Igreja Paroquial de Azueira / Igreja de São Pedro dos Grilhões

IPA.00003063
Portugal, Lisboa, Mafra, União das freguesias de Azueira e Sobral da Abelheira
 
Igreja paroquial rural de construção seiscentista e reconstrução setecentista. Integra-se no conjunto de edifícios religiosos da denominada região saloia, caracterizados por exterior de tratamento arquitetónico austero e por um interior organizado segundo um esquema planimétrico básico, originando numa planta poligonal, resultado da articulação longitudinal e escalonada de dois corpos retangulares, a nave única e a capela-mor pouco profunda, aos quais se adossam, lateralmente, os volumes da sacristia e de outros pequenos anexos. Fachada principal maneirista, composta por três panos separados por pilastras de cantaria, com cornija saliente, curva no pano central, que ostenta frontão de remate em arco canopial, e é animado, no primeiro registo, pelo portal encimado por frontão contracurvado, que ostenta a tripla tiara alusiva ao orago. Por cima rasga-se uma janela com interessante trabalho de cantaria, sobrepujada por frontão triangular. Embora tenha sido concebida para ter duas torres sineiras, possui apenas uma (de cobertura bolbosa e fogaréus nos acrotérios), que se presume posterior ao terramoto de 1755. Interiormente, a igreja de nave única, é espaçosa, iluminada uniformemente através de janelas retilíneas rasgadas ao nível do segundo registo das fachadas laterais e pelo óculo e janelões do coro-alto, o qual se desenvolve sobre balaustrada em madeira assente sobre uma arcada formada por dois arcos inteiros laterais e um arco em asa de cesto central sobre elegantes colunas pétreas de secção quadrada e capitéis de decoração fitomórfica. A nave, com cobertura em abóbada de barrete de clérigo sem qualquer decoração e muros rebocados e pintados de branco, integra duas capelas retabulares confrontantes, onde figuram as imagens do Senhor Jesus Crucificado, lado do Evangelho, e Nossa Senhora do Rosário, lado da Epístola. No muro do lado do Evangelho é, ainda, de notar a existência de um púlpito pétreo adossado à estrutura murária, com guarda plena bojuda decorada com almofadas marmóreas, sobre mísula contracurvada. Arco triunfal de volta inteira, ladeado por dois retábulos colaterais, hoje sem imagética, idênticos, com moldura pétrea encimada por sanefa em arco canopial. Capela-mor com cobertura em abóboda de berço, frontal de altar revestido a azulejo polícromo seiscentista, sendo o retábulo, lateralmente, delimitado por dois pares de colunas de fustes estriados e capitéis compósitos dourados e encimado por frontão curvo interrompido, coroado ao centro pelo cordeiro do Apocalipse, ladeado por dois anjos tenentes, apresenta uma elegante tribuna terminada em baldaquino com lambrequins, com trono expositivo, hoje sem imagética.
Número IPA Antigo: PT031109010027
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Templo  Igreja paroquial  

Descrição

Planta poligonal composta pela justaposição longitudinal e escalonada de dois corpos retangulares, de três e dois registos, a nave única e a capela-mor, aos quais se adossam, lateralmente, algumas pequenas construções retangulares de um só piso, a sacristia, a sul, e, a norte, alguns pequenos anexos. A sul, junto à fachada principal, encontra-se ainda o pequeno quadrado da torre sineira. As coberturas são telhadas, de duas águas no corpo da nave e capela-mor, de uma água nos corpos anexos e bolbosa com fogaréus nos acrotérios na sineira. Fachadas rebocadas e pintadas de branco, flanqueada, a principal, por cunhais de cantaria e percorridas por soco do mesmo material. Fachada principal em dois e três registos, orientada a ocidente, é composta por três panos separados por duplas pilastras de cantaria lisa, com cornija saliente, curva no pano central. Este apresenta frontão de remate em arco canopial, e é animado, no primeiro registo, pelo portal de verga reta, com moldura de cantaria encimada por uma figuração relevada da tiara papal e por ática curva articulada a eixo com uma janela com moldura de cantaria decorada e sobrepujada de frontão triangular. O terceiro registo, no frontão da empena, apresenta um óculo. Em cada um dos panos laterais, sobrepõem-se duas pequenas janelas retilíneas com moldura de cantaria simples. Acima da cornija, no pano do lado direito, é visível a torre sineira. As fachadas laterais, escalonadas, são rasgadas ao nível do primeiro registo por porta travessa, de verga reta, e ao nível do segundo registo por dois janelões de verga curva e moldura de cantaria na nave, e um idêntico na capela-mor. INTERIOR: nave única, ampla, com iluminação uniforme conseguida pelos janelões que se encontram ao nível do segundo registo nas paredes laterais da nave, e no coro-alto, paredes rebocadas e pintadas de branco, cornija saliente e cobertura em abóbada barrete de clérigo, também rebocada e pintadas de branco, pavimento em tábua corrida. Adossado à parede fundeira encontra-se o coro-alto com balaustrada em madeira assente sobre uma arcada formada por dois arcos inteiros laterais e um arco em asa de cesto central sobre elegantes colunas pétreas de secção quadrada e capitéis de decoração fitomórfica. Nave com paredes murárias rasgadas, ao nível do primeiro registo por duas portas travessas confrontantes, duas capelas retabulares laterais, também elas confrontantes, e pelas portas de acesso aos anexos, no lado do Evangelho, e à sacristia, no lado da Epístola. Ao nível do segundo piso encontram-se quatro janelões. No muro do lado do Evangelho é, ainda, de notar a existência de um púlpito pétreo adossado à estrutura murária, com guarda plena bojuda decorada com almofadas marmóreas, sobre mísula contracurvada. Arco triunfal de volta inteira, ladeado por dois retábulos colaterais, hoje sem imagética, idênticos, com moldura pétrea encimada por sanefa em arco canopial. Capela-mor protegida por teia balaustrada em madeira, com cobertura em abóboda de berço, frontal de altar revestido a azulejo polícromo seiscentista, sendo o retábulo, tardobarroco, em talha dourada, de corpo único, convexo, e três eixos, lateralmente delimitados por dois pares de colunas de fustes estriados e capitéis compósitos dourados e encimado por frontão curvo interrompido, coroado ao centro pelo cordeiro do Apocalipse, ladeado por dois anjos tenentes, nos eixos laterais existem dois nichos, hoje sem imagética, o eixo central apresenta uma elegante tribuna terminada em baldaquino com lambrequins, com trono expositivo, piramidal, também hoje sem imagética. Na mesa de altar encontrava-se uma imagem em madeira estofada do padroeiro, substituta de uma outra quatrocentista em pedra, que hoje se encontra na Igreja de Nossa Senhora do Livramento.

Acessos

Rua de São Pedro, Azueira. WGS84 (graus decimais) lat.: 39,009878; long.: -9,283846

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 45/93, DR, 1.ª série-B, n.º 280 de 30 novembro 1993

Enquadramento

Rural, destacado, isolado por adro murado com um cruzeiro seiscentista. A ocidente confronta com campos de cultivo. Localizado a nordeste do centro da vila, no final da Rua de São Pedro, adossado ao cemitério, com o qual confronta a norte e nascente. Na Rua de São Pedro existem algumas moradias de habitação.

Descrição Complementar

No interior há a destacar: no pavimento, do lado do Evangelho, uma lápide tumular brasonada de Charles Henriques, com inscrição em caracteres romanos, dizendo: S[epultur]A. DECHARLESHENRIQUES/FIDALG[o]. DA. CASA. D[e]LR/EI. NOSSO. S[enh]ORE. CAMAREI/RO. Q[ue]. FOIDO. I[n]F[ant]E. DÕ. FER/ÑANDO. E DE. FELIPAPAIS. SV/A, MOLHER. EDE. SEVS. HER/DEIROS. EDCÊDE[n]TÊS. ELE. FA/LECEO. A. 3. DE. IVLHO. DE 1577; possui a igreja cinco altares, os quais seriam dedicados a Nossa Senhora da Conceição e a São Pedro (retábulo-mor, hoje sem imagética), Santa Catarina e São Sebastião (retábulos-colaterais, hoje sem imagética) Senhor Jesus (retábulo-lateral do lado do Evangelho) e Nossa Senhora do Rosário (retábulo-lateral do lado da Epístola).

Utilização Inicial

Religiosa: igreja paroquial

Utilização Actual

Devoluto

Propriedade

Privada: Igreja Católica (Diocese de Lisboa)

Afectação

Sem afetação

Época Construção

Séc. 17 / 18

Arquitecto / Construtor / Autor

Cronologia

séc. 16 - imagens em pedra de Santa Ana e de Santa Luzia que, segundo segundo Eduardo de Távora de Vasconcelos Miranda (MIRANDA, 1944), estariam nos altares laterais da igreja, e que teriam sido substituídas por outras de madeira; Armando de Lucena (LUCENA, 1986), contudo, afirma que estas imagens não seriam da igreja, mas antes removidas do cemitério adjacente por motivos ignorados; séc. 16, segunda metade - datação de duas telas maneiristas de São Pedro dos Grilhões e do Calvário, que seriam pertença deste templo e se encontram no templo de Nossa Senhora do Livramento (v. IPA.00005580); 1566 - os registos paroquiais permitem verificar que nesta data a igreja já existia, encontrando-se a paróquia ativa; 1577, 03 julho - data da morte de Charles Henriques, fidalgo da corte de D. João III (1502 - 1557), camareiro do infante D. Fernando, seu irmão, sepultado no interior deste templo; séc. 17 - edificação da fachada principal; séc. 18 - imagem de madeira pintada e estufada de Santo António com o Menino; 1732 - é redigido, pelo cardeal patriarca, D. Tomás de Almeida, o Compromisso da Confraria de Nossa Senhora da Nazaré da Pederneira, constituindo a base canónica do já praticado Círio da Prata Grande, que, entre as paróquias que desde quase o seu início recebem a imagem da Senhora, conta com a do Azueira; 1741 - aprovação formal do Compromisso da Confraria de Nossa Senhora da Nazaré da Pederneira; 1755, 01 novembro - sofre grandes danos com o sismo, sendo, posteriormente, reconstruída; da campanha oitocentista data a sineira, assim como a remodelação interior; 1758 - de acordo com as Memórias Paroquiais, a Igreja Paroquial da Azueira, também chamada de São Pedro dos Grilhões, tem cinco altares com as seguintes imagens, Nossa senhora da Conceição e São Pedro, ambos no retábulo-mor, nos lados do Evangelho e da Epístola, respetivamente, Santa Catarina e Sebastião, nos colaterais, lados do Evangelho e da Epístola, respetivamente, e pela mesma ordem, nos retábulos laterais, Senhor Jesus Crucificado e Nossa Senhora do Rosário, tinha Irmandade das Almas, confrarias do Senhor Jesus e do Santíssimo, sendo o pároco da apresentação dos fregueses e confirmação do prior da Matriz de Santa Maria do castelo da Comarca de Torres Vedras; pelo mesmo documento sabemos ser, nesta data, Azueira terra de el rei com 59 fogos no lugar e 125 por toda a freguesia; 1787 - órgão construído por António Xavier Machado Cerveira (1756 - 1828), o número 16 dos seus órgãos históricos, para o coro-alto desta igreja, e que hoje se encontra na Igreja de Nossa Senhora do Livramento; 1820 - 1855 - durante este período a Azueira foi sede de concelho (a que pertenciam as freguesias de Azueira, Enxara do Bispo, Freiria, Gradil, Milharado, Sobral da Abelheira e Turcifal), após o que foi incorporada no município de Mafra; 1890, 15 julho - ofício do secretário-geral do Governo Civil de Lisboa, Eduardo Segurado, dirigido ao administrador do concelho de Mafra, solicitando, com urgência, informação da Junta de Paróquia da Azueira sobre a importância total dos reparos que se deliberou mandar fazer na Igreja Paroquial e na Igreja de Santa Catarina; 1911, 12 fevereiro - do inventário elaborado pela secretaria da Junta da Paroquia da Azueira constam uma coroa de prata na imagem da Senhora do Rosário, uma coroa de prata do Menino, um vestido de seda com espiguilha de ouro, uma imagem e um andor; c. 1944 - de acordo com Eduardo de Távora de Vasconcelos Miranda (MIRANDA, 1944) nesta data é vendida a primitiva imagem de pedra representando São Pedro que se encontrava no retábulo-mor desta igreja, por 2800$00 para contribuir para a reconstrução do muro do cemitério que lhe fica adjacente; 1983 - aquando da elaboração da proposta de classificação da igreja, e de acordo com as informações fornecidas pela Câmara Municipal de Mafra, a igreja encontra-se bastante degradada, possui uma pintura do século 18 numa parede, várias imagens em madeira policromada (das quais se destacam as de Santa Inês, São Paulo, da Virgem e de Santa Luzia), tem um altar-mor mito elegante, embora em mau estado de conservação, um sobrado impressionante, alvo de recente restauro); o órgão de Machado Silveira ainda se encontra no templo; 1990 - Fernando Ferreira (FERREIRA, 1990) refere-se à existência de duas boas imagens de pedra no interior deste templo (as duas quinhentistas que, atualmente, se exibem na igreja do Livramento); 1993, 30 novembro - é classificada como Imóvel de Interesse Público; 1994, 10 de junho - a imagem de madeira estofada, representando São Pedro dos Grilhões, portador da insígnia papal (a vara com a cruz de Lorena), que se encontrava no retábulo-mor, e que havia sido furtada, foi encontrada a boiar no rio Tejo, perto de Santarém, e entregue à GNR de Salvaterra de Magos; após esta data a imagem é restaurada encontrando-se, hoje, no templo do Livramento.

Dados Técnicos

Paredes autoportantes

Materiais

Alvenaria mista, reboco pintado, cantaria de calcário, madeira, ferro fundido, bronze, estuque

Bibliografia

FERREIRA, Fernando M. - "Património cultural construído no Concelho de Mafra: Freguesia da Azueira". Inventário Geral IPCM. Mafra, 1990; FERRÃO, Julieta; GUSMÃO, Adriano de - Monumentos e Edifícios Notáveis do Distrito de Lisboa. Lisboa: Junta Distrital de Lisboa, 1963, vol. III; LUCENA, Armando de - Monografia de Mafra. Mafra: Comissão Municipal de Turismo, 1987; MIRANDA, Eduardo de Távora de Vasconcelos - "Aspectos histórico-genealógicos da freguesia da Azueira". Boletim da Comissão de Arte e Arqueologia. Mafra, jun. 1944, n.º 6; VILAR, Maria do Carmo - "Património artístico da Azueira". Boletim Cultural 1993. Mafra: Câmara Municipal de Mafra, 1994, pp. 107 - 126.

Documentação Gráfica

CMM: Arquivo Municipal de Mafra

Documentação Fotográfica

DGPC/SIPA: DGEMN/DSID; CMM: Arquivo Municipal de Mafra

Documentação Administrativa

DGLAB: AN/TT; CMM: Arquivo Municipal de Mafra; DGPC/SIPA: DGEMN/SIPA

Intervenção Realizada

Observações

Autor e Data

Paula Tereno 2017

Actualização

 
 
 
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