Capitania do Porto de Aveiro / Casa dos Arcos

IPA.00000606
Portugal, Aveiro, Aveiro, União das freguesias de Glória e Vera Cruz
 
Antigo moinho de Maré posteriomente ampliando a unidade de moagem industrial, com decoração Arte Nova. As diferentes utilizações foram alterando o seu perfil original, culminando na estrutura actual, onde as referências neoclássicas e Arte Nova são visíveis nas modinaturas e frontões de remate. O enquadramento e o sistema estrutural, arcos sobre estacas, fazem deste imóvel um dos mais importantes da cidade.
Número IPA Antigo: PT020105120013
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Extração, produção e transformação  Moagem    

Descrição

Planta rectangular, massa simples e cobertura em telhado de 4 águas. Assenta sobre arcos, que entram dentro das águas da Ria. Varandas em arco abatido num varandim corrido, em serralharia artística com motivos florais. O segundo piso possuiu janelas e somente uma varanda em arco abatido, com os varandins em serralharia igual a de baixo. O remate do edifício é feito por modilhões, e ao centro um triângulo com dois arranques de voluta. A fachada lateral esquerda está voltado para a rua principal, cujo lado direito tem uma janela no primeiro piso com um frontão a rematar a parte superior. A porta de entrada está ornamentada, nos postigos e na bandeira, com gradeamento de temática floral. A mesma porta está encimada por um pequenos painel em azulejo azul e amarelo com data da última intervenção realizada - 1918. O piso seguinte possui à direita uma janela em arco abatido e remate com modilhões, arranque de voluta e grinalda de flores em azulejo. O lado esquerdo é mais alto e destaca-se do outro por formar um torreão rematado em volta por modilhões. A janela do torreão, em arco abatido, está ornamentada por um painel de azulejos onde predomina a temática marítima. Um portão, mais à esquerda, decorado com gradeamento de temática Arte Nova , dá acesso à fachada posterior. A fachada lateral direita, apenas possui uma porta e um simples varandim em metal de acesso à Ria onde está implantada. Na fachada posterior, as janelas estão voltadas para a entrada. Actualmente, apenas existem as paredes exteriores, tendo sido integralmente demolido o interior.

Acessos

Cais do Cojo, Rua Viana do Castelo, nº 37, Avenida Dr. Lourenço Peixinho, n.º 2.

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto nº 67/97, DR, 1ª Série-B, nº 301, de 31 de dezembro 1997

Enquadramento

Ergue-se no centro histórico (v. PT020105120075), com a fachada principal voltada para Praça Humberto Delgado e sobre o Canal do Cojo que chegou a ser designado como Ribeira das Azenhas, em face do elevado número daqueles engenhos que se concentraram ao longo das suas margens. Dos dois lados da sua margem erguem-se edifícios de grande valor histórico e cultural.

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Extração, produção e transformação: moagem

Utilização Actual

Política e administrativa: assembleia municipal

Propriedade

Pública: estatal

Afectação

Câmara Municipal de Aveiro

Época Construção

Séc. 15 / 19 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

Joaquim José de Oliveira (1º piso) (1830); ARQUITECTO: Francisco Augusto Silva Rocha, projectista (2º piso)

Cronologia

1406, 8 de Janeiro - data de um documento da chancelaria de D. João I fazendo referência ao edifício, autorizando o escrivão da câmara do monarca a fazer em Aveiro umas "moendas num esteiro do mar que entra pela parte do dito lugar, acima da dita ponte, que moesse com água do mar"; 1449, 06 de Julho - data da carta de doação de D. Afonso V ao conde de Odemira, que ficou na posse das casas e azenhas, que antes tinham pertencido ao Infante D. Pedro; Séc. 15 / 16 - com a expansão ultramarina e consequente abandono da agricultura, as azenhas do Cojo entram em ruína; 1685 - a obstrução da barra trouxe dificuldades à pesca e navegação marítima, caindo Aveiro em decadencia; 1700 - as azenhas encontravam-se na posse de António de Távora Noronha e Leme, estando o edifício totalmente arruinado (*1); 1808 - após várias tentativas a Barra nova de Aveiro ficou aberta, utilizando bastante da pedra das antigas muralhas medievais; 1830 - José Ferreira Pinto Bastos, fundador da Fábrica da Vista Alegre compra as ruínas, dando início a reconstrução do edifício reactivando o moinho de maré para servir de apoio à fábrica de porcelanas; as obras do 1º piso «Casa dos Moinhos» foram executadas por Joaquim José de Oliveira (*2), tendo sido instalada uma caldeira; séc. 19 - o moinho não produziu o resultado esperado e foi abandonado; na tentativa de rentabilizar o engenho, o proprietário tentou aproveitar a caldeira para a construção de uma salina, tendo sido igualmente abandonado; Mendes Leite adquiriu a Ferreira Pinto Bastos toda a zona do ilhote e propriedades anexas; teendo tido utilizações variadas, nomeadamente como depósito de sal; 1856 / 1858 - foi depósito de chumbo das minas do Braçal e do Palhal; 1858 - foi depósito de carvão; 1859 - serviu como armazém para embalagem de laranjas destinadas à exportação para o Reino Unido; 1866 / 1875 - instalação da composição e tipografia do jornal O Distrito de Aveiro; 1888 - com a entrada da industrialização em Portugal, o edifício foi adaptado a fábrica de descasque de arroz e moagem de de milho, pelo Dr. José Francisco Lourenço de Almada Negreiros; que manda instalar uma máquina a vapor com a potência se 80 cavalos e que movia dois moinhos que produziam 14 alqueires de milho por hora; 1893 - foi criado por Decreto a Escola de Desenho Industrial Fernando Caldeira; 1896 - era proprietário da agora chamada "Casa dos Arcos", o brasileiro João Pedro Soares que aí instalou uma tanoaria; nesse ano, Francisco Silva Rocha (1864-1957), arquitecto, professor de desenho e director da referida escola industrial, casa com D. Deolinda Augusta Soares, filha do proprietário do edifício; esta ligação irá permitir-lhe concretizar o velho sonho de construir um edifício para a Escola Industrial; a escola seria mandada construir pelo Ministro da Cultura António Arroio amigo e admirador de Silva Rocha, que para o efeitou ampliou com um 2º piso, instalação da «Escola de Desenho Industrial»; a Casa dos Arcos; 1903, 3 de Novembro - inauguração da escola *3; 1912 - por divergências entre o proprietário e a Câmara Municipal, chegou a pôr-se a hipótese de o edifício ser cedido para a agência do Banco de Portugal, e várias outras instituições tentaram adquirir o imóvel; 1913 / 1918 - época de funcionamento da Escola Industrial; 1918 - o edifício e o terreno anexo são vendidos a um comerciante, António Alves Videira; 1918 - inscrição em painel de azulejos, na porta lateral esquerda, da data da Escola Industrial; 1919 - é vendido à Companhia Aveirense de Navegação e Pescas, SARL; 1921 - esta empresa hipoteca o imóvel, bem como outros bens (navios, etc.); 1922, 14 fevereiro - o cancelamento da hipoteca, com pagamento das dívidas à Caixa Geral de Depósitos, libertam o edifício; 1925, 14 de Agosto - o comerciante e armador Alfredo Esteves, membro da Comissão Consultiva da Empresa de Navegação e Exploração de Pesca, Lda., compra o imóvel à sua proprietária, então em liquidação; o edifício foi também sede do Clube do Galitos; 1925 - como resultado de uma ordem de expropriação (Portaria n.º 301 de 23 de Dezembro de 1923) o imóvel foi vendido pelo comerciante e armador Alfredo Esteves ao Ministério da Marinha, passando desde então a servir e a ser conhecido como o edifício da Capitania do Porto de Aveiro, e também residência do capitão do porto; 1990, década - construção, junto à fachada posterior, de edifício destoante e de cércea mais elevada, que abalou estruturalmente a capitania e descaracterizou a envolvência; 1992, Setembro - as obras em curso no Porto de Aveiro, que transferem para a zona da Gafanha da Nazaré e Forte da Barra os principais terminais portuários e a sede da Junta Autónoma do Porto de Aveiro, levam a Capitania a transferir também para aquele local as suas instalações, deixando apenas no edifício de Aveiro a residência do capitão do porto; 1993 / 1994 - esteve instalada no 1º piso do edifício, a título precário, a Associação de Municípios da Ria de Aveiro (AMRIA); 1997, 18 de Mar. - despacho de homologação como IIP; 1999, 10 Fevereiro - elaboração da Carta de Risco do imóvel pela DGEMN; 1999 / 2000 - obras gerais de adaptação ao novo uso; 2009, 2 outubro - proposta da DRCCentro para a ZEP conjunta do Conjunto arquitectónico constituído pelos edifícios da "Casa Paris"; "Ourivesaria Matias" e "Pastelaria Avenida" e da antiga Capitania do Porto de Aveiro; 2011, 7 novembro - parecer favorável da SPAA do Conselho Nacional de Cultura, devendo ser fixada uma ZEP para cada imóvel classificado; Despacho do Director do IGESPAR a devolver o processo à DRCCentro para formalizar propostas de ZEP individuais.

Dados Técnicos

Paredes autoportantes, sistema estrural sobre estacas

Materiais

Calcário, azulejo (painéis), ferro (varandins e serralharia das portas)

Bibliografia

NEVES, Amaro, A «Arte Nova» em Aveiro e seu Distrito, Aveiro, CMA, 1998; Aveiro - Cidade Arte Nova (Guia e CD-ROM), Câmara Municipal de Aveiro, 1999; http://moinhosdeportugal.no.sapo.pt/Texto%20Aveiro%20Capitania.htm (10-12-2007).

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID, Carta de Risco; CMA: Arquivo Fotográfico, Gabinete de Património; Marinha, DI; IPPAR

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSID, Carta de Risco; Marinha, DI; IPPAR

Intervenção Realizada

Marinha: 1998 - contenção de fachadas, colocação e de micro estacas, demolição total do interior *4; CMA: 1999 / 2000- reconstrução do interior para instalação da Assembleia Municipal.

Observações

*1- "Os seu parentes, anteriores proprietários, haviam permitido que a caldeira se entulhasse, que o telhado da casa da azenha ruísse e ficassem apenas as paredes de pé. O edifício era de um só piso, com as janelas viradas para Oeste, e assentava em arcos por onde passava a água que fazia mover as pás."; *2 - Joaquim José de Oliveira "manterá as pequenas abobadas formando vãos em arco, onde as rodas activavam as mós colocadas no amplo salão interior do edifício. Por erro de cálculo nas dimensões da caldeira ou pelo estado de assoreamento em que se encontravam os braços da ria, originado pelo mau estado da barra, o moinho não produziria o resultado esperado e foi abandonado."; *3 - Para realojar a escola em habitação condigna, Silva Rocha transformou o velho casarão num belo edifício, aumentando-lhe um piso e dando-lhe um ar apalaçado, sem contudo, destruir os arcos do moinho de maré. O resultado foi um harmonioso conjunto de características arte-nova. A inauguração fez-se com pompa e circunstância no dia 3 de Novembro de 1903."; *4 - "Durante as obras foi possível observar no interior as zonas da construção primitiva e as sucessivas alterações introduzidas, nomeadamente as duas portas intercaladas por uma janela em cada uma das fachadas laterais do edifício bem como a lareira onde os trabalhadores aqueciam as suas marmitas, uma vez que, sujeitos aos horários das marés, eram obrigados a longas permanências no moinho. Também foram observadas, junto às janelas da fachada poente (a da Ria), sobre a arcaria, a parte superior das abóbadas de pedra que albergavam os rodízios, cobertas que estiveram, durante décadas, por um piso de enchimento de tijolos e cimento. Eram também visíveis, nesta fase da obra, os orifícios por onde passava o freio que ligava as rodas das mós. Todo o edifício correspondente à primitiva área do moinho apresenta ainda, sob uma placa de material de enchimento, o lajeado em pedra em excelente estado de conservação." ( http://moinhosdeportugal.no.sapo.pt).

Autor e Data

Anouk Costa 1998 / Luísa Falcão 1999

Actualização

Cecília Matias 2009
 
 
 
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