Edifício na Rua Rebelo da Silva, n.º 2

IPA.00026708
Portugal, Lisboa, Lisboa, Arroios
 
Edifício residencial multifamiliar e comercial do século 20, de promoção privada em propriedade plena para arrendamento livre, dotado de instalações para pequeno e médio comércio em cave e piso térreo. Edifício em gaveto inserido em frente de quarteirão fechado, de média dimensão (20 fogos) e média altura (piso térreo e cinco andares). Quatro fogos por piso com disposição simétrica em esquerdo-direito duplo (dois fogos por lado), tipologias habitacionais mínimas a médias (T1 a T3). Edifício enquadrável no período histórico-construtivo dos edifícios com estrutura de betão armado da primeira fase, composição arquitectónica característica do segundo momento de difusão alargada dos princípios e léxico formal do Movimento Moderno (pós-guerra).
Número IPA Antigo: PT031106441365
 
Registo visualizado 2736 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Residencial multifamiliar  Edifício  Edifício residencial e comercial  

Descrição

Edifício de habitação multifamiliar em banda, de gaveto, formando frente de rua contínua e quarteirão fechado, confrontante com rua de perfil simples (R. Rebelo da Silva) e rua de perfil duplo (ruas Aquiles Monteverde e Pascoal de Melo). Edifício consonante com os restantes imóveis do quarteirão com frentes para as mesmas ruas e com outros imóveis da R. Pascoal de Melo (coevos e semelhantes em volumetria e tratamento arquitectónico), e dissonante com os imóveis do mesmo quarteirão com frente para a R. de Arroios e com os dos quarteirões a O. - Bairro das Ilhas (com volumetria e período histórico-construtivo distintos). Lote de dimensão média grande (c. 400m2) com duas frentes sobre a via pública e duas frentes sobre os lotes adjacentes (c. 16m cada), em planta de raiz trapezoidal (quadrilátero sem lados paralelos cujos dois lados maiores, neste caso, formam ângulo agudo e são concordantes em linha curva, formando um quinto lado). Lote com ocupação total por construção em cave e, a partir do piso térreo, ocupação parcial à frente, por edifício alinhado com os planos marginais das ruas e dotado de logradouro posterior. Edifício com um piso abaixo do solo (cave para armazém e arrecadações do comércio, com pé-direito médio de 3m e pavimento ao nível do exterior na extremidade E. da fachada sobra a R. Aquiles Monteverde) e 6 pisos acima do solo, dos quais 3 são integrais (térreo, 1.º e 2.º andares) e 3 são parciais; destes, o térreo é dedicado a habitação (porteira) e comércio (duas lojas de pequena dimensão, uma de média e uma de grande dimensão) e tem pé-direito médio de 3m, e os restantes a habitação, com pé-direito médio de 2,60m. À excepção do segmento de cilindro no gaveto (c. 9m em toda a altura), a largura total das duas fachadas sobre os arruamentos varia, diminuindo em altura: c. 16m desde a base até ao 2.º andar, sobre a R. Rebelo da Silva, e até ao 4.º andar, sobre a R. Aquiles Monteverde; c. 12,50m do 3.º ao 5.º andar no primeiro caso, e apenas no 5.º andar, no segundo caso. Duas fachadas de tardoz com largura de variação semelhante, entre 7,50m e 4,50m. Duas empenas com c. 16m de largura em cave e c. 10m a partir do piso térreo. Volumetria geral simples, ainda que originada por planimetria irregular e recortada nos encontros com os lotes adjacentes (em 3 pisos no lado N., apenas no último piso no lado E.). Planta do piso-tipo composta por dois braços ou alas e quatro fachadas habitáveis, concorrentes em ângulo agudo e correspondentes aos alinhamentos das ruas, rematadas por duas empenas perpendiculares àquelas. Cobertura inclinada com quatro águas sobre cada uma das alas e com uma água curva (troço de cone) no encontro exterior daquelas. Núcleo de comunicações verticais formado por escada simples, elevador e monta-cargas separados, partilhando um patamar comum. Composição arquitectónica das fachadas assente em dois elementos principais: a afirmação da malha estrutural em alçado, evidente nos pilares do piso térreo e nas lajes que dividem o gaveto boleado em 5 painéis iguais; e o avanço dos 5 andares sobre a rua, destacando-se do plano marginal do lote (o plano vertical do piso térreo e das extremidades laterais das fachadas). Este avanço é feito por dois volumes, um sobre cada uma das ruas, correspondentes às baterias de quartos e salas dos apartamentos, e caracterizados por faixas horizontais alternadamente opacas (os peitoris e vergas dos vãos de janela) e transparentes (os próprios vãos, separados apenas pelos nembos - intervalos entre vãos). Os dois volumes são unidos, no gaveto, pelo pano cilíndrico cujas linhas horizontais assinalam as lajes referidas e prolongam, entre estas, as linhas das vergas das janelas mencionadas. Este pano é fortemente caracterizado pela grelhagem cerâmica de módulo hexagonal (favo de mel) que contribui para enriquecer o jogo de claro-escuro (sol-sombra) de todo o alçado e esconde a função principal das varandas das cozinhas (estendal). Existe neste caso uma correspondência clara entre a composição dos alçados e a orgânica funcional interior, na medida em que as áreas de modulação constante da planta - as baterias de quartos e salas, de métrica muito aproximada - têm clara tradução em alçado, nos vãos de janela em faixa horizontal; do mesmo modo, as áreas de excepção da planta - a intersecção dos dois braços, cada um com a sua geometria ortogonal bem definida, num ângulo agudo -, ocupadas pelos compartimentos de maior flexibilidade (cozinhas, despensas), são claramente apresentadas no alçado pelo tratamento excepcional dado ao gaveto. O edifício contém 4 fogos por piso, todos com acesso pelo mesmo patamar a partir de núcleo de escada, elevador e monta-cargas colocado em posição central na planta (com eixo na linha bissectriz do ângulo formado pelos dois braços). As tipologias distribuem-se da seguinte forma: um fogo T0 no piso térreo (porteira); dois fogos T2 e dois T3 nos 1.º e 2.º andares (T2+T3 em Esq., idem em Dir.); um fogo T1, dois T2 e um T3 nos 3.º e 4.º andares (T2+T3 em Esq., T1+T2 em Dir.); e dois fogos T1 e dois T2 no 5.º andar (T1+T2 em Esq., idem em Dir.). Todos os fogos são simplex de pequena dimensão (T3 com c. 80m2, T2 com c. 60m2, T1 com c. 40m2), variando o tipo de espaço de circulação interior: embora todos os apartamentos tenham entrada por vestíbulo, a circulação é feita por corredor autónomo apenas nos T2; nos T1 e T3, o acesso aos quartos (com um segundo vestíbulo, íntimo) é feito mediante o atravessamento da sala. Por esta razão, as salas (comuns, com zona de refeições incorporada) são espaços encerrados e autónomos apenas no primeiro caso. Todas as cozinhas são simples com despensa, e localizam-se em espaço independente adjacente a espaço de circulação, sendo o tratamento de roupa processado na varanda anexa. As instalações sanitárias são interiores (iluminadas por vãos superiores a partir dos quartos), em compartimentos únicos (agrupados em redor de duas prumadas gerais); todos os quartos são exteriores. Os espaços exteriores privativos resumem-se, nos fogos das extremidades de cada braço, a uma varanda com acesso pela sala e cozinha; os restantes fogos possuem apenas, como espaço semi-exterior, a referida varanda de serviço. Não existem quaisquer dependências dos fogos em espaços interiores privativos, ou espaços de utilização comum para os habitantes (para além dos óbvios compartimentos técnicos de pequena dimensão - material de limpeza sob o arranque da escada e casa das máquinas do elevador e monta-cargas sob a cobertura). Não existe uma orientação solar predominante para os diferentes sectores da habitação; com uma planta de dois braços quase simétricos, com salas, quartos e cozinhas abertos sobre as quatro fachadas, os sectores podem estar orientados a qualquer um dos pontos cardeais, variando com a posição de cada fogo.

Acessos

Rua Rebelo da Silva, n.º 2; Rua Aquiles Monteverde, n.º 34

Protecção

Inexistente

Enquadramento

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Residencial: edifício residencial e comercial

Utilização Actual

Residencial: edifício residencial e comercial

Propriedade

Privada

Afectação

Época Construção

Séc. 20

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITECTO: Fernando Silva (1956) e Silvestre Lomba (1957). ENGENHEIRO (ESTABILIDADE): António Mendes Alcântara (1957)

Cronologia

1891, Janeiro - plano do novo alinhamento da R. Rebelo da Silva e projecto da Tv. Rebelo da Silva (CML: AML/Arco do Cego UROB-PU/09/00564); 1892, a partir de - Teotónio de Ornelas Bruges (1841-1929) e o Conde de Linhares procedem, em articulação com a 3.ª Repartição - Engenharia do Serviço de Obras Públicas da Câmara Municipal de Lisboa, à urbanização das terras de sua propriedade mediante a abertura de um conjunto de novos arruamentos entre as ruas Pascoal de Melo, de Dona Estefânia e Rebelo da Silva e a Calçada de Arroios (CML: AML/Arco do Cego UROB-PU/09/00160), dando origem ao que mais tarde será conhecido como Bairro Linhares ou Bairro das Ilhas (o primeiro dos promotores, destacado membro da aristocracia açoriana, foi deputado por Angra do Heroísmo e pela ilha do Pico); 1893, a partir de - decorre a elaboração do projecto e execução do alinhamento definitivo da R. Pascoal de Melo, no troço compreendido entre as ruas de Dona Estefânia e Passos Manuel (CML: AML/Arco do Cego UROB-PU/09/00654). A venda e permuta de lotes resultantes da urbanização desta área decorrem desde, pelo menos, 1883 (p. ex., CML: AML/Arco do Cego ADMG-N/02/08345); 1903 - a Câmara Municipal de Lisboa adquire os edifícios existentes nos números 201 e 205 da R. Direita de Arroios para, em sua substituição, fazer construir o viaduto que permitirá o prolongamento da R. Pascoal de Melo até à Av. Almirante Reis, sobre aquela via (CML: AML/Arco do Cego ADMG-N/02/10515). Expropriações e aquisições com esta finalidade decorrem desde 1889; 1910 - segundo a Planta Topográfica de Lisboa de Vieira da Silva Pinto (fl. 11 J), o viaduto sobre a R. de Arroios e a então denominada R. Conselheiro Monteverde, paralela à R. Pascoal de Melo, encontram-se concluídos (CML: AML/Arco do Cego UROB-PU/05/03/091). O Bairro das Ilhas, por seu lado, encontra-se também em grande parte completo, cf. fl. 11 K daquela Planta (CML: AML/Arco do Cego UROB-PU/05/03/104); 1956, Junho - Américo do Urmal Ferreira, António Urmal e Alfredo Martins Diogo apresentam pedido de licença à Câmara Municipal de Lisboa para construção de um edifício de habitação multifamiliar, acompanhado de projecto da autoria do arquitecto Fernando Silva (1914-1983). O pedido é indeferido por incumprimento do Regulamento Geral das Edificações Urbanas (CML: AML/Arquivo Intermédio Proc. 33648/DAG/PG/1956); 1957, Julho - o projecto, reformulado por Silvestre Lomba (1929-1979), então tirocinante no escritório de Fernando Silva, é reapresentado a licenciamento, sendo o pedido deferido e a licença de construção emitida em Setembro de 1958 (CML: AML/Arquivo Intermédio Proc. 33648/DAG/PG/1956); 1958, Dezembro - José Pedro de Matos apresenta pedido de licença para alterações ao projecto aprovado, com vista à ocupação do logradouro por construção, incluindo arrecadação em cave (CML: AML/Arquivo Intermédio Proc. 5804/DAG/PG/1959); 1959, Julho - novo pedido de licença para alterações ao projecto (CML: AML/Arquivo Intermédio Proc. 42306/DAG/PG/1959); 1960, Abril - os primeiros requerentes apresentam o último pedido de licença para alterações ao projecto aprovado e respectivas telas finais, documentos que merecem aprovação da Câmara (CML: AML/Arquivo Intermédio Proc. 20344/DAG/PG/1960). Concluída a construção, a licença de utilização é solicitada em Setembro de 1960 (CML: AML/Arquivo Intermédio Proc. 45922/DAG/PG/1960)

Dados Técnicos

Materiais

Bibliografia

AGAREZ, Ricardo Costa - O Moderno Revisitado: Habitação Multifamiliar em Lisboa nos Anos de 1950. Lisboa: Câmara Municipal de Lisboa, 2009.

Documentação Gráfica

CML: Arquivo Intermédio, Obra n.º 33.057

Documentação Fotográfica

IHRU: SIPA. CML: Arquivo Fotográfico, Prova A39637

Documentação Administrativa

CML: Arquivo Intermédio, Obra n.º 33.057; Arco do Cego, Administração Geral / Notariado; Arco do Cego, Urbanismo e Obras / Planeamento Urbanístico

Intervenção Realizada

Observações

Autor e Data

Ricardo Agarez 2008

Actualização

 
 
 
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