Jardim da Quinta dos Medos

IPA.00026685
Portugal, Setúbal, Almada, Costa da Caparica
 
Jardim pós-moderno onde às preocupações de carácter naturalista e de base ecológica se junta um tema - A segunda Natureza de Cícero, em que se aborda o tema da biodiversidade criada pelo Homem. Os caminhos curvilíneos, de carácter orgânico, são cortadas por eixos axiais estruturantes do projecto, onde o peso da forma suplanta o da função.
Número IPA Antigo: PT031503030096
 
Registo visualizado 3718 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Espaço verde  Jardim  Jardim  Pós-modernista    

Descrição

Propriedade murada, de planta irregular, com caminhos com cerca de 1 metro de lado na sua maioria curvilíneos, que sugerem um percurso a quem queira ir descobrindo os diferentes cenários, revelados de surpresa, à medida que se vai percorrendo o jardim. A casa situa-se aproximadamente no centro do terreno, a uma cota superior e, dos caminhos do jardim, apenas o que liga o portão da propriedade à casa é pavimentado em calçada portuguesa, com dimensões aproximadas de 70 metros de comprimento por 4 metros de largura. Este caminho apresenta, para quem entra, uma curva apertada para a esquerda com cerca de 16 metros, seguida por outra muito suave e muito mais longa para a direita, até ao pátio de entrada da casa, que o remata, no mesmo pavimento. É bordejado por tufos de herbáceas e pequenos arbustos que, projectados sobre ele, lhe suavizam grandemente as linhas, intercalados no lado N. com ciprestes (Cupressus sempervirens) que distam uns dos outros em cerca de 8 metros. De ambos os lados deste caminho encontramos uma zona de CLAREIRA povoada por pinheiros mansos (Pinus pinea), em vários estados de desenvolvimento A sul da casa, numa zona mais densamente arborizada, encontramos um RELVADO. Aproximadamente na zona de charneira entre a clareira e o relvado, com início na casa, está implantado um PERCURSO RECTILÌNEO DE ÁGUA que aponta para SE. Entre S. O. e N. encontra-se uma zona de reserva integral, A PAISAGEM PROTEGIDA DA ARRIBA FÓSSIL DA COSTA DA CAPARICA. No núcleo desta zona situa-se uma área de biótipo húmido - a CHARCA. No extremo NO. da propriedade situa-se um pequeno terraço em cimento que constitui um MIRADOURO com vista sobre a linha de costa. Todas estas zonas, com excepção do miradouro, são interligadas pelo referido caminho pedonal curvilíneo com cerca de 1 metro de lado que, com excepção da zona da reserva integral onde passa relativamente perto da casa, acompanha a orla da mancha arbórea de MACIÇO DE CARVALHAL DA ZONA HÚMIDA QUENTE, que veio permitir o isolamento visual em relação aos terrenos vizinhos e à estrada, já que se estende aos limites N. E. e S. da propriedade. Na zona de clareira, os vários estratos de pinheiros, uma relativamente baixa densidade populacional e o revestimento herbáceo do solo nesta área (grupos de Onoris ramosissima e Cistus salvifolius), o do sobreiral. No extremo NE. desta zona situa-se um CORTE DE TÉNIS com acesso por caminho rectilíneo, constituído por traves de madeira justapostas, semelhantes às dos carris de caminho de ferro, formando um eixo que, perpendicular ao eixo de água,e com início neste, corta transversalmente toda a zona de clareira. Um outro eixo, ortogonal ao anterior, liga-o ao portão de acesso ao corte de ténis, inscrito num caramanchão metálico, revestido lateralmente por uma buganvília (Bougainvillea spectabilis) e superiormente por uma glicínia (Wisteria sinensis). Do lado oposto do caminho principal, aproximadamente a meio do seu percurso, encontramos um exemplar notável de um pinheiro manso (Pinus pinea). Numa zona densamente arborizada, na transição da zona de clareira para o relvado, entre a casa e o caminho sinuoso junto ao limite da propriedade, inscreve-se o eixo da condução da água, estruturante do espaço. Este eixo formal e visual, inicia-se junto ao terraço da casa, neste local revestida a vinha virgem (Parthenocissus quinquefolia), por um caminho constituído por uma quadrícula em traves de madeira cujo interior é preenchido por gravilha, que estreitando dá lugar à justaposição destas mesmas traves até chegar ao caminho, em saibro,.envolvente de um tanque rectangular, prolongando-se pelo eixo. Este, atravessa transversalmente o tanque no seu ponto central e prolonga-se por três troços de uma caleira de nível, assente em murete revestido a azulejo em painel axadrezado em verde e branco, ladeado por ambos os lados por caminho em saibro, sendo as diferenças de cota vencidas por degraus nas traves já referidas e terminando num pequeno terraço pavimentado em lages de tijoleira. A S. e SE. o relvado em declive, estabelece a continuidade da zona de estar, junto da plataforma da piscina, situada junto à casa, estendendo-se sob pinhal até ao caminho pedonal curvilíneo que o separa da zona da orla do maciço de carvalhal envolvente da propriedade. Em situação periférica, neste relvado, está colocado sobre plinto paralelepípedico um elemento escultórico representando elfo despindo ninfa, ambos em pedra. A fachada principal da casa está orientada, tal como a arriba fóssil neste local a SO., intervaladas por cerca de 70 metros, desfrutando-se desta uma paisagem deslumbrante sobre a linha da costa. Este espaço, que constitui reserva integral, apresenta uma clareira central delineada por uma cintura de arvoredo que na orientação referida constitui a orla arbórea em cunha, até à crista da arriba *1. Na clareira, a cerca de 30 metros da casa situa-se um charco de formato aproximadamente oval com cerca de 10 metros de comprimento, circundado de vegetação ribeirinha e contendo nenúfares ( Nymphaea.L ), bem como anfíbios entre outras espécies aquáticas. Junto à margem do chaco encontra-se um relógio de sol em metal sobre coluna em pedra. No extremo N.O. da propriedade situa-se sobre a crista da arriba um pequeno miradouro constituído por murete em alvenaria com alegrete onde se encontram plantas suculentas da espécie Kleinia tomentosa, de onde se desfruta de uma vista da linha de costa entre o Cabo Espichel e Cascais,avistando-se a Serra de Sintra. No sopé da arriba situa-se ainda cerca de 1 hectare de pinhal pertencente à propriedade.

Acessos

IC20, Estrada Florestal da Fonte da Telha

Protecção

Incluído na Paisagem protegida da Arriba Fóssil da Caparica

Enquadramento

Jardim situado numa zona de declive suave, na orla marítima, imediatamente sobre a Arriba Fóssil da Costa da Caparica. Em zona periurbana, adjacente a uma zona urbanizada, a propriedade é murada e mantém isolamento de vistas dos imóveis vizinhos por barreira arbórea. Vista da linha de costa entre o Cabo Espichel e Cascais,avistando-se a Serra de Sintra.

Descrição Complementar

A piscina, de formato irregular adaptado ao local, foi projectada por Gonçalo Ribeiro Telles que, ao invés de a construir destacada do conjunto edificado como o previsto, anteriormente a inseriu num ponto chave do mesmo - um terraço sobre a reserva integral - com uma magnífica panorâmica sobre o mar, com vantagem para a manutenção das características biofísicas do sítio. Esta piscina foi intencionalmente construída junto ao limite deste terraço, com um muro de suporte oculto a partir da própria piscina, de modo a que, quem nela se encontra, apenas distingue o limite da água da piscina da água do oceano pela presença de algumas copas dos pinheiros mansos da reserva integral, que interrompem pontualmente a linha do horizonte.

Utilização Inicial

Recreativa: jardim

Utilização Actual

Recreativa: jardim

Propriedade

Privada: pessoa singular

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 20

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITECTO: Thiago Braddell (1992); ARQUITECTO PAISAGISTA: Gonçalo Ribeiro Telles (1994).

Cronologia

1990 - Aquisição da propriedade; 1992 - projecto e posterior construção da casa; 1993, 23 de janeiro - A área onde está implantada a quinta foi classificada como Paisagem protegida da Arriba Fóssil da Caparica, pelo Decreto-Lei nº19; 1994.- projecto e posterior execução da piscina e envolvente paisagística da casa.

Dados Técnicos

Suave modelação do terreno junto á fachada principal da casa de forma a criar uma pequena depressão onde se situou a charca; a concavidade da charca á revestida por uma camada com cerca de 3 cm de argila revestida por manta plástica e areia, sendo esta argila consolidada pelo peso da própria água; os maciços de vegetação, na periferia do terreno foram criados não só para ocultar as construções vizinhas existentes e a estrada que lhe dá acesso , mas também para proteger as pessoas e a vegetação da intensidade do vento do quadrante norte; os caminhos de peões, acompanhando as orlas dos maciços, facilitam os trabalhos de manutenção; a clareira de vegetação rasteira e arbustiva, com árvores em variado estado de crescimento e o revestimento do solo do sobreiral adaptado a regossolos permitem a obtenção intencional de um microclima propício à obtenção de um nível máximo de biodiversidade. Também a criação da charca favorece a biodiversidade; nas áreas de carvalhal da zona húmida quente o mato não é retirado pois tem um papel importante por reduzir a temperatura no período estival, ao nível do solo, proporcionando condições favoráveis à regeneração do sistema.

Materiais

Vegetal - árvores: ciprestes (Cupressus sempervirens), pinheiro manso (Pinus pinea), pinheiro bravo (Pinus pinaster), pinheiro-de-alepo (Pinus Alepensis) alfarrobeira (Ceratonia siliqua), sobreiro (Quercus suber), Sanguinho das sebes (Rhamnus alaternus), zimbro (Juniperus oxycedrus spp. Rufescens), arbustos: (Onoris ramosissima, (Cistus salvifolius), aroeira (Pistacia lentiscus), carrasco (Quercus coccifera), medronheiro (Arbutus unedo), româzeira (Punica granatum), loendro (Nerium oleander), folhado (Viburnum tinus), madressilva (Lonicera etrusca), trepadeiras: Vinha virgem (Parthenocissus quinquefolia), buganvília (Bougainvillea spectabilis); glicínia (Wisteria sinensis), Inertes: pedra calcária, metal; madeira.

Bibliografia

GONZALEZ, Gines Lopez, La guia de Incafo de los Arboles y Arbustos de la Peninsula Iberica, Madrid, Incafo Archivo Fotográfico, 1995; CABRAL, Francisco Caldeira, A Árvore em Portugal, Lisboa, Guide-artes gráficas, LDA., 1999; CARAPINHA, Aurora,TEIXEIRA, José de Monterroso, A Utopia e os Pés na Terra, Lisboa, Instituto Português de Museus, 2003; MATOS, Inês Norton, Trabalhos Recentes no Estrangeiro de Arquitetos Paisagistas Portugueses, Lisboa, Edição APAP, 2006, p.5.

Documentação Gráfica

IHRU: Arquivo Pessoal Gonçalo Ribeiro Telles

Documentação Fotográfica

IHRU: SIPA

Documentação Administrativa

Intervenção Realizada

Casa e jardim realizados de origem em terreno de mata.

Observações

*1 - O enriquecimento da vegetação deverá ser feito utilizando fundamentalmente espécies da formação climace ou tradicionais da região; *2 - A instalação do charco (biótopo húmido) incentivará a visita e a instalação de aves silvestres, além de várias espécies aquáticas.

Autor e Data

Teresa Camara 2008

Actualização

João Vieira 2011
 
 
 
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