Chafariz de São João / Chafariz d'El-Rei
| IPA.00009599 |
Portugal, Lisboa, Lisboa, Santa Maria Maior |
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Arquitectura infraestrutural, maneirista e neoclássica. Chafariz urbano, de duplo espaldar comprido, dividido em apainelados por pilastras, rematado por platibanda, pináculos e vasos, tendo, no nível inferior, três bicas metálicas e com almofada quadrangular, junto às quais surgem réguas metálicas para apoio do vasilhame, as quais correm para tanque de planta rectangular e interior côncavo, servido por um depósito e cisterna abobadada. O chafariz possui janelas e frestas jacentes de arejamento. Trata-se de um dos mais paradigmáticos chafarizes da cidade de Lisboa, não só pela sua ancestralidade, já referenciado documentalmente no reinado de D. Afonso II, mas pela sua localização ribeirinha, em cota inferior à via pública e encimado por uma notável edificação, e pela função de abastecer a população da zona e as embarcações. Foi alvo de sucessivas intervenções ao longo do tempo, nomeadamente no séc. 18, que lhe determinou drásticas mudanças plásticas, originando um chafariz de espaldar corrido, dividido em apainelados emoldurados, dois deles com as armas da cidade de Lisboa e um com as reais. De notar, os remates do duplo espaldar, típicos do séc. 19, com platibanda almofadada, rematada por pináculos fuselados e decorados por festões de drapeados, e por vasos do tipo "Médicis", com falsas flores em metal. |
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Número IPA Antigo: PT031106520456 |
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Registo visualizado 6107 vezes desde 27 Julho de 2011 |
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Edifício e estrutura Estrutura Hidráulica de elevação, extração e distribuição Chafariz / Fonte Chafariz / Fonte Tipo espaldar
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Descrição
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Chafariz em cantaria de calcário lioz, composto por duplo espaldar, de dois pisos, o superior reentrante, bastante extenso, enquadrado por dois panos de muro salientes, em silharia fendida. Ambos os espaldares se encontram divididos em nove panos, ritmados por pilastras, rusticadas no inferior e toscanas no superior, rematados por platibandas plenas, com almofadas rectilíneas, interrompidas por acrotérios paralelepipédicos, encimados por pináculos fuselados e ornados por festões de drapeados, que alternam com vasos do tipo "Médicis", com falsas folhas, em metal. O espaldar inferior apresenta cada um dos painéis seccionados por cornija, formando rectângulo na zona inferior e quadrado na superior, todos emoldurados. Cinco dos panos apresenta frestas jacentes de arejamento, com molduras salientes e dois deles as armas da cidade, envolvidas por cartela enrolada. O pano central apresenta o escudo real e remata em frontão triangular, destacando-se dos demais e formando um eixo de simetria. Na base, surgem três bicas metálicas, enquadradas por almofada quadrangular em cantaria, que vertem para amplo tanque corrido, com o interior côncavo e com elemento de despejo, tendo bordo simples, consolidado por chapa de ferro. Junto a cada uma das bicas, surgem duas réguas metálicas para apoio do vasilhame. O espaldar superior apresenta três janelas rectilíneas, protegidas por gelosias de madeira, surgindo, no pano central, porta rectilínea, com moldura recortada, protegida por duas folhas metálicas vazadas, formando elementos vegetalistas estilizados, encimada por tabela lisa, assente em duas falsas mísulas, ornadas inferiormente por elementos boleados. No lado direito, surge uma lápide com a seguinte inscrição, incisa e avivada a preto: "CHAFARIZ D'EL REY EDIFICADO NO SECULO XIII FOI REFORMADO PELO REI D. DINIS RECONSTRUIDO NO ANO DE 1747 REPARADO DEPOIS DE 1755 E MELHORADO NOS MEADOS DO SECULO XIX". Através de porta localizada na Travessa do Chafariz d'El-Rei, acede-se ao INTERIOR da caixa de água, por meio de lanço recto de escada de cantaria, a galeria (num plano inferior relativamente ao exterior), com cobertura em abóbada de berço, articulada com cisterna de planta quadrada e cobertura em abóbada de barrete de clérigo perfurada, ao nível do remate, por falso lanternim. Através da galeria de acesso à cisterna a água é conduzida para um depósito, de localização coincidente com corpo de planta rectangular - de um piso, com muros em reboco pintado e cunhais de cantaria - adossado ao Palácio das Ratas, no lado posterior do chafariz. Este, compõe-se de um tanque com cobertura em abóbada de aresta (em asa de cesto). A água é então escoada deste depósito, por meio de canais de escoamento até à face interna do espaldar do chafariz, perfurado pelas nove saídas de água, onde se integram numa galeria com cobertura em abóbada de berço. |
Acessos
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Rua Cais de Santarém |
Protecção
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Categoria: MIP - Monumento de Interesse Público / ZEP, Portaria n.º 740-H/2012, DR, 2.ª série, n.º 248 de 24 dezembro 2012 *1 / Incluído na Zona de Proteção do Castelo de São Jorge e restos das cercas de Lisboa (v. IPA.00003128) |
Enquadramento
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Urbano, integrando a frente edificada, em plano ligeiramente recuado, adossado ao Palácio das Ratas (v. PT031106360668), tendo o corpo superior, recuado, assente sobre a denominada cerca moura. Encontra-se situado junto à via pública, em cota inferior, separado desta por um passeio público pavimentado a calçada, e por uma grade metálica, formando losangos, nos extremos da qual surgem dois acrotérios de cantaria, onde assentam dois candeeiros metálicos, que integram a iluminação do espaço público; o acesso ao tanque processa-se por escadas em cada um dos extremos, estando pavimentado a lajeado de calcário. Na proximidade, situa-se o Palácio Coculim (v. PT031106360660). |
Descrição Complementar
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Utilização Inicial
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Hidráulica: chafariz |
Utilização Actual
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Cultural e recreativa: marco histórico-cultural |
Propriedade
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Pública: municipal |
Afectação
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Sem afectação |
Época Construção
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Séc. 18 / 19 |
Arquitecto / Construtor / Autor
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Desconhecido. |
Cronologia
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Séc. 12 - provável edificação do primitivo chafariz para abastecimento do Bairro piscatório de Alfama e permitindo o fornecimento de água aos barcos que acostavam à Ribeira, encostado à muralha; 1220 - primeira referência documental ao chafariz, sendo designado como Chafariz de São João da Praça; 1308, 10 Outubro - o rei D. Dinis ordena alterações no chafariz, transferindo-o para o interior da Cerca Moura, originando a alteração da designação para Chafariz del Rei; 1373 - durante o cerco de Lisboa, e segundo o relato do cronista Fernão Lopes (Crónica de D. Fernando), o chafariz secou ; 1487 - campanha de obras, promovida por D. João II; 16 Setembro - carta régia manda fazer um encanamento, desde o chafariz até à muralha do mar, para permitir o abastecimento dos bateis da Ribeira, obra orçada em 12$000 réis ; 1494, 2 Maio - carta régia ordena que não se façam mais experiências para subir a água do chafariz ; séc. 16 - a água tinha fama de virtudes terapêuticas, para catarros, fígado, paralergias e sarnas; na gravura da Biblioteca de Leyden, mostra o chafariz com 3 arcos, as armas régias ladeadas por duas esferas armilares; em frente, um pátio fechado, estando encostado às muralhas, entre duas torres medievais; o chafariz tinha 6 bicas; 1517 - grande seca, que afectou o caudal do chafariz; 21 Dezembro - D. Manuel I ordena à Câmara de Lisboa que autorize a Lopo de Albuquerque a execução, a expensas suas, de uma cobertura para o chafariz *2, o qual se situava então dentro de um pátio restrito, encostado à muralha, sendo a sua fachada composta por três arcos, ostentando sobre o central a pedra de armas real, ladeado por duas esferas armilares ; 1551 - postura do Senado da Câmara de Lisboa, regulando a serventia das várias bicas do chafariz, sendo de O. para E., a primeira para cântaros, cantarinhas, quartas, odres, barricas e pipas dos escravos, a segunda para os mouros das galés, a terceira e quarta para os homens e mulheres brancos, a quinta para mulheres pretas e índias e a sexta para moças brancas; 1552 - referência documental a "cerca de 1000 negras que andam ao pote a carretar água do chafariz d'el-rei"; o chafariz abastecia o Chafariz dos Paus; 1598 - uma grande seca afectou o caudal do chafariz; 11 Março - foi mandado entupir um poço próximo, pertencente a Luis de Carvalho, que afectava o caudal do chafariz; perante a oposição do proprietário, seguiu-se uma demanda; 1604 - postura camarária, regulamentando o abastecimento de água ao chafariz; 1612, 5 Dezembro - a Câmara tomou posse do poço de Luís de Carvalho; 1614 - nova campanha de obras, registando-se também um enriquecimento substancial do seu caudal, pela aquisição, efectuada pela Câmara, de um poço, existente numas casas próximas pertencentes a Beatriz de Ayalla, viúva de Luís de Carvalho, a qual recebeu uma indemnização de 750$000, a 26 de Agosto desse ano; a Câmara tomou posse de um outro poço em casa de Francisco de Sousa, junto ao chafariz; 1669 - o chafariz possuía então 6 bicas, tendo-se procedido a desentulhos, pois a água encontrava-se imprópria para beber; verificaram-se as alimentações e construiu-se uma mina em abóbada; 1700 - relação do chafariz, onde se refere que atrás das bicas, está uma arca, onde se conservava água, com cerca de 50 palmos, 38 de largo e 8 de fundo, sendo descoberta pela parte de cima, com paredes de cantaria e da água para cima em alvenaria, ficando fechado e tapado sem fresta alguma; o fundo é de areia amarela, misturada com barro e rocha viva, onde nascem vários olhos de água; para NO., fica uma "alfurja", que serve para despejos das águas dos telhados interiores; séc. 18 - D. João V tentou averiguar a fonte de abastecimento do chafariz, sem resultados; 1.ª metade - execução de mais três bicas; 1724, 1 Agosto - em épocas de estio, os aguadeiros apenas tinham permissão para a venda de vasilhas de pequenas dimensões; 1726 - no Aqulégio Medicinal, é referido que a água é quente, com muito salitre se não se limparem os canos, sendo boa para problemas de digestão, catarros, para o fígado e nervos; 1744 - o frontispício do chafariz desabou devido ao mau estado de conservação; 1747 - 1749 - reedificação do chafariz ; 1755 - o terramoto causa danos no chafariz ; 1774, 3 Outubro - 1775, 24 Junho - campanha de obras de beneficiação cujos custos ascenderam a 1:271$635 réis ; 1812, 17 Setembro - aviso régio ordenava que se fizesse, pela Repartição das Águas Livres, a reparação do chafariz; 1836 - decorrem obras de remodelação do frontispício do chafariz, com lavragem dos apainelados do remate, entretanto suspensas por terem sido embargadas pela marquesa de Chaves, D. Francisca Teles da Silva; 1851 - os sobejos do chafariz corriam para o mar; 1859 - continuavam as obras, estando assentes todos os painéis, algumas pilastras e parte da cimalha; 1861 - uma gravura representa o chafariz já com a segunda platibanda e a decoração de vasos e pináculos, que nesse mesmo ano havia sido executada; 1864 - campanha de obras de restauro e beneficiação; 2008, 31 janeiro - proposta de classificação da CMLisboa; 2008, 11 agosto - Despacho de abertura do processo de classificação da sub-diretora do IGESPAR; 2010, 01 junho - proposta de classificação como Monumento de Interesse Público pela DRCLVTejo; 2011, 20 setembro - nova proposta da DRCLVTejo fixando uma Zona Especial de Proteção; 2012, 30 março - publicação do projeto de decisão de classificação do edfiício como Monumento de Interesse Público e fixação da respetiva Zona Especial de Proteção, em Anúncio n.º 7006/2012, DR, 2.ª série, n.º 65. |
Dados Técnicos
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Estrutura mista. |
Materiais
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Estrutura em alvenaria mista e cantaria de calcário; bicas, chapas, réguas e portas em ferro forjado; flores dos vasos em metal; janelas com gelosias de madeira. |
Bibliografia
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GÓIS, Damião de, Descrição da Cidade de Lisboa, Évora, 1554; CONCEIÇÃO, Fr. A., Demonstração Histórica, Lisboa, 1750; ANDRADE, José Sérgio Velloso d', Memoria sobre Chafarizes, Bicas, Fontes e Poços Públicos de Lisboa, Belém, e muitos logares do termo, Lisboa, Imprensa Silviana, 1851; Archivo Pittoresco, n.º 23, 1861; LEAL, Augusto B. Pinho, Portugal Antigo e Moderno, vol. IV, Lisboa, 1874; A Água em Lisboa, in Serões, n.º 15, 1906; ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. II, Livro 10, Lisboa, s.d.; CASTILHO, Júlio de, A Ribeira de Lisboa, 2ª ed., vol. 2, Lisboa, 1941; ARAÚJO, Norberto de, Inventário de Lisboa, Fasc. 2, Lisboa, 1945; CHAVES, Luís, Chafarizes de Lisboa, Lisboa, Câmara Municipal de Lisboa, s.d.; ALMEIDA, Amaro de, Lisboa, Capital das Águas, in Revista Municipal, n.º 49-50, 1952 ; ALMEIDA, D. Fernando de [dir. de], Monumentos e Edifícios Notáveis do Distrito de Lisboa, vol. V, tomo 1, Lisboa, 1973; LUDOVICE, Nuno Drummond, O Chafariz d'el-Rei, in Lisboa. Revista Municipal, 2ª Série, ano XLVII, n.º 17, 1986; SILVA, Augusto Vieira da, A Cerca Moura de Lisboa, 3ª ed., Lisboa, 1987 (1ª ed. de 1899); NUNES, Isabel, Um Estudo sobre Chafarizes de Lisboa de 1886 a 1913, uma Etapa no Abastecimento de Água a Lisboa, in Revista Municipal, n.º 24, 1988; PINTO, Luís Leite, História do Abastecimento de Água à Região de Lisboa, Lisboa, 1989; BRANDÃO (de Buarcos), João, Grandeza e Abastança de Lisboa em 1552, Lisboa, 1990 (ms. de 1552); CAETANO, Joaquim de Oliveira, SILVA, José Cruz, Chafarizes de Lisboa, Lisboa, 1991; CALADO, Maria, FERREIRA, Vítor Matias, Lisboa: Freguesia de Santo Estevão, Lisboa, 1992; CAETANO, Joaquim de Oliveira, Chafarizes, Bicas e Poços, in SANTANA, Francisco, SUCENA, Eduardo, Dicionário da História de Lisboa, Lisboa, 1994; HENRIQUES, Francisco da Fonseca, Aquilégio Medicinal, Lisboa, Instituto Geológico e Mineiro 1998 1.º ed. de [1726]; FLORES, Alexandre M. e CANHÃO, Carlos, Chafarizes de Lisboa, Lisboa, Edições INAPA, 1999. |
Documentação Gráfica
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IHRU: DGEMN/DSID; DRCLisboa e Vale do Tejo; CMLisboa |
Documentação Fotográfica
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IHRU: DGEMN/DSID; DRCLisboa e Vale do Tejo |
Documentação Administrativa
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DRCLisboa e Vale do Tejo; CML: Arquivo de Obras (Processo n.º 15011); AHM, Livro IV de D. Manuel (fls. 57 - 60) |
Intervenção Realizada
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PROPRIETÁRIO: séc. 20, 2.ª metade - colocação de elemento de escoamento de águas no interior do tanque. |
Observações
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*1 - DOF: Chafariz D'El Rei, incluindo as estruturas hidráulicas conexas (reservatório, cisterna e mina de água), na Rua do Cais de Santarém, na Travessa do Chafariz d'El Rei e na Travessa de São João da Praça. *2 - o nobre habitava o palácio por detrás do chafariz, passando os canos pela sua propriedade, devendo-se a obra a qualquer contrapartida que a Câmara lhe cedera. |
Autor e Data
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Teresa Vale, Maria Ferreira e Sandra Costa 2001 / Paula Figueiredo 2007 |
Actualização
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