Convento e Igreja da Graça de Évora
| IPA.00005852 |
Portugal, Évora, Évora, União das freguesias de Évora (São Mamede, Sé, São Pedro e Santo Antão) |
|
Arquitectura religiosa, renascentista, maneirista, barroca. Igreja conventual com pórtico, o claustro, dependências anexas, Capítulo, refeitório e dormitório grande renascentistas. Fachada maneirista, com muitos elementos ornamentais que parecem tirados dos tratados de Segredo e de Sérlio; a sua conjugação e a sua composição geral revelam uma revolucionária transgressão maneirista, precedendo, nas soluções globais, o despontar do estilo em Portugal (BRANCO). Considerado o primeiro exemplar de arquitectura da Renascença construído no Alentejo, com influências paladianas e formas vitruvianas renovadas na renascença. O prospecto exterior do conjunto é impressionante e singular; original na arquitectura portuguesa pela sua massa escura de granito trabalhado, volumes e estilo. Exemplo único na arquitectura portuguesa da época, são também as quatro imponentes esculturas de granito que segundo a tradição representam os primeiros mártires da Inquisição queimados em Évora no ano de 1543. As janelas perspectivadas e o friso do altar do presbitério constituem exemplos máximos da renascença portuguesa. Original integração da galilé na fachada. Enquanto no primeiro registo da fachada principal tudo parece reduzido ao essencial, no segundo, ao nível do coro-alto, tudo é "invenzione": a profusão decorativa, a desarticulação da composição, a solução do duplo frontão no coro que se anticipa à sua utilização e divulgação por Palladio; a primitiva abóbada de Miguel de Arruda, de canhão com lunetas de penetração, era ao modo da Igreja de Jesus de Roma (BRANCO). |
|
Número IPA Antigo: PT040705210028 |
|
Registo visualizado 8630 vezes desde 27 Julho de 2011 |
|
|
|
Edifício e estrutura Edifício Religioso Convento / Mosteiro Convento masculino Ordem dos Eremitas de Santo Agostinho - Gracianos
|
Descrição
|
Planta longitudinal, irregular, composta pela igreja de nave única antecedida por nártex, claustro adossado a S., dependências conventuais organizadas em redor do mesmo e torre campanário a SO. entre o claustro e a igreja. Volumes articulados, massas dispostas na horizontal. Cobertura diferenciada em telhado de 2 águas na igreja claustro e em terraço. IGREJA: fachada principal orientada, de dois registos e pano único delimitado por cunhais apilastrados dispostos angularmente; inferiormente 4 colunas toscanas, 2 adossadas, suportando entablamento; dos lados duas colunas iguais suportando idêntico entablamento; no 2º registo frontão triagular assente em pilastras angulares no prolongamento das inferiores; entre elas, de cada lado dois grandes rosetões gomeados; ao centro janelão, sobreelevado ao nível do tímpano, perspectivado, enquadrado por duas colunas jónicas, adossadas; as ombreiras da janela são constituídas por duas colunas jónicas idênticas, mas de menores dimensões, num escalonamento de volumes; verga arquitravada sobreposta de vieira estilizada; no tímpano dos lados, panóplias com mascarões; rematando o janelão pequeno frontão rasgado por óculo, com dois anjos nas vertentes e no vértice cruz de pedra sobre base rectangular; lateralmente, sobre as pilastras, quatro grandes esculturas sentadas, representando atlantes, empunhando lanças de ferro, apoiadas em globos de fogo; no friso da colunata inferior está gravada a legenda CONDITVM SVB IMPERIO DIVI JOAN III PATRIS PATRIAE *2; nartex espaçoso, lajeado por placas quadradas de granito; conserva vestígios da arquitrave e do arranque da abóbada destruída por desabamento; entrada principal, de arco pleno, com duas colunas caneladas, óculos vasados e cimalha sobrepujada por tabelas de volutas de enrolamento, em cujo dintel se lê a inscrição: VIRGINI GRATIAVM SACR: nos lados rasgam-se nichos *3 de jambas perspectivadas, envolvendo plintos, voltados ao observador, idealmente colocado ao centro do nartex. No lado N. fica a porta que comunicava ao coro, integrada no corpo primitivo da fachada, composta por pilastras de caneluras e frontão triangular ornamentado por desenho perolado. O campanário, de granito, que se atinge por escada helicoidal de cúpula semi-esférica, domina toda a fachada conventual. Compõe-se de corpo inferior, reservado a inscrição, e de espadana filipina. É construído em cantaria aparelhada, com três olhais redondos, apilastrados e rematado por frontão triangular, ladeado por pedestais encimados por esferas. A fachada principal do convento é um corpo composto por onze tramos de contrafortes agigantados, de pedra, em andares. Um friso recticulado, clássico em toda a fachada do edifício. Ainda na fachada principal vê-se o corpo correspondente ao pavilhão do Noviciado, Dormitório dos teólogos e Enfermaria, com cobertura de quatro águas, cunhais aparelhados. Este pavilhão ocupa toda a faceira SE do edifício. INTERIOR: Igreja - nave de quatro tramos, de planta rectangular e tecto de caixotões. Cobertura interior nivelada, da nave à capela-mor. No alçado do lado do Evangelho e no primeiro tramo a partir do presbitério, uma fresta de volta redonda. No alçado S. do coro e de acesso à portaria, rasga-se um portal granítico e, na correspondência do piso alto, uma janela arquitravada, actualmente cega. Capela-mor, antecedida de arco triunfal de mármore com proporções exageradas relativamente à escala do interior do edifício; planta quadrangular e cobertura em abóbada. Duas janelas na parede fundeira e uma na lateral N. de mármore trabalhado em baixos-relevos, com colunelos coríntios, estriados, de tabelas perspectivadas com elementos esculpidos losângicos, circulares e rectangulares e uma série de cabeças humanas com ornamentação bélica e triunfal e mítica, numa obra artística da renascença. As duas janelas do fundo estão centradas pela cruz de Cristo. O altar-mor tem friso ornamentado por panóplias simples. O claustro, de planta rectangular, tem três tramos por lado, de arcos geminados, de volta perfeita, emoldurados de colunas toscanas no piso térreo e de colunatas arquitravadas no piso superior. Os tramos são marcados por fortes pilastras de andares, salientes, de cantaria aparelhada. Decoração de ornamentos clássicos de caneluras, triglifos e métopas no primeiro andar. Ligados ao corpo do claustro existem a sacristia, sala do capítulo e refeitório, dependências renascentistas. A sacristia, ligada à capela-mor apresenta a porta de granito de padieira horizontal e jambas emolduradas, sendo iluminada no interior por janelas rectangulares de cantaria. Tem planta rectangular, alongada, de quatro tramos e cobertura em abóbada com nervuras cruzadas formando caixotões geométricos. O refeitório, a S. ao fundo do claustro e em plano inferior, é antecedido por sala quadrangular de alto pé direito e cobertura em abóbada artesonada crescente de mísulas de chanfros ornamentados por volutas com enrolamento. O salão, actualmente ocupado pela sala de convívio da Messe dos oficiais, tem planta rectangular, é iluminado por janelas de chanfraduras quinhentistas, com cobertura em abóbada de seis tramos e artesonado idêntico ao da sala antecedente; escadaria de acesso ao piso superior, com paineis de azulejos padronados monocromos. Junto à portaria fica o Capítulo. O Dormitório ocupa o corpo do primeiro andar do edifício; compõe-se da galeria em planta de cruz latina no sentido N. - S., com tecto em abóbada de berço, iluminada por grandes janelas de sacada gradeadas, com término no ante coro da igreja, dependência de planta octogonal com cobertura hemisférica decorada por caixotões geométricos assentes em arcos de volta perfeita. |
Acessos
|
Largo da Graça; Travessa da Graça |
Protecção
|
Categoria: MN - Monumento Nacional, Decreto de 16-06-1910, DG n.º 136 de 23 junho 1910 / ZEP, Portaria, DG, 2.ª série, n.º 249 de 21 outubro 1952 (frontaria) / Incluído no Centro Histórico da cidade de Évora (v. PT040705050070) |
Enquadramento
|
Urbano, inserido no Centro Histórico, na pendente S. da encosta da cidade, entre as duas cercas de muralhas; frontaria para o largo, sendo o antigo convento rodeado por um jardim gradeado que limita a rua pública. |
Descrição Complementar
|
|
Utilização Inicial
|
Religiosa: convento masculino |
Utilização Actual
|
Religiosa: igreja / Comercial: messe de oficiais |
Propriedade
|
Pública: estatal |
Afectação
|
Ministério da Defesa Nacional |
Época Construção
|
Séc. 16 / 17 / 18 |
Arquitecto / Construtor / Autor
|
ARQUITECTOS: Miguel de Arruda, Diogo de Torralva (projecto fachada principal, atr.) e Manuel Gomes (séc. 17); CARPINTEIROS: mestres Francisco Moniz e Miguel Duarte; MESTRES DE PEDRARIA: Nicolau Chanterenne, Mestre Frei Luís de Montoya, Mateus Neto e Pixim; PEDREIRO: Balandrau e Luís Gomes, mestre pedreiro; PINTOR: Francisco Botado |
Cronologia
|
1511 - já existia o convento da Ordem dos Eremitas Calçados de Santo Agostinho, pois nesse ano ali se celebrou capítulo provincial em que foi eleito prelado da província portuguesa Mestre Ambrósio Brandão; 1520 - outorga do alvará de fundação ao convento pelo Bispo da Diocese D. Afonso de Portugal, com anexação da ermida de Nossa Senhora da Graça, já existente no Séc. 15 e cuja fundação remonta ao tempo de D. Sancho I ( segundo a tradição estabelecida pelos cronistas da Ordem dos Agostinhos ) e que veio a conceder o patronímico ao convento; 1524 - doação régia à Ordem de terras situadas entre o Rossio de São Brás e o rio Xarrama destinadas a uma nova e mais ampla instalação; no entanto, e devido à pouca segurança existente no local, por se encontrar extra-muros, resolveu-se ampliar o edifício já existente; 1532 - Visita régia à obra de ampliação do convento e doação do mesmo, como padroado perpétuo, a D. Francisco de Portugal, primeiro Conde de Vimioso; Séc. 16, finais 1º terço - Miguel de Arruda dirige as obras de ampliação do edifício; 1540 - a igreja nova já estava ao culto; oferta à Igreja de relíquias santificadas, pela rainha Dona Catarina; 1541 - D. Francisco de Portugal estabeleceu, com a comunidade o contrato de doação da capela-mor para jazido da sua família, compromisso outorgado pelo rei e pelo Papa; 1542 - conclusão do claustro; 1546, c. de - conclusão do refeitório, dormitório e outras dependências conventuais; 1557, após - Padre mestre Frei Luís de Montoya, director das obras após a morte de Dom João III; 1573 - execução das grades do coro; 1592 - obras importantes em todo o imóvel; Mateus Neto e Pixim, mestres de pedraria aí trabalham; 1596 - concertos no interior; 1599 - construção da adega do convento; Séc. 16 - Nicolau Chanterenne trabalha na escultura das janelas do presbitério e nas quatro esculturas da frontaria da igreja (conject.); 1603 - 1604 - ruína da abóbada de Miguel de Arruda sendo então reerguida abóbada de canhão com lunetas de penetração, sob risco de Pero Vaz Pereira, arquitecto do Duque de Bragança, com obra dirigida por Mestre Manuel Gomes; 1604 - 1608 - empreitada de obras em todo o convento, dirigida pelo arquitecto Manuel Gomes, para acabamentos dos terraços do claustro, o campanário, o dormitório grande e acabamentos igreja; Balandrau, pedreiro e Francisco Moniz e Miguel Duarte, mestres de carpintaria, também participaram nas obras desta empreitada; na igreja fez-se o assentamento das vidraças, obras de carpintaria, pintura e ferraria, ladrilhamento, douramento dos espaldares do coro, execução do tapavento, montagem do sepulcro no altar mor; 1622 - conclusão do altar de Santa Luzia; 1635 - arranjo do alpendre da portaria do convento que era de cobertura de madeira entalhada e pintada; 1650 - oferta do retábulo de Santa Luzia; 1652 - douramento do retábulo de Santa Luzia; 1655 - fundição do sino velho; 1658 - Francisco Botado, pintor eborense, executa o retábulo de Santa Mónica; 1663 - o edifício é muito afectado pelos bombardeamentos de artilharia da guerra da Restauração; a igreja ficou arruinada e foi pilhada pelos soldados espanhóis; 1663, Outubro - início da grande reforma, aquisição da imagem de Jesus Cristo para a confraria do Senhor Jesus dos Passos; 1665 - aquisição das imagens de Santa Mónica, e São João e restauro das de São Guilherme, São Neutel e Santa Rita de Cássia; 1667 - ladrilhamento da igreja e reboco do interior; montagem do órgão da comunidade e colocação no adro, de um cruzeiro de pedra; 1669 - conclusão dos bancos, estante e porta de talha do coro; execução do painel representando a Ceia do Senhor para colocação no sepulcro; 1675 - 1676 - execução dos estuques do alpendre da igreja e da portaria; 1680 - melhoramento do chafariz do claustro com uma pilastra de mármore ornamentada por esguichos em bronze; 1682 - execução de novas vidraças na capela mor; pinturas das grades do cruzeiro, fundição do sino grande que se encontrava quebrado; 1683 - construção do pórtico actual do convento, primeiro com telhado de quatro águas, mais tarde transformado em terraço de comunicação ao ante-coro; a obra foi dirigida por Luís Gomes, mestre pedreiro, tendo sido executada integralmente por escravos; 1686 - empreitada de restauro e ampliação do coro que passou a abranger os corpos do primeiro tramo da igreja, melhoramento do cadeirado e conclusão do douramento do retábulo da capela-mor; 1689 - 1691 - apeamento da abóbada antiga e renovação integral, recomendada pelos mestres de arquitectura da cidade; nesta altura foi feito o nivelamento de empenas de todo o edifício, abertura de novas janelas e construção de duas meias abóbadas de penetrações sobre os cantos da capela-mor; renovação do órgão com cobertura de dossel em talha lavrada; 1692 - fundição do sino de São João de Sahagun; 1700 - 1711 - ladrilhamento dos dois corpos do claustro; 1700 - reparação do altar de São Nicolau de Tolentino; 1706 - fundição do sino grande do campanário, do lado da igreja; 1709 - execução da nova imagem de Nossa Senhora da Graça; 1710 - execução das três novas vidraças da capela mor; 1711 - reparação de coberturas da igreja, abertura da escada de ligação entre os dois dormitórios do convento, obras na sacristia e dormitório novo, restauro do mirante - campanário; 1712 - execução do trono de Nossa Senhora da Graça; 1834 - secularização do convento, a partir desta data funcionou na igreja uma escola primária; 1858 - adaptação de parte do imóvel a fábrica de rolhas de cortiça; 1884 - desabamento da cobertura da igreja; a partir desta data foi ocupado por uma brigada de infantaria; 1955 - decisão de adaptar o convento a Messe militar; nos seus anexos instalaram-se, sucessivamente, a Cooperativa dos Oficiais do Exército, o posto rádio e a farmácia militar; 1957 - o monumento sofreu grande derrocada no corpo dos dormitórios, noviciado e enfermaria superiores, o que agravou o seu estado de ruína; Séc. 20, década de 60 - abóbada da igreja recoberta com tecto de madeira, de masseira; 2007, Maio - elaboração de Carta de Risco pela DGEMN. |
Dados Técnicos
|
Estrutura de paredes autoportantes, com tecto em caixotão (Igreja) |
Materiais
|
Alvenarias rebocadas e caiadas, cantarias em granito e mármore, madeira nas caixilharias dos vãos, retábulos de altares, cobertura interior da igreja, telhas cerâmicas na cobertura exterior. |
Bibliografia
|
BATTELLI, Guido, L'Architettura del Rinascimento in Portogallo, L'Arte, fasc. 3, 1938; ESPANCA, Túlio, Inventário Artístico de Portugal - Concelho de Évora, vol. 1, Lisboa, 1966; AUBERT, Marcel, Nouvelle Histoire Universelle de l'Art, T. 2, Paris, 1982; MOREIRA, Rafael, Arquitectura in Os Descobrimentos Portugueses e a Europa do Renascimento. Arte Antiga I, Lisboa, 1983; DIAS, Pedro e MARKL, Dagoberto, A Arquitectura e a Escultura Renascença e Maneirista in História de Portugal, Dir J. Hermano Saraiva, Vol. 2, 1986; KUBLER, George, A Arquitectura Portuguesa Chã entre as Especiarias e os Diamantes 1521 - 1706, Lisboa, 1988; BRANCO, Manuel, Datação e autoria da Igreja da Graça de Évora e do túmulo de D. Afonso de Portugal, Cadernos de História da Arte, Lisboa, 1991. |
Documentação Gráfica
|
IHRU: DGEMN/DREMS, DGEMN/DSID, Carta de Risco |
Documentação Fotográfica
|
IHRU: DGEMN/DREMS, DGEMN/DSID, Carta de Risco |
Documentação Administrativa
|
IHRU: DGEMN/DSID, Carta de Risco, DGEMN/DREMS |
Intervenção Realizada
|
DREMS: 1955 - 1956 - obras de restauro e adaptação a Messe de Oficiais; 1959 - obras de adaptação a Messe de Oficiais e restauro da igreja; 1960 - 1961 - restauro da cobertura da igreja; continuação obras restauro do edifício e adaptação a Messe de Oficiais; 1964 - obras de consolidação na Messe de Oficiais; 1965 - restauro da igreja; 1965 - obras na Messe de oficiais; 1973 - 1974 - trabalhos de construção civil - Casa das Máquinas dos elevadores e depósito de gás; posto de transformação e casa das máquinas do ar condicionado; arranjo da cerca; trabalhos urgentes de valorização das fachadas e rectificações no interior; 1975 - conclusão obras de beneficiação exterior; 1976 - reparação de portas, caixilhos e rebocos; 1977 - reparação de canalizações; 1978 - reparação do pavimento da entrada da igreja; 1982 - reparação de cantarias da fachada; 1983 - 1984 - limpeza de paramentos de cantaria. |
Observações
|
*1 - em estudo no IPPAR o alargamento da classificação ao convento e corpo da igreja; *2 - os dois frontões eram ornamentados nos frisos por pequenas rosetas, sistemeticamente removidos em época indeterminada, mas talves cumprindo alguma determinação inquisitorial de quem achasse a fachada demasiado festiva; a cruz da frontaria foi refeita recentemente; *3 - os plintos continham as imagens de Santo Agostinho e de Santa Mónica. |
Autor e Data
|
Manuel Branco 1993 / Paula Amendoeira 1998 |
Actualização
|
|
|
|
|
|
| |