Estação Ferroviária de Coimbra A / Estação Nova
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Portugal, Coimbra, Coimbra, União das freguesias de Coimbra (Sé Nova, Santa Cruz, Almedina e São Bartolomeu) |
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Edifício de passageiros de uma estação ferroviária 1* central de topo de linha, de planta em U, com três frentes urbanas envolvendo as linhas férreas e a zona do cais. Programa arquitectónico e funcional adaptado ao grau hierárquico da estação na rede nacional, combinando sentido de representatividade com necessidades funcionais. Numa linguagem classicizante de traço correcto, depurado e sóbrio, colhe elementos decorativos no designado estilo " Dom João V " e nas " Art Déco ". Na organização e distribuição dos espaços, inclui bilheteiras e salas de espera para passageiros das diversas classes, múltiplas salas de trabalho para o pessoal da estação e um sector de bagagens relativamente desenvolvido, com possibilidade de acesso autónomo a partir do exterior. Habitações no piso superior destinadas ao chefe da estação e outros funcionários superiores. Entrada principal definida por um conjunto de três portas idênticas, rematadas superiormente em arco de círculo, com um grande relógio, a eixo, coroando o conjunto, constituindo um tema recorrente na arquitectura filiada nas Beaux-Arts parisienses e que tinha particular aplicação nas instalações ferroviárias de todo o mundo, quase constituindo uma marca da tipologia. O tipo adoptado no projecto inicial do edifício de passageiros de Coimbra-C foi mantido e sucessivamente reinterpretado nas versões posteriores. A intervenção de Cottinelli Telmo e Luís Cunha teve uma especial incidência na actualização da linguagem arquitectónica adoptada. O exterior acabou por se fixar numa linguagem classicizante de traço correcto, depurado e sóbrio. A composição dos alçados esclareceu-se no ritmo das pilastras, enquadrando todos os vãos, entre um embasamento contínuo e a cornija, reforçada por uma platibanda opaca e pesada. As ordens clássicas são utilizadas de um modo não canónico: os dois planos principais da fachada do Largo das Ameias são articulados através de pilastras côncavas, semelhantes àquelas que surgem nos ângulos interiores do vestíbulo de passageiros; a interrupção reiterada do friso e da arquitrave, pela interposição dos vãos do piso superior, converte a platibanda no principal elemento horizontal de remate do volume. O interior do vestíbulo e dos torreões foi decorativamente concebido como uma unidade destacada do conjunto, com abundância de motivos ornamentais em alegado estilo "Dom João V". Pelo contrário, alguns elementos da construção (as lanternas de iluminação e as guardas metálicas, no exterior; os lanternins do vestíbulo principal) e recursos expressivos (a exploração da espessura dos paramentos exteriores em efeitos de luz e sombra, geométricos e abstractos) revelam um outro gosto, mais de acordo com os exemplos das "Art Déco", que, com mais coerência, vinha sendo ensaiado em outras obras contemporâneas na CP (Estação Fluvial do Sul e Sueste, no Terreiro do Paço, Lisboa, projecto de 1928-29; Edifício de Passageiros da Estação Ferroviária de Carregado, projecto de 1930-31, concebidos ambos por Cottinelli Telmo). |
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Número IPA Antigo: PT020603190126 |
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Registo visualizado 3442 vezes desde 27 Julho de 2011 |
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Edifício e estrutura Edifício Transportes Apeadeiro / Estação Estação ferroviária
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Descrição
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Edifício com planta em U, de tramos desiguais, envolvendo as linhas férreas e a zona do cais. O conjunto frontal, mais nobre, tem um único piso e um pé-direito equivalente aos dois níveis dos volumes laterais. No topo, frente ao eixo da linha férrea, situa-se o vestíbulo de passageiros, virado para a Avenida Navarro, a ela apresentando a fachada principal. Dos dois tramos paralelos ao rio, aquele que tem frente para o Largo das Ameias é o mais longo: tem o alçado tripartido, com um corpo central avançado (entrada e vestíbulo secundários, destinados ao serviço de bagagens) e acesso por uma plataforma elevada adjacente. O terceiro volume, mais curto, situa-se entre a linha principal e o rio: integra compartimentos de apoio e é caracterizado exteriormente por um desenho de alçados mais planificado e regular. A articulação entre os três tramos é estabelecida por torreões de planta circular. A composição volumétrica tem acentuada horizontalidade; nos alçados predominam os elementos verticais (pilastras, cunhais, vãos). As coberturas são em telhado de telha cerâmica envolvido por uma platibanda lisa contínua, de nível constante, apoiada sobre uma cimalha que contorna todo o edifício. O conjunto assenta sobre um embasamento contínuo em pedra cinzenta aparelhada, que se prolonga por alguns elementos secundários (degraus frente à entrada principal; plataforma lateral do Largo das Ameias). O volume do vestíbulo, acima do nível do embasamento, é construído integralmente em cantaria de pedra calcária branca aparelhada. O alçado é rematado lateralmente por dois corpos avançados com pilastras, remate superior em frontão triangular e pares de pináculos em tronco de pirâmide sobre a platibanda. A meio, separados por pilastras, abrem-se 3 vãos de porta rematados superiormente em arco de volta perfeita que constituem a entrada principal da estação. Acima das pilastras corre um friso com cartelas, sobrepujado por cornija ritmada por modilhões. Sobre o vão central, a platibanda é interrompida por um corpo rematado superiormente por frontão, rematado por volutas laterais e pináculos onde está aplicado o relógio circular. Uma cobertura em consola, com estrutura metálica fixada ao corpo de alvenaria e painéis em vido, assinala e protege o acesso às portas de entrada. Os volumes cilíndricos laterais, em alvenaria rebocada, têm três vãos rematados superiormente em arco de volta perfeita, com molduras em cantaria de pedra calcária branca com secção contracurvada. Estes vãos são separados por pilastras, que se prolongam até ao limite da platibanda, sobrepondo-se ao friso e à cornija. Nos tramos paralelos ao rio, o sistema de composição dos alçados exteriores é baseado na repetição de pares de pilastras enquadrando os vãos dos dois pisos, que têm guarnição em cantaria apenas no peito; são janelas rectangulares verticais alongadas no piso térreo, próximas do quadrado no piso superior. Os cunhais são assinalados pela repetição dos pares de pilastras em ambos os alçados. O alçado lateral voltado para o Largo das Ameias, tem uma composição simétrica, com um ritmo A-B-C-B-A, ao qual correspondem, em cada um dos dois pisos, 3+1+3+1+3 vãos. O corpo central avançado é enquadrado lateralmente por dois conjuntos de pilastras, rematados por frontão triangular. Os alçados dos topos têm conjuntos de vãos alinhados verticalmente (3 em cada piso), enquadrados pelas duplas pilastras dos cunhais. Os alçados voltados para o cais de passageiros têm vãos de portas rectangulares no piso térreo (com molduras de cantaria em pedra calcária, de secção curva) e janelas rectangulares no piso superior (com guarnição em cantaria apenas no peito) com diferentes proporções e afastamentos entre si, de acordo com os compartimentos para os quais abrem. Cobertura sobre o cais de passageiros com asnas e pilares metálicos e cobertura em chapas onduladas de fibrocimento. INTERIOR: vestíbulo de passageiros e torreões com desenho historicista neo-joanino (molduras dos vãos em cantaria de pedra calcária, escudo moldado sobre o vão central de acesso ao cais, pilastras e colunas adossadas, friso de remate entre os paramentos e o tecto). No tecto do vestíbulo os elementos estruturais são salientes e delimitam caixotões, dos quais, os três do centro têm clarabóias com caixilharia de desenho ornamental geométrico e vidro transparente, incolor texturado. O pavimento, em pedra, reflecte a estrutura do tecto, com campos rectangulares em cores diferenciadas. |
Acessos
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Avenida Emídio Navarro / Largo das Ameias |
Protecção
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Categoria: MIP - Monumento de Interesse Público / ZEP, Portaria n.º 611/2013, DR, 2.ª série, n.º 182, de 20 setembro 2013 |
Enquadramento
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Urbano, em planície, isolado. Esta é a estação central de Coimbra e terminal do ramal ferroviário que liga a cidade à Linha do Norte, correndo ao longo margem direita do rio Mondego. O edifício situa-se no final da linha e em contacto directo com o tecido urbano da Baixa de Coimbra. É separado do rio apenas por uma via marginal e pela via férrea que constitui a Linha da Lousã (que parte desta estação e faz uma longa passagem de nível nesta zona da cidade, entre o rio e a Av. Navarro). O edifício tem frente principal para a Av. Navarro e uma entrada secundária para o Lg. das Ameias. |
Descrição Complementar
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No alçado exterior principal: lanternas para iluminação eléctrica fixadas nas pilastras que enquadram os vãos. Na plataforma exterior do Largo das Ameias: guarda corpo metálica de desenho ornamental geométrico. Nos torreões: lanternas para iluminação eléctrica suspensas do tecto. No vestíbulo: dois quiosques (jornais e tabacos, rent-a-car) com estrutura em madeira adossados aos ângulos interiores. |
Utilização Inicial
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Transportes: estação ferroviária |
Utilização Actual
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Transportes: estação ferroviária |
Propriedade
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Pública: estatal |
Afectação
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Sem afectação |
Época Construção
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Séc. 20 |
Arquitecto / Construtor / Autor
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Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses (C.P.), Divisão de Via e Obras: arq. José Ângelo Cottinelli Telmo (1897-1948) e arq. Luís Alexandre da Cunha (1894-?). |
Cronologia
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1885, 18 Outubro - abertura à circulação do Ramal de Coimbra, ligando as estações de Coimbra B (Linha do Norte) e Coimbra-Cidade; é construído um edifício de passageiros no topo do ramal, junto ao Largo das Ameias e separado do Mondego apenas pela estrada que corre ao longo da margem; 1906 - abertura do Ramal da Lousã, construído e explorado pela companhia privada "Caminhos de Ferro do Mondego"; o ramal parte da estação de Coimbra-Cidade e segue junto à margem do Mondego, numa longa passagem de nível através de uma das zonas mais movimentadas da cidade; 1918 - o estudo para a ampliação da Estação de Coimbra-C (Coimbra Cidade), elaborado na Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses, inclui o projecto de um novo edifício de passageiros (arq. José Coelho) com uma planta em U, envolvendo os topos das linhas férreas e a zona do cais. O projecto do novo edifício de passageiros tomou como base a localização do edifício então existente. Desde a sua construção, ramal e estação vinham sendo motivo de protestos por parte da população e das instituições da cidade. Para além de apontarem a falta de qualidade das instalações, as críticas sublinhavam a extrema exiguidade do local, que impunha grandes constrangimentos a qualquer futura ampliação. Por outro lado, a centralidade desta localização tornava-a extremamente apetecida como área de expansão urbana ? a construção da estação impedia tanto a ligação da Baixa com o rio como a criação de uma avenida marginal de ligação à Mata do Choupal. Apesar das constantes pressões da população local, a CP conseguiu fazer prevalecer os seus interesses; 1923, Novembro - projecto dos arquitectos Cottinelli Telmo e Luís Cunha para o novo edifício de passageiros da Estação de Coimbra-C (1ª versão); mantém-se a localização e a disposição geral de volumes definida no primeiro projecto, mas são introduzidas modificações na planta inicial, devido à reformulação e ampliação dos serviços a instalar; 1925, final do ano - início da obra; dificuldades imprevistas obrigaram a sucessivas adaptações ao projecto e a grandes demoras no desenvolvimento dos trabalhos; 1926, Julho - projecto de Cottinelli Telmo e Luís da Cunha (2ª versão); 1929, Janeiro ? a Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Coimbra reclama, sem êxito, construção da estação noutra localização e a supressão do ramal ferroviário até Coimbra-C; 1929, Março / 1930, Agosto - projecto de Cottinelli Telmo e Luís Cunha (3ª versão); 1931, 15 de Março - inauguração do novo edifício de passageiros; 2009, 16 de outubro - proposta de abertura do procedimento de classificação, pela DRCCentro; 2011, 10 de outubro - devolvido à DRCCentro por despacho do Diretor do IGESPAR, I.P., para reanálise face a novas servidões entretanto criadas na cidade de Coimbra; 4 de novembro - nova proposta de abertura da DRCCentro; 8 de novembro -despacho de abertura do Diretor do IGESPAR, I.P.; 2013, 9 de maio - Projeto de Decisão relativo à classificação como monumento de interesse público (MIP), públicado através do Anúncio n.º 168/2013, DR, 2.ª séri, n.º 89. |
Dados Técnicos
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Sistema estrutural de paredes portantes. |
Materiais
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Bibliografia
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Gazeta dos Caminhos de Ferro, 44º ano, n.º 7, 01.04.1931, p. 136; COELHO, Francisco Ramos, Novo Edifício de Passageiros da Estação de Coimbra-C, A Arquitectura Portuguesa, ano XXVI (4º ano da 2ª série), n.º 8-9, Agosto-Setembro 1933, pp. 65-71; COELHO, F. R., A Nova Estação de Coimbra, Boletim da CP, n.º 54, Dezembro 1933, pp. 222-227; URBANO, Abel, A Urbanização de Coimbra e os Caminhos de Ferro, Gazeta dos Caminhos de Ferro, 54º ano, n.º 1, 01.01.1942, pp. 23-24; A Urbanização de Coimbra e o Problema da Estação Nova, Gazeta dos Caminhos de Ferro, 54º ano, n.º 11, 01.06.1943, p. 296; MARTINS, João Paulo, Cottinelli Telmo. A Obra do Arquitecto (1897-1948). Dissertação de mestrado em História da Arte, Lisboa: FCSH, UNL, 1995. 2 vol.; MARTINS, João Paulo, Cottinelli Telmo. Arquitecto na CP, in Gilberto Gomes (ed.), O Caminho de Ferro Revisitado. O Caminho de Ferro em Portugal de 1856 a 1996, Lisboa: Caminhos de Ferro Portugueses, 1996, pp. 126-134; http://www.patrimoniocultural.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/16245484 [consultado em 12 agosto 2016]. |
Documentação Gráfica
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CP: Direcção Geral de Gestão de Infraestruturas, Arquivo Técnico |
Documentação Fotográfica
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IHRU: DGEMN/DSID |
Documentação Administrativa
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CP: Direcção Geral de Gestão de Infraestruturas, Arquivo Técnico |
Intervenção Realizada
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Observações
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*1 - Uma estação ferroviária, tal como a definem os tratados de técnica ferroviária, é um ponto de uma linha férrea onde os comboios param para tomar ou largar passageiros ou mercadorias; a estação é delimitada fisicamente pelo espaço compreendido entre as agulhas de entrada e de saída dos comboios e inclui o conjunto das vias e dos edifícios relacionados entre si para cumprir aquelas funções. O "edifício de passageiros" constitui o elemento fulcral de uma estação ferroviária, aquele que se apresenta como fachada e porta de entrada do sistema, destino e ponto de partida da viagem, rótula de articulação entre o mundo ferroviário e o aglomerado urbano exterior. |
Autor e Data
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JPaulo Martins 2002 |
Actualização
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