado), Lugar da Igreja |
Protecção
|
Categoria: MN - Monumento Nacional, Decreto nº 2 166, DG, 1ª Série, nº 265, de 31 dezembro 1915 |
Enquadramento
|
Rural, isolado, rodeadas de campos agrícolas e casas de habitação, com acesso por caminho de terra batida, que liga ao cemitério, no extremo oposto. A igreja é rodeada por adro murado, com acesso virado à fachada principal. |
Descrição Complementar
|
INSCRIÇÕES: Inscrição comemorativa, alusiva ao autor da construção da igreja, gravada em silhar à direita do portal principal; denota avivamento em época posterior, com alterações na segunda e última regra, principalmente no "FECIT", que seria possivelmente "F" e no "XOSLECTO", que seria "VOS LECTO"; dimensão: 57,5x37 cm; granito; leitura: MAGISTER GUNDISALVUS FECIT IN ERA M C 2 V XOSLECTO; inscrição comemorativa, alusiva à provável conclusão das obras da igreja, gravada em silhar na fachada lateral N., junto à cobertura; granito; leitura: perFECTA EST EC(c)L(es)IA ISTA AB ADEFONSO IN ERA TC 2 XI. |
Utilização Inicial
|
Religiosa: mosteiro masculino |
Utilização Actual
|
Religiosa: igreja / Assistencial: centro paroquial |
Propriedade
|
Pública: estatal |
Afectação
|
Sem afectação |
Época Construção
|
Séc. 12 / 13 / 14 / 17 / 18 / 19 |
Arquitecto / Construtor / Autor
|
ARQUITECTO: Mestre Gonçalo (1117). |
Cronologia
|
571 - Segundo a tradição o mosteiro terá sido fundado por São Martinho de Dume; 1080 / 1100 - possível fundação do mosteiro ou reforma por D. Pedro Afonso Durrães ou Dorães, que poderá ter levado ao abandono da regra de São Rosendo e a adoptar a de São Bento; séc. 11, último quartel - o mosteiro é referido no Censual do Bispo D. Pedro, como "Sancto Martino de Manente - jantar" (contribuição anual para a Sé de Braga de um jantar - contribuição para alimentar o prelado ou o seu representante na visita anual às paróquias); 1117 - edificação pelo Mestre Gonçalo ("Magister Gundisalves"), segundo inscrição junto do portal; provável início da construção da igreja ou conclusão da fachada principal; 1128, 6 Janeiro - D. Afonso Henriques encontrando-se com sua mãe no Castelo de Faria, outorga carta de couto ao mosteiro e a Gomes Ramires, provável primeiro abade *2, e neto de D. Pedro Afonso Durrães; após - testamento de D. Rodrigo Gomes, familiar de D. Gomes Ramires, dando conta da intenção de se mandar enterrar no mosteiro; 1123 / 1131 - provável conclusão das obras segundo a inscrição da fachada lateral; séc. 12, final - o Mosteiro de Manhente encontra-se referido no Censual do Arcebispo D. Pedro; o mosteiro adopta a regra de São Bento; séc. 13 (início) - data provável do portal principal (ALMEIDA, 1978); 1220 - o mosteiro é referido nas Inquirições de D. Afonso II; 1258 - o mosteiro é referido nas Inquirições de Afonso III; séc. 14 - provável construção da estrutura adossada à torre; 1320 / 1321 - o mosteiro é referido com taxado em 20 libras; 1371 - o mosteiro é referido novamente; 1385, 29 Maio - confirmação do couto de Manhente, outorgada por D. João I *3; 1400, 8 Junho - bula do Papa Bonifácio IX, autorizando a extinção do Mosteiro de Manhente e da Várzea, impondo ao Arcebispo de Braga a obrigação de comprovar a veracidade dos motivos apresentados; da comunidade do mosteiro apenas restava o abade Martinho Soeiro, que morre entretanto; 11 Setembro - o Arcebispo D. Martinho extingue o mosteiro, que se encontrava já muito arruinado; a execução do decreto arquiepiscopal é confiada ao padre Bartolomeu Gonçalves, familiar do Arcebispo; a igreja é transformada em paroquial e nomeado como clérigo o padre Gonçalo Martins, de São Miguel das Marinhas; 1433, 24 Novembro - nova confirmação do couto pelo rei D. Duarte; 1448, 18 Maio - autorização do Papa Nicolau V para a anexação do antigo Mosteiro de Manhente ao Mosteiro de Vilar de Frades (v. PT010302110001); 1449, 5 Maio - nova confirmação do couto de Manhente, anexo ao Mosteiro de Vilar de Frades, por D. Afonso V; 1450, 25 Janeiro - provisão de D. Afonso V ordenando que os Cónegos de Vilar de Frades apresentassem os títulos da anexação do mosteiro; 1454, 11 Junho - auto lavrado por João Gonçalves, tabelião da Vila do Prado, determinando a posse do antigo mosteiro pelo reitor de Vilar de Frades; o mosteiro é anexado ao de Vilar de Frades pelo Arcebispo D. Fernando da Guerra; 1479 - documento do Mosteiro de Vilar de Frades indicando os limites do couto de Manhente, que se iniciava no Pego Negro, possivel troço do rio Cávado e passava por Vilarinho e Real, compreendendo o território entre a Ribeira das Pontes e a Ribeira de Valinhas; neste documento são referidospadrões delimitativos do território, assim como uma cruz; 1520, 20 Dezembro - confirmação por parte do rei D. Manuel, ao reitor de Vilar de Frades, dos previlégios e doaçãos do couto de Manhente; 1528 - o antigo mosteiro é referido como estando anexado ao de Vilar de Frades; 1574 - confirmação do couto pelo rei D. Sebastião; 1591 - confirmação do couto pelo rei Filipe I; 1623 - confirmação do couto pelo rei Filipe III; séc. 17 / 18 - a igreja sofre importantes alterações; 1706, 11 Julho - confirmação do couto pelo rei D. Pedro II, que na Chancelaria-mor, no livro dos padroados e doaçãoes constava a carta de doação do couto ao Mosteiro de Manhente; 1715 - alvará de D. João V confirmando que o Mosteiro de Vilar de Frades era donatário do couto de Manhente; séc. 19 - redecoração do interior da igreja; construção dos retábulos colaterais; 1834 - o couto de Manhente é suprimido; 1837 - o antigo couto é entregue à Câmara Municipal de Barcelos; 1953, 4 Setembro - carta do presidente da Comissão fabriqueira de Manhente à DGEMN alertando para o mau estado da cobertura da igreja; 1958 - pedido da Comissão fabriqueira para a reconstrução da torre; 1959 - após a conclusão das obras da cobertura da igreja, fica por fazer o arranjo das paredes interiores e a demolição prevista do coro-alto; 1970 - instalação do salão paroquial na torre, após as obras de restauro desta. |
Dados Técnicos
|
Sistema estrutural de paredes portantes. |
Materiais
|
Estrutura, elementos decorativos, merlões, cachorros e gárgulas da torre, pavimento do primeiro piso da torre, e escadas interiores da torre, em granito; cinta da platibanda da torre, em betão; portas, janelas, estrutura do telhado, pavimentos interiores e tectos da torre, em madeira; caixilharia em ferro; coberturas em telha de canudo. |
Bibliografia
|
FERNANDES, Maria Celeste Andrade da costa, Elementos para a História do Couto de São Martinho de Manhente, Porto, 1968; Tesouros Artísticos de Portugal, Lisboa, 1976, p. 385; ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de, Arquitectura românico Entre-Douro-e-Minho, dissertação de doutoramento em História de Arte apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto, vol II, Porto, 1978, p. 233 - 234; MARQUES, José, A extinção do Mosteiro de Manhente, Barcellos - Revista, Barcelos, 1985, vol. II, nº 2, p. 5 - 23; FONSECA, Teotónio da, O Concelho de Barcelos Aquém e Além Cávado, Barcelos, vol. I, 1987, p. 289 - 297; Património Arquitectónico e Arqueológico Classificado, Inventário, Lisboa, 1993, vol. II, Distrito de Braga, p. 14; BARROCA, Mário Jorge, Epigrafia Medieval Portuguesa (862-1422), Corpus Epigráfico Medieval Português, vol. II, tomo 1, Porto, 2000, pp. 125, 156-158, 163, 164; BARROCA. Mário Jorge, O arco pré-românico do Mosteiro de Manhente (Barcelos), in Revista da Faculdade de Letras, Ciências e Técnicas do Património, I série, vol 2, Porto, 2003, pp. 665 - 686; CHAMBEL, Pedro, Marcas do quotidiano nos monumentos funerários. A representação de animais na tumulária do Entre Douro-e-Minho, in Revista Medievalista, Instituto de Estudos Medievais, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa, ano 1, nº , 2005, www.fcsh.unl.pt, 18 Abril 2005. |
Documentação Gráfica
|
IHRU: DGEMN/DREMN |
Documentação Fotográfica
|
IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DREMN |
Documentação Administrativa
|
IHRU: DGEMN/DREMN, DGEMN/DSARH |
Intervenção Realizada
|
DGEMN: 1958 - reconstrução parcial do telhado da nave: reajustamento das cantarias do arco triunfal; construção de frechais de betão armado para apoio do barrotame do telhado; colocação de tirantes de ferro; construção de painel provisório no arco triunfal para vedação da capela-mor; colocação de nova armação do telhado; colocação de telha nova no telhado e beiral; 1959 - conclusão da obra da cobertura da nave da igreja; 1970 - trabalhos de restauro e conservação da torre para instalação do salão paroquial: desentaipamento de alvenarias de pedra em vão do primeiro piso; consolidação de fendas das paredes e cintagem do seu coroamento com frechal de betão; desmonte do cunhal N. / O. e sua reconstrução; construção e assentamento de gárgulas, merlões, ombreira da porta do primeiro piso, cachorros, forras e bancos; revestimento do pavimento do primeiro piso com laje de cantaria; construção do pavimento intermédio e respectiva escada de acesso, incluindo a guarda e estrutura de madeira; execução e assentamento de portas e caixilhos; construção da armação do telhado em madeira de castanho, incluindo o forro e sanca; assentamento de vidros, colocação de telha de canudo; tratamento de pavimentos e parapeito do adarve; assentamento de guarda simples de ferro; enceramento de tecto e soalhos; 1992 - diversos trabalhos de beneficiação da igreja. |
Observações
|
Segundo Mário Barroca existia no adro da igreja, junto ao arcossólio da fachada lateral, até aos anos 80, do séc. 20, uma tampa de sarcófago, fragmentada, com inscrição "...UM LD7I VE...", datável do final do séc. 12. Possuía decoração com cruz inscrita em círculo, no topo, espada de lâmina larga e lança curta, no centro e cavalo com rédeas em baixo. A tampa hoje em dia está desaparecida, pelo que terá sido colocada numa casa particular; *2 - segundo Rui de Azevedo este documento poderá ser falso ou propositadamente deturpado, devido à presença de D. Teresa ao lado do Infante, no Castelo de Faria, a poucos meses da Batalha de São Mamede; segundo o padre Jorge de São Paulo, cronista da Congregação de São João Evangelista, do Mosteiro de Vilar de Frades, Gomes Ramires terá sido o primeiro abade do Mosteiro de Manhente; *3 - o couto abrangia uma área de 651 ha, abrangendo as paróquias de São Martinho de Manhente, parte das freguesias de Tamel (São Veríssimo), Galegos (Santa Maria), Galegos (São Martinho) e Areias (São Vicente). |
Autor e Data
|
Isabel Sereno e Paulo Dordio 1994 / Joaquim Gonçalves 2005 |
Actualização
|
|
|
|
|
|
| |