Fábrica de Salga de Peixe do Creiro
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Portugal, Setúbal, Setúbal, União das freguesias de Azeitão (São Lourenço e São Simão) |
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Arquitectura industrial e piscatória, romana. Jazida arqueológica situada sobre pequena rechã formada por terrenos argilosos do "Paleogénico indiferenciado" (SILVA, COELHO-SOARES, 1987). Complexo da Época Romana com zona industrial de acordo com planimetrias, tipos de edifícios e materiais de construção aí encontrados, característicos da época: zona industrial com cetárias com diversos tamanhos de acordo com o uso dado a cada uma, com forma quadrangular de cantos em meia cana, tendo em conta problemas de higiene, com os interiores revestidos com argamassa signina; restos das paredes que subsistem são em alvenaria de pedra de tamanho médio, com ligamento de adobe; instalações de banhos com dois compartimentos quadrangulares, canais para condução das águas, forno, arcos e arquilhos de tijolo maciço; emprego de rebocos e concreto. |
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Número IPA Antigo: PT031512040063 |
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Registo visualizado 6203 vezes desde 27 Julho de 2011 |
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Edifício e estrutura Edifício Extração, produção e transformação Fábrica
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Descrição
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Ruínas que integram uma unidade fabril de salga da época romana, constituídas por oficinas, fábrica, e balneário em bloco independente. A fábrica é de planta rectangular, possuindo onze tanques (cetárias) e um pátio que abre para o exterior, a S.. Completamente cercada por espesso muro, apresentando uma abertura de 1,4 m da banda S., com soleira formada por dois grandes blocos de pedra, com pequeno degrau. Os TANQUES, destinados ao fabrico de salsamenta (as conservas de peixe, feitas a partir de lombos de cavala, sardinha e atum) têm plantas quadrangulares, rectangulares, cujas profundidades actuais variam entre cerca de 0,5 m e 1 m, distribuem-se por dois grupos funcionais: o das salgadeiras - constituído por muretes com 0,3 m de espessura, formados por blocos de pedra, de dimensões médias, ligados por argamassa; adossam-se ao muro exterior da fábrica ou são comuns a duas ou mais salgadeiras quando estas confinam entre si; internamente os cantos são acentuadamente arredondados chegando à forma quase ovalada, ndo sido evitadas as arestas vivas por questões de higiene; são revestidos nos fundos e nas paredes por resistente "opus signinum", desprovidos de fragmentos de cerâmica, tornado impermeável para a salga, onde o peixe macerava em sal; o outro grupo funcional de tanques marca a segunda fase da construção da fábrica: construídos provavelmente quando esta estava já em funcionamento, reutilizando o pavimento do pátio como fundo; os novos muros estão edificados sobre o mesmo pavimento e adossam-se ao revestimento de "opus signinum" dos muros pé-existentes e têm revestimento semelhante ao das salgadeiras (gravilha amassada com cal e areia): são menos profundos e têm um fundo menos impermeável (seriam reservatórios de sal ou de peixe); um é de planta subquadrangular e o outro é de planta trapezoidal (SILVA, COELHO-SOARES, 1987). O pátio de planta em L, com pavimento formado por calhaus subrolados argamassados; no braço O. existe uma depressão em calote de esfera, rico em fragmentos de cerâmica (possível estrutura de limpeza do pátio). Troço de canalização de direcção NS.-SO. passa por baixo da fábrica de salga, com largura máxima de 0,5 m e profundidade de 0,6 m. No exterior da fábrica, construções: muro em arco de blocos não aparelhados que se adossa troço O. do muro que limita a fábrica a S., respeitando a zona de entrada da fábrica; dois muros prependiculares ao que limita a fábrica a O.; um muro prependicular ao que limita a fábrica a E. (SILVA, COELHO-SOARES, 1987). POÇO ainda não escavado: era imprescindível água doce, em abundância, para o funcionamento deste centro de preparados piscícolas; nesta zona da serra a água superficial é escassa, mas uma das suas raras nascentes situava-se junto à fábrica, para o que esta dispunha de um poço de mergulho, a partir do qual a água era canalizada para a cisterna, situada junto ao balneário. ARMAZÉNS situados a NE. dos tanques: conjunto de compartimentos de planimetrias rectangulares, justapostos, com funções de armazenamento, parcialmente escavado. BALNEÁRIO que se estende para a E., parcialmente escavado, de pequenas dimensões com hipocausto e fornalha, com compartimento para banhos quentes (caldarium) com a boca do forno, e outro para banhos frios (frigidarium), com sistema de circulação do ar à vista. |
Acessos
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Serra da Arrábida, pela EN 379 - 1.24,5Km Setúbal - Azeitão, estrada que parte de junto de depósito de água em direcção à zona de veraneio de praia na Costa Oceânica da Arrábida, situado a meia-encosta a E. da Praia do Portinho da Arrábida, em local designado Praia de Galapos. |
Protecção
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Inexistente |
Enquadramento
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Rural, isolado, no sopé da encosta S. da Serra da Arrábida, integrado na Zona que rodeia o Portinho da Arrábida, incluindo o Conventinho e a Mata de Carvalhos (v. PT031512040018), na margem esquerda de uma linha de água que desce da serra até ao mar, com zona ajardinada, no meio da paisagem de mata do Parque Natural da Arrábida; próximo à orla marítima da costa oceânica, a E. do Otão, com cota de 20-30m, na zona E. sobre a praia do Portinho da Arrábida, vencendo um desnível de cerca de 15m, |
Descrição Complementar
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Utilização Inicial
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Extração, produção e transformação: fábrica |
Utilização Actual
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Cultural e recreativa: monumento |
Propriedade
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Pública: estatal |
Afectação
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Sem afectação |
Época Construção
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Séc. 01 |
Arquitecto / Construtor / Autor
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Desconhecido |
Cronologia
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Época Romana - deu-se o florescimento de um grande centro industrial de salga de peixe na embocadura do Rio Sado, prolongando-se pela Arrábida, apoiado por outras actividades de características económicas, como por exemplo centros de produção de ânforas (Quinta da Alegria - Cachofarra, Pinheiro, Abul, Bugio) destinadas ao transporte das salgas provenientes daquele centro industrial; Séc. 01, meados - 3º quartel - construção do edifício fabril do Creiro; Séc. 01, finais - primeira fase de ocupação da fábrica, fases de construção I e II, sofrendo na última, obras de remodelação que vão aumentar o número de tanques de salga, a expensas do pátio *1; Séc. 04 / 05 - a oficina de salgas é parcialmente ocupada por uma lixeira; Séc. 12 - terceira fase de ocupação, com vestígios pertencentes ao período muçulmano (período almoada); 1907 - tomada de conhecimento desta estação romana; 1987, 27 de Julho - 11 de Setembro - início da campanha de escavações arqueológicas no Creiro no âmbito das actividades do Centro Arqueológicos do Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal. |
Dados Técnicos
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Estrutura autoportante |
Materiais
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Pedra: calcário comum, calcário conquífero, brecha da Arrábida; alvenaria: cal e areia ligada por argila, "opus signinum". |
Bibliografia
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COSTA, A. I Marques da, Esboço da Carta dos Arredores de Setúbal Indicativo das estações Prhehistoricas e Romanas, Estações prhehistoricas dos arredores de Setúbal "in" O Archeologp Português, v. XII, Lisboa, 1907; IDEM, CABRITA, M. Gonçalves, Estações Romanas da Região de Setúbal "in" Revista Cetóbriga, v. 1 e 2, Setúbal, 1964; SILVA, Carlos Tavares da, SOARES, Joaquina, Arqueologia da Arrábida, 1986; SILVA, Carlos Tavares da, COELHO-SOARES, Antónia, Escavações Arqueológicas no Creiro (Arrábida). Campanha de 1987, "in" Setúbal Arqueológica, v. VIII, Setúbal, 1987; Monografia da Freguesia de S. Julião, Setúbal, 1993; SILVA, Carlos Tavares da, O Parque Natural da Arrábida e o Património Arqueológico, in O Desafio da Arrábida, 20 anos de histórias do Parque Natural da Arrábida, Setúbal, 1996. |
Documentação Gráfica
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IHRU: DGEMN/DSID; Parque Natural da Arrábida; Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal. |
Documentação Fotográfica
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IHRU: DGEMN/DSID; Parque Natural da Arrábida; Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal. |
Documentação Administrativa
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Parque Natural da Arrábida; Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal. |
Intervenção Realizada
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Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal: 1987 - campanha de pesquisa arqueológica. |
Observações
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*1 - no último quartel do Séc. 01, fim da primeira fase do Creiro, assiste-se à construção das fábricas de salga da Praça do Bocage e da Travessa de Frei Gaspar em Setúbal, coincidindo com o possível início do florescimento industrial de Setúbal Romana (SILVA, COELHO-SOARES, 1987). |
Autor e Data
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Albertina Belo 2001 |
Actualização
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