Mosteiro de Santa Ana

IPA.00034073
Portugal, Lisboa, Lisboa, Arroios
 
Arquitetura religiosa, quinhentista e seiscentista. Mosteiro de clarissas terceiras, dependentes do ordinário, de planta poligonal irregular composto por igreja, zona regral e cerca. A igreja tem nave com eixo longitudinal interno e acesso lateral por amplo portal encimado por janela, capela-mor e sacristia no topo, escassamente iluminada. Para esta, abrem os coros, baixo e alto, o primeiro com vários oratórios de talha dourada. O claustro tem três alas, onde surgem vários dormitórios e as oficinas inerentes ao funcionamento do cenóbio. A cerca é de pequenas dimensões, com árvores de fruto e vinha.
Número IPA Antigo: PT031106241743
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Convento / Mosteiro  Mosteiro feminino  

Descrição

Planta retangular irregular, composta por vários corpos, com igreja, zona regral e pequena cerca virada a SO. (FOLQUE, planta n.º 28). IGREJA de planta retangular composta por nave, com eixo longitudinal interno e acesso lateral, com a fachada virada a NE., com portal acedido por escadas de cantaria (Inventário, capilha 4), possuindo portal com moldura saliente, que inscreve a porta encimada por sobre-porta curvilínea e ornada por volutas, e por janela retilínea, rematada por frontão triangular. A capela-mor possui ampla janela retilínea e vários corpos adossados mais baixos, com frestas jacentes, possuindo sacristia adossada (CMLisboa - PT/AMLSB/BAR/000813), ao fundo, com porta para o exterior (Inventário, capilha 4). A igreja possui teia a dividir o cruzeiro, surgindo uma segunda na capela-mor, ambas de madeira, ornada por marchetados (Inventário, capilha 5). Retábulo-mor de talha com frontal de prata e trono de degraus contracurvos (Mosteiros, p. 359). ZONA REGRAL com dois pisos, o inferior com várias oficinas e as dependências das criadas, iluminadas por umas frestas, protegidas por grades de ferro (Mosteiros, pp. 360-361). A entrada do edifício é feita pela Travessa da Portaria das Freiras, virada a SE., que, através de um pequeno pátio, acede à casa da roda, com um oratório, com acesso direto para uma terra com árvores de fruto, poço e cisterna, dando ligação direta ao claustro, pelo corpo denominado Entre-claustros. No claustro, com apenas três alas (FOLQUE, planta n.º 28), surgem vários painéis a representar a Via Sacra e, no lado direito, para NE., a casa do comungatório, com três capelas, a que se sucede a Capela do Bom Pastor. A NO., a Capela de Santo António e, num desnível, um dormitório com várias celas, contíguo a um saguão (Inventário, capilha 4). No segundo piso, o primeiro dormitório, com janelas e grades de ferro (Mosteiros, pp. 360-361), com duas capelas e 28 celas, surgindo, contíguo à igreja, um outro dormitório com 31 celas e um oratório dos Passos. As celas são descobertas, com compartimentos em madeira (Inventário, capilha 4). Os coros estão sobrepostos, iluminados por janelas retilíneas sobrepostas (CMLisboa - PT/AMLSB/BAR/000813), o baixo com retábulo com maquineta e um busto de Cristo coroado de espinhos; a parede está revestida a talha, tendo dois oratórios, um de talha dourada com pinturas de várias cores e, ao centro, um painel pintado da Virgem com o Menino (Inventário, capilha 5). A casa do capelão possui dois pisos, o inferior com três dependências, destinadas ao sacristão, tendo o segundo cinco dependências. A cerca confronta com a Travessa do Forno e a N. com a do Torel, com várias parreiras sobre esteios de madeira, árvores de fruto, canaviais, cisterna e um poço, surgindo, no fundo, uma casa que foi capela. É murada a N. e O. (Inventário, capilha 4).

Acessos

Campo de Santana

Protecção

Inexistente

Enquadramento

Urbano, isolado, implantado no topo de uma das colinas de Lisboa, junto ao Campo de Santana, com a zona da cerca a desenvolver-se pelo declive do Torel. No local onde de implantava o edifício, surge o Instituto Bacteriológico Câmara Pestana (v. PT031106240448).

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Religiosa: mosteiro feminino

Utilização Actual

Demolido

Propriedade

Não aplicável

Afectação

Não aplicável

Época Construção

Séc. 16 / 17 / 18

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITETO: Miguel de Arruda (1561). PINTOR: Gaspar Dias (séc. 16). PEDREIROS: António José dos Santos (1894); José Alexandre (1894).

Cronologia

1500 - documentada a existência da Real Irmandade dos Escravos do Santíssimo Sacramento e Irmãos de Santa Ana, da corporação dos Sapateiros; 1543, 14 maio - duas protegidas do rei D. João III tendo peregrinado em Roma e manifestando, no regresso, o desejo de construírem um cenóbio, foram instaladas no Castelo e encarregados alguns nobres, formando a Confraria da Paixão de Cristo, e os padres da Companhia de Jesus de encontrarem um recolhimento para o grupo que então se formava; o rei manda vir de Coimbra três freiras do Mosteiro de Celas, D. Bernarda da Guerra, Joana Soares, Isabel Borges; 1546 - na sequência de uma época de carência de víveres, a Irmandade é dissolvida e as recolhidas são entregues à benevolência régia, que as recomenda a D. Frei João Soares, religioso de Santo Agostinho, tendo mandado vir do Mosteiro de Chelas D. Filipa de Sousa, para governar o recolhimento; 1551 - após a morte do rei, é fundado o Mosteiro pela rainha D. Catarina, na antiga Capela de Santa Ana, onde entraram 24 recolhidas, sendo os terrenos do Mosteiro doados por D. Aleixo de Meneses, aio do rei D. Sebastião, integrada na Província de Portugal; séc. 16, final - colocação das tábuas encomendadas pela rainha a Gaspar Dias no coro-alto (SIMÕES, p. 253); 1561, 21 Julho - acordo entre as religiosas e o escrivão e mordomo da ermida de Santa Ana, para a feitura de um convento, conforme risco de Miguel de Arruda (VITERBO, vol. I, p. 74); construção de um coro anexo; 1561, 21 julho - escritura de concordata para a cedência da ermida às recolhidas; 1562, 02 julho - o Mosteiro tem ordem de clausura, tendo sido oferecido a Frei Francisco de Zamora, que o aceita e o declara da Ordem Terceira, sob a orientação da Província de Portugal, com sede no Convento de São Francisco da Cidade; 1577, 24 setembro - alvará do rei D. Sebastião, onde fica definido que o monarca tinha direito a nomear 20 religiosas e a rainha duas; 1578 - 1580 - D. Henrique cria a freguesia de Santa Ana, sediada na ermida; 1580 - falecimento de Luís de Camões, sepultado na igreja; 1674, 21 julho - construção de um novo corpo a E., onde fica instalado o dormitório; séc. 18, início - pintura do teto da igreja; 1702 - no Mosteiro habitam 133 religiosas professas, 12 noviças, 19 educandas e 13 seculares, com 13 criadas da comunidades e 90 particulares; recebe a ordinária de 370$000, pagos pelo monarca, através da Alfândega; 1705 - construção de uma nova igreja paroquial, dando-lhe a invocação de Nossa Senhora da Pena; 1712 - segundo Carvalho da Costa residem no local 120 religiosas de véu preto, vinte apresentadas pelo rei e duas pela rainha; 1755, 01 novembro - na sequência do terramoto, cai a igreja e dois dormitórios, o que estava junto à Portaria e o que ligava à Calçada do Lavra; caem três varandas do claustro e várias casas e oficinas; as religiosas refugiam-se em barracas na cerca e os irmãos de Santa Ana vão para São Crispim, onde pretendiam edificar a nova capela; 1756, 24 junho - regresso das religiosas ao edifício; 1763 - segundo João Baptista de Castro, o Mosteiro ficou muito arruinado, tendo caído os dormitórios do lado da portaria e da Calçada do Lavra, bem como as três varandas do claustro; as religiosas refugiaram-se em Santo Antão, mudando, ao fim de dois dias para a Quinta da Bemposta, onde D. Pedro lhes fez barracas; 1833 - segundo Luís Gonzaga Pereira, a igreja tem a capela-mor com o orago, Nossa Senhora da Conceição, surgindo duas capelas laterais, estando, numa delas, o Santíssimo, com a respetiva Irmandade; nesta data, o autor reconhece que o Mosteiro carece de grandes obras; 1839, 07 março - no Mosteiro residem 11 religiosas, 4 pupilas, 2 seculares e 3 educandas (Inventário, capilha 3); 1859, 24 fevereiro - inventário dos bens do Mosteiro, sendo o edifício e cerca avaliados em 11:450$000 (Inventário, capilhas 4 e 5); 1861, 04 abril - concessão do edifício ao Ministério de Guerra (Inventário, capilha 2); 1883 - estatutos da Associação de Nossa Senhora da Apresentação, sediada no Mosteiro; 1884, 04 maio - extinção do Mosteiro, por morte da última religiosa, Madre Maria da Conceição; 15 maio - inventário dos bens do Mosteiro, sendo referidos bens em Lisboa e Tábua; 17 maio - a Fazenda Nacional toma posse do Mosteiro; 1887, 03 novembro - os Próprios Nacionais concedem todos os quadros à Paróquia de Alpiarça, mas estes já haviam sido prometidos ao Patriarcado (Inventário, capilha 3); 11 julho - a Sociedade dos Recreios Whytoim guarda cadeiras e outros acessórios no local (Inventário, capilha 2); 1888, 08 novembro - cedência de parte do edifício ao Ministério dos Negócios da Marinha e Ultramar, para o estabelecimento do Colégio das Missões Ultramarinas, pertencendo outra parte ao Asilo da Infância Desvalida de Lisboa, presidida pelo Duque de Palmela (Inventário, capilha 2); 1889, 17 outubro - a condessa de Monfalim pede, em nome da Associação Auxiliar da Missão Ultramarina, móveis que lhe são concedidos (Inventário, capilha 3); 1894, 28 julho - entram na Academia de Belas Artes, quadros, azulejos e 12 baixos-relevos de madeira com figuras pintadas e douradas (Inventário, capilha 2); 1895 - cedência de 600 azulejos para o restauro da Igreja da Madre de Deus; 14 agosto - pedido para a cedência de uma dependência do Mosteiro para instalar a regedoria da Pena (Inventário, capilha 2); 10 dezembro - pedido de azulejos arrecadados no extinto Mosteiro para o revestimento de uma dependência do Mosteiro da Madre de Deus, consistindo em cerca de 600 azulejos em diagonal; 1896, 31 janeiro - perante a cedência do edifício, a Misericórdia, que servia no local a Sopa de Caridade e consultas médicas, solicita a cedência de algumas dependências do Mosteiro de Santa Joana para o mesmo fim (Inventário, capilha 1); 26 fevereiro - ordem de despejo de 24 famílias que viviam no ante-coro (Inventário, capilha 1); 27 setembro - o edifício é cedido ao Instituto Bacteriológico Câmara Pestana (Inventário, capilha 1); 18 dezembro - cedência de parte do edifício à Direção Especial dos Edifícios Públicos e Faróis; 1897, 16 janeiro - cedência do edifício à Direção de Edifícios Públicos e Faróis; 27 março - concessão do guarda-vento e três altares à paróquia de Tábua (Inventário, capilha 1); 28 maio - a Irmandade de Santa Ana é indemnizada para a desistência da igreja do Mosteiro e esta é cedida para a ampliação do Instituto Bacteriológico; 30 julho - envio dos altares e quadros dos coros para a Igreja Paroquial da Pena, a pedido da Irmandade dos Escravos do Santíssimo Sacramento (Inventário, capilha 1).

Dados Técnicos

Não aplicável

Materiais

Não aplicável

Bibliografia

Altas da Carta Topográfica da cidade de Lisboa sob a direcção de Filipe Folque: 1856 - 1858. Lisboa: Arquivo Municipal de Lisboa, s.d.; CASTRO, João Baptista de - Mappa de Portugal. Lisboa: Officina Patriarcal de Francisco Luis Ameno, 1763, tomo III; COSTA, António Carvalho da (Padre) - Corografia Portuguesa. Lisboa: Valentim da Costa Deslandes, 1712, vol. III; História dos Mosteiros, Conventos e Casas Religiosas de Lisboa. Lisboa: Câmara Municipal de Lisboa, 1972, vol. II; MATOS, Alfredo, PORTUGAL, Fernando - Lisboa em 1758. Memórias Paroquiais de Lisboa. Lisboa: Câmara Municipal de Lisboa, 1974; PEREIRA, Luís Gonzaga - Monumentos Sacros de Lisboa em 1833. Lisboa: Oficinas Gráficas da Biblioteca Nacional, 1927; SIMÕES, João Miguel Ferreira Antunes - Arte e Sociedade na Lisboa de D. Pedro II - ambientes de trabalho e mecânica do mecenato. Lisboa: s.n., 2002, 2 vols. Texto policopiado. Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa; VITERBO, Sousa - Diccionario Historico e Documental dos Architectos, Engenheiros e Construtores Portuguezes ou a serviço de Portugal. Lisboa: Imprensa Nacional, 1904, vol. I.

Documentação Gráfica

Documentação Fotográfica

CMLisboa: Arquivo Fotográfico, PT/AMLSB/BAR/000813

Documentação Administrativa

DGLAB/TT: Arquivo Histórico do Ministério das Finanças - Conventos extintos, Convento de Santa Ana de Lisboa, caixa 1974

Intervenção Realizada

PROPRIETÁRIO: 1894 - conservação dos telhados e frestas pelo pedreiro António José dos Santos, ajudado pelo servente José Alexandre, num total de 33$780 (Inventário, capilha 2);

Observações

Autor e Data

Paula Figueiredo 2012

Actualização

 
 
 
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