Chafariz do Intendente / Chafariz do Desterro

IPA.00004055
Portugal, Lisboa, Lisboa, Santa Maria Maior
 
Arquitectura infraestrutural, tardo-barroca. Chafariz urbano, implantado num pequeno largo, ligado à distribuição de água a Lisboa, através de um ramal das Águas Livres, do tipo caixa de água, de planta rectangular e corpo terminado em entablamento e platibanda plena de cantaria, almofadada, rematado por pináculos piramidais; o centro remata em espaldar curvo, com enrolamentos, sobrepujado por frontão interrompido por urna e esfera armilar com brasão nacional, num esquema muito semelhante ao Chafariz da Junqueira (v. PT031106020373). Face principal em cantaria, formando espaldar tripartido, com pano central definido por estípides e os laterais por pilastras rusticadas; os panos apresentam vários painéis almofadados, com bicas circulares que vertem para tanques semicirculares, de bordos boleados, que centram um tanque rectangular. Cada uma das fachadas laterais é rasgada por porta entaipada e janela quadrada, moldurada e gradeada. Chafariz integrado na denominada quarta linha de abastecimento de Lisboa, sendo abastecido pela Galeria do Campo de Santana que, por sua vez, também servia o Chafariz na Rua de São Sebastião da Pedreira (v. PT031106501077), o de Entrecampos, o da Cruz do Tabuado, o Chafariz do Campo de Santana e o do Socorro. O projecto inicial era mais sumptuoso do que o que foi edificado. Encontrava-se adossado a edifício, tendo sido transferido para um ponto central, onde surge isolado, pelo que foram entaipadas as portas das faces laterais e rasgado um acesso na posterior. É, a par do Chafariz da Esperança (v. PT031106370029), apesar deste ser tipologicamente diferente, o único com espaldar tripartido.
Número IPA Antigo: PT031106310126
 
Registo visualizado 5822 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Estrutura  Hidráulica de elevação, extração e distribuição  Chafariz / Fonte  Chafariz / Fonte  Tipo espaldar

Descrição

Chafariz de planta rectangular simples, integrando arca de água, com cobertura em terraço e as faces flanqueadas por pilastras rusticadas, excepto na face principal, com gigantes em silharia fendida e pilastras toscanas, rematado por entablamento toscano e platibanda almofadada, a da face principal com o centro em ressalto e rematado por pináculos piramidais, assentes em plintos paralelepipédicos. Fachada principal em cantaria de calcário lioz, de espaldar tripartido definido por estípides almofadadas, assentes em plintos paralelepipédicos, tendo, sobre a platibanda, ao centro, espaldar flanqueado por enrolamentos e tendo almofada côncava contendo elemento campaniforme e fitomórfico, rematado frontão de volutas interrompido por urna, sustentando esfera armilar sobreposta por escudo com as armas de Portugal e coroa encimada por cruz. A zona central do espaldar ostenta grande almofada quadrangular côncava contendo dois semicírculos recortados relevados centrando florão, encimada por uma outra almofada com cartela rectangular recortada tendo a inscrição "AGOAS LIVRES ANNO DE 1824". Os panos laterais, seccionados em dois registos por friso, o inferior mais alto, possuem almofadas rectangulares verticais, de ângulos recortados, as inferiores adaptadas à configuração das bicas circulares e salientes, que vertem para tanques semicirculares, de bordos e bases boleados, cada um deles com duas réguas metálicas para apoio do vasilhame; Fachadas laterais e posterior em alvenaria rebocada e pintada de azul claro, percorridas por embasamento de cantaria, as laterais delimitadas por moldura rectangular e rasgadas por porta de verga recta, entaipada, e janela quadrada, moldurada e gradeada. A fachada posterior é rasgada por portal de arco abatido, com fecho saliente, semi-entaipado criando porta mais pequena de verga recta, encimada por janela rectilínea, moldura e gradeada.

Acessos

Rua da Palma; Calçada do Desterro; Rua Nova do Desterro

Protecção

Categoria: MN - Monumento Nacional, Decreto n.º 5 DR, 1.ª série-B, n.º 42 de 19 fevereiro 2002 *1 / IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 8/83, DR, 1.ª série, n.º 19 de 24 janeiro 1983

Enquadramento

Urbano, voltado para uma das vias de circulação interna da cidade de maior tráfego automóvel, adaptado ao declive do terreno, implantado sobre soco nivelador, acedido por três degraus calcetados, enquadrado por passeio largo, pavimentado em calçada à portuguesa, possuindo, frontalmente, a representação de uma caravela, e posteriormente, composição geométrica, protegidos por mecos de cantaria. A sua face posterior adossa-se a uma conduta de ventilação da rede viária do metropolitano. Na proximidade erguem-se diversos edifícios com interesse arquitectónico, destacando-se, à esquerda, a Garagem Liz (v. PT031106310137), à direita, o Edifício situado na Avenida Almirante Reis nº 1 a 1 - C (v. PT031106060130), o Pátio da Bica da Calçada do Desterro (v. PT031106310204) e o conjunto de dois edifícios na mesma Calçada do Desterro (v. PT031106310166), o Hospital do Desterro (v. PT031106310398), o Prédio de gaveto entre a Avenida Almirante Reis nº 2 a 2 k e o Largo do Intendente Pina Manique nº 1 a 6 (v. PT031106060123).

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Hidráulica: chafariz

Utilização Actual

Cultural e recreativa: marco histórico-cultural

Propriedade

Pública: municipal

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 19

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITECTO: Henrique Guilherme de Oliveira (1819); Honorato José Correia de Macedo e Sá (1819) *2

Cronologia

1784 - início da construção de uma galeria que saía do Aqueduto das Águas Livres, no sítio da Cruz das Almas, e se estendeu ao Campo de Santana, que viria a abastecer este chafariz; 1799 - o Intendente Geral da Polícia, Diogo Inácio de Pina Manique, dirigiu uma carta ao Mordomo-mor da Corte e Reino solicitando a construção de um chafariz para satisfazer as necessidades de abastecimento de água dos moradores da freguesia dos Anjos *3; 1810, década - foram propostos diversos projectos, nomeadamente dois do arquitecto Henrique Guilherme de Oliveira *4 e um do arquitecto Honorato José Correia de Macedo e Sá; 1818, 1 Julho - a Direcção da Real Fábrica das Sedas e Obra das Águas Livres solicitou ao Intendente Geral da Polícia que enviasse a planta e alçados referentes à construção de um chafariz próximo do Palácio do Visconde de Manique, na freguesia dos Anjos; 2 Dezembro - portaria governamental dirigida à Direcção das Obras recusando um projecto para o chafariz do Intendente, exigindo que fosse mais simples e de menor despesa; 1819 - Henrique Guilherme de Oliveira executa um segundo projecto; feitura de um projecto de Honorato José Correia de Macedo e Sá, sendo ambos rejeitados; feitura de um projecto conjunto de Henrique Guilherme de Oliveira e de Honorato José Correia Macedo e Sá, que viria a ser aceite; 1823, 19 Fevereiro - publicação de um anúncio no "Diário do Governo", em que a Fábrica das Sedas e Obras das Águas Livres solicitava a todos os cidadãos que se apresentassem no dia 28 do mesmo mês, na Direcção, a fim de venderem géneros que pudessem ser úteis para a construção do chafariz no Largo dos Anjos, tais como: bastardo, lagedo, canos abertos, canos brocados, cal em pó e areia; 1 Março - provisão ordenando a construção do chafariz, orçado em 8 583$200 réis, adossado à Fábrica de Cerâmica da Viúva Lamego, mas que acabou por ser construído no Largo Intendente Pina Manique; 3 Maio - suspensão da obra pelo Governo, e na qual já se tinha gasto 2 340$306 réis; 1 Julho - reinício das obras; 24 Outubro - condução dos sobejos de água para a Horta do Desterro; 1824, 19 Julho - conclusão da obra pelo total de 8 862$668 réis; 1851 - era abastecido pelo chafariz nº 6 através de uma canalização paralela à bica nº 3; os sobejos foram conduzidos para o tanque das lavadeiras; 1910 - apeamento da coroa do chafariz, a qual ficou na posse da Câmara; 1917 - transladação do chafariz do Largo do Intendente, hoje ocupado pelo prolongamento da Fábrica de Cerâmica da Viúva Lamego, para a Rua da Palma, devido a exigências do tráfego automóvel, sobretudo relacionado com a passagem de eléctricos; 1931 - a bica que o fornecia, Bica do Regueirão dos Anjos, foi fechada por se encontrar contaminada com febre ictero-hemorrágica ou Doença de Weil, conforme relatório de Ricardo Jorge, sendo a água desviada para o esgoto; passou a ser fornecida pela rede pública; 1938, Março - segundo Norberto de Araújo, o chafariz estava adossado a um lavadouro municipal mais antigo; 1981, 4 Fevereiro - memória descritiva; 1990, década - reposição d coroa pela Câmara Municipal de Lisboa; a fachada posterior da arca de água encontrava-se adossada a quintal particular.

Dados Técnicos

Estrutura autoportante.

Materiais

Chafariz, pilastras, bicas, taças, frontão, platibanda, pináculos, esfera armilar, coroa e moldura dos vãos em cantaria de calcário; fachadas laterais e posterior rebocadas e pintadas; grades metálicas.

Bibliografia

ANDRADE, José Sérgio Velloso d', Memoria sobre Chafarizes, Bicas, Fontes e Poços Públicos de Lisboa, Belém, e muitos logares do termo, Lisboa, Imprensa Silviana, 1851; CRISTINO, Ribeiro, Estética Citadina, Edição actualizada e ilustrada da série publicada no "Diário de Notícias" de 1911 a 1914, Lisboa, 1923; BRITO, J. J. Gomes de, Ruas de Lisboa, Notas para a história das vias públicas lisbonenses, vol. I, Lisboa, 1935; PINHO, Bernardino de, Inventário das Minas, Poços, Furos e Cisternas da área da Cidade de Lisboa, in Boletim da Comissão da Fiscalização das Águas de Lisboa, II série, n.º 27, Lisboa, Ministério das Obras Públicas, 1946, pp. 39-60; PINTO, Luís Leite, História do Abastecimento de Água a Lisboa, Lisboa, 1972; CHAVES, Luís, Chafarizes de Lisboa (Arte e turismo), s.l., s.d.; ALMEIDA, D. Fernando de, Monumentos e Edifícios Notáveis do Distrito de Lisboa - Lisboa, vol. 1, Lisboa, 1973; CAETANO, Joaquim de Oliveira, Chafarizes de Lisboa, Sacavém, Distri-Editora, 1991; SANTANA, Francisco, SUCENA, Eduardo, Dicionário da História de Lisboa, Lisboa, 1994; FLORES, Alexandre M. e CANHÃO, Carlos, Chafarizes de Lisboa, Lisboa, Edições INAPA, 1999; www.ippar.pt, 8 Março 2007.

Documentação Gráfica

CML: Museu da Cidade de Lisboa

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSID-001/011-022-1648/4, DGEMN/DSARH-010/125-0092/01

Intervenção Realizada

PROPRIETÁRIO: séc. 20, meados - arranjo do passeio envolvente e colocação de mecos de cantaria, para impedir o estacionamento no local.

Observações

*1 - Por decreto do Ministério da Cultura (dec. nº 5/2002 de 19 de Fevereiro) foi alterado o Decreto de 16 de Junho de 1910, publicado em 23 de Junho de 1910 que designava o imóvel como "Aqueduto das Águas Livres, compreendendo a Mãe de Água", passando a ter a seguinte redacção: "Aqueduto das Águas Livres, seus aferentes e correlacionados, nas freguesias de Caneças, Almargem do Bispo, Casal de Cambra, Belas, Agualva-Cacém, Queluz, no concelho de Sintra, São Brás, Mina, Brandoa, Falagueira, Reboleira, Venda Nova, Damaia, Buraca, Carnaxide, Benfica, São Domingos de Benfica, Campolide, São Sebastião da Pedreira, Santo Condestável, Prazeres, Santa Isabel, Lapa, Santos-o-Velho, São Mamede, Mercês, Santa Catarina, Encarnação e Pena, municípios de Odivelas, Sintra, Amadora, Oeiras e Lisboa, distrito de Lisboa". A classificação como MN deveria revogar a classificação anterior, como IIP, o que ainda não se verificou. *2 - Conhece-se também um projecto do Arq. Honorato José Correia de Macedo e Sá, de maior simplicidade, mas, apesar disso, a complexidade rocaille da fachada levou à sua não aceitação, tendo sido substituído pelo projecto definitivo da autoria conjunta dos dois arquitectos. *3 - "(...) que na Freguesia dos Anjos há, de que se verifique a graça que a Raynha Nossa Senhora fez de ordenar à Real Junta das Fábricas e Inspecção das Agoas Livres, cuja resolução pára na mesma Real Junta para mandar erigir hum chafariz de Agoa de beber, de que necessitam os habitantes, não só da sobredita Freguesia; mas os das Freguesias de Socorro e S. Jorge, Cruz dos Quatro Caminhos, Bombarda, Olarias, Calsada de Santo André e todo o Bairro do Districto da Mouraria athé Penha de França. (...) declare a mesma Senhora que os sobejos do dito chafariz, se entreguem à minha Inspecção, para eu mandar por elle fazer um tanque na horta (sítio da zona do Desterro) para lavarem as lavadeiras com todas as comodidades, não só para o tanque mas para o estendal para poderem comodamente enxugar a sua roupa; pois V. Exª melhor que ninguém conhece que a maior parte dos habitantes desta Freguesia dos Anjos, Socorro, S. Lourenço, S. Christóvão e Pena, pelas muitas ruas escusas que tem, hé gente pobre e mizerável, e que necessitam deste socorro para poderem hir lavar a sua roupa e dos seus pobres filhos.", (in INA/TT: Arquivo do Ministério do Reino, maço 453, cf. FLORES, 1999, p. 26). *4 - um dos projectos de Guilherme de Oliveira apresenta-se adossado a um muro, com o chafariz dividido em cinco registos, por pilastras rusticadas e por colunas com tambores salientes e ornados por elementos fitomórficos; nos panos exteriores, surgem portas em arco de volta perfeita, inscritas em alfiz, encimados por apainelado almofadado; no central, surge apainelado recortado e emoldurado por concheados, rematado por concha, tendo na base uma bica em forma de carranca; os panos laterais possuíam bicas simples; o tanque eram amplo, tomando toda a largura dos três panos centrais, côncavo ao centro.

Autor e Data

Paula Noé 1990 / Marta Ferreira 2007

Actualização

 
 
 
Termos e Condições de Utilização dos Conteúdos SIPA
 
 
Registo| Login