Estação Sul e Sueste / Gare Marítima do Barreiro / Terminal Ferroviário e Fluvial do Barreiro
| IPA.00007018 |
Portugal, Setúbal, Barreiro, União das freguesias de Barreiro e Lavradio |
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Interface fluvial e ferroviário projetado e construído por Miguel Pais, no último quartel do séc. 19, de acordo com uma estética tardo-romântica, que conjuga elementos neomanuelinos e industriais. Assim, apresenta uma fachada principal cenográfica, fachada poente, com arcadas e altas torres lembrando o piso térreo da fachada sul do Mosteiro dos Jerónimos, decorada com motivos marítimos e vegetalistas, enquanto que no interior é possível observar a técnica do ferro aplicada a suportes arquitectónicos, asnas, varões, tubos de metal, colocados abertamente à vista na cobertura da gare ferroviária. |
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Número IPA Antigo: PT031504010024 |
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Registo visualizado 2793 vezes desde 27 Julho de 2011 |
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Edifício e estrutura Edifício Transportes Interface
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Descrição
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Edifício de planta conjunta, resultante da articulação de dois corpos retangulares, longitudinais, alongados. CORPO DO FRONTISPÍCIO: planta retangular, longitudinal, irregular com quatro torres adossadas, ao longo dela, sem coincidência interior-exterior, tratando-se de uma única fachada. Massa simples interrompida pela inclusão de torres poligonais, duas nos topos e duas embebidas a meio do alçado. Cobertura plana e em domos de abóbadas góticas. Frontispício voltado a este com embasamento proeminente, desenvolvendo-se em simetria por três panos, cujos elementos divisores são as torres que se desenvolvem em três registos com remate em domo. Os panos compõem-se de um portal central flanqueado por duas janelas de cada lado, de arcos alteados e quebrados, separados por contrafortes escalonados. O remate é em platibanda e cornija. Interiormente o alçado desenvolve-se em pano liso revestido a um terço do pé-direito com alizar de azulejos brancos, e com uma moldura central retangular, vazia; há correspondência dos vãos descritos que fazem a iluminação interior, sendo as janelas interiormente incorporadas em arcadas. O remate é em cornija de coroamento interrompido pelos arranques das asnas de ferro da cobertura da gare. GARE: planta longitudinal escalonada, regular, composta pelos vários corpos que a formam, desenvolvidos em simetria, alcançando cerca de 80 metros de comprimento. Da gare faz parte o cais de embarque de igual comprimento, com duas vias e uma plataforma para passageiros de quatro metros de largura, perfazendo a largura total de 15, 50 metros. Disposição horizontal das massas, cobertura exterior em terraços e telhados de duas águas. Fachada principal orientada a poente, com embasamento levemente proeminente, com divisão em três panos principais. O pano central é delimitado pelos corpos de dois torreões de três pisos demarcados por janelas que se sobrepõem, o remate é em cornija de coroamento em empena angular com agulha no topo; entre estes corpos o alçado é formado por um registo com portal central e janelas laterais, o remate é em cornija com água furtada em arcada ao centro. Os corpos laterais desenvolvem-se plasticamente de modo semelhante ao central, embora sejam mais baixos, e terminem por dois torreões de dois registos. Fachadas norte e sul, de dois registos, de um pano delimitado lateralmente por cunhais apilastrados. No piso inferior abre-se um portal central flanqueado por duas janelas altas e estreitas de grande verticalidade; no registo superior rasga-se uma rosácea. O remate é em frontão de arco e segmentos, com cornija de coroamento. Os vãos de janelas e portas são de arco pleno, com duas folhas e bandeira de lume, fechada, decoradas com laçaria em ferro. Fachada nascente composta por uma série de portas largas de duas folhas com bandeira semelhantes às da fachada oposta, com o pano murário com alizar forrado a cantaria calcária a um terço do pé-direito. INTERIOR: de espaço diferenciado em vários pisos, com vestíbulo principal, salas para passageiros, gabinetes, escritórios, salas para pessoal e de repartições de movimento e tráfico, no piso térreo e quartos para pessoal graduado nos pisos superiores. A articulação entre os pisos faz-se por lances de escada de caracol, escadaria com poço aberto e escadaria de lances opostos. A iluminação faz-se pelos vãos de portas e janelas descritos. As coberturas são de teto de madeira e os pavimentos de tijolo-mosaico de diversos tipos e em madeira. Os dois volumes descritos unem-se pela cobertura da gare ferroviária em telhado escalonado, em estrutura de ferro, com asnas, coberto de chapa de zinco e estrutura envidraçada. Fora, destaca-se ainda um cais de mercadorias com teto de chapa zincada. Frente à estação desenvolve-se amplo cais fluvial, em cantaria: assente sobre fortes muralhas e cercado por elas, postas em fundamentos hidráulicos, num leito de lodos profundos, constituído por muro de suporte de sustento de estrada, com 448 metros de extensão do lado sul, 70 metros de testa, e 340 metros do lado norte, com altura média de 4,5 metros. Muro sul com 250 metros. Uma vistosa e forte balaustrada de ferro guarnece toda a cortina de cais da estação, formando uma espaçosa varanda *2. |
Acessos
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Rua Miguel Paes |
Protecção
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Em vias de classificação *1 |
Enquadramento
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Urbano, isolado, junto à água, na margem sul do rio Tejo, do lado do Canal de Coina, a cerca de um quilómetro a sul da antiga vila do Barreiro. Nas imediações pode-se encontrar outras edificações pertencentes ligadas à ferrovia, tais como, armazéns, depósitos e arrecadações de mercadorias, e sanitários, alojados em edificações em forma de chalé com jardim. |
Descrição Complementar
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Utilização Inicial
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Transportes: interface |
Utilização Actual
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Transportes: interface |
Propriedade
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Pública: estatal |
Afectação
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Sem afectação |
Época Construção
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Séc. 19 |
Arquitecto / Construtor / Autor
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Engenheiro Miguel Carlos Correia Pais (1825 - 1888) |
Cronologia
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1859 - D. Pedro V (1837 - 1861) inaugura a Linha de Caminhos de Ferro do Sul e a primeira estação do Barreiro, criada com o objetivo de servir de interface para as mercadorias vindas do Sul pela ferrovia e que seguiam para a capital por barco; 1860 - 1864 - construção da rede de caminhos-de-ferro do Sul e Sueste; 1873, agosto - Miguel Carlos Correia Pais foi nomeado engenheiro chefe de tracção e conservação do Caminho de Ferro do Sul; 1875 - início de trabalhos preliminares para a construção da nova estação ferroviária do Barreiro, a construir junto ao cais, permitendo, assim, encurtar a distância entre o porto e a ferrovia em cerca de dois quilómetros *3; 1876 - data do projecto de obras da gare marítima do Barreiro, da autoria do Engenheiro Miguel C. C. Pais, orçado em 280.000$00; 1884, setembro - fim das obras principais da nova estação; construção da rotunda das locumotivas; 1884, 04 outubro - inauguração do edifício da mais antiga estação terminal ferroviária do país, que importara em cerca de 58.000$00; os seus fundamentos têm 10 metros de altura iniciados sobre soleira de betão com 1,50 metros de espessura; 1884, 20 dezembro - é aberta à exploração; 1905 - construção de uma ponte-cais, de serviço ao cais construído numa superfície de 30.790 m2, conquistada ao mar; 1903 - realizaram-se novos trabalhos de ampliação; 1932 - obras de melhoramento nesta estação; 1934 - a abertura da Avenida dos Sapadores permite uma melhoria do acesso rodoviário; 1934, 21 junho - inauguração do troço da Linha de Sines até Santiago do Cacém, para o que se realiza um combóio extraordinário com início e fim no Barreiro; 1943 - são efetuadas obras de ampliação e remodelação; 1960 - é remodelada a rotunda das locumotivas; 1966, 15 setembro - é suspenso o transporte de mercadorias por via fluvial entre esta estação e Lisboa; 1970 - 1990 - entra em discussão a localização do Museu Ferroviário, sendo esta uma das possíveis soluções; 1991 - é inaugurado o Museu Ferroviário no Entroncamento; 2008, 14 dezembro - com a inauguração da nova estação, esta é abatida ao serviço; 2018, 12 fevereiro - é publicada no DR n.º 30/2018, 2.ª série, a abertura de do procedimento para a classificação do Complexo Ferroviário do Barreiro *1. |
Dados Técnicos
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Paredes autoportantes, estrutura autónoma |
Materiais
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Cantaria, alvenaria, betão armado, ferro fundido, tijoleira, mosaicos de cerâmica vidrada, madeira, telhas. |
Bibliografia
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CALDEIRA, Carlos José - Archivo Pitoresco. Lisboa, 1863, tomo 4; "Os Caminhos de Ferro de Estado. As oficinas do Sul e Sueste do Barreiro". Ilustração Portuguesa. Lisboa, 1909, 2.ª série; CUSTÓDIO, Jorge - "Patrimonio ferroviário em risco. O caso complexo do Barreiro". Pedra &Cal, jul.-dez. 2012, n.º 53, pp. 38-40; "Gare Marítima do Barreiro, Miguel Paes, 1884 no seu 1º centenário". Um Olhar sobre o Barreiro. Barreiro, dez. 1985, n.º 3; Um Olhar sobre o Barreiro. Barreiro, jun. 1926; PAIS, Armando da Silva - O Barreiro Antigo e Moderno. As Outras Terras do Concelho. Barreiro, 1963; IDEM - O Barreiro Contemporâneo. A Grande e Progressiva Vila Industrial. Barreiro, 1966, vol. 1; "Pais (Miguel Carlos Correia)". Enciclopédia Luso-Brasileira. Lisboa, 1940, vol. 19; PAIS, Miguel - Melhoramentos de Lisboa e seu Porto. Lisboa, 1883-1884. |
Documentação Gráfica
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DGPC: PT DGEMN/DSID; CP (Edifício de Santa Apolónia em Lisboa) - arquivo documental |
Documentação Fotográfica
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DGPC: PT DGEMN/DSID; Colecção de Cabeça Padrão; CP (Edifício de Santa Apolónia em Lisboa): arquivo fotográfico. |
Documentação Administrativa
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CP (Edifício de Santa Apolónia em Lisboa): Arquivo documental |
Intervenção Realizada
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CP: 1928 - Modificação da dependência da Bilheteira da Estação; 1929 - construção de defesas de madeira para evitar o choque dos barcos contra a ponte de descarga; 1930 - reparação do gradeamento da muralha; beneficiações gerais no edifício da Estação; 1931 - construção da vedação de cimento armado no cais de embarque de passageiros; 1933 - pesquisa nos alicerces do edifício de passageiros; 1934 - construção da muralha marginal da Praia do Norte junto ao Moinho do Gimes; 1935 - azulejamento da parede voltada à gare do edifício de passageiros; 1938 - desmonte e reposição do forro de azulejos na parede do Edifício de Passageiros; reparação do telhado da Estação; 1939 - reparação de rebocos e caiação no edifício de passageiros; 1940 - ampliação das instalações do serviço fluvial; construção do telheiro do lado S. da Praça; 1941 - reparação da muralha N. da Estação; 1943 - obras de ampliação da Estação; 1945 - construção de uma escada de pedra numa rampa da muralha de atracação; 1946 - colocação de corrimão de ferro nas escadas de acesso aos barcos. |
Observações
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*1 Abertura do procedimento de classificação conjunta do Complexo Ferroviário do Barreiro, constituído pelos edifícios das Oficinas do Caminho-de-Ferro (Estação Primitiva) (v. IPA.00006631), a Estação Ferroviária e Fluvial do Sul e Sueste, a Rotunda das Máquinas Locomotivas, o Bairro Ferroviário (v. IPA.00011801) e seis locomotivas, um loco-trator, uma automotora e três carruagens, no Barreiro, União das Freguesias do Barreiro e Lavradio, concelho do Barreiro, distrito de Setúbal ; *2 Muitos dos ornatos da estação foram obtidos nas próprias oficinas dos Caminhos de Ferro do Barreiro; *3 Esta obra foi por muito tempo julgada de execução impossível por falta de fundamentos sólidos para os alicerces, opinião compartilhada por alguns engenheiros estrangeiros. O desenvolvimento do Barreiro ficou incondicionalmente ligado à construção da Estação Fluvial e ao Terminal Ferroviário de Sul e Sueste. |
Autor e Data
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Albertina Belo 1999 |
Actualização
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Paula Tereno 2016 |
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